quarta-feira, 24 de julho de 2013

Quase 80 cidades da Região Sul registram neve


A massa de ar polar que atingiu o Sul do Brasil, no início da semana, provocou geada, chuva e neve em vários municípios da região. Em Santa Catarina (SC), só na manhã de ontem (23), nevou em 49 cidades. No Rio Grande do Sul (RS), a neve caiu em duas cidades. No Paraná, 26 cidades registraram chuvas congeladas e flocos de neve.
Segundo o meteorologista, Rogério Rezende, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) do Rio Grande do Sul, das 18 cidades gaúchas onde as temperaturas foram negativas durante a madrugada, nevou nos municípios de Encruzilhada do Sul e Caçapava do Sul. “Como o Sul já possui a característica do frio, a massa de ar que veio do Polo Sul nos últimos dias afetou com maior intensidade esses estados”, disse.
A Grande Florianópolis foi uma das regiões atingidas pela neve. Rogério disse que “não há registros do fenômeno na região, pela localização continental”. Segundo ele, a neve não era esperada para a Grande Florianópolis.
Segundo o Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram), não existem dados oficiais de neve relatados por observadores de estações meteorológicas na Grande Florianópolis Serrana. Moradores da região e a imprensa local informaram ao centro a ocorrência de neve na região em 1952, 1972, 1984 e 2000, o que não descarta a possibilidade de esse fenômeno ter ocorrido em outros anos.
Para a meteorologista do Ciram, Marilene de Lima, a previsão para o estado durante a noite de hoje, amanhã (24) e quinta-feira (25) é temperatura mínima de 0 grau Celsius (ºC) e negativa em boa parte do estado. “A semana é de alto risco para moradores de rua e animais domésticos, além dos que vivem ao ar livre sob frio intenso. Todos necessitam de cuidados especiais”.
De acordo com o gerente de Operações e Assistência Humanitária da Defesa Civil do Estado de Santa Catarina, Alexandre Sampaio, os municípios de São Joaquim, com 24.812 habitantes, e São Jorge, com 209.804 habitantes, estão em estado de emergência. “O frio preocupa estes municípios p
or apresentarem menor capacidade de resposta à friagem, a temperatura registrada tem sido –10ºC a –8ºC”.
O Paraná registrou chuva congelada e neve em 26 cidades, uma delas foi a capital Curitiba. O último registro de neve na capital aconteceu há mais de 30 anos, em 1975. Segundo o Instituto Tecnológico Simepar, a maior ocorrência no estado foi chuva congelada, acompanhada de pequenos flocos de neve.
A frente fria atingiu também as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Em Brasília o Inmet registra a mínima de 16ºC e máxima não passa de 26ºC. Em São Paulo (SP), a manhã de hoje registrou a temperatura mais baixa do ano com 9,2ºC. Em 9 de maio, foi registrada a temperatura de 10,2ºC.
Segundo o metereologista, Marcelo Schneider, do Inmet-SP, as temperaturas continuarão baixas até quinta-feira. Oeste e Centro do estado [São Paulo]. Só na sexta-feira a temperatura vai subir lentamente”. Em Aparecida (SP), cidade que será visitada pelo papa Franscico, amanhã, a temperatura será 7ºC a mínima e a máxima 12ºC.
Agência Brasil

terça-feira, 23 de julho de 2013

Instituições políticas e religiosas são as que têm menos credibilidade entre jovens

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Pesquisa feita em 20 países e com mais de 20 mil pessoas colocou as universidades como a instituição mais próxima da juventude

