sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Brasil é exemplo no combate à desigualdade social

Enquanto a desigualdade entre ricos e pobres tem sido ampliada na maior parte do planeta, no Brasil tem ocorrido o oposto, apesar de o país continuar entre os mais desiguais do mundo. É o que aponta o relatório “Equilibre o Jogo:
É Hora de Acabar com a Desigualdade Extrema”, divulgado quarta-feira (29) pela Oxfam – organização não governamental que desenvolve campanhas e programas de combate à pobreza em todo o mundo.
“O Brasil tem apresentado um padrão diferenciado, e está entre os poucos países que estão tendo sucesso em diminuir a diferença entre os mais ricos e os mais pobres”, disse o diretor da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst, à Agência Brasil.
Ele acrescentou que, entre os Brics [bloco que agrega também Rússia, Índia, China e África do Sul], “o Brasil é o único que está conseguindo reduzir a desigualdade. E, dentro do G20, é o que está tendo maior sucesso nessa empreitada, ao lado do México e da Coreia do Sul, que, apesar dos avanços, figuram em um patamar inferior ao do Brasil [no que se refere a diminuição das desigualdades]”.
De acordo com ele, entre os fatores que colocam o país nessa situação estão os programas de transferência de renda como o Bolsa Família, iniciativa que, inclusive, tem sido adotada por outros países, lembra ele. Além disso, ao promover “aumento constante e um pouco acima da inflação” do salário mínimo, o Brasil protege os setores mais baixos da economia.
O salário mínimo nacinal cresceu quase 50% em termos reais, entre 1995 e 2011, e contribuiu para declínio paralelo das situações de pobreza e desigualdade, informou Ticehurst. Outro ponto favorável, que tem melhorado a situação do país, é a ampliação e melhoria do acesso a serviços básicos públicos, em especial à saúde e à educação.
“Investir em serviços públicos gratuitos é algo essencial para diminuir a distância entre ricos e pobres. Nesse sentido, vale ressaltar que privatizar saúde e educação implica em dificuldades para a ascensão social das pessoas”, argumentou. Apesar de ter melhorado, nos últimos anos, a distribuição de riquezas, o Brasil continua entre os países mais desiguais do mundo. “Há ainda muito por fazer”, ressalta Ticehurst, lembrando que “se antes o desafio era universalizar, agora o desafio é dar qualidade a esses serviços”.
“Houve avanços no combate à pobreza e desigualdade, mas para continuar melhorando é necessário aprimorar as políticas sociais e os serviços básicos, principalmente em termos de qualidade. Além disso, é preciso rever a questão tributária e fiscal, de forma a mudar do atual sistema regressivo para um progressivo, no qual quem tem mais contribui mais e quem tem menos contribui menos”.
Em sua avaliação, a reforma política precisa entrar na agenda do país, na busca por uma representatividade mais próxima aos interesses dos brasileiros. “É também necessário tocar as causas estruturais dessa desigualdade histórica, que afeta o país desde a época da colonização, feita por exploração e com extrema concentração de terras”.
Segundo ele, ao longo da história o Brasil valorizou demasiadamente “uma elite masculina e o patriarcado”, e a escravidão resultou em grandes diferenças econômicas e sociais, a partir da cor. Disse ainda que “tudo precisa vir acompanhado de uma base mais sólida para o crescimento sustentável”. Pedro Peduzzi, Agência Brasil

