Indígenas de 14 regiões na Terra Yanomami estão com altos níveis de contaminação por mercúrio, é o que revela um laudo de perícia da Polícia Federal feito a partir da coleta de amostras de cabelo de 43 indígenas. O estudo identificou que 76,7% das pessoas estudadas vivem sob alta exposição do metal pesado tóxico.
As 43 amostras de cabelo foram coletadas no dia 13 fevereiro, em indígenas na Casa de Saúde Indígena (Casai) Yanomami, na zona Rural de Boa Vista.
Para a análise, foram coletados cabelos de indígenas com bom estado de saúde e estavam na Casai como acompanhantes de parentes internados na unidade. Todos os examinados vivem em comunidades próximas a garimpos ilegais.
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição ligada ao Ministério da Saúde, foram proibidos pela Fundação Nacional do Índio (Funai), também um órgão do governo federal, de realizar um estudo sobre o impacto da mineração ilegal dentro de Terra Indígena Yanomami durante o governo Bolsonaro.
O foco da pesquisa seria a contaminação por mercúrio; o estudo seria realizado por meio da coleta de amostras de cabelo dos indígenas e de peixes na região do rio Mucajaí, em Roraima. A presença da mineração ilegal no território indígena é tão forte que, no início de 2021, o curso do rio chegou a ser totalmente desviado por algumas dezenas de metros para que os garimpeiros pudessem explorar o seu leito natural.
Somente em 2020, o garimpo movimentou, oficialmente, R$ 3,5 bilhões no município paraense de Itaituba, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM). Em 2021, na metade do ano, as operações de garimpo já somavam mais de R$ 2,2 bilhões. Itaituba só perde para Paracatu (MG), base de operação da mineradora canadense Kinross. Com níveis altos de mercúrio nos peixes e na água consumida, os indígenas adoecem, principalmente as crianças.
A solução para a crise ambiental gerada é o controle do garimpo e combate à sua atuação ilegal, no entanto, opção sugerida pelo Ministério da Saúde na época foi que os indígenas parassem de consumir peixes, principal fonte de alimentação desses povos.
A recomendação do Ministério da Saúde aparece em ofício encaminhado em abril de 2021 ao Ministério Público Federal em Santarém (PA), em resposta ao alto nível de contaminação dos indígenas por mercúrio.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os níveis de mercúrio em cabelo não devem ultrapassar 1 micrograma por grama. No entanto, no caso dos Yanomami analisados, estão entre 2 a 10 micrograma. Das amostras colhidas, a PF constatou que os homens são os mais atingidos, com média aproximada de 4,37 micrograma por grama.
Um indígena da comunidade do Caju, na região do Baixo Catrimani, foi a pessoa com maior contaminação por mercúrio no corpo: 15,34 micrograma – ou seja, com 15 vezes mais o indicado pela OMS.
Em relação às mulheres, a média para o sexo feminino é de 2,87 micrograma. Apesar de ter uma menor exposição ao minério, uma mulher, de 39 anos, apresentou o valor de 13,5 micrograma. O número é o segundo maior da população analisada, conforme a pesquisa.
Além disso, o estudo apontou que aproximadamente 14% dos indivíduos analisados vivem sob baixa exposição ao mercúrio e outros 2,3% vivem sob uma exposição insignificante. Três pessoas exibem valores superior a 10 micrograma por cabelo, indicando uma severa exposição ao mercúrio.
Um outro estudo da PF, de junho do ano passado, revelou que quatros rios na Terra Yanomami tem alta contaminação por mercúrio: 8600% superior ao estipulado como máximo para águas de consumo humano. Fonte:
g1 Créditos:
Observatório do Terceiro Setor