As instituições religiosas e políticas são as que contam com menos credibilidade entre os jovens ibero-americanos, de acordo com pesquisa realizada pela Organização Ibero-Americana da Juventude (OIJ) divulgada  segunda-feira (22). O estudo, obtido com exclusividade por Opera Mundi, foi feito em 20 países, com mais de 20 mil entrevistas de pessoas entre 15 e 29 anos.
Dos oito itens avaliados, apenas os governos, as organizações religiosas e a classe política têm confiança inferior a 25% dos entrevistados. "Há uma distância muito grande entre política e juventude na atualidade. O recente desenvolvimento econômico e social da América Latina não conseguiu mudar isso. Por outro lado, você vê a universidade como líder absoluta em termos de imagem entre os jovens", analisa o secretário-geral da OIJ, Alejo Ramírez, fazendo referência à instituição com melhor índice de avaliação. Além das universidades, os meios de comunicação e a polícia também obtiveram boas notas.
Para Bruno Vanhoni, assessor de relações internacionais da Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, há um outro aspecto que contribui para a descrença com as organizações religiosas. "A juventude tem uma opinião diferente sobre a liberdade, que muitas vezes não se encaixa nas religiões mais ortodoxas".
Uma diferença importante entre os jovens sul-americanos e os da península ibérica é como eles veem a melhor forma para se conseguir um bom emprego. Para portugueses e espanhóis, a fórmula ideal ocorre por meio de contatos sociais. Na América Latina, com exceção do México, a educação é vista como prioritária.
"É bem diferente se você acha que o melhor jeito para obter emprego é estudando ou tendo contatos. Mostra o jeito da sociedade como um todo, não só dos jovens. Achar que ter contatos é melhor mostra uma sociedade que está se equivocando, não há meritocracia. No caso da Europa, isso pode estar ligado à falta de boas perspectivas com a crise econômica", afirma o argentino Ramírez.
Em relação aos brasileiros, há dois traços importantes. Na comparação com os outros países, eles aparecerem como progressistas, dando suporte ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à legalização da maconha, mas também são mais resistentes à integração regional.
"É uma contradição. Talvez mostre que os brasileiros jogam um jogo diferente dos demais. Se a região ibero-americana fosse um time, vocês seriam o goleiro, que pode usar a mão", brinca Ramírez. Vanhoni concorda com o argumento do secretário-geral da OIJ e acrescenta que o governo brasileiro tem se dedicado ao tema. "Os outros países têm uma identidade comum devido ao idioma. Mas o Brasil está diminuindo isso aos poucos. Principalmente nas fronteiras, já há um sentimento maior de ser latino-americano".

'Não tenho ouro nem prata, mas trago Jesus Cristo', diz Papa


Em sua primeira manifestação pública no Brasil, o papa Francisco afirmou nesta segunda-feira que pretende transferir "à inteira nação brasileira" o seu afeto durante sua estada no País, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude de 2013. Em discurso proferido no Palácio da Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, o Pontífice afirmou que sua missão é levar a palavra de Jesus Cristo aos jovens de todo o mundo.
"Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: 'A paz de Cristo esteja com vocês!'", disse Francisco, diante da presidente Dilma Rousseff, do governador do Rio, Sérgio Cabral, e diversas autoridades do Brasil e da Igreja Católica.
O papa argentino comemorou o fato de que sua primeira viagem internacional tenha tido a América Latina como destino. "Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucesso de Pedro", discursou.
Francisco destacou o caráter heterogêneo do evento, que une jovens de todos os cantos do mundo. "O motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido, transcende suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu braço para, junto do seu coração, ouvir de novo o potente e claro chamado: 'ide e fazei discípulos em todas as nações'", citou.
O patriarca também recorreu a um dito brasileiro para defender a proteção da juventude. "Os pais usam dizer por aqui: 'os filhos são a menina dos nossos olhos'. Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta desafiadora pergunta", disse Francisco.
Por fim, Francisco agradeceu o acolhimento e estendeu seu afeto a toda a população brasileira. "Peço a todos a delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa", afirmou.