Programa Bolsa Família e a dor de cotovelo da Sociedade Capitalista

programa bolsa familia sociedade capitalistaO Programa Bolsa Família atualmente beneficia 56 milhões de pessoas no Brasil, representando aproximadamente 28% da população brasileira, é um programa consolidado e de referência mundial, nenhuma outra politica social de transferência de renda foi tão bem sucedida. A busca do Estado de suprir as necessidades sociais básicas da população realiza-se assim de forma avançada e contínua, causando uma ruptura de antigos sistemas de proteção social, voltando-se para a população pobre em idade ativa, com capacidade produtiva e com um olhar direto para as crianças.
Para receber o benefício, basta a família atender aos critérios de renda estipulados, que não podem ultrapassar o valor de R$154,00 per capita, a partir dai, com o cálculo do número de pessoas na família, cadastramento e do processo de avaliação feito pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, poderá ocorrer a liberação do benefício.
Atualmente o valor médio do benefício repassado ás famílias Brasileiras beneficiárias é de R$ 170,10 mensais, e que para permanecerem no programa devem cumprir com as condicionalidades, reforçando o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de Educação com todas as crianças e adolescentes de 6 a 17 anos frequentando a escola, na Saúde devendo haver o acompanhamento nutricional com verificação de vacinação, peso e altura e na Assistência Social a família deve manter o cadastro atualizado a cada dois anos.
Uma das principais críticas ao programa é a ideia de comodismo gerada nas famílias beneficiárias, o chamando efeito preguiça (a pessoa recebe os recursos do programa e não vai trabalhar) é desmistificado quando analisados os dados disponibilizados pela OIT – Organização Internacional do Trabalho – onde se constata que quase 70% dos beneficiários do Programa possuem renda vinda do trabalho, a diferença – vale ressaltar – está no tipo de trabalho realizado, muitas vezes precário, informal e consequentemente temporário. O trabalho é um dos principais vínculos entre o desenvolvimento econômico e o social, mas não é qualquer trabalho que garante o acesso a uma vida digna, e sim um trabalho decente que além de remuneração adequada, promova o acesso aos direitos, à proteção social e a igualdade de oportunidades.
Vemos nas redes sociais imagens e críticas ao programa absolutamente infundadas, parte dos usuários compartilham informações sem ao menos averiguá-la, nos fazendo perceber que o “problema” da educação no país, não abrange somente as famílias mais pobres, os negros e os nordestinos, como também analfabetos funcionais de nível universitário. O programa trabalha também com a inclusão produtiva, que ao lado da garantia de renda e do acesso a serviços públicos, propicia a população beneficiária do Programa Bolsa Família oportunidades de ocupação e renda, com destaque para o PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – que oferece cursos de formação inicial e continuada para a população de baixa renda, por meio dos Institutos Federais e escolas do Sistema S.
O crescimento das políticas sociais e a garantia de direitos são evidentes, porém há muito ainda a se fazer, já que historicamente sabemos da privação de oportunidades acometidas a uma enorme quantidade de brasileiros. Ai sim, acreditar que ao longo do tempo, com a redução das desigualdades sociais e do número de pobres, possamos repensar o Programa Bolsa Família como um programa assistencial convencional, mas até lá é preciso fazer-se entender os princípios básicos do programa, que acima de tudo age contra a pobreza e possibilita o acesso da população vulnerável aos seus direitos básicos.
É evidente que ninguém fica rico recebendo o Bolsa Família, então por que para muitos é tão inconcebível ver um pobre tendo o mesmo poder de compra? Isso meu povo, é distribuição de renda, isso é igualdade social. (Por João Luis Suppi Rodrigues)

