sábado, 24 de setembro de 2016

Beneficiários do Bolsa Família doaram R$ 16 mi para candidatos

Um cruzamento de dados entre o cadastro de beneficiários de programas sociais do Governo Federal e o sistema de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) identificou que R$ 15.970.436,50 foram doados a candidatos e partidos políticos nas eleições deste ano por beneficiários do Bolsa Família. O valor total de arrecadação declarado à Justiça Eleitoral até o momento é de mais de R$ 1 bilhão e, de acordo com o cruzamento, pelo menos 16 mil beneficiários do programa social aparecem como doadores. 
Uma parceria entre o TSE e o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA) permitiu o cruzamento desses dados, possibilitando que o TSE investigue indícios de falta de capacidade econômica de doadores inscritos no cadastro e que realizaram doações para campanhas eleitorais.
De acordo com o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, tudo indica que pode haver fraude: “ou essa pessoa não deveria estar recebendo Bolsa Família ou está ocorrendo o que chamamos de ‘caça CPF’, ou seja, a manipulação de CPF de alguém que está inocente nessa relação, então tudo isso será investigado”.
Segundo o ministro Gilmar Mendes, antes a análise das contas só era feita tempos depois da eleição e, agora, a Justiça Eleitoral está trocando informações com o Ministério Público, a Polícia Federal, o Tribunal de Contas da União (TCU), o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), a Receita Federal, além do Ministerio do Desenvolvimento Social e Agrário, para analisar irregularidades ainda durante a campanha. “Portanto, estamos em condições muito mais confortáveis para fazer o nosso papel e reafirmo que a prestação de contas vai deixar de ser um faz de conta”, enfatizou.
Para o cargo de vereador, os cadastrados no Bolsa Família doaram, em todo país, R$ 12.254.281,02. Já aos candidatos a prefeito, o valor das doações soma R$ 3.511.722,48. Também foram verificadas doações a partidos políticos, que somam R$ 204.433,00. O maior valor doado por beneficiário do Bolsa Família foi R$ 67 mil.
Conforme explicou o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, são indícios de crime que ainda serão investigados e, por essa razão, os nomes das pessoas envolvidas não serão divulgados. “A parceria com o Tribunal foi muito importante e, cada denúncia dessa, nós vamos investigar para saber se pessoas que não necessitam do Bolsa Família estão recebendo ou se os CPFs dessas pessoas estão sendo usados para praticar crime eleitoral”, disse o ministro Osmar Terra.Fonte: TSE.
Créditos: Focando a Notícia

Desemprego avança e é maior na construção e agricultura

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O mercado formal de trabalho eliminou 33.953 vagas (-0,09%) em agosto, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. A série se mantém negativa ao longo do ano, mas o ritmo de perda de postos de trabalho diminuiu no mês passado – em agosto de 2015, por exemplo, foram menos 86 mil vagas. Agora, no acumulado deste ano, o corte chega a 651.288 (-1,64%) – pior resultado desde 2002 –, levando o estoque de empregos formais para 39 milhões. Em 12 meses, o Caged registra eliminação de 1.656.144, queda de 4,07%.
Apenas em agosto, o Caged registra 1,254 milhão de contratações e 1,288 milhão de demissões. A perda de quase 34 mil vagas concentrou-se na construção civil, que fechou 22.113 empregos com carteira assinada (-0,88%) e na agricultura, com menos 15.436 vagas formais (-0,94%). O setor de serviços (menos 3.014, ou -0,02%) e o comércio (888, 0,01%) ficaram praticamente estáveis, enquanto a indústria de transformação teve ligeiro crescimento, com 6.294 empregos a mais (0,08%), com destaque para os setores de alimentos e bebidas, calçados, têxtil/vestuário e químico.
No ano, o comércio fecha 267.267 vagas com carteira (-2,90%) e a construção civil, 164.604 (-6,09%, a maior queda percentual). Também eliminam empregos formais os serviços (-162.922 ou -0,95%) e a indústria (-146.249 ou -1,92%). Têm resultado positivo a agricultura, que abre 82.109 postos de trabalho (5,28%), e a administração pública, com mais 18.631 (2,10%).
Treze unidades da federação registraram abertura de vagas, com destaque para Pernambuco (9.035). Segundo o Ministério do Trabalho, a indústria de produtos alimentícios abriu 7.016 empregos, resultado "decorrente do impacto da alta do cultivo de cana de açúcar", que criou 1.323 postos de trabalho no país. A maior queda foi apurada no Rio de Janeiro: menos 28.321 empregos formais, especialmente no comércio/administração de imóveis e em serviços de alojamento e alimentação, "dados influenciados também pelo fim dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos".
O estado de São Paulo ficou próximo da estabilidade no mês passado, fechando 4.498 vagas formais (-0,04%). Mas o comportamento foi diferenciado: a região metropolitana cortou 5.041 e o interior abriu 543. Em 12 meses, até agosto, todos os setores têm perda de postos de trabalho. A indústria perde 482.535 (-6,06%), os serviços, 446.748 (-2,57%), e a construção civil, 409.243 (-14,08%).
Créditos: Rede Brasil Atual