Papa têm encontro fraterno com o povo no Rio


 O primeiro dia do papa Francisco no Brasil foi marcado por sua simpatia, atenção e seu cuidado com os fiéis. Falando em um português claro, ele abençoou a todos e disse que “bota fé nos jovens”, usando uma expressão informal. Antes, o papa fez questão de estar o mais perto o possível das pessoas que se aglomeraram nas ruas do Rio para vê-lo.
A bordo do avião, no caminho para o Brasil, Francisco, que nasceu na Argentina, brincou indiretamente com a disputa que envolve brasileiros e argentinos. Bem-humorado, ele lembrou que no Brasil dizem que Deus é brasileiro, permitindo assim que o papa seja de outra nacionalidade.
Com o vidro do carro aberto, Francisco se deixou ser visto e muitos que conseguiram vencer o bloqueio dos seguranças chegaram  perto dele. Sorridente, o papa acenou, cumprimentou e beijou crianças, inclusive um bebê  de colo. A emoção dos fiéis foi retribuída por ele com sorrisos e respeito. No papamóvel, Francisco ficou de pé o tempo todo e sorriu quase todo o tempo. Acostumados com o estilo do papa, os seguranças que o acompanham atendiam quando ele queria que o carro reduzisse a  velocidade  para que pudesse chegar mais perto das pessoas.
Um torcedor do Fluminense conseguiu chegar perto do papa e presenteá-lo com uma camisa do time. Apaixonado por futebol, Francisco, que é torcedor do San Lorenzo e disse com orgulho, em várias ocasiões, que guarda uma foto vestido com a camisa do time argentino, agradeceu o presente.
Os protestos em vários locais próximos de onde o papa passou não ofuscaram a primeira visita do pontífice ao exterior. Francisco não demonstrou cansaço nem mesmo com as longas filas de cumprimentos de autoridades. O papa cumprimentou todos e a presidenta Dilma Rousseff ganhou dois beijinhos no rosto.
Antes de seguir para a residência oficial do Sumaré, na zona oeste do Rio, o papa se reuniu reservadamente com Dilma. A conversa durou em torno de 15 minutos. Foi o segundo encontro privado dos dois. O primeiro ocorreu, em março, quando a presidenta compareceu à cerimônia  que oficializou o início do pontificado de Francisco.
Para amanhã (23), a agenda do papa por enquanto é fechada para reuniões internas. Porém, Francisco é pouco afeito a protocolos e gosta de surpreender, portanto, a programação pode ser modificada.
Créditos:Agência Brasil

Jovens católicos querem igreja progressista




Sondagem encomendada pela ONG Católicas pelo Direito de Decidir mostra que 90% dos que têm de 16 a 29 anos e seguem a religião do papa apoiariam medidas rigorosas contra pedófilos


Segundo pesquisa divulgada onten (22) pela ONG Católicas pelo Direito de Decidir, 56% dos jovens católicos (de 16 a 29 anos) e 43% dos que têm mais de 30 anos apoiariam se a igreja decidisse ser favorável à união entre pessoas do mesmo sexo. O estudo foi encomendado ao Ibope Inteligência para analisar o perfil dos brasileiros a respeito de questões como aborto, união entre pessoas do mesmo sexo, uso da pílula do dia seguinte, proibição do sacerdócio para mulheres, celibato e punição para religiosos envolvidos com pedofilia ou corrupção.
Considerando a pesquisa globalmente, incluindo católicos, evangélicos, outras religiões, agnósticos e ateus, os números são inferiores: 51% dos jovens e 41% dos que já passaram dos 30 apoiariam a união homossexual. Nesse recorte, o perfil mais conservador é dos que se declaram evangélicos, entre os quais apenas 34% dos jovens até 29 anos e 28% dos que têm mais de 30 apoia total ou parcialmente.
Entre os pesquisados católicos, 62% dos jovens discordam total ou parcialmente da prisão de uma mulher que precisou recorrer ao aborto e, entre os que têm mais de 30 anos, o índice cai para 59% (no geral, incluindo todas as religiões, os dados são muito próximos: 63% e 58%, respectivamente). O estudo mostra que 82% dos jovens católicos e 76% dos mais velhos acham que a igreja deveria "permitir" que as mulheres católicas usassem a pílula do dia seguinte.
Quando o Ibope perguntou aos católicos sobre a punição rigorosa aos religiosos envolvidos em pedofilia, assédio sexual ou corrupção, 90% dos jovens e 88% dos mais velhos apoiariam totalmente ou em parte.

Para a coordenadora da ONG, Regina Soares Jurkewicz, nas questões relativas à moral e à sexualidade, a pesquisa mostra distanciamento entre a realidade social e a política da igreja. “Há uma tendência de dissonância entre o que a igreja prega e a prática das pessoas.” Segundo ela, o levantamento revela a grande insatisfação dos católicos em relação “à política do silêncio” com a qual o Vaticano tenta impedir o aprofundamento das investigações sobre pedofilia e corrupção na igreja. “São católicos, mas não praticam o que a igreja diz", afirma Regina, não só em relação à pedofilia, mas em relação às questões morais e sexuais em geral.