Futebol: Entidades alertam para tráfico de menores

O sonho de seguir carreira no futebol não pode levar o jovem a se submeter a condições degradantes e sem acesso à educação nas escolinhas ou centros de treinamento. Isso caracteriza tráfico de pessoas. O alerta foi dado hoje no seminário Na Rede Certa, dentro da campanha de prevenção ao tráfico de crianças e adolescentes no esporte, promovida pelo Consórcio Trama, que reúne entidades da sociedade civil de defesa dos direitos humanos.
Por seis meses, a organização percorreu escolas de ensino fundamental e médio do estado do Rio de Janeiro, promovendo oficinas de conscientização sobre o tema para estudantes e profissionais de educação. Além disso, foram ministradas 40 palestras para multiplicadores como conselhos tutelares, órgãos de segurança pública e organizações não governamentais.
A advogada Thaísi Bauer, representante do Consórcio Trama, explica que as condições em que são colocados os meninos que vão atrás do sonho de se tornar jogador de futebol normalmente não são vistas como escravidão moderna ou tráfico de pessoas, e sim como “parte do jogo”. Thaísi relata, porém, que os jovens passam por diversas violações de direitos, como falta de garantia de alimentação, dormitórios em péssimas condições de higiene e superlotados, abandono da escola e treinos de mais de dez horas por dia.
“Sociologicamente, o futebol é muito importante, não só aqui no Brasil como no mundo todo. E como a gente tem essa divulgação enorme na mídia, dos meninos que vão para fora e conseguem seguir carreira no futebol e ganhar muito dinheiro, a gente tem essa cultura dos meninos abandonarem as escolas e começarem muito cedo no futebol para tentar um lugar ao sol, mas 99% dos meninos que tentam a carreira de futebol não conseguem chegar a um time de sucesso”, ressaltou.
De acordo com ela, o tráfico interno é muito grande, com os meninos trazidos por “olheiros” do Norte e Nordeste para o Sudeste, onde estão os maiores times. “Vários fatores levam a isso, como as desigualdades sociais, econômicas e cultural, desconhecimento do perigo, falta de informação dos pais, ausência de perspectiva local, o sonho de conquistar o mercado internacional e a possibilidade de melhorar a vida da família. E a mídia só mostra casos de sucesso”, acrescentou.
Ela relata o caso ocorrido nas categorias de base do Vasco em 2012, onde um garoto mineiro, de 14 anos, teve um ataque epilético durante o treino e morreu no local, sem atendimento médico, após não ter recebido as duas últimas refeições. Thaísi também disse que muitos meninos são levados irregularmente para o exterior, onde correm o risco de serem abandonados pelo aliciador, caso não deem o retorno financeiro esperado.
Professora do Colégio Estadual Oswaldo Ornellas, em São Gonçalo, região do Grande Rio, e coordenadora do Programa Mais Educação, Celi Santana relata que as oficinas da campanha possibilitaram que o assunto, antes invisível, entrasse na comunidade escolar. Segundo ela, o tema é bastante invisível, e "quando se informa aos profissionais de educação, seus companheiros de trabalho, que a atividade que mais mobiliza crianças na escola - especialmente os meninos -, é utilizada como forma de mercantilizar o ser humano, causa impacto, porque ela não é vista nessa perspectiva do tráfico de pessoas”.
O Projeto Trama distribuiu cartilha voltada para as crianças e adolescentes, conselheiros tutelares e treinadores de escolinhas de futebol. O trabalho ganhou, inclusive, edital lançado em parceria do Ministério da Justiça com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime para o enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Créditos: Agência Brasil

Amazônia acumula 762 mil km² de desmatamento em 40 anos

Até o ano passado, o desmatamento acumulado na Floresta Amazônica, em 40 anos de análise, somou 762.979 quilômetros quadrados (km²), o que corresponde a três estados de São Paulo ou a 184 milhões de campos de futebol. É o que revela o relatórioO Futuro Climático da Amazônia, coordenado pelo pesquisador Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O relatório, divulgado ontem (30)  na Sala Crisantempo, na zona oeste de São Paulo, reúne várias estudos feitos sobre a região e é destinado à população leiga. O objetivo é universalizar o acesso a mais de 200 estudos e artigos científicos e diminuir o que o pesquisador chama de “ignorância” sobre os problemas ambientais.
Nobre calcula que a ocupação da Amazônia já destruiu 42 bilhões de árvores, ou seja, mais de 2 mil árvores por minuto, de forma ininterrupta, nos últimos 40 anos. Somando-se o desmatamento e a degradação (que considera áreas verdes, mas inutilizadas) da floresta, a destruição da Amazônia alcança mais de 2,062 milhões de km².

De acordo com o relatório, o desmatamento pode pôr em risco a capacidade da floresta de rebaixar a pressão atmosférica, exportar sua umidade para outras regiões pelos chamados “rios voadores” e regular o clima, induzindo à seca. Os efeitos sobre a Região Sudeste, mais especificamente no estado de São Paulo, que enfrenta uma grande seca, ainda estão sendo estudados, mas Nobre acredita que parte disso seja reflexo do desmatamento da Mata Atlântica e do aquecimento climático.
“Estamos na UTI climática”, afirmou o pesquisador, comparando o problema do clima ao de um paciente internado em um hospital. Segundo Nobre, é difícil prever se o “paciente” – no caso, a Amazônia – vai reagir, embora ainda exista uma solução para o problema.

