terça-feira, 16 de outubro de 2012

Apenas 40% das mulheres com câncer conseguem preservar mama


O avanço no tratamento do câncer de mama tem permitido a indicação de cirurgias cada vez menos invasivas, que envolvem apenas a retirada de uma pequena porção do seio. Mesmo assim, a taxa de adoção desse tipo de procedimento tem ficado abaixo do esperado. Sob o ponto de vista da importância da manutenção das mamas para a autoestima da mulher, esse tema foi destaque no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica, em Viena, na Áustria.
A indicação da cirurgia capaz de conservar grande parte da mama é possível quando o tumor é pequeno ou, nos casos de tumores grandes, a paciente apresenta uma boa resposta ao tratamento neoadjuvante (quimioterapia aplicada antes da cirurgia com o objetivo de diminuir o tamanho do nódulo).
O que a pesquisadora Carmen Criscitiello, do Instituto Europeu de Oncologia, descobriu é que o número de indicações de cirurgias que preservam as mamas não tem aumentado na mesma proporção em que melhoram as respostas das pacientes às novas terapias neoadjuvantes.
Para chegar a essa conclusão, ela tomou por base um estudo anterior que avaliou a eficácia de três estratégias de quimioterapia neoadjuvante para 429 pacientes com tumor do tipo HER2 positivo. Um grupo recebeu a droga lapatinibe, o outro recebeu o trastuzumabe e um terceiro, a combinação das duas terapias. Deste último grupo, 51,5% das pacientes tiveram uma resposta completa à terapia, enquanto nos outros grupos, essa taxa foi de 24,7% e de 29,5% respectivamente.
O esperado seria que o terceiro grupo, por ter respondido melhor, recebesse mais indicações de cirurgias que preservam as mamas. Porém, o que ocorreu foi que nos três grupos, independentemente da resposta ao tratamento, apenas 40% das pacientes puderam conservar o seio.
"O estudo destaca uma atitude negativa que pode privar grande fração de mulheres da chance de preservar sua mama, sem nenhuma razão clínica para justificar essa decisão", diz Carmen.
Ela acrescenta que as características do tumor anteriores à quimioterapia inicial tiveram papel importante na decisão do tipo de cirurgia. "Um dos objetivos da terapia neoadjuvante é obter um aumento da taxa de conservação de mama, mas esse objetivo é claramente frustrado se o tipo de cirurgia for escolhida somente de acordo com as características iniciais do tumor", completa Carmen.
No Brasil
Segundo a mastologista Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), esse processo também pode ser observado no Brasil. Para ela, apesar de melhores condições para se realizar a cirurgia que preserva a mama, "o que se observa na prática é que muitas pacientes são informadas pelos próprios cirurgiões que talvez seja melhor tirar tudo e retirar ainda a outra mama como profilaxia".
Maira ressalta que esse procedimento não tem respaldo científico, a não ser que a mulher possua uma mutação genética familiar que predisponha ao câncer. "Isso é um desserviço que vem sido praticado. É um exagero, que não observa as recomendações das autoridades e das sociedades médicas", afirma.
A decisão sobre qual será o procedimento adotado deve ser compartilhada entre médico e paciente, de acordo com o mastologista Wesley Pereira Andrade, do Hospital A.C.Camargo. Em casos de tumores grandes, pode-se tanto começar o tratamento com a cirurgia mais radical e depois introduzir a quimioterapia quanto adotar a neoadjuvante para tentar conservar a mama.
"Quando se preserva a mama, existe um ganho psicológico. A desvantagem é uma maior chance de o tumor voltar ao longo de dez anos", diz. Ele observa que a mulher que preserva a mama tem uma aceitação melhor de sua autoimagem.
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Brasil foi o país que mais evoluiu em tecnologia da informação em 2011, diz ONU


Brasil foi o país que mais se desenvolveu em tecnologias de informação e de comunicação entre 2010 e o ano passado, segundo a agência da ONU responsável pelo setor, a UIT (União Internacional de Telecomunicações).