Estratificado por escolaridade, o estudo do Ibope demonstra que, quanto menos a pessoa estudou, mais conservadoras são suas opiniões. Por exemplo, 52% dos que têm até a 4ª série discordam total ou parcialmente da prisão da mulher que recorrer ao aborto por necessidade, número que sobe para 59% da 5ª à 8ª série e entre os que têm ensino médio e para 67% com nível superior. “A pesquisa mostra a influência do acesso à educação na sociedade. Quanto mais as pessoas estudam, mais têm condições de refletir e ter acesso à informação”, diz Regina.
Sobre o papa Francisco, em visita ao Brasil esta semana, a coordenadora do Católicas pelo Direito de Decidir considera que o novo pontífice, pelo menos até o momento, tem um aspecto positivo e outro negativo ou ainda por esclarecer. “Ele tem posturas muito simpáticas ao focar sua atenção mais nos pobres, não ostentar nada muito rico. Mas no que tem a ver com moral sexual não tivemos nenhum sinal positivo”, lembra. “Enquanto bispo, aliás, ele se mostrou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.”
Para Regina Soares Jurkewicz, “não é só o papa, mas a cúria como um todo precisa olhar com mais atenção para essa e outras questões”.

A pesquisa foi realizada entre maio e junho de 2013. O Ibope Inteligência ouviu a opinião de 4.004 brasileiros, entre os quais 62% (2.496) se declaram católicos, 23% evangélicos e 15% são adeptos de outras religiões, agnósticos ou ateus. Cerca de 31% do total (1.224) tinham entre 16 a 29 anos de idade e 2.780 mais de 30 anos.

Um mês após pactos de Dilma, 'voz das ruas' é esquecida pelo Congresso


Após acelerar trabalhos sob das manifestações, Congresso emperra reforma política e deixa para segundo semestre propostas para saúde, educação e que mexem com interesses dos parlamentares


 Um mês após a presidenta Dilma Rousseff ir à televisão propor em cadeia nacional os cinco pactos como resposta às manifestações de junho, um balanço do trabalho do Congresso Nacional mostra que os protestos foram gradualmente esquecidos por deputados e senadores. Se não fizeram ouvidos moucos à "voz das ruas" nas primeiras semanas, em meio a uma pressão social mais clara, líderes do Legislativo parecem agora trabalhar para um retorno à "normalidade", especialmente se isso representar uma nova desconexão entre a vontade popular e a vida partidária tradicional.
Inicialmente, Câmara dos Deputados e Senado aceleraram consideravelmente a tramitação de uma série de propostas relacionadas aos pontos centrais das manifestações e das propostas de Dilma: responsabilidade fiscal, reforma política, mobilidade, saúde e educação. Porém, as principais ainda não foram votadas até o fim de sua tramitação e o recesso forçado de julho, irregular, parece dar indicações de que o ímpeto reformista perderá espaço no retorno ao trabalho.
Da parte do Executivo, as principais iniciativas foram, além da consulta popular, a Medida Provisória 621, que cria o programa Mais Médicos, e os R$ 50 bilhões que Dilma anunciou no dia 24 de junho para investimentos em obras de mobilidade urbana, o principal objeto das manifestações, ou pelo menos o estopim delas.
Em seu pronunciamento em cadeia nacional no dia 21 de junho, ela afirmou que o “foco” dos debates com prefeitos e governadores seria “primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de cem por cento dos recursos do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS”.
Na questão dos royalties para a educação, o Projeto de Lei 323, de 2007, ficou para o segundo semestre. Não viraram lei o projeto que estabelece o fim do voto secreto nos plenários do Congresso e aquele que extingue foro especial por prerrogativa de função nos casos de crimes comum, sem mencionar a principal agenda do Palácio do Planalto, o plebiscito sobre a reforma política.
Há as matérias que foram “ressuscitadas”, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 90, de 2011, da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), que introduz o transporte público no rol dos direitos sociais. Esta proposta foi aprovada nos colegiados, mas agora se aguarda a criação de uma comissão especial para debater o tema.
No contexto pós-manifestações, a professora Maria do Socorro Sousa Braga, da Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), diz que o Executivo “tomou a dianteira, conforme a tradição presidencialista, e o Legislativo reagiu a isso”. A principal proposta, para ela, é a da reforma política, embora esta esteja patinando nas negociações.
As duas matérias do Legislativo cuja importância Maria do Socorro ressalta são emblemáticas da atual conjuntura: a PEC 20, de 2013, que estabelece o fim do voto secreto em processos de cassação de mandato de parlamentares, e a PEC 10, de 2013, que extingue foro especial por prerrogativa de função nos casos de crimes comuns.
A primeira foi aprovada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado e está prevista para ir a plenário no segundo semestre, e a segunda foi incluída entre as prometidas para a ordem do dia depois do recesso parlamentar, em agosto. Maria do Socorro chama a atenção para o fato de que ambas ainda não podem ser incluídas como conquistas, já que não viraram realidade.
Andréa Marcondes de Freitas, pesquisadora do Núcleo de Instituições Políticas e eleitorais do Cebrap e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, vê com algum ceticismo a celeridade imposta pelo Congresso nas últimas semanas. “Talvez só na Constituinte (1988) a gente tenha visto esse número de coisas serem votadas em um dia, em uma semana. Nesse sentido tem uma mudança. Mas não sei se é uma mudança permanente ou se é uma resposta para acalmar a população, dar a sensação de que os políticos não estão desatentos ao desejo social. Se vai ser uma mudança permanente ou não vamos ver nos próximos meses”, diz.
Uma das propostas mais claramente inseridas no contexto da “resposta às ruas” é o Projeto de Lei do Senado 248/2013, que institui o Passe livre para estudantes de todo o país. De autoria de ninguém menos do que o presidente da casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), o projeto foi protocolado dia 25 de junho, mas também não andou.