“Quando se está no processo de UTI no hospital, o médico vai dizer a que horas você vai morrer? Não vai. Depende do seu organismo e de muitos fatores, e o que o médico pode fazer é o que está ao alcance dele: informar. O que estou fazendo é informando [sobre o problema ambiental na Amazônia]. E acho que tem uma solução: desmatamento zero para anteontem e replantar em esforço de guerra. Mas, antes disso, um esforço de guerra real é acabar com a ignorância”, enfatizou.
De acordo com Nobre, o esforço para zerar o desmatamento é insuficiente, já que é preciso também confrontar o passivo do desmatamento acumulado e dar início a um processo de recuperação do que já foi destruído. “É preciso plantar árvores em todos os lugares, e não só na Amazônia”, ressaltou o pesquisador, lembrando que não podem ser plantados somente eucaliptos, como ocorre atualmente, já que esta não é a espécie mais indicada para trazer chuva.
Para ele, o governo tem uma grande tarefa a realizar e esse trabalho deve ser feito em conjunto com o Ministério Público, a Justiça, as organizações não governamentais (ONGs) e, principalmente, os cientistas, repetindo algo que foi feito após 2004, quando o Brasil alcançou o pico de área desmatada ([27,7 mil km²) “É possível fazer acordos e todos os setores serem beneficiados”, airmou.
Apesar de o desmatamento estar se reduzindo nos últimos anos, o Brasil ainda é o maior desmatador do mundo, afirmou Cláudio Amarante, da ONG WWF Brasil. “Pelos dados que temos hoje, por tudo o que reduziu, o Brasil ainda é o maior desmatador do mundo, embora dependa de como isso é medido. O Brasil tem dez anos de redução de desmatamento, mas os países andino-amazônicos vêm em processo contrário: há um crescimento do desmatamento. Após o Brasil, vêm a Bolívia, o Peru, a Colômbia, a Venezuela e o Equador, do ponto de vista absoluto [de área desmatada].”
De acordo com Amarante, o controle do desmatamento no Brasil está entrando agora em sua fase mais difícil: a de combate às pequenas manchas de desmatamento, pouco visíveis por satélites. “Até agora, o que foi possível foi conter o desmatamento que era mais fácil, o mais flagrantemente ilegal, das áreas maiores e de maior detecção. Agora vamos ter que combater as pequenas manchas de desmatamento e as feitas por pequenas propriedades ou assentamentos”, afirmou.
Créditos: Agencia Brasil

Cientistas confirmam existência da vida depois da morte

vida, morte, opinião, religião

O que acontece quando uma pessoa exala o seu último suspiro e o último som quase incompreensível sai da sua garganta? Esta pergunta é muito incômoda a toda a cultura de consumo do mundo ocidental, que pretende fazer as pessoas esquecerem o inevitável.

Mas a maioria já viveu. Nós, os vivos, fazemos parte de uma minoria ínfima, se compararmos com o número de todos os que já abandonaram este mundo. A obsessão com a morte é natural no homem em todas as épocas históricas, não somente na contemporânea. Existem inúmeras obras de arte de todos os séculos que tentam captar a passagem entre a vida e a morte.
Analisando a arte, chega-se a outra conclusão: que outrora, as pessoas tinham uma consolação considerável que lhes ajudava: a religião, cujo abrigo muitos ocidentais abandonaram já para sempre. No entanto, há estudiosos que realizam pesquisas da área da medicina e que visam dar um sentido à vida humana. Sem tocar no lado religioso do assunto, eles se inscrevem na tradição do doutor norte-americano Raymond Moody, que sugeriu a existência dos chamados NDE, estados de quase-morte (Near Death Experience, em inglês).
É de notar que nem todas as pessoas que experimentaram a morte clínica tiveram necessariamente experiências de quase-morte. Porém, há relatos positivos de mais de 60% dessas pessoas (o resto afirma não se lembrar bem). Desses 60%, menos de 10% tiveram NDE negativos, ou seja, visões de inferno ou de uma bruma em direção à qual eles se moviam. Os 50% restantes, no entanto, contaram sobre experiências que fazem lembrar um famoso quadro de Hieronymus Bosch, pintor holandês do século XVI. Naquele quadro, um anjo recebe as almas dos fiéis que voam aos céus.
A ciência fundada pelo doutor Moody se chama tanatologia. Os tanatólogos contatam que todos os moribundos tiveram mais ou menos as mesmas visões: parentes defuntos, levitação no ar no momento da parada cardíaca, um voo a grande velocidade aos céus através de uma bruma imensa, o julgamento proferido por um ente de luz, durante o qual a pessoa repassa toda a sua vida, sentindo todo o mal que ela causou aos seus próximos. Como se a pessoa se julgasse ela própria, com o juiz celeste na qualidade de árbitro.
Muitos dos sobreviventes à morte clínica ficam muito zangados com os médicos que lhes fizeram regressar à vida. Todos os que experimentaram esse estado declaram não temer mais a morte, mas, sim, o que vai acontecer depois daquele julgamento do anjo. É muito interessante que já não se trata de testemunhas separadas, mas de um exercício coletivo de reflexão e de preparação de uma conclusão geral que pode levar um dia ao retorno da religião. Sem ser religiosa, a medicina parece ter alcançado por fim o grau de verdade e sinceridade próprio das grandes religiões.
Quem sabe se um dia, quando os cientistas recolherem as provas necessárias, nós não iremos assistir ao ensino escolar dos resultados das pesquisas, o que irá proteger os nossos filhos deste estado de vazio que nos cerca por todo o lado? (Por Natalia Burkova) Foto: Screenshot: YouTube
(Os fatos relatados e as opiniões expressas são da responsabilidade da autora.)
Créditos: Voz da Russia

