sábado, 3 de agosto de 2013

Nordeste regista a maior alta na expectativa de vida em 30 anos

Expectativa de vida na região aumentou de 12,95 anos. No geral, brasileiro vive 11,24 anos a mais que em 1980

A expectativa de vida do brasileiro cresceu 11,24 anos entre 1980 e 2010, revelou na sexta-feira (02) a pesquisa Tábuas de Mortalidade 2010 – Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento entre as mulheres ficou em 11,69 anos, enquanto entre os homens a elevação atingiu 10,59 anos.
No mesmo período, na comparação com o restante do Brasil, a região Nordeste foi a que apresentou maior aumento na expectativa de vida. Segundo o estudo, em 1980, o nordestino tinha a taxa mais baixa do País, com 58,25 anos. No período de 30 anos, a região registrou a maior elevação brasileira, de 12,95 anos e, em 2010, atingiu 71,20 anos. De acordo com o IBGE, o crescimento foi decorrente, principalmente, do aumento de 14,14 anos na expectativa de vida das mulheres nordestinas, que passou de 61,27 anos em 1980 para 75,41, em 2010.
Segundo o gerente de Componentes de Dinâmica Demográfica do IBGE, Fernando Albuquerque, o Nordeste representava, em 1980, a região com menor índice de expectativa de vida. A aplicação mais eficaz de programas sociais e de projetos de distribuição de renda favoreceram o crescimento da taxa da região. “Todos os programas [geraram impacto positivo na região: houve] aumento na qualidade de atendimento de pré-natal, transferência de renda [propiciada pelo] Bolsa Família e melhor instrução. O programa Saúde da Família não [previne a mortalidade apenas na infância], mas em todas as faixas de idade. São programas importantes que representam forte impacto na [redução da] mortalidade. [Há] um aumento maior da expectativa de vida na região Nordeste”, explicou.
A elevação da expectativa de vida entre as mulheres foi o fator que favoreceu também o resultado do Rio Grande do Norte, que apontou a maior elevação entre os estados da região (15,85 anos). Lá, a taxa das mulheres ficou em 17,03 anos. “Em 1980, o Rio Grande do Norte também era um dos estados em que a mortalidade era mais elevada, consequentemente com uma expectativa de vida mais baixa. Então de certa forma estes programas aceleraram a diminuição [das taxas de] mortalidade e ganhos na expectativa de vida”, explicou.
O pior resultado de crescimento entre as regiões foi no Sul (9,83 anos). Apesar disso, a região ainda registra as mais altas taxas de expectativa de vida do país. Em 1980 era de 66,01 anos, a mais elevada daquele ano. Em 2010 atingiu 75,84 anos, também a maior expectativa entre as regiões. “Os níveis de mortalidade já eram mais baixos. Os aumentos ocorreram, mas com menos intensidade. Essas expectativas de vida já eram elevadas”, disse o gerente.
A segunda região a apresentar maior crescimento nos 30 anos compreendidos entre 1980 e 2010 foi a Centro-Oeste com elevação de 10,79 anos (de 62,85 para 73,64 anos). Em terceiro ficou o Sudeste que teve elevação de 10,58 anos (de 64,82 para 75,40 anos). A quarta foi a região Norte, que passou de 60,75 para 70,76 anos, representando um aumento de 10,01 anos na taxa.
Na avaliação do gerente do IBGE, no Norte, a dificuldade de acesso aos programas sociais impediu um desempenho melhor na esperança de vida. “Os programas sociais existem, mas há uma maior dificuldade em função da extensão da região e dificuldade de acesso. São populações ribeirinhas, onde o indivíduo tem de viajar vários dias para chegar a um posto de saúde”, explicou.
A pesquisa analisa resultados sobre a esperança de vida por sexo e compara informações sobre as regiões do país e dos estados. O trabalho utiliza dados do Censo Demográfico 2010, das estatísticas de óbitos obtidos no Registro Civil e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do ministério da Saúde para o mesmo ano.
 Último Segundo
* Com Agência Brasil
Créditos: WSCOM

