Vários países islâmicos viraram um palco de manifestações de protesto contra o filme Inocência dos Muçulmanos.
Vale notar que os protestos têm vindo a assumir ânimos antiamericanos e anti-ocidentais em geral. Centenas de manifestantes irromperam na Embaixada da RFA na capital sudanesa Cartum. Uma situação semelhante se vive agora à volta da missão diplomática da Grã-Bretanha. O filme que já custou a vida do embaixador dos EUA e de três funcionários americanos na Líbia tem provocado uma vaga de marchas e distúrbios no Egito, Líbia, Tunísia, Iêmen, Irã, Paquistão, Sudão, Afeganistão e Malásia. É vidente, contudo, que os protestos não irão parar por ai.
Ao que tudo indica, o autor da curta metragem podia ter sido um cristão egípcio (copta), radicado na Califórnia, membro de um grupo religioso radical. Hoje os coptas, residentes no país dos faraós, têm medo de sair por causa de eventuais atos de vingança.
De salientar que, normalmente, qualquer provocação abrange e se estende a duas partes conflitantes. Uma parte inspiradora ou a fonte e outra parte alvo. A reação da parte alvo se transforma, por via da regra, num marco do hediondo negativo fotográfico. A parte muçulmana gravou fragmentos da película e os exibiu aos aldeões. Os que viram o filme comunicam aos que não o viram aquilo que costumam praticar os infiéis. E como acontece, não raro, na prática das relações inter-confessionais, a frágil estabilidade foi quebrada, convertendo-se em pedaços.
Boris Dolgov, perito do Centro de Pesquisas Árabes do Instituto do Orientalismo, afirma que, no plano político, os EUA atiram pela culatra quando, após a primavera árabe, se sentem constrangidos depois de terem apoiado as forças oposicionistas aos regimes governantes.
"Hoje em dia, o quadro político nos países árabes sofreu mudanças. Antes, os seus governos controlavam a situação e nem podiam admitir assaltos a embaixadas estrangeiras nem outros casos extremos, como, por exemplo, o assassínio do embaixador. Tal cenário nem sequer era possível de imaginar. Hoje isto se tornou possível dado que as forças islâmicas de ânimos radicais têm a liberdade de ação naqueles países".
Enquanto isso, nos EUA em torno do filme se trava a guerra à americana. É que quaisquer acontecimentos dramáticos antes das presidenciais não deixam de se repercutir na campanha eleitoral. O professor catedrático da Universidade Militar, Oleg Kulakov, considera que a confrontação baseada em defesa de princípios religiosos é capaz de exercer influência sobre o decurso da campanha eleitoral em qualquer país.
Por enquanto seria difícil de constatar se esta ação foi planeada ou não. A julgar por tudo o que ocorreu, trata-se de uma provocação muito bem orquestrada. Continua, porém, em aberto a questão sobre seus autores e os interesses que podem servir. À primeira vista o escândalo parece estar voltado contra Obama e a sua Administração. Por outro lado, eles têm um acesso livre às fontes de informação. Teoricamente, deviam ter conhecimento da eventualidade de tal cenário pessimista.
O Inocência dos Muçulmanos não pode impedir que Obama deixe de contestar a presidência. Todavia, será capaz de abalar seu prestigio no sul do país conhecido como um círculo bíblico dos EUA. Para os fundamentalistas cristãos Barack Obama, graças à sua origem, já leva em si certas características muçulmanas. VOZ DA RÚSSIA