As mulheres detestam a guerra, ao contrário dos homens?

Apenas seis meses atrás, as autoridades britânicas de contraterrorismo anunciaram uma iniciativa para evitar que jovens britânicos se ofereçam para combater na Síria: recrutar mulheres muçulmanas como detetives amadoras. Naquela altura, estimava-se que entre 200 e 366 britânicos houvessem se apresentado como voluntários para servir ao islamismo radical. A vice-comissária assistente, Helen Ball, a principal coordenadora de contraterrorismo na Grã-Bretanha, explicou ao Guardian o que suas antimilitaristas escolhidas seriam instadas a procurar. “Elas podem ver que seus parentes estão passando mais tempo na internet”, disse. “Ou eles podem estar muito nervosos com os acontecimentos na Síria.”
Não faria sentido também envolver os homens muçulmanos? Ou havia evidências de que, ao contrário das muçulmanas, eles poderiam se ofender? Embora os acadêmicos já tenham destacado os riscos de se considerar as mulheres muçulmanas uma proteção garantida contra a radicalização, e uma mãe muçulmana, Najma Hafeez, ter dito à imprensa que considerava essa opinião “muito paternalista”, as suposições de Ball sobre as mulheres, como basicamente observadoras benevolentes, talvez muito excêntrica para uma oficial de polícia graduada, foram feitas como se fossem evidentes. Talvez ela tivesse razão. Pois, surpreendentemente, esse retrato confiante das mulheres como alimentadoras respeitosas do sexo guerreiro – talvez baseado em conquistas ainda não divulgadas em policiamento maternal – não provocou o nível de indignação pública (como na campanha “Que sapatos sejam sapatos” que hoje é comum quando os fabricantes fazem suposições de gênero sobre, por exemplo, sapatos infantis.
Nenhuma campanha “Que a artilharia seja artilharia” contestou uma declaração de uma conhecida oradora, Sajda Mughal, no lançamento da iniciativa em Manchester, noroeste da Inglaterra. “As mulheres são agentes de mudança, especialmente as mães em casa”, disse ela. “São elas que podem alimentar e proteger seus filhos.” Samantha Lewthwaite, mãe de quatro e, incidentalmente, a “viúva branca” islâmica, supostamente, segundo essa visão essencialista das coisas, passou pelo mesmo programa de dessexualização que Lady Macbeth.
Enquanto o movimento “anti-cor-de-rosa” ganhava força, quaisquer dúvidas sobre o esquema de Ball tinham maior probabilidade de enfocar suas supostas provocações à espionagem e deslealdade do que sua fé – ainda mais duradoura que a de Disney, e ainda maior que a campanha Melhor Unidos [contra a secessão da Escócia], amiga das donas de casa – no poder da diferença sexual.
Para ser justo com as autoridades antiterroristas, a convicção de que as mulheres são naturalmente avessas a conflitos ainda é compartilhada por muitos políticos e pensadores destacados, e também por nosso próprio Austin Mitchell. Ele recentemente se preocupou, em público, sobre os riscos representados pela gentileza feminina para o interesse nacional – e, por implicação, o risco que o poder político representa para a gentileza feminina. As mulheres, concluiu ele, são “menos inclinadas a discutir grandes temas, como: devemos invadir o Iraque?”.
Muitas vezes, é verdade, a proporção nas páginas de comentários na mídia entre generais de poltrona e mulheres defensoras das “botas no chão” poderia ser interpretada como um apoio à teoria de Mitchell, que em si mesma, eu imagino, deve muito a Sara Ruddick, a influente filósofa feminista que defendeu o impacto restritivo da maternidade sobre o militarismo.
Outros poderiam ver a disparidade em belicosidade de comentários como – supondo que possamos descartar a discriminação –uma confirmação da análise do professor Simon Baron-Cohen, segundo a qual a escassez de mulheres-bombas poderia ser atribuída a que as mulheres são “programadas para a empatia”. Ao contrário dos homens, que são programados, se é que tenho o direito de dizer isso, para adorar tanques.