Preços de aluguéis preocupa famílias e provoca ocupações em SP



Urbanistas afirmam que é preciso garantir política pública que imponha teto para alta de valores, muito elevados nos últimos anos por causa do aquecimento do mercado imobiliário e da baixa oferta


 O vigilante Alan Aparecido Silva, de 32 anos, mora há onze meses em uma casa alugada de três cômodos, no Jardim Lucélia, no extremo sul da cidade São Paulo. Ele recebe R$ 1.400 por mês e paga R$ 430 pela moradia. “Isso sem contar água e luz, que também é custo da casa”, afirma.
Segundo Silva, a situação é complicada porque sua esposa não pode trabalhar para cuidar da filha, de 8 anos, portadora de necessidades especiais. “A gente recebe muita ajuda de amigos e parentes, porque nossa menina não anda e precisa de alimentação especial, remédios. Mas o mais difícil é a incerteza da permanência na casa. Se faltar para isso, não sei como vai ser”, preocupa-se.
A família de Silva e outras 200 que vivenciam problemas parecidos decidiram montar barracos no terreno do antigo Clube Aristocrata, também no extremo sul da cidade, abandonado há 10 anos, e fundar ali a ocupação Povo Unido para Vencer, que reivindica a destinação da área para construção de moradias populares.
Apesar de ter casa, a família já fazia parte do déficit habitacional do país, que atinge 5,4 milhões de famílias, o equivalente a 8,8% do total de domicílios estimados no Brasil em 2011, segundo pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso porque o vigilante compromete mais de 30% de seu rendimento com o pagamento do aluguel.
O comprometimento de mais de um terço da renda com a locação de um teto é um dos itens que apontam que a família, na verdade, não tem seu direito à moradia garantido. Entre 2007 e 2011, o déficit de habitação diminuiu, mas o índice de comprometimento excessivo com o pagamento de aluguéis piorou, passando de 3,14% do total de domicílios para 3,43%, o equivalente a 2,1 milhões de famílias.
O problema tem se agravado em função do descontrole da especulação imobiliária nas grandes cidades do país. Entre junho de 2012 e o mesmo mês deste ano, o valor de novos aluguéis em São Paulo subiu 8,4% segundo o Secovi, sindicato do setor imobiliário. A variação de preços ficou acima da inflação no mesmo período, enquanto o IGP-M, índice que regula a maioria dos contratos formais de locação de imóveis no país, teve alta de 6,3%.
Movimentos sociais ligados à questão da habitação trataram do problema com a presidenta Dilma Rousseff no dia 26 de junho. Eles querem que o governo federal se empenhe na aprovação de uma lei que controle os preços dos aluguéis. “A gente tem um descontrole imenso dos preços dos aluguéis, sem acompanhamento dos governos e sem nenhuma justificativa palpável, a não ser a especulação imobiliária, na medida que aumenta mais que a inflação, que os salários, que tudo”, afirma a militante do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) Natália Szermeta.
Segundo o diretor de Gestão Patrimonial e Locação do Secovi-SP, Mark Turnbull, os preços de novos contratos se baseiam principalmente em localização, oferta de serviços e infraestrutura instalada no bairro – parte importante realizada com investimentos públicos – e na margem de retorno que o proprietário pretende obter, que hoje está entre 0,4% e 0,6% do valor de venda do imóvel.
