A Petrobras deve reduzir em 20,9 bilhões de dólares a projeção de investimento no Plano de Negócios e Gestão para os próximos cinco anos, em um documento que promete ser mais alinhado com o mercado financeiro, trazendo maior transparência e revelando uma empresa mais enxuta e realista.
O plano de negócios, aguardado para a próxima semana, deverá apontar investimentos de 77,5 bilhões de dólares até 2021, queda de 21 por cento ante o plano quinquenal anterior, publicado em janeiro, segundo a média de pesquisa da Reuters com quatro bancos.
A redução dos aportes é ainda maior quando comparada com o plano de negócios da petroleira em 2014, de 220,6 bilhões de dólares em cinco anos, quando a companhia ainda não havia reportado perdas bilionárias pelo escândalo de corrupção e os preços do petróleo estavam mais altos.
Para especialistas, ainda há margem para novas reduções, uma vez que a empresa permanece renegociando contratos e reduzindo custos, diante das cotações do petróleo, cujos valores caíram pela metade desde 2014.
"O novo plano de negócios de cinco anos é o gatilho mais importante no curto prazo... se for robusto o suficiente, ele vai ajudar a continuar sustentando a dinâmica positiva das ações da Petrobras na bolsa", afirmou Diego Mendes, analista do Itaú BBA, em uma nota enviada a clientes.
Mendes acredita que a Petrobras irá investir, em média, 15 bilhões de dólares por ano. Já o Santander estima aportes anuais de 12 bilhões a 14 bilhões de dólares até 2021, enquanto o Brasil Plural prevê aportes de 18 bilhões a 20 bilhões de dólares/ano, e o Bradesco, cerca de 15 bilhões por ano.
Apesar da queda dos investimentos, não são esperados impactos profundos na produção no curto prazo, uma vez que grande parte da extração que está por vir já está contratada. Entretanto, Christian Audi, analista do Santander, explicou a curva a ser apresentada pela empresa deverá ser mais realista.
"Uma meta mais conservadora talvez seja apresentada, refletindo um menor crescimento da produção em 2017 (dado que parte dessa produção já está contratada) e ficando com crescimento estável entre 2018 e 2021", disse Audi.
Além do Plano de Negócios e Gestão 2017-2021, a empresa também planeja publicar um novo plano estratégico, no qual o mercado e a indústria esperam respostas sobre o que a empresa quer ser e qual é exatamente o negócio dela, diante de uma crise financeira e de desinvestimentos bilionários.
"A Petrobras era uma caixa preta, de lá saíam surpresas enormes, sobressaltos, e de agora em diante ela promete ser uma empresa mais transparente, mais previsível", afirmou Roberto Castello Branco, ex-diretor financeiro da Vale e conselheiro da Petrobras em 2015.
A empresa já quebrou paradigmas ao vender sua parcela na descoberta de Carcará, no pré-sal da Bacia de Santos, e ao aceitar dividir o controle da BR Distribuidora, disse ele. Agora o mercado espera que a empresa seja cada mais previsível.
O plano de desinvestimentos é visto como um fator chave para o futuro da empresa, por especialistas ouvidos pela Reuters.
Isso porque além de ser considerado necessário para a redução da grande alavancagem, irá definir qual será o perfil da empresa no futuro, depois que ela se desfizer de vários negócios.
O mercado acredita que, se feito de forma organizada, o plano de venda de ativos poderá agregar muito valor.
"Acho que pela primeira vez a Petrobras está assumindo o que acontece com outras companhias internacionais, que é fazer programas anuais de desinvestimentos... é da natureza desse negócio", disse Helder Queiroz, ex-diretor da agência reguladora do setor de petróleo (ANP) e professor e membro do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ.
Segundo Queiroz, uma reavaliação de ativos frequente é necessária para que a empresa esteja sempre bem posicionada.
O plano de desinvestimentos da Petrobras atual prevê a venda de 15,1 bilhões de dólares entre 2015 e 2016, dos quais 4,5 bilhões de dólares foram concluídos, segundo cálculos do Brasil Plural. Analistas esperam novas metas de vendas de ativos.
Além das vendas de ativos, outro ponto sensível do plano na avaliação de analistas é a política de preços de combustíveis. Historicamente, a Petrobras afirma que segue os valores internacionais, mas sem passar a volatilidade do mercado.
Entretanto, mesmo a nova gestão, que se apresenta como mais transparente, não explicou ainda ao mercado como administra os preços dos combustíveis e se pretende tornar o processo mais previsível, o que é uma grande demanda do setor.
Caio Carvalhal, analista da Brasil Plural, destacou que, se a política de preços foi um dos principais fatores para o aumento da alavancagem da empresa, entre 2011 e 2015, também pode ajudar em tempos difíceis, como agora, em que a empresa vende produtos com prêmio ante o mercado internacional. "A falta de uma política de preços mais clara prejudica a modelagem adequada da empresa, aumentando a imprevisibilidade dos ganhos", afirmou Carvalhal. Por Marta Nogueira e Paula Laier. Foto: EBC