Durante muitos anos, a América Latina sentiu na pele todas as “qualidades” da “boa vizinhança americana”. Cuba, Venezuela, México, Chile, praticamente todos os Estados da parte meridional do continente estiveram sob um rígido controle dos EUA.
A doutrina Monroe, que definia a América Latina como uma sua zona de particular influência, continua a vigorar hoje. Não obstante as realidades políticas e econômicas terem mudado sensivelmente, os EUA não pretendem renunciar à anterior política.
Os EUA chamaram sempre à América Latina o seu “quintal”. Este princípio foi lançado na famosa doutrina Monroe de 1823, que definiu a política externa dos EUA. Em relação ao seu vizinho do sul, Washington chamou a si o papel de “protetor” e, além disso, limitou claramente a esfera de influência dos Estados europeus, afirma o perito Serguei Ermakov:
"O sentido consiste em que os países europeus não devem, de forma alguma, ingerir-se nessa zona. Ela é definida como zona de influência exclusiva dos EUA. Algumas dezenas de anos depois, podemos afirmar que a atitude dos EUA não mudou radicalmente. A América Latina para eles é uma zona de interesses especiais".
A América Latina era vista por Washington como uma quinta onde tudo se pode fazer. O continente meridional tornou-se uma espécie de campo experimental de futuros princípios da famigerada democracia americana, explica Nikolai Mironov, diretor-geral do Instituto de Projetos Regionais Prioritários:
"Foi precisamente nos países da América Latina que eles (EUA) elaboraram todos os mecanismos das intervenções, das “revoluções floridas”. Foi precisamente aí que tudo começou. Tiveram lugar numerosos golpes de Estado, por detrás dos quais estiveram os Estados Unidos. Incluindo o conhecido, na história, golpe de Pinochet, que derrubou o governo socialista de Salvador Allende, que se orientava para outro bloco da política externa: para a União Soviética. Embora não completamente, mas mais para a Europa.
A política hoje previsível é a continuação da velha política dos EUA, que querem dominar absolutamente nesse continente, controlar todos os países e não lhes permitir uma política independente".
Hoje, a situação no continente latino-americano mudou radicalmente. Começou a ganhar velocidade o Brasil, Argentina, Chile, Peru.
Todos os gigantes mundiais estão interessantes nos contatos comerciais com eles. Por isso, o outrora “quintal” poderá afastar os seus protetores. Os latino-americanos têm consciência hoje clara disso e tentam criar o seu centro comum, afirma Nikolai Mironov:
"Historicamente, os países latino-americanos gostariam de outro centro de atração, que eles poderiam apoiar e em torno do qual poderiam unir-se e contrapor-se aos EUA. Porque essa pressão – expansão econômica, domínio político – nem sempre lhes agradou, principalmente tendo em conta os golpes militares e as repressões que se lhes seguiram. Os latino-americanos inclinam-se mais para o seu areal. Por isso o mais provável é o aparecimento aqui de Estados fortes. Por enquanto é o Brasil. No futuro, poderá ser organizado outro bloco regional que irá opor-se aos EUA".
Semelhante situação não agrada nada a Washington. Mas, por enquanto, não se prevê vias fáceis para o regresso dos EUA à sua hegemonia absoluta no continente. Os americanos devem preparar-se para isso. A era de Monroe passou.(
Por Alexandra Dibizheva)