“Acabou o contrato da pessoa, o proprietário diz assim: 'olha, o mercado imobiliário está uma loucura – às vezes se baseia em informações erradas ou antigas que dizem que o mercado está bombando – e acabou seu contrato. O senhor estava pagando mil, agora vai ter que pagar mil e duzentos'", exemplifica. “Às vezes eles fazem isso porque não estão satisfeitos com seus locatários. O inquilino não pode reclamar. Vai ter que procurar outro.”
Foi o que aconteceu com o estudante de arquitetura Fellipe Soares. Há cinco anos, ele pagava R$ 650 por uma quitinete de 21 metros quadrados na Liberdade. O bairro marca o começo da zona sul e é colado ao centro da cidade, bem atendido por ônibus e metrô. Até abril deste ano, o aluguel havia acumulado aumentos e já havia chegado a R$ 850, o que representa elevação de 30,7% do valor inicial da locação do imóvel.
Mas em abril ele teve uma surpresa: a imobiliária que administra o prédio o informou que o valor do aluguel iria subir para R$ 1.160. “É um grande absurdo. É um bairro de classe média baixa, na minha cozinha não cabe nem geladeira nem fogão de quatro bocas. Pelo preço que ele está pedindo, daria para pagar o financiamento de um imóvel”, lamenta.
Para especialistas ouvidos pela RBA, há poucas chances de estabelecer um controle estatal dos preços dos aluguéis do mercado privado, o que seria considerado uma atitude antidemocrática por parte do governo. “Isso já aconteceu no tempo do Getúlio, nos anos 40, mas era uma ditadura, então ele baixou um decreto. Pelo nosso ordenamento é difícil. Como não existe um regramento do Estado, porque o aluguel está inserido dentro do mercado privado, isso com certeza seria considerado arbitrário e inconstitucional”, analisa o urbanista do Instituto Pólis Nelson Saule Júnior.
Mas há concordância que é preciso buscar alternativas para o acesso à moradia adequada, principalmente para a população com renda de até três salários mínimos, que representam 70% do déficit habitacional.
Para Saule, é possível que se adotem medidas para adequar o preço dos aluguéis quando há dinheiro público financiando o imóvel e em zonas especiais de interesse social (Zeis). “Caracterizado que determinado imóvel é de interesse social ou que tem financiamento público, pode-se estabelecer regras diferentes de uso e ocupação dele”, aponta.
“No caso da habitação de interesse social, a política tem de ser outra”, afirma a urbanista e diretora do Defenda São Paulo, Lucila Lacreta. Ela dá o exemplo da política de aluguel social adotada na França. Lá, o governo construiu diversos edifícios e subsidiou parte dos aluguéis.
O aluguel social é um mecanismo diferente do auxílio-aluguel, oferecido pelas prefeituras em situações emergenciais. Com caráter de curto prazo, não garante a permanência dos inquilinos por longos períodos. “O auxílio não é uma política pública. É uma medida emergencial”, afirma Lucila.
Para ela, modelos-piloto de aluguel social poderiam ser testados antes de serem adotados em larga escala. “Tudo isso precisaria estar dentro de uma política habitacional. Se as pessoas tivessem condições de arcar com os valores do mercado formal, elas não estariam em áreas de risco, em favelas.”