Vacina contra dengue pode piorar os sintomas em alguns casos

Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, Universidade Imperial de Londres e da Universidade da Flórida descobriu que a única vacina aprovada para a dengue pode aumentar a incidência de infecções causadas pelo vírus, ao invés de prevenir a doença.
Os pesquisadores alertam que as autoridades de saúde devem ser cuidadosas sobre em quais situações irão utilizar a vacina. Eles analisaram ensaios clínicos de vacinas realizados em 10 países com mais de 30.000 participantes. Usando esses dados, eles desenvolveram modelos matemáticos para entender como a vacina iria afetar as pessoas nos países onde a transmissão da doença é alta, moderada ou baixa.

O vírus da dengue possui quatro variações: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Todos os tipos de dengue causam os mesmo sintomas. Isso gerou diversos desafios para que os cientistas desenvolvessem uma vacina que pudesse valer para as variações.
A vacina foi desenvolvida pela empresa francesa Sanofi Pasteur, é feita com vírus atenuados e é tetravalente, ou seja, protege contra os quatro sorotipos de dengue existentes. Além disso, a vacina deve ser tomada em três doses.
Quando uma pessoa é infectada com um determinado tipo de vírus, seu organismo cria anticorpos para que não haja mais a contaminação por esse mesmo vírus, porém o paciente ainda pode ser infectado pelos outros três tipos. Caso ocorra um segundo ou terceiro episódio da dengue, há risco aumentado para formas mais graves da dengue, como a dengue hemorrágica e síndrome do choque da dengue.
Os pesquisadores descobriram que, em lugares onde há alta transmissão de dengue, a vacina pode reduzir a doença e hospitalização de 20% a 30%. Contudo, se a vacina for usada em lugares onde a transmissão do vírus é baixa, pode resultar no aumento da doença.
"Essa é a única vacina disponível até agora para retardar a dengue. Se a vacina for usada corretamente, muitas pessoas poderiam ser poupadas da doença e da hospitalização. Mas devemos ter certeza de só usá-la em lugares onde os nossos dados sugerem que ela vá fazer mais bem do que mal", diz Isabel Rodriguez-Barraquer, MD, PhD, MHS, pesquisadora na Universidade Johns Hopkins Bloomberg e uma das principais autoras do estudo.
A nova pesquisa sugere que a vacina possa funcionar com uma infecção natural, atuando como uma segunda contaminação e agindo de forma silenciosa. Em pessoas que ainda não foram infectadas pela dengue, a vacina faz com que o sistema imunológico passa a reconhecer que uma primeira infecção por dengue ocorreu e, em seguida, quando expostos a dengue em um ambiente natural, o corpo reage como se estivesse recebendo uma segunda infecção que pode ser mais grave.
Os fabricantes reconheceram que sua vacina não é completamente eficaz em pessoas que ainda não tenham tido uma infecção por dengue. Além disso, a vacina não é indicada para uso em crianças com menos de nove anos de idade, porque eles são menos propensos a terem sido expostos a dengue.
Com base nestas constatações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a vacina seja usada somente em áreas de alta contaminação da doença. "Devemos ter cuidado sobre onde e como usar esta vacina, pois ainda não há certeza sobre o seu impacto", comenta Derek AT Cummings, PhD, professor de biologia da Universidade da Flórida e professor adjunto na Universidade Johns Hopkins Bloomberg.
"Ter uma vacina é um avanço significativo para o controle da dengue. No entanto, ela é um excelente exemplo para que os cientistas pensem antes nos riscos e benefícios", completa Isabel Rodriguez-Barraquer. Os pesquisadores acreditam que um exame de sangue possa identificar as pessoas que já foram infectadas antes e isso seria fundamental para que elas pudessem futuramente tomar a vacina.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 100 milhões de pessoas se infectem anualmente com a dengue em mais de 100 países de todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em consequência da doença.
Créditos: Minha Vida