No IDI (índice de desenvolvimento em tecnologias da informação), ambos países subiram sete posições em relação ao ano anterior: o Cazaquistão para a 49ª colocação e, o Brasil, para a 60ª.
Apesar da evolução, o Brasil – sexta maior economia mundial – segue atrás de países como Bahrein, Barbados, Brunei, Lituânia, Omã e Qatar.
O indicador contempla a capilaridade das tecnologias, seus preços, a parcela da população que tem acesso a elas e o número de assinaturas de internet fixa, móvel e de telefonias fixa e móvel.
As informações foram divulgadas no estudo Mensurando a Sociedade de Informação de 2012.
A Coreia do Sul se manteve no topo dos países com maior desenvolvimento em telecomunicações, seguida de Suécia, Islândia, Finlândia, Holanda, Luxemburgo, Japão, Reino Unido e Suíça, respectivamente.
Os EUA, maior economia do mundo, ficaram na 15ª colocação, muito distante da China, na 78ª.
Entre os países desenvolvidos, o Reino Unido apresentou a maior evolução: saltou da 14ª colocação para a nona.
Vizinha brasileira, a Argentina ocupa o 56º lugar, atrás de Uruguai (50º) e Chile (55º) e à frente de Colômbia (76º) e Paraguai (97º).
No Brasil, as empresas de telecomunicações, junto com bancos, encabeçam a lista de maior número de reclamações por parte de consumidores.

Ano de seca global gera temor de nova crise de alimentos


Uma onda de secas nos países de maior produção agrícola está provocando o aumento dos preços dos alimentos em todo o mundo, despertando temores de uma crise semelhante à que ocorreu há quatro anos.
Neste ano, os Estados Unidos passaram pela sua pior seca em mais de meio século. Grandes extensões de terra da Rússia também não tiveram chuva suficiente. Até mesmo a temporada de monções na Índia foi seca. Na América do Sul, o índice pluviométrico ficou abaixo da média histórica. Como resultado, algumas colheitas desabaram, provocando uma disparada, por exemplo, nos preços de cereais, que estão quase no seu patamar mais alto. Em 2008, um fenômeno semelhante provocou tumultos em 12 países e fez com que a ONU convocasse uma reunião especial para lidar com a crise da alta do preço dos alimentos.
A falta de chuva neste ano é o principal fator de risco para que uma crise de natureza semelhante se repita. O foco principal está na produção de milho nos Estados Unidos, mas a produção mundial de soja e de grãos também caiu.
Apesar da seca em diversos países e da queda na produção de commodities como o milho, outros elementos apontam para um cenário menos preocupante.
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João Pessoa: Cartaxo lidera com 58,5%; Cícero tem 25,08% em pesquisa Consult/Correio


Confira a pesquisa no jornal de hojeA primeira rodada da pesquisa Consult, realizada em parceria com o Sistema Correio de Comunicação, aponta vitória do deputado estadual Luciano Cartaxo ( PT), candidato pela coligação ‘Unidos pro João Pessoa’, com 58,5% das intenções dos votos.
O senador Cícero Lucena (PSDB), que integra a coligação ‘Por amor a João Pessoa, sempre’, aparece com 25,08% dos votos. Dos leitores entrevistados, 10,5% responderam que ainda não sabem em quem votar no próximo dia 28 deste mês. Já 5,92% disseram que não votarão nem em Cartaxo, nem em Cícero.
NO primeiro turno das eleições, Luciano Cartaxo obteve 28,32% ( 142.158) dos votos válidos contra 20,27% de Cícero Lucena ( 75.17 0 votos). Dos 480.237 eleitores pessoenses aptos a votar no último dia 7.
A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba ( TRE-PB). A pesquisa completa pode ser conferida na edição de hoje do Jornal Correio da Paraíba.

