As políticas sociais de combate à pobreza nos países da América Latina já dão sinais de esgotamento, ou de incapacidade para expandir o número de pessoas beneficiadas. Com o título Panorama Social da América Latina 2014, um estudo divulgado hoje (26), em Santiago do Chile, pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostra que a pobreza afetou no ano passado 28% da população do continente, conforme projeções da entidade, repetindo o desempenho de 2012 e 2013, quando esse indicador ficou estabilizado em 28,1%, depois de ter sido reduzido do seu maior nível, em 2002, de 43,9%.
Além disso, outro fator preocupante revelado pelo estudo é o crescimento da pobreza extrema, que subiu de 11,7% para 12% no ano passado, depois de ter atingido o menor nível, 11,3%, em 2012. “A pobreza persiste como um fenômeno estrutural que caracteriza a sociedade latino-americana”, afirma o documento da Cepal. O estudo foi feito para dar subsídios aos governos do continente no que concerne aos investimentos sociais, principalmente em três âmbitos: juventude e desenvolvimento, desigualdade de gênero no mercado de trabalho e segregação residencial urbana.
A taxa projetada de 12% em extrema pobreza significa um contingente estimado de 71 milhões de pessoas dentro de um universo de 167 milhões de pessoas em situação de pobreza, ante 165 milhões e 69 milhões, respectivamente. “A recuperação da crise financeira internacional não parece ter sido aproveitada suficientemente para o fortalecimento de políticas de proteção social que diminuam a vulnerabilidade diante dos ciclos econômicos. Agora, em um cenário de possível redução dos recursos fiscais disponíveis, são necessários maiores esforços para assegurar tais políticas, gerando bases sólidas com a finalidade de cumprir os compromissos da agenda de desenvolvimento pós-2015”, afirmou a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena.
Apesar da falta de progressos na média regional, cinco dos 12 países com informação disponível em 2013 registraram reduções da pobreza segundo os rendimentos superiores a 1 ponto percentual por ano. Os países que apresentaram maiores quedas foram: Paraguai (de 49,6% em 2011 para 40,7% em 2013), seguido por El Salvador (45,3% em 2012 para 40,9% em 2013), Colômbia (32,9% em 2012 para 30,7% em 2013), Peru (25,8% em 2012 para 23,9% em 2013) e Chile (10,9% em 2011 para 7,8% em 2013).
O Brasil aparece no relatório com 18% de população pobre em 2013, e 5,9% em pobreza extrema, número que no ano anterior era de 5,4%. Apesar do aumento do contingente em pobreza extrema, a população em situação de pobreza caiu um pouco em relação a 2012, quando esse total era de 18,6% da população. Para 2015, com o cenário de ajuste fiscal e economia em recessão esses números devem se agravar.
Além de analisar a pobreza por rendimentos, a edição de 2014 desse relatório anual apresenta uma medição complementar de caráter multidimensional que abarca cinco âmbitos: a moradia, os serviços básicos, a educação, o emprego e a proteção social, e o padrão de vida (referindo-se aos rendimentos monetários e ao acesso de bens duráveis). Considera-se que uma pessoa seja pobre se existirem carências em mais de uma dessas dimensões.
De acordo com este indicador, entre 2005 e 2012 a incidência da pobreza multidimensional reduziu-se, como média para 17 países da região de 39% para 28% da população, semelhante à pobreza por rendimentos. Em todos os países registraram-se quedas neste indicador e as maiores reduções ocorreram na Argentina, Uruguai, Brasil, Chile e Venezuela.
Créditos: Rede Brasil Atual