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Sociedade exclui obesos

Além de afetar a saúde, a obesidade pode levar à solidão. Pessoas muito acima do peso são muitas vezes estigmatizadas, ridicularizadas ou excluídas da sociedade, aponta um estudo divulgado na Alemanha nesta semana.
A pesquisa, realizada pelo instituto Forsa sob encomenda da seguradora DAK, revelou que 71% dos entrevistados consideram o aspecto físico dos obesos antiestético; e 15% evitam o contato com eles. A maioria das pessoas consultadas considera que os obesos são preguiçosos e, por isso, não conseguem emagrecer.
No entanto, a obesidade pode se manifestar devido a uma série de fatores, como distúrbios metabólicos e predisposição genética. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define sobrepeso e obesidade como um acúmulo de gordura anormal ou excessivo. Estes são um grande fator de risco para uma série de doenças, como diabetes, problemas cardiovasculares, depressão e câncer.
Exclusão agrava a obesidade
De acordo com a nova pesquisa, a exclusão social no dia-a-dia e no trabalho agrava a obesidade, elevando o nível de stress, provocando mudanças no comportamento alimentar e, consequentemente, aumento de peso.
A OMS usa o Índice de Massa Corporal (IMC) – peso da pessoa divido por sua altura, em metros, ao quadrado – para medir a obesidade. Se o IMC for maior ou igual a 30, a pessoa é considerada obesa. Se for igual ou maior que 25, há sobrepeso.
Antes considerados problemas somente em países desenvolvidos, a obesidade e o sobrepeso estão hoje em ascensão em países de baixa e média renda, sobretudo em áreas urbanas, aponta a OMS. Na Alemanha, um quarto das pessoas entre 18 e 79 anos de idade tem obesidade. O problema afeta um quinto dos brasileiros e 13% da população mundial.(G1).
Créditos: WSCOM

TCE vê preço 144% maior na merenda de SP

Do Estadão - Uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE) nos contratos da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) com o governo Geraldo Alckmin (PSDB) e 22 prefeituras paulistas para fornecimento de insumos para a merenda escolar concluiu que a Secretaria Estadual da Educação pagou pelo litro do suco de laranja no ano passado um valor 144% maior do que o praticado no mercado e que as compras foram "danosas" aos cofres do Estado.
Segundo o documento, o governo paulista pagou R$ 6,10 por embalagem de 1 litro de suco da Coaf, enquanto o preço médio desse produto pesquisado pelo setor de fiscalização do TCE é de R$ 2,50. Ao todo, a Secretaria Estadual pagou R$ 11,4 milhões à cooperativa por 1,4 milhão de litros de suco em 2015, antes da deflagração da Operação Alba Branca, que desmantelou, em janeiro deste ano, uma quadrilha dentro da Coaf, na cidade de Bebedouro, interior paulista, acusada de pagar propina a agentes públicos e políticos para obter contratos superfaturados.
A auditoria do tribunal teve início logo após a descoberta do esquema criminoso. Na quarta-feira, 21, a Corte de contas analisou o relatório feito pelo conselheiro Edgard Camargo Rodrigues e decidiu encaminhá-lo ao Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar as irregularidades apontadas porque 98% dos R$ 13,7 milhões pagos à Coaf pelo governo Alckmin e por 22 prefeituras no ano passado foram recursos federais transferidos por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O mesmo motivo levou a investigação sobre a máfia das mãos da Polícia Civil e da Promotoria estadual para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF).
Segundo o TCE, prefeituras chegaram a pagar até R$ 13,90 pelo litro de suco de laranja da Coaf, ou seja, 456% a mais do que o valor de mercado (R$ 2,50). Além do suco, administrações municipais também compraram da cooperativa outros insumos para merenda escolar com valores acima dos praticados no mercado, R$ 2,89 no quilo do mamão (R$ 1,61 no mercado) e R$ 5,13 no quilo do tomate (R$ 2,60 no mercado).
Outros dois relatórios feitos pela Corregedoria-Geral da Administração (CGA), órgão de fiscalização do governo do Estado, e pela Controladoria-Geral da União (CGU) já haviam detectado falhas na contratação feita pelo governo Alckmin para compra de insumos da merenda, como cotar apenas dois preços quando a exigência mínima é de três cotações.
As apurações também constataram que o suco fornecido pelas duas cooperativas contratadas pela secretaria (Coaf e Coagrosol) foi comprado da indústria e revendido em vez de ser produzido por pequenos agricultores, como exige a lei. No mês passado, a pasta proibiu a Coaf de assinar novos contratos com o governo do Estado.
Em nota, a pasta informou que segue a lei federal que determina as regras para a realização dos certames de compra de produtos da agricultura familiar para facilitar a entrada de pequenos agricultores no fornecimento de merenda, "o que pode ocasionar a variação do preço ofertados por empresas menores". Segundo a secretaria, as chamadas públicas de 2015 já foram canceladas e a fiscalização sobre as cooperativas de agricultores "foi fortalecida".
Créditos: Estadão