Para Serra, programa de governo é 'coisa exótica' que 'não vale muito'


José Serra nem venceu as eleições e já cumpriu uma de suas promessas de campanha. Nos idos de setembro, ao ser pressionado sobre sua falta de plano de governo, o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo disse que apresentaria o documento durante o 2° turno. Ontem (15), faltando treze dias para o duelo eleitoral com Fernando Haddad (PT), a cúpula do tucanato paulista abarrotou uma das salas do Cine Livraria Cultura, na Avenida Paulista, para o lançamento oficial do programa de José Serra. Em seu pronunciamento, porém, o candidato pouco falou de propostas: preferiu saudar colegas, atacar o rival petista e lembrar feitos passados. Depois, saiu apressado sem falar com a imprensa.
“Leonel Brizola dizia uma coisa que é verdadeira: programa compra-se pela internet. Monta-se uns grupos, o sujeito escreve, o candidato fica se informando sem saber direito do que está tratando... Programa é assim: em geral não tem muito conteúdo, não vale muito no Brasil”, menosprezou José Serra, fazendo referência ao ex-governador do Rio de Janeiro, morto em 2004. “O PT ganhou prestígio no governo federal porque não cumpriu o programa que apresentou em 2002. Às vezes essa coisa de programa é tão exótica que quem não cumpre é aplaudido por isso: propunha tanta bobagem que quando chega e não faz bobagem, essa passa a ser uma virtude. São circunstâncias da vida.”
De acordo com o tucano, um dos elementos mais importantes de um programa de governo são as prioridades. “Quando tudo é prioritário, nada é prioritário”, ensinou. “Para governar é preciso escolher – e isto o PT tem horror de fazer, e nós temos gosto de fazer, porque isso significa viabilizar as coisas.” No entanto, durante sua meia hora de discurso, José Serra não elencou uma só proposta prioritária. O candidato do PSDB fez apenas duas menções a projetos que pretende executar na capital caso seja eleito.
Um deles é o bolsa-creche, espécie de auxílio financeiro para mães que estiverem aguardando vagas para seus filhos nas creches da cidade. A medida foi originalmente proposta pela candidata derrotada no primeiro turno, Soninha Francine, do PPS, e acabou sendo englobada pelo tucano neste 2° turno. "Copiar, na vida pública, não é plágio, é virtude", justificou. "Coisa boa a gente copia." Outro projeto citado pelo tucano foi aumentar a integração com o governo do estado, atualmente ocupado por seu correligionário Geraldo Alckmin, em todas as áreas da administração pública. “São Paulo tem duas prefeituras: a estadual e a municipal”, repetiu. “A estadual é totalmente responsável pela segurança, pelos trilhos e saneamento, além de metade da saúde, metade da educação e outro tanto da habitação. Então, tem que funcionar junto, com a gente ajudando. A parceria é fundamental.”
O plano de governo tucano tampouco enumera prioridades. O documento possui 70 páginas e tem uma tiragem de dois mil exemplares. Está composto por três seções. Na primeira, a coligação Avança São Paulo (PSDB, PSD, PR, DEM e PV) traz uma carta de José Serra aos eleitores, reconhece os avanços das últimas duas gestões da prefeitura e esboça os desafios para o futuro. Na segunda parte vêm as propostas propriamente ditas, divididas em 15 temas: saúde, educação, transporte, habitação etc. Por fim, a candidatura publica uma longa lista de colaboradores – gente que auxiliou na elaboração do programa.
“Montamos vinte grupos de trabalho que ouviram técnicos, especialistas e educadores. Foram mais de 120 reuniões, nas quais participaram mais de duas mil pessoas”, contabilizou Hubert Alquéres, coordenador do programa de governo do PSDB. “Tivemos ainda contribuições que vieram pela internet, e nosso vice-governador, Guilherme Afif Domingos, coordenou a caravana Avança São Paulo, que percorreu inúmeras regiões da cidade, nas 31 subprefeituras, para ouvir as demandas da população.” Alquéres destacou a rigorosidade de José Serra ao analisar todas as propostas do plano antes de aprová-las e anunciou que o documento não possui nenhum projeto publicitário. “Estamos preocupados em articular as ações. Nosso programa tem preocupação em ter propostas factíveis, com âncora no orçamento.”
O prefeito Gilberto Kassab (PSD) – que assumiu o governo paulistano após a saída de José Serra, em 2005, e foi reeleito em 2008 – discursou em apoio ao antecessor, dizendo que o tucano recebeu São Paulo mergulhada no caos deixado por Marta Suplicy (PT). “Agora a cidade terá mais um instrumento para comparar as candidaturas”, anotou. “Que possamos daqui a alguns dias ter esse plano de governo como Bíblia da nossa cidade, porque é esse o documento que vai continuar as grandes transformações iniciadas por você oito anos atrás e que vai fazer com que São Paulo cada vez mais seja o orgulho dos paulistanos e referência para o Brasil e para o mundo.”
Rede Brasil Atual