Então talvez não seja científico ver muito nas exceções, como Aqsa Mahmood, a fugitiva apoiadora do Estado Islâmico e emissora de ameaças ambiciosas contra David Cameron e seus descendentes: “Não se preocupe, em algum lugar ao longo do caminho seu sangue será derramado por nossos filhotes”. Ou Khadijah Dare: “Eu quero ser a primeira mulher britânica a matar um terrorista britânico ou americano!” E a ex-música de 45 anos, outra mãe de dois filhos, que decretou sob o nome de Umm Hussain al-Britani: “Todos vocês, cristãos, precisam ser decapitados com uma faca cega e empalados nas cercas de Raqqa”.
Deve haver uma excelente explicação, também, para as adversárias mais ativas dessas mulheres, presentes tanto nos militares aliados como, muito mais, no YPJ curdo, força que é cerca de 35% feminina e hoje luta até a morte na cidade sitiada de Kobani. Uma soldada, conhecida como Rehana, teria matado mais de cem combatentes do EI. Sua comandante, chamada Narin Afrin, teria dito: “Para entrar em Kobani os bandos do EI terão de passar sobre nossos cadáveres”. Em um fascinante artigo para aNew Republic, Sophie Cousins encontra uma jovem soldada curda no nordeste da Síria, a menos de um quilômetro das forças do EI. Usando um lenço hijab, armada com uma Kalashnikov, a soldada lhe diz: “A mulher foi suprimida durante mais de 50 mil anos e agora temos a possibilidade de exercer nossa vontade, nosso poder e nossa personalidade”.
Mas aqui no Reino Unido a polícia antiterrorismo ainda se inclina mais para a posição de Kofi Annan. “Durante gerações”, disse ele, “as mulheres serviram como educadoras da paz, tanto em suas famílias como em suas sociedades.” Talvez seja em parte porque esses atributos mostram as mulheres sob uma luz claramente atraente, que os críticos da diferença sexual inata foram quase tão lentos para confrontar mitos sobre o pacifismo feminino quanto fizeram com os que apresentam as mulheres avessas a riscos como potenciais salvadoras dos mercados financeiros ou as adversárias naturais do terrível partido Ukip, pró-independência do Reino Unido.
É inegável que matar, ao contrário da matemática, é algo em que a maioria de nós, mulheres, preferiríamos ser fracas – pelo menos em tempos de paz. Igualmente, não há como evitar a evidência de que as europeias, mesmo as que tiveram filhos, hoje apoiam o mais bárbaro dos crimes de guerra por parte de seus maridos e protetores islâmicos, que elas buscam em número cada vez maior. Em seu novo estudo, o professor Kamaldeep Bhui revela que, mesmo com suas parentes patrulhando a casa em nome da vice-delegada assistente Ball, as jovens e meninas britânicas têm tanta probabilidade de ser radicalizadas quanto os homens; estima-se que elas sejam 60 dos cerca de 500 recrutas locais do EI.
As mulheres, disse Kofi Annan, “mostraram-se instrumentais para construir pontes, em vez de muros”. Mesmo antes que garotas bem educadas, versadas nos preceitos do anti-bullying, começassem a tuitar sobre o genocídio em uma zona de guerra, certamente era mais complicado que isso.
É verdade, as mulheres são sempre vulneráveis como civis, e adequadamente priorizadas para proteção pela ONU. Mas elas também distribuíram penas brancas, aplicaram a mutilação genital feminina, traíram suas vizinhas, cometeram atrocidades em toda empreitada terrorista, onde sua suposta inocuidade as torna especialmente eficazes. Enquanto isso, inúmeros recrutas homens desertaram, temeram ser feridos e correram o risco de morte para evitar os píncaros da vitória aspirados por Khadijah Dare, mesmo que a realidade, no califado embrionário, esteja superando a Nutella.
A maior glória, para essas supostas jihadistas top, parece ser a promoção ao batalhão al-Khansa, um pequeno corpo vicioso cuja tarefa é impor a posição de segunda classe às mulheres em territórios conquistados, por exemplo, espancando as que não cobrem adequadamente o corpo. Por mais que isso possa parecer incrivelmente enganoso, elas não são as primeiras mulheres a conspirar para sua própria marginalização. O determinismo biológico, do tipo que reduz as mulheres a alimentadoras impotentes, é o melhor e improvável amigo da sharia, a lei islâmica.(Carta Capital)
Créditos: Focando a Notícia