Chia pode prevenir câncer, diabetes e Alzheimer

chia - Foto: ThinkstockUm estudo divulgado pelo Departamento de Alimentos e Nutrição da Unicamp, em Campinas (SP), aponta que o consumo regular da chia, como semente ou óleo, pode ajudar no combate ao câncer, Alzheimer, diabetes, entre outras doenças.
Os pesquisadores afirmam que essa é a primeira descoberta sobre o poder antioxidante do alimento, capaz de retardar o envelhecimento das células, e sobre sua atuação na redução da quantidade de açúcar no sangue.
Os testes do estudo duraram quatro anos. Por um período de seis meses, ratos magros e obesos receberam ração misturada com semente e óleo de chia. Foi observado que tanto o consumo da semente quanto do óleo de chia apresentavam um efeito anti-inflamatório, reduzindo o colesterol em torno de 30% a 40% e aumentando a concentração de ômega 3.
Além disso, foram encontrados os efeitos da chia na redução da quantidade de açúcar no sangue, na prevenção de doenças cardiovasculares, diabetes tipos 1 e 2, na redução da incidência de mal de Alzheimer e de câncer. O seu poder de diminuir os radicais-livres está diretamente ligado à prevenção de diversas doenças.
Para aproveitar os benefícios dessa poderosa semente, os especialistas afirmam que é necessário o consumo de duas colheres de sopa de chia diariamente. Também é possível sentir os efeitos do alimento com o uso do óleo no preparo das refeições.
Um dos motivos que fazem da chia uma grande aliada na perda de peso está na sensação de saciedade que a semente proporciona. Suas fibras têm a capacidade de absorver muita água, transformando-se em uma espécie de gel. É só fazer o teste, deixando uma porção de molho num copo para perceber a semente inchando em pouco tempo. Quando é ingerida, a reação é semelhante. Em contato com os sucos gástricos, suas fibras se transformam nesse gel, que aumentam a dilatação do estômago. É esse mecanismo um dos fatores que favorecem a saciedade e, consequentemente, acarreta um menor consumo de alimentos.
Além disso, o consumo regular de chia pode ser benéfico para evitar a formação de gordura localizada, outra grande inimiga de quem luta contra os ponteiros da balança. Um estudo publicado no European Journal of Clinical Nutrition validou uma pesquisa em que onze indivíduos saudáveis consumiram a semente por 12 semanas e obtiveram redução na glicemia após a refeição, ou seja, não houve picos de insulina no sangue, sendo assim, a glicose foi liberada lentamente no organismo. Tal processo evita que a gordura seja acumulada e, por consequência, afasta o excesso de peso. Os participantes do estudo também relataram diminuição do apetite até 120 minutos após o consumo da refeição, diferentemente dos indivíduos que não consumiram a chia, mostrando assim seu efeito no aumento da saciedade.
Créditos: Minha Vida

Reforma do ensino médio traz concepção elitista de educação e deve ampliar evasão