Primeiros contemplados com Bolsa Pódio são atletas paralímpicos


A presidenta Dilma Rousseff anunciou ontem (2) os 44 primeiros atletas que receberão a Bolsa Pódio, com valores entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Todos são atletas paralímpicos e receberão em homenagem a seu desempenho no Campeonato Mundial de Atletismo Paralímpico de Lyon, na França. Na competição, encerrada domingo (28), os brasileiros ficaram na terceira colocação geral no quadro de medalhas.
“Muito me orgulha começar com os atletas paralímpicos. Serão 160 bolsas, e começamos com os atletas paralímpicos.  E elas [bolsas] têm um sentido muito concreto. Com a bolsa, queremos ajudar na profissionalização, no acesso a melhores práticas, [dar] condições adequadas de trabalho e, sobretudo, viabilizar uma vida tranquila para que o atleta não precise se preocupar tanto com as condições de sobrevivência”, disse a presidenta.
Em pé ao lado da delegação brasileira, Dilma deixou de lado discurso preparado para a cerimônia e falou de improviso. Por diversas vezes, ela se afastou do microfone para falar diretamente aos atletas. Dilma parabenizou os atletas pelo desempenho no campeonato mundial e ressaltou que os bons resultados servem de exemplo e orgulho para o país. “Cada brasileiro olha para vocês com carinho, admiração, respeito pelo comprometimento e desempenho. Vocês demonstraram que existem valores que devemos cultuar e cultivar: o empenho, a determinação, o trabalho árduo e a alegria de vencer.”
O Programa Bolsa Pódio faz parte do Plano Brasil Medalhas, que investirá, até 2016, segundo o Ministério do Esporte, mais de R$ 1 bilhão no esporte nacional. A meta é possibilitar que o Brasil fique entre os dez primeiros colocados nos Jogos Olímpicos de 2016 e entre os cinco melhores nos jogos paralímpicos do mesmo ano.
Recordista mundial e ganhador de quatro medalhas no Campeonato Mundial Paralímpico de Lyon, o velocista Alan Fonteles disse que o investimento do governo ajuda no crescimento do esporte paralímpico. Ele ressaltou, no entanto, a necessidade de atenção às categorias de base. “O Plano Brasil Medalhas ajuda os atletas, mas o Brasil também precisa trabalhar bastante na base e nos centros de treinamento, dos quais é um pouco carente, e que são necessários para dar aos atletas melhores condições de competir."
De acordo com Fonteles, é preciso também olhar para a base porque, um dia, ele e outros atletas de ponta vão parar. "Os atletas novos é que vão levar o Brasil para a frente”, disse Fonteles à Agência Brasil.
Segundo Ariosvaldo Fernandes da Silva, ganhador da medalha de bronze no campeonato mundial nos 100 metros em cadeira de rodas, o programa ajudará na preparação para os Jogos Paralímpicos. “É um investimento importante e um fator que vem ajudar na nossa preparação. Não tem como fazer um esporte para paralímpico sem essa ajuda. Temos muitos gastos no dia a dia, com equipamento e com alimentação. Ajuda muito.”

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

BC decreta liquidação extrajudicial do Banco Rural

Banco Central decreta liquidação extrajudicial do Banco Rural

 O Banco Central (BC) decretou hoje (2) a liquidação extrajudicial do Banco Rural. De acordo com nota divulgada pela instituição, o motivo é o "comprometimento da situação econômico-financeira e falta de um plano viável para a recuperação da situação do banco". Com sede em Belo Horizonte, o banco tem porte pequeno.
Segundo o BC, em março de 2013 o Conglomerado Financeiro Rural detinha 0,07% dos ativos e 0,13% dos depósitos do sistema financeiro. Além do Banco Rural, a decisão abrange as outras empresas do conglomerado. São elas Banco Rural de Investimentos S.A, Banco Mais S.A, Banco Simples S.A e a Rural Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A.
O comunicado da autoridade monetária diz que estão sendo tomadas medidas cabíveis para apurar as responsabilidades do caso. Ainda de acordo com o Banco Central, o resultado das investigações "poderá levar à aplicação de medidas punitivas de caráter administrativo e a comunicação às autoridades competentes". Em junho, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco BVA .
Desde 1995, depósitos individuais de correntistas de bancos liquidados são cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Em maio, o  Conselho Monetário Nacional (CMN) aumentou o limite de cobertura para R$ 250 mil.  O FGC protege os recursos aplicados em conta corrente, caderneta de poupança, certificados de Depósito Bancário (CDBs), letras de câmbio, imobiliárias, hipotecárias e de crédito imobiliário.
Se o dinheiro estiver em fundos de investimentos, for proveniente ddepósitos judiciais ou de recursos captados ou levantados no exterior, não vão ter proteção do fundo. 
De acordo com o Banco Central, o Banco Rural tem 49 anos,  25 agências em operação e tinha 626 funcionários em junho de 2013. As agências funcionam em 19 unidades da Federação, segundo a página na internet do próprio banco liquidado. Por meio da assessoria de comunicação, o BC informou que, a partir da liquidação, o banco deixa operar imediatamente e é designado um liquidante para fazer um balanço. Um dos objetivos é assegurar o pagamento de credores.
O Banco Rural teve três dirigentes condenados no processo do mensalão: a ex-presidenta Kátia Rabello, o vice-presidente José Roberto Salgado e Vinícius Samarane, ex-diretor. Kátia e Salgado estão recorrendo da decisão do Supremo Tribunal Federal.
Agência Brasil

O declínio de Detroit é um fracasso típico do capitalismo


Detroit está aí para nos provar: a estrutura hierárquica das empresas capitalistas proporciona aos acionistas majoritários e aos conselhos diretores os recursos necessários (lucros corporativos) para cortar as boas condições que os sindicatos às vezes conquistam. É assim que o sistema funciona.
O capitalismo é um sistema que deve ser julgado por suas falhas assim como por seus sucessos.

