Os radicais ucranianos encararam a lei da anistia, que entrou em vigor no início desta semana, como carta-branca, empreendendo ações ainda mais sangrentas em confrontos com as forças de segurança. De ambos os lados há dezenas de mortos e centenas de feridos.
Em resultado dos confrontos em Kiev, foram mortas 25 pessoas, inclusive agentes da polícia e um repórter do jornal local Vesti. Mais de 300 pessoas solicitaram assistência médica, a maioria foi hospitalizada. Desde a noite passada, em todo o país estão ocorrendo incêndios: estão em chamas a Casa de Sindicatos na Praça da Independência e o Conservatório em Kiev, escritórios de partidos políticos em Dnepropetrovsk, Carcóvia e Lviv, pneus queimados na fronteira entre a Ucrânia e a Polônia lançam muita fumaça.
Os distúrbios continuam em outras cidades do país. Em Lviv, os manifestantes ocuparam sem qualquer resistência a sede da Polícia regional e apreenderam dezenas de unidades de meios especiais. Foi incendiada uma unidade das Tropas do Interior. Sem encontrar resistência, os radicais penetraram em escritórios da administração regional de Ivano-Frankovsk. Nas cidades de Lviv e de Ternopol, eles ocuparam as sedes da Procuradoria e queimaram a esmagadora parte de documentos nesses estabelecimentos. Além disso, manifestantes estão bloqueando postos de controle na fronteira ucraniano-polaca.
O procurador-geral da Ucrânia, Viktor Pshonka, afirmou que os instigadores e autores desse atos terão penas severas. “Como procurador-geral, posso constatar que a trégua foi violada. Para alcançar os seus interesses políticos, os manifestantes desprezaram todos os entendimentos alcançados e puseram em a vida e a tranquilidade de milhões de habitantes de Kiev. Os organizadores de distúrbios maciços responderão por cada veículo queimado e por cada vidro quebrado”.
Entretanto, continuam a chegar reforços de ativistas à praça da Independência, na maioria provenientes das regiões ocidentais da Ucrânia. Ontem à noite, a polícia apelou para que as mulheres e crianças abandonassem a praça da Independência onde iria decorrer a operação policial e, posteriormente, começou a desalojar os manifestantes do local, diz o deputado pelo Partido das Regiões, Oleg Tsarev:
“Após a oposição ter empreendido um assalto contra o poder, consideramos que não há nada para acordar. Temos a certeza de que depois de regularizar a situação em Kiev, poderemos instaurar a ordem em todo o país. Destacamentos da polícia de choque, que dispersaram os manifestantes do bairro governamental, esperavam uma ordem a partir das seis horas e finalmente esta ordem chegou”.
Os manifestantes continuavam a jogar coquetéis molotov, petardos e pedras contra os agentes da polícia. Foram incendiados um veículo blindado e um acampamento de tendas na praça e destruída a embaixada do Canadá. Duas horas após o início da confrontação, a polícia aproximou-se de perto da Casa de Sindicatos na praça da Independência, mas não conseguiu avançar por causa de uma barricada de pneus em chamas. Logo depois, o fogo alastrou para o prédio. Os bombeiros retiraram da Casa de Sindicatos em chamas mais de 40 pessoas, sete das quais foram hospitalizadas. O fogo passou para a Academia de Música, situada na proximidade.
O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, dirigiu uma mensagem ao país, censurando tais atos dos manifestantes e apelando a que os líderes da oposição se afastassem dos radicais:
“Sempre considerei que o uso da força é uma atitude errada. Há um método melhor e eficaz de encontrar uma linguagem comum: aceitar um compromisso, chegar a entendimento. Já disse reiteradas vezes que neste caso o poder irá perder algo, tal como a oposição, mas ganhará a Ucrânia. Os líderes da oposição desrespeitaram a principal exigência da democracia: o poder não se ganha nas ruas ou nas praças, mas através da votação. Já disse a eles que em breve teremos eleições. Se o povo confia em vocês, estarão no poder, se não confiar – não estarão. Mas tudo deve decorrer legitimamente, de acordo com a constituição da Ucrânia”.
Mas os oposicionistas, que apelam a que os radicais façam frente e recorram a ações ativas, estão acusando o presidente de escalada do conflito, exigindo acabar com o derramamento de sangue. Vitali Klitschko, antigo campeão do mundo de pugilismo e líder do partido Udar (Golpe), declarou que a oposição reiniciará as conversações com o poder só depois da retirada da polícia. Ninguém pode prever como irão se desenvolver os acontecimentos, diz o dirigente do serviço de imprensa do Ministério do Interior da Ucrânia, Serguei Burlakov:
“É muito complexo fazer previsões. Politólogos ingênuos dizem que não entendem o que acontece e como atuam os destacamentos especiais e outras forças do Ministério do Interior. Por isso, não posso fazer quaisquer suposições. A polícia dispõe de suficientes forças e meios e das respetivas competências legais. Vamos atuar por enquanto adequadamente à situação, vamos acompanhar o seu desenvolvimento e tomar as necessárias decisões”.
Mas as ações da polícia não levaram aos resultados desejados. Os radicais, desalojados na noite passada, voltaram a ocupar as posições antigas e começaram a construir novas barricadas. Viktor Yanukovich apela para que os manifestantes deponham as armas, a oposição exige que a polícia retroceda, políticos ocidentais insistem em continuar as conversações. Entretanto, o balanço de vítimas dos confrontos está aumentando.
Maria Balyabina