STF deve repetir calendário e definir penas do mensalão às vésperas do segundo turno


STF deve repetir calendário e definir penas do mensalão às vésperas do segundo turno O julgamento da Ação Penal 470, mais conhecida como processo do mensalão, entra nesta semana em seu penúltimo capítulo com a análise das denúncias sobre os crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro que envolvem os publicitários Duda Mendonça e Marcos Valério e pessoas ligadas às suas empresas, além de dirigentes do Banco Rural, em um total de dez réus.
A decisão de julgar este item antes de iniciar a discussão sobre a chamada dosimetria das penas imputadas aos 25 réus já condenados, ou seja, o tempo de duração das penas, como chegou a ser cogitado na semana passada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, fará com que a análise do último item do processo, que trata de formação de quadrilha e mais uma vez envolve os ex-dirigentes do PT, seja feita às vésperas do segundo turno das eleições municipais, programado para o próximo dia 28 em 50 cidades brasileiras.
A provável nova coincidência entre o cronograma do STF e o calendário eleitoral reforça as críticas daqueles que enxergam uma excessiva politização na condução do julgamento do mensalão. Os casos do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e dos ex-dirigentes petistas José Genoino e Delúbio Soares tiveram os votos apresentados a pouco mais de 72 horas da abertura das urnas no primeiro turno. A rapidez com que o relator do processo, Joaquim Barbosa, proferiu seu último voto, contrariando as longas exposições feitas por ele até então, também contribuem para a sensação de que o ministro teria feito um ajuste no ritmo do julgamento de modo a encaixar a nova análise sobre os réus com maior potencial de afetar as eleições exatamente nos dias que antecedem a votação.
Fazendo uma projeção, baseada em como foi o julgamento até aqui, a análise sobre o crime de evasão de divisas deverá ocorrer ao longo desta semana, deixado o item sobre formação de quadrilha para a semana anterior ao segundo turno. O pano de fundo político do julgamento, entretanto, deverá voltar a ficar mais visível já a partir de hoje (15), pois, segundo o antecipado pelo relator por ocasião do recebimento da denúncia, um dos pontos a serem ressaltados em seu voto diz respeito à afirmação, feita em 2005 por Duda Mendonça à CPI dos Correios, de que abrira a empresa Dusseldorf no exterior para receber pagamentos relativos a serviços prestados na campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República três anos antes.
Além da eventual nova condenação de Dirceu, Genoino e Delúbio às vésperas do segundo turno, outra medida estudada pelos ministros do STF pode aumentar ainda mais a exposição negativa que setores da mídia e da política pretendem dar ao PT e a seus aliados nas próximas semanas. Barbosa já afirmou nos corredores do STF que, ao fim do julgamento de todos os itens do processo, quando finalmente começar a definição da dosimetria das penas, vai apresentar em plenário a proposta feita pelo Ministério Público Federal para que os réus condenados sejam imediatamente presos. Outra questão a ser levantada pelo relator diz respeito à perda dos mandatos dos réus que hoje são parlamentares, casos de João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT).
Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro Marco Aurélio Mello questiona a necessidade de se encaminhar os réus condenados imediatamente à prisão: “Como ressoará um pedido logo após a proclamação do resultado? Como execução precoce, açodada, temporã da pena, como se a culpa estivesse selada. E a culpa só fica extrema de dúvida depois que não cabe mais qualquer recurso à decisão tomada”, disse. Se for realmente levada ao plenário por Barbosa, a proposta de prisão imediata será imediatamente contestada pelos advogados dos réus.