O crescimento econômico dos anos 1950 e 1960, conduzido pela indústria automobilística, fez de Detroit um símbolo global da renovação capitalista após a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial. Os altos salários nas indústrias, com segurança e benefícios exemplares, eram tidos como a prova da habilidade do capitalismo de gerar e sustentar uma ampla "classe média", que poderia incluir até os afro-americanos. Os trabalhos na indústria automobilística se tornaram o modelo de emprego que os trabalhadores norte-americanos buscavam.

O fato é que estas condições de trabalho foram impostas aos capitalistas através de duras lutas sindicais, especialmente nos anos 1930. Uma vez derrotados nessas lutas, rapidamente reescreveram a história para que os bons salários e boas condições de emprego se tornassem algo que os patrões ''deram" aos trabalhadores. De qualquer forma, Detroit se tornou uma cidade vibrante e mundial nos anos 1950 e 1960, e sua cultura profunda e peculiar inspirou a música mundial tanto quanto seus carros influenciaram o mundo industrial.

Nos últimos 40 anos o capitalismo transformou esse sucesso em um fracasso abjeto, culminando agora na maior falência municipal da história dos EUA.
Aqueles que tomavam as decisões chaves - os acionistas majoritários da General Motors, Ford, Chrysler, etc, e o conselho diretor que eles mesmo selecionaram - fizeram escolhas desastrosas. Eles não conseguiram competir com os capitalistas europeus e japoneses e consequentemente perderam uma fatia do mercado. Eles reagiram de maneira inadequada e com atraso à necessidade de desenvolver tecnologias que poupassem combustível. Mas o que causou o maior impacto foi o fato de terem reagido a seus próprios fracassos decidindo deslocar a produção para longe de Detroit, para que pudessem pagar aos trabalhadores salários mais baixos. 

Os fracassos competitivos das companhias automobilísticas, assim como suas mudanças de domicílio, tiveram duas consequências econômicas centrais. A primeira: destruíram as fundações da economia da cidade de Detroit. A segunda: acabaram com as possibilidades de se constituir uma classe média duradoura nos EUA. Os últimos 40 anos revelaram a incapacidade ou a falta de vontade do sistema capitalista de reverter esta situação.

Os salários reais deixaram de crescer nos EUA nos anos 1970, e não cresceram desde então, mesmo que o aumento da produtividade dos trabalhadores tenha gerado ainda mais lucros aos patrões. O aumento da dívida dos consumidores e o trabalho em excesso postergaram em alguns anos o impacto da estagnação dos salários reais no consumo. 

Mas, em 2007, com a estagnação dos salários e o esgotamento da possibilidade de endividamento do consumidor, uma crise longa e profunda chegou. Os patrões usaram o desemprego resultante para atacar a segurança e benefícios trabalhistas além do setor público, que fora construído nos anos 1950 e 1960 para dar suporte à classe média (por exemplo, o ensino superior público de baixo custo).

Os capitalistas da indústria automobilística se tornaram líderes e Detroit expressou o declínio econômico resultante dessa liderança. Na crise profunda que enfrenta desde 2007, a General Motors e a Chrysler conseguiram resgates financeiros do governo federal, mas Detroit não. As companhias automobilísticas conseguiram estabelecer reduções salariais (através de um sistema de salários diferenciados, baseados na produtividade) o que fez com que a economia de Detroit, baseada nos salários, não conseguisse se recuperar, enquanto os lucros e produção das companhias conseguiram. Os fracassos do capitalismo privado obtiveram a cumplicidade do governo federal.

