É comum dizer que não se pode colocar preço na educação. Não no Brasil. O país é o 116º colocado em um ranking com 144 nações organizado pelo Fórum Econômico Mundial. E, mesmo assim, surpreende o mercado com notícias como a da recente fusão entre dois de seus principais grupos de ensino, Kroton e Anhanguera, que criaram uma empresa de US$ 5,9 bilhões, a maior do setor em todo o mundo, de acordo com os próprios executivos envolvidos na operação.
A companhia resultante desse acordo supera gigantes como a New Oriental, da China, e a Apollo, dos EUA. Com 15% de todos os alunos de ensino superior no Brasil (cerca de um milhão deles), a transação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Mas já é considerada como a cereja no bolo de um movimento de compras e vendas iniciada há seis anos no setor, e que já registra 180 negociações desde então.
Economicamente, tudo bem, obrigado. A notícia foi recebida de bom grado pelos investidores. Eles correram à principal bolsa de valores do Brasil, a Bovespa, e turbinaram o pregão do dia. Na verdade, bem antes da fusão bilionária, as empresas de educação já colecionavam desempenhos muito interessantes. Para se ter uma ideia, enquanto a Bovespa acumula queda de 13,4% nos últimos 12 meses, a ações da Kroton registraram valorização de 112% no período. E a Anhanguera, 39%.
Mas deixando os números de lado, tamanha pujança monetária desse mercado pouco ou nada impacta na qualidade do serviço prestado como um todo. A existência desses grandes grupos não diminuiu o nível de qualidade da educação no país. Também não eleva. Quem vai estudar na Kroton e na Anhanguera trabalha o dia todo para pagar a mensalidade. E ainda por cima cursou o ensino médio em colégio público, com metodologia e infraestrura desinte ressante. Exatamente por isso, na ótica do consumidor da educação - privada e principalmente da pública -, o Brasil permanece com seu triste papel em avaliações internacionais, seja na formação básica, universitária ou nos cursos de pós-graduação.
Recentemente, um informe apresentado pelo Fórum Econômico Mundial alertou que, com um dos piores ensinos de matemática e ciências do mundo, o país reduz sua capacidade de adaptação ao mundo digital. Em tempos de economia criativa, negócios virtuais e startups bem-sucedidas como Google e Facebook, o Brasil subiu apenas da 65.ª para a 60.ª posição entre as nações mais preparadas para aproveitar as novas tecnologias em seu crescimento no último ano.
O principal mercado da América Latina está atrás de Chade, Suazilândia e Azerbaijão quando o assunto é educação em geral. Falando especificamente sobre ciência, apesar dos investimentos públicos em infraestrutura e de um certo dinamismo do setor privado nacional, Chile, Panamá, Uruguai e Costa Rica estão melhores preparados para enfrentar o mundo digital que o Brasil.
Ainda há um longo caminho para se percorrer no que tange as melhorias da educação brasileira. E, certamente, a rota dessa evolução passa bem longe da bolsa de valores ou do interesse imediato de seus investidores.
VOZ DA RÚSSIA |