Recurso à OEA

O recurso a cortes internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA) é outra medida que poderá ser tomada pelos advogados de alguns dos réus dos mensalão. Nomes de peso como os ex-ministros Márcio Thomaz Bastos e José Carlos Dias já admitiram essa possibilidade, mas ela vem sendo duramente rechaçada nos bastidores do STF. O procurador geral da República, Roberto Gurgel, qualificou a ideia de Thomaz Bastos como “uma tremenda bobagem”, e alguns ministros do STF também já se manifestaram de forma contrária.
A reação mais veemente veio outra vez de Joaquim Barbosa. Em um dos raríssimos momentos em que conversou com a imprensa presente à sessão de julgamento do processo do mensalão, o relator criticou na quarta-feira (9) aqueles que defendem a entrada de recurso na OEA: “Perguntem a eles se já leram a Constituição brasileira. Perguntem a eles se o Brasil é um país soberano o suficiente para tomar suas decisões. Perguntem a eles se a Constituição brasileira prevê algum tipo de recurso em matéria criminal no caso de crimes em que havia foro privilegiado”, disse aos repórteres.
Rede Brasil Atual

Venda da Amil pode significar a 'americanização' da saúde no Brasil

Venda da Amil pode significar a 'americanização' da saúde no Brasil
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deverá anunciar nos próximos 15 dias se aprova a venda da Amil, maior operadora de planos de saúde no Brasil, para a UnitedHealth Group, gigante do setor nos Estados Unidos. A transação, que já vinha sendo estudada há alguns meses, foi anunciada nesta terça-feira (9). O negócio envolve a venda de 90% da Amil para a United pela quantia de US$ 4,3 bilhões. A legislação brasileira proíbe a participação de capital estrangeiro em hospitais brasileiros, mas não impede em operadoras de planos de saúde. Representantes de usuários de planos de saúde já manifestaram temores. Toda vez que há fusões ou vendas eles são afetados principalmente com mudanças na rede credenciada. 
A preocupação é maior agora, quando se trata do controle do sistema de saúde brasileiro por uma empresa estrangeira. Se o negócio for aprovado, os 22 hospitais próprios da Amil também serão administrados pela empresa estrangeira. Conforme o grupo americano já anunciou, seu interesse está no crescente mercado brasileiro. A transação é interessante também para os controladores brasileiros da Amil, que ficam com os 4,3 bilhões de dólares, com os 10% das ações e o comando as operações. Já o sistema de saúde brasileiro não tem o que comemorar. “A venda sinaliza um caminho que pode ser sem volta. Não é só a possibilidade de outras empresas estrangeiras da saúde virem para cá. É a lógica do crescimento do setor privado que preocupa”, analisa Mario Scheffer, presidente do Grupo Pela Vidda-SP, conselheiro do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e membro do conselho diretor do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Na entrevista a seguir, ele analisa as implicações da venda da Amil para o sistema de saúde do país.
Como você analisa a venda da Amil?
A entrada agressiva no mercado brasileiro da empresa norte-americana, que é uma das maiores operadores de planos de saúde do mundo, tem o objetivo explícito de obter aqui os lucros que não obtém mais no mercado americano. Isso mostra que a gente pode caminhar para a ‘americanização’ da saúde no Brasil, uma amostra do que virou esse mercado nos Estados Unidos. É o que esse perfil de capital estrangeiro quer implementar no Brasil ao comprar 90% da Amil. Ou seja, amostra do principal fracasso dos Estados Unidos ao não conseguir universalizar o atendimento público com equidade. Tanto a Amil como a United tem destacado a grande oportunidade de negócio para esse capital estrangeiro. É nesse momento de franco crescimento do mercado brasileiro que o negócio é feto. O mesmo crescimento econômico que possibilitou novos empregos, renda e consumo também alimentou a demanda por planos de saúde privados. 
