O primeiro debate televisivo entre os presidenciáveis, transmitido entre as 22h30 de terça-feira (26) e a 1h20 desta quarta-feira (27) pela TV Bandeirantes, foi marcado pela tomada de posições por parte dos candidatos: de um lado, nomes com desempenho mais baixo nas pesquisas eleitorais investiram em trazer à tona temas "desconfortáveis" para as principais candidaturas, como a defesa das privatizações e da autonomia do Banco Central, a descriminalização do aborto e a legalização da maconha; Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), por outro lado, opuseram-se em sua concepção sobre o papel que o Estado brasileiro deve ter.
Enquanto a petista defendeu o papel regulador do Estado sobre a economia para garantir direitos, o tucano reafirmou sua adesão à idéia do Estado mínimo ao confirmar que sua política econômica é conduzida pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, ideólogo dos "ajustes" econômicos realizados durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002) e que voltaria em seu governo como ministro da Fazenda. Em outras ocasiões, o tucano voltou a defender que o Estado dê mais espaço ao setor privado na execução e no planejamento de obras de infraestrutura e na prestação de serviços, por meio de concessões. Já Marina, que tenta distanciar-se de ambos os candidatos ao mesmo tempo em que defende um governo que negocie tanto com PT quanto com PSDB, apresentou o conceito de "Estado mobilizador", que buscaria ser indutor da atividade econômica sem, de fato, interferir na economia.
"Existem setores estratégicos em que é papel do Estado garantir direitos. É assim para a regulamentação da mídia, por exemplo, e também no setor de energia", resumiu a presidenta, após ser questionada diversas vezes sobre os esforços do governo federal para manter mais baixas as tarifas de energia elétrica e sobre a proposta defendida pelo Partido dos Trabalhadores para criar novas regras para o setor de mídia no país. Os jornalistas da TV Bandeirantes e os candidatos Pastor Everaldo (PSC), Levy Fidelix (PRTB) e Aécio Neves (PSDB) foram os principais críticos da redução da tarifa da energia – considerada por eles interferência estatal excessiva no setor–, bem como do investimento do governo federal em políticas sociais.
Dilma e Aécio polarizaram atenções em várias vezes ao tratar de temas econômicos. A petista questionou o tucano sobre a promessa feita na pré-campanha de que adotará "medidas impopulares", e indagou se, além de desemprego, ele promete algo mais para os brasileiros. "A verdade é que o governo do PSDB, que parece que o senhor não vai adotar, quebrou o Brasil três vezes", afirmou. "Geramos no meu governo mais empregos do que vocês geraram em oito anos. Os números não podem ser enganosos. O fato é que o governo do PSDB cortou salários e deu tarifaços."
Já Marina, mesmo questionada pelo adversário tucano sobre sua incoerência em alianças políticas, reafirmou que vê "pessoas de bem" em todos os partidos. "Não devemos fulanizar as conquistas. Lula foi importante para a redução da desigualdade, e FHC pela estabilização da economia", afirmou, ao defender uma forma de governar que una polos opostos da política nacional, sem oficialmente coligar-se a nenhum deles. Questionada pelo candidato Eduardo Jorge (PV) sobre posições específicas de seu futuro governo para a área econômica, como a redução da taxa de juros e a independência do Banco Central, Marina não foi clara, deixando para o candidato verde o discurso mais contundente.
"Independência do Banco Central em relação a quem? Ao povo? É independência para os rentistas", pontuou Jorge. Luciana Genro (Psol) reforçou o coro do adversário. "Dar independência ao Banco Central é tirar a politica econômica das mãos do governo", afirmou. Os candidatos pequenos insistiram em temas considerados delicados pelas candidaturas à frente nas pesquisas, por causar rejeição de camadas mais conservadoras do eleitorado. Coube a Luciana e a Jorge a defesa da descriminalização do aborto e das drogas, bem como da separação entre Estado e religião. "Será que o Brasil vai ser o último país do mundo a garantir os direitos das mulheres, assim como foi o último a acabar com a escravidão?", questionou o candidato verde, depois de Aécio posicionar-se contrário à descriminalização do aborto.
Luciana e Pastor Everaldo protagonizaram ainda momento que poderia ter sido embate direto entre candidata de esquerda e representante da bancada evangélica, mas acabou se transformando em crítica a Dilma e Marina. A candidata do Psol tentou tirar de seu adversário do PSC uma declaração polêmica contra o kit homofobia, mas o pastor não entrou no debate. "A Marina também está presa a dogmas", emendou Luciana. "O governo Dilma, em nome da coalizão, governa e faz acordos com os grupos mais retrógrados", apontou. Marina, que foi questionada sobre o ensino do criacionismo nas escolas, evitou questões religiosas. "O ensino religioso não é obrigatório, é facultativo, justamente para não misturar as coisas. Não se deve julgar ninguém sem conhecer as pessoas", minimizou. Já Fidelix e Pastor Everaldo foram porta-vozes das propostas de extrema-direita: privatização da Petrobras e de suas subsidiárias, privatização dos presídios e redução da maioridade penal.