Apesar das vitórias do passado, obtidas a partir de heroicas greves e outras ações da União dos Trabalhadores Automobilísticos (United Auto Workers, em inglês), os poderes decisórios das companhias se mantiveram nas mãos dos acionistas majoritários e seu conselho diretor. Eles usaram esse poder para enfraquecer e até mesmo desfazer o que as lutas sindicais conseguiram conquistar. Os sindicatos se provaram incapazes de parar esse processo. Os capitalistas de Detroit então minaram as condições trabalhistas que os trabalhadores arrancaram deles - e assim destruíram a cidade do "sucesso capitalista" construída sob essas condições.

O declínio de Detroit, como o declínio paralelo da União dos Trabalhadores Automobilísticos, nos ensina uma lição inevitável. Os mesmos contratos que os sindicatos militantes conquistaram deram aos patrões grandes incentivos para que eles encontrassem caminhos por fora desses contratos. 

A estrutura hierárquica das empresas capitalistas proporciona aos acionistas majoritários e aos conselhos diretores os recursos necessários (lucros corporativos) para cortar as boas condições que os sindicatos às vezes conquistam. É assim que o sistema funciona. Detroit está aí para nos provar isso. A solução não está mais nos contratos.

Se os trabalhadores tivessem transformado as companhias em cooperativas de trabalhadores, Detroit teria evoluído de maneira diferente. As cooperativas não teriam deslocado a produção, o que acabou com seus trabalhos, famílias e comunidade. O deslocamento da produção, uma estratégia tipicamente capitalista, foi a chave para a queda populacional de 1,8 milhão em 1950 para 700.000 pessoas hoje. 

As cooperativas de trabalhadores talvez tivessem encontrado alternativas ao deslocamento da produção que poderiam ter salvado Detroit. Elas teriam, por exemplo, pago menos em dividendos aos proprietários e salários aos gerentes. Essas economias, se transferidas a um custo mais baixo para o consumidor, teriam possibilitado melhor preço em relação às montadoras japonesas e europeias do que aquele conseguido pelas Três Grandes de Detroit.

Não podemos saber exatamente o quanto a mais as indústrias de Detroit teriam se beneficiado do progresso técnico se elas tivessem se organizado como cooperativas de trabalhadores. Podemos supor que os trabalhadores possuem mais incentivos para melhorar a tecnologia em cooperativas que eles possuem e operam do que como empregados em empresas capitalistas. Por fim, cooperativas teriam produzido (e ajudado a promover) veículos de transporte coletivo ou outras alternativas aos automóveis, uma vez que eles viam que uma produção continuada de automóveis não garantiam as prioridades - emprego e o bem-estar dos trabalhadores - às cooperativas.

Que tipo de sociedade dá a um número relativamente pequeno de pessoas a posição e o poder para fazer decisões corporativas que impactam milhões dentro e no entorno de Detroit, enquanto excluem esses mesmos milhões de participarem das decisões?

Quando as decisões capitalistas condenam Detroit a 40 anos de um declínio desastroso, que tipo de sociedade alivia esses capitalistas de qualquer responsabilidade na reconstrução da cidade? 

A resposta mais simples a essa pergunta: nenhuma economia genuinamente democrática poderia funcionar dessa forma.
Richard Wolff (artigo publicado originalmente em The Guardian)
Tradução de Roberto Brilhante
Créditos: Carta Maior