O presidente Michel Temer (PMDB) e o ministro da Educação, Mendonça Filho, enviaram ontem (22) ao Congresso a Medida Provisória 84, da reforma do ensino médio. A proposta elaborada às pressas pela equipe do governo, sem consultar professores, estudantes e especialistas, está sendo duramente criticada pela comunidade e também por setores do Ministério Público Federal.
No início de setembro, quando foram divulgados os resultados da edição 2015 do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), no qual o ensino médio da rede pública não atingiu a meta estipulada de 4,3, ficando em 3,7, o ministro anunciou que haveria a reforma.
Em comum, as críticas apontam para um modelo ultrapassado que fragmenta e empobrece a formação, que traz de volta uma concepção elitista da educação e que não contempla medidas necessárias para solucionar problemas estruturais.
O coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, avalia que o projeto é temerário. "Reúne questões perigosas, como liberar processos administrativos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para transferência de recursos, estimula parcerias público-privadas, abre espaço para a privatização e propõe um castelo de areia com a flexibilização. Como não foi dialogado, tende a ruir", disse.
Para Cara, a reforma de Temer pode vir a não ser implementada. "Pode servir apenas para bagunçar tudo, pois quer mudar o percurso do aluno, sem melhorar questões estruturais."
A presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), Andrea Gouveia, diz estar preocupada. Para ela, a proposta vai na contramão do que se discute em termos de caminhos para a melhoria do ensino médio. "Há várias possibilidades para melhorar um nível de ensino que tem o duplo desafio de ser caminho para o ensino superior e ao mesmo tempo capacitar para o mundo do trabalho. O melhor deles é melhorar a infraestrutura da escola, com laboratórios que funcionem, com internet que funcione e com professores que tenham tempo para dialogar com os alunos."
Referindo-se à fala de Temer na cerimônia, que enalteceu sua reforma como um retorno aos tempos que ele era estudante – em que se optava entre o clássico e o científico dependendo da faculdade pretendida –, Andrea destaca o viés excludente. "Da mesma maneira que antes optavam apenas os alunos da elite, que seguiriam para a faculdade, com a reforma de Temer, os filhos dos trabalhadores terão como escolha o mundo do trabalho. Nem podemos dizer que isso seja uma escolha, mas o aprofundamento da desigualdade", disse.
Destacando o caráter autoritário da reforma, por meio de medida provisória, a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Camila Lanes, disse que a entidade está se reunindo para analisar e debater as consequências da reforma. No entanto, adiantou que a aparente modernidade e eficiência da proposta é falsa. "À primeira vista, parece interessante, que permite ao aluno escolher o que seguir. Mas configura um modelo de ensino com 'olhar mecânico', que deverá reduzir carga horária de disciplinas fundamentais para o desenvolvimento do pensamento. Sem contar que não resolve problemas que temos hoje, como falta de merenda."
Para a secundarista, há ainda o componente excludente da reforma. "Pode haver aumento da evasão já que será estimulado o ensino em tempo integral, quando muitos estudantes precisam estudar à noite para trabalhar."
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, também se manifestou. Em nota divulgada segunda-feira (19), a procuradoria afirmou ser temerária a utilização de medida provisória no tratamento de tema sensível e complexo. "As mudanças a serem implementadas em um sistema que envolve 28 redes públicas de ensino (União, Estados e Distrito Federal) e ampla rede privada precisam de estabilidade e segurança jurídica, o que o instrumento da medida provisória não pode conferir, uma vez que fica sujeito a alterações em curto espaço de tempo pelo Congresso Nacional."
Ainda segundo a nota, "por se tratar de tema que envolve milhares de instituições públicas e privadas, centenas de organizações da sociedade civil e milhões de profissionais, imaginar que um governo pode, sozinho, apresentar uma solução pronta e definitiva é uma ilusão incompatível com o regime democrático. Mais que inefetiva, a apresentação de soluções fáceis para problemas complexos é um erro perigoso."
Dirigido por Maria Alice Setúbal, o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), também criticou a reformulação. Em nota oficial, o coordenador de desenvolvimento de pesquisas da organização, Antonio Augusto Gomes Batista, afirma que a proposta pode acirrar ainda mais as desigualdades escolares. Favorável a uma flexibilização curricular nessa etapa da educação básica, o Cenpec critica a forma como a proposta é apresentada – por meio de Medida Provisória –, uma vez que “uma condição importante para o sucesso da implementação de políticas é a participação da comunidade de educadores e da sociedade em geral”.
Outra crítica, segundo Batista, é a falta de garantia de ações específicas para sanar os déficits de aprendizagem para os estudantes façam suas escolhas que geralmente são feitas conforme a sua condição social e oportunidades que tiveram ao longo da vida.
A proposta tampouco enfrenta os inúmeros desafios que precisam ser superados no Ensino Fundamental, em especial os anos finais, bem como a sua articulação e/ou continuidade entre o Ensino Fundamental e o Ensino Médio.
As desigualdades, conforme o coordenador, devem ser acentuadas com a falta de oferta de educação integral em regiões vulneráveis, onde estão alunos que, embora necessitem desse tipo de política, devem evita-la justamente por terem de trabalhar. Estudos do próprio Cenpec e a também recente auditoria do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo demonstram que a oferta reduzida de educação em tempo integral tende a ter um efeito negativo nas escolas vizinhas de tempo regular, como, por exemplo, a superlotação.
Além disso, a proposta não cita o Ensino Médio noturno e, segundo dados do Censo Escolar de 2015, do Inep, 1,9 milhão (23,6%) de alunos estuda no período noturno. Tampouco fala na ampliação de investimentos. O valor apresentado é menor do que era repassado pelo ProEMI (Programa Ensino Médio Inovador), desenvolvido desde 2009. A Resolução Nº 31, de 22 de Julho de 2013, que dispõe sobre o repasse de recursos do PDDE Ensino Médio Inovador, já previa o investimento complementar de R$ 2,8 mil por aluno/ano para escolas com jornada escolar de sete horas. A proposta atual é de R$ 2 mil/ano. Por Cida de Oliveira, da RBA
Créditos: Rede Brasil Atual