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Papa incentiva organizações populares a lutar por terra, moradia e trabalho

Em encontro no Vaticano com 200 representantes de uma centena de organizações de base de todo o mundo para analisar as causas da exclusão social, o papa Francisco encorajou os movimentos populares a lutar para que todas as pessoas tenham acesso à terra, moradia decente e trabalho digno”.
Digamos juntos de coração: nenhuma família sem casa! Nenhum camponês sem terra! Nenhum trabalhador sem direitos! Nenhuma pessoa sem a dignidade que dá o trabalho!", pediu o papa no encontro, que foi organizado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz em colaboração com a Pontifícia Academia das Ciências Sociais e com os líderes de vários movimentos sociais.
Francisco lembrou, citando o Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI), que “a reforma agrária é, além de uma necessidade política, uma obrigação moral”, vinculando a falta dela à fome que assola ainda centenas de milhões de pessoas em todo o planeta. “Quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como qualquer mercadoria, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome.”
O pontífice criticou o modelo atual urbano, que oferece “inúmeros prazeres e bem-estar para uma minoria feliz”, mas “nega o teto a milhares de vizinhos e irmãos nossos, inclusive crianças, e eles são chamados, elegantemente, de ‘pessoas em situação de rua.”
Em relação ao trabalho, o papa enfatizou que “não existe pior pobreza material do que a que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho” e declarou que o desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos trabalhistas são o resultado de uma prévia opção social, de um sistema econômico que coloca os lucros acima dos seres humanos. Se o lucro é econômico, sobre a humanidade ou sobre o homem, são efeitos de uma cultura do descarte que considera o ser humano em si mesmo como um bem de consumo, que pode ser usado e depois jogado fora.
Isso acontece quando, no centro de um sistema econômico, está o deus dinheiro e não o homem, a pessoa humana. Sim, no centro de todo sistema social ou econômico, tem que estar a pessoa, imagem de Deus, criada para que fosse o denominador do universo. Quando a pessoa é deslocada e vem o deus dinheiro, acontecesse essa inversão de valores.
Segundo os entrevistados, o papa Francisco estimulou os líderes sociais a seguir lutando por um mundo novo e estes, por sua vez, pediram uma aposta mais clara pelos pobres” e abordaram algumas das violação aos direitos humanos sofridas em seus respectivos países, como os despejos de inquilinos, o trabalho precário e concentração de terras nas mãos de poucos.
Dentre os presentes estiveram o presidente da Bolívia, Evo Morales, que foi o único chefe de Estado que participou desse encontro. Como líder indígena, da etnia aimara, também pôde discursar durante o ato para saudar publicamente o papa e os demais participantes. Foto: radio UC Chile
Créditos: Rede Brasil Atual