PMDB e reforma política

A “agenda da sociedade”, como define o próprio Calheiros, porém, não privilegiou a reforma política, considerada por alguns a mais importante de todas. A ideia emperrou em grande parte devido à falta de empenho do próprio PMDB, partido que domina as presidências da Câmara e do Senado e a vice-Presidência da República. A sigla continua sendo “uma confederação nacional de interesses” ao mesmo tempo em que tem o maior número de prefeituras no país. Em 2012, conquistou 1.024 dos 5.568 municípios, seguido pelo PSDB (702) e pelo PT (635).
Como sua capilaridade foi construída sob o atual sistema político, o partido não tem por que arriscar uma reforma profunda cujos efeitos possam ser imprevisíveis. Após rejeitar a proposta de promover um plebiscito ainda este ano, o PMDB conseguiu emplacar uma comissão especial da Câmara para debater e apresentar em 90 dias propostas que serão levadas a plenário. A população, se chamada a opinar, irá basicamente referendar as mudanças acordadas dentro do Legislativo. Para complicar mais a situação, o grupo de debates é comandado por Cândido Vaccarezza (SP), que não conta sequer com o apoio do próprio partido, o PT, que gostaria de ver na cabeça dos trabalhos alguém com vontade efetiva de mudanças.
Andréa, do Cebrap, porém, acredita que “colocar tudo na conta do PMDB não é muito justo”. “Muita gente não quer a reforma, não é só o PMDB”, adverte. Para ela, a ideia de que a reforma seria a base de mudanças estruturais no país é até certo ponto ilusória. “Não tem como, por exemplo, mudando o sistema eleitoral, transformar o que está na base dos partidos, a sua constituição.”
A pesquisadora diz ser a favor de que o sistema eleitoral continue “exatamente como é hoje”. Supondo que o sistema mudasse para o distrital, no qual vence simplesmente quem tem mais votos, Andréa fez uma simulação: “Se os eleitores votassem exatamente como votaram nas últimas eleições, o PMDB não perderia vagas, muito pelo contrário, ele aumentaria seu poder. Quem perde são os pequenos partidos.”
Seja como for, graças à sua configuração, sua presença constante no Executivo desde a redemocratização e sua capilaridade, o PMDB continua com seu perfil ambíguo: “Tem o vice-presidente da República e, no entanto, Dilma não tem o apoio total do partido nem no Executivo, nem no Legislativo”, ressalta Maria do Socorro, da UfsCar. Ela não acredita em uma reforma política ampla na atual conjuntura. “A não ser que a população mantenha as manifestações."

Propostas em tramitação

PEC 20/2013 (senador Paulo Paim, PT-RS) – Fim do voto secreto em processos de cassação de mandato segundo semestre
PEC 10/2013 (senador Alvaro Dias, PSDB-PR) – Extingue foro privilegiado em crimes comuns – indicada para a CCJ a partir de agosto e