O interesse dos americanos está nessa classe média emergente?
Pelas declarações que estão sendo feitas, esse capital estrangeiro está interessado justamente no mercado de planos populares, baratos. O problema é que a franca expansão desse mercado ocorre de maneira totalmente desordenada, até artificial eu diria. Hoje, 80% dos planos de saúde privados no Brasil são ofertados pelos empregadores. São os planos coletivos, que se tornaram prioridade de sindicatos em sua pauta de reivindicações e o desejo de grande parte das famílias, dos indivíduos que estão ascendendo no mercado de consumo. Isso acontece por desilusão, pelo descrédito no sistema público, no Sistema Único de Saúde (SUS), que em parte há uma certa razão. Com o subfinanciamento público do sistema não é possível oferecer um atendimento de melhor qualidade. Mas por outro lado as pessoas desconhecem a importância e o papel imenso que o SUS tem hoje. Com isso há o desejo de consumir planos privados. E o mercado que está crescendo mais é o dos planos populares, mais baratos, que oferecem uma cobertura medíocre. O problema é que tudo isso acontece com a conivência da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão constituído para regular o setor e que não regula. 
Também há filas na saúde privada...
Parte desse apagão na saúde suplementar, com a rede lotada, filas de espera semelhantes às do serviço público, dificuldade para marcar consulta, demora na internação eletiva. Isso ocorre em grande parte por esse crescimento desordenado. A agência reguladora foi capturada pelo mercado que ela deveria regular. No momento a agência estaria renovando seus quadros, que durante muito tempo tiveram em sua maioria representantes do setor. O atual presidente [Maurício Ceschin], que foi presidente do Grupo Qualicorp, uma grande corretora brasileira que vende planos de todas as operadoras. Com uma regulação frouxa, incompetente, tem-se um crescimento desordenado. 
A situação tende a piorar?
A coisa tende a piorar com a ampliação que pode vir com essa aquisição. E isso tem de ser debatido. Que sistema de saúde nós queremos? Essa cobertura privada centrada em poucas mãos, que nunca vai ser uniforme e continuada. Muitos se esquecem de que há diferenças muito grandes entre os vários produtos comercializados. Muitos acham os planos de saúde são produtos homogêneos. E não é. Cobrem e dão atendimento conforme a capacidade de pagamento das pessoas. Quanto mais barato, mais popular, pior. Depois, se a pessoa sai do emprego, fica descoberta porque a maioria dos planos são coletivos. E tem ainda a chamada exclusão pecuniária, que é a expulsão dos idosos dos planos individuais. Entre os coletivos há também uma epidemia que chamo de falsos coletivos. São planos para duas, três, quatro pessoas que podem ser feitos por microempresários. Basta o CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica]. Em geral o índice de reajuste desse plano foge da regulação. A operadora tem a prerrogativa de aumentar por sinistralidade, ou seja, quando os beneficiários passam a usar muito a rede credenciada. Fica tão caro que a pessoa tem de romper o contrato porque não vai mais conseguir pagar. No começo, chegam a custar 40% menos e depois chegam a ter mais de 100% de aumento. Trata-se de um setor em expansão que não garante o que se espera de um plano de saúde. Eles florescem justamente num momento em que as despesas com saúde estão subfinanciadas. Na saúde privada, que atende ¼ da população brasileira, circulam 53% de todos os recursos. E apenas 47% circulam no SUS para dar todo o atendimento, promoção da saúde, prevenção de doenças, vigilância sanitária, atendimento a doenças complexas, como cirurgias de grande porte, transplantes, tudo o que o SUS faz. Enquanto houver essa equação vamos acirrar o problema. Vão mais recursos para atender a menor parte da população. A dificuldade de acesso e a baixa qualidade estão ligadas diretamente a isso. 