Mais Médicos vai levar profissionais para 626 municípios


Em sua primeira seleção, o Programa Mais Médicos vai levar 1.753 médicos para 626 municípios. De acordo com o Ministério da Saúde, 51,3% das vagas ocupadas estão em municípios de maior vulnerabilidade social do interior e 48,6% nas periferias de capitais e regiões metropolitanas, todas elas nas áreas prioritárias do programa.
Os médicos com registro brasileiro selecionados têm até o dia 3 às 16h para homologar a inscrição. Ao todo, 2.379 médicos com diploma brasileiro fizeram a escolha dos municípios de preferência para atuar pelo programa. Destes, 507 não foram alocados em suas escolhas por indisponibilidade de vagas e poderão ajustar suas opções até segunda-feira (5).
Os demais 119 que, descumprindo as regras do edital, não apontaram as possibilidades de municípios para trabalhar, poderão voltar a participar do segundo mês de inscrições, que começa no próximo dia 15.
Dos 626 municípios selecionados na primeira etapa, 375 estão em regiões com 20% ou mais de sua população em situação de extrema pobreza, 159 em regiões metropolitanas, 68 estão em um grupo de 100 cidades com mais de 80 mil habitantes de maior vulnerabilidade social e 24 são capitais. Na distribuição dos profissionais foram atendidos ainda 23 distritos sanitários indígenas (Dsei).
Os municípios da Região Nordeste foram contemplados com o maior número de médicos, com um total de 619 profissionais direcionados a 300 cidades e um Dsei. Em segundo lugar, vem o Sudeste, com 460 dos médicos para atender a 122 municípios. Em seguida vem a Região Sul, com 244 médicos em 90 municípios. A Região Norte vai receber 250 médicos em 74 municípios e 17 Dsei; e Centro-Oeste, com 180 médicos em 40 municípios e cinco Dsei.
As vagas estão distribuídas entre Bahia (161), Minas Gerais (159), São Paulo (141), Ceará (138), Goiás (117), Rio Grande do Sul (107) e Amazonas (73)
A partir de terça-feira (6) até dia 8, os médicos que se formaram no exterior e finalizaram o cadastro no programa poderão selecionar os municípios com vagas não ocupadas por brasileiros.
No fim da tarde de hoje, o presidente da Associação Brasileira de Municípios, Eduardo Tadeu Pereira, esteve em reunião com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ele pediu que o governo agilizasse acordo com outros países, como Espanha, Portugal, Cuba, Argentina e Uruguai, para a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil. "Com chamadas individuais o problema não vai ser resolvido", defendeu. Em entrevista à Agência Brasil, Pereira avaliou que o Programa Mais Médicos é emergencial e deve suprir a ausência de profissionais, mas que a medida necessária é a formação de mais médicos no Brasil.

Dilma sanciona, com vetos, Lei Anticorrupção


A presidenta Dilma Rousseff sancionou, com vetos, a  Lei Anticorrupção, que responsabiliza Diário Oficial da União.
administrativa e civilmente empresas que cometem crimes contra a administração pública e prevê novas punições.
Aprovada pelo Senado no começo de julho, a lei prevê punição, em outras esferas além da judicial, de empresas que corrompam agentes públicos, fraudem licitações e contratos ou dificultem atividade de investigação ou fiscalização de órgãos públicos, entre outros ilícitos.
Dilma fez três vetos ao texto, segundo informações da Controladoria-Geral da União (CGU). No primeiro veto, a presidenta retirou do texto o trecho que limitava o valor da multa aplicada às empresas ao valor do contrato. Fica mantida a redação que prevê a aplicação de multa de até 20% do faturamento bruto da empresa, ou até R$60 milhões, quando esse cálculo não for possível.
No segundo veto, o governo retirou da lei o trecho que tratava da necessidade de comprovação de culpa ou dolo para aplicar sanção à empresa. Segundo a CGU, diante do dano aos cofres públicos, não será necessário comprovar que houve intenção dos donos da empresa em cometer as irregularidades.
Dilma também vetou o inciso segundo o qual a atuação de um servidor público no caso de corrupção seria um atenuante para a empresa.
De acordo com a CGU, com a nova lei, na esfera judicial, poderá ser decretado perdimento de bens, suspensão de atividades e dissolução compulsória, além da proibição de recebimento de incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, por determinado prazo. As penas administrativas serão aplicadas pela CGU ou pelo ministro de cada área.
A Lei Anticorrupção também prevê tratamento diferenciado entre empresas negligentes no combate à corrupção e as que se esforçam para evitar e coibir ilícitos. Empresas que possuem políticas internas de auditoria, aplicação de códigos de ética e conduta e incentivos a denúncias de irregularidades poderão ter as penas atenuadas.
A nova lei determina ainda a desconsideração da personalidade jurídica de empresas que receberam sanções, mas tentam fechar novos contratos com a administração pública por meio de novas empresas criadas por sócios ou laranjas.