E o subsídio público para a saúde privada?
A saúde privada recebe subsídios públicos diretos e indiretos. Essa é uma questão que precisa ser discutida em praça pública por toda a sociedade. A população não tem noção de que os planos de saúde são financiados por empregadores públicos e privados, que embutem esse custo no preço dos produtos e serviços que toda a sociedade consome. É a sociedade que paga esse benefício que os empregadores dão aos seus trabalhadores. E tem o subsídio fiscal, em que pessoa física e jurídica abatem seus gastos com saúde no imposto de renda. São recursos que o estado poderia arrecadar e não arrecada. O plano de saúde ganha com isso porque se tornam mais atrativos. E o governo gasta também com planos particulares para os servidores. No ano passado foram gastos R$ 3 bilhões. Além disso, algumas operadoras, cooperativas e outras têm isenções de impostos. Há também uma forma de subsídio que é a cobertura de tudo que os planos não cobrem mas que o SUS atende.
O beneficiário dos planos pode ser prejudicado?
O Idec [Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor], no qual integro o conselho diretor, e outras instituições têm se manifestado para que o governo, antes de aprovar a venda, avalie o real impacto da transação, a maior concentração do mercado. É a maior operadora do país que está sendo vendida. Essa concentração é ruim ao monopolizar mais redes credenciadas. Pode, por exemplo, impor pagamentos irrisórios para os prestadores. Isso pode significar a piora na qualidade. Fora o impacto na política de saúde. Trata-se de um sinal de que pode haver um crescimento desse mercado. O que estou dizendo aqui é que o Brasil pode estar trilhando um caminho sem volta. Não é só a possibilidade de outras empresas virem para cá. É a lógica do crescimento do setor privado com a injeção adicional de recursos nesse mercado. O Brasil está numa encruzilhada. Precisa discutir se quer o predomínio dos planos privados incompatíveis com o sistema de saúde universal, comprometido com a promoção da saúde, se quer favorecer e permitir a ascensão desse mercado fragmentado em que as pessoas têm acesso não pelas necessidades de saúde mas conforme a sua capacidade de pagamento. Ou se quer investir nossa riqueza coletiva no financiamento de um sistema público que hoje é subfinanciado, universal, e ser capaz de atender adequadamente a população. É uma discussão que tem que ser feita. 
O setor privado argumenta que desafoga o SUS...
O crescimento do privado, com a injeção de recursos estrangeiros, não desafoga o sistema público. Pelo contrário, reduz a disponibilidade de recursos humanos no sistema público, transfere a capacidade de produção para o privado, não reduz as filas. E as restrições, as negativas de atendimento, empurram para o SUS os idosos, os enfermos com problemas de alta complexidade. Mais gasto com a saúde privada significa fragmentar o sistema de saúde e reduzir aquela característica distributiva, dos sistemas universais. Quanto mais recursos da saúde concentrados em grupos particulares como Amil, menor é a capacidade do poder público de regular. Corremos o sério risco de ver, em curto prazo, a hegemonia do setor privado, na contramão do sistema universalizado preconizado na Constituição e na contramão de vários países, inclusive Estados Unidos. Afinal, a reforma do Obama é fruto do fracasso americano na saúde. Precisamos ver também que esse crescimento desordenado, artificial, casa com o discurso de que o SUS é inviável. A lógica é velha. Transfere as obrigações para o cidadão que pode pagar e empobrece a oferta àqueles que só podem contar com o público. Essa negociação é realmente preocupante.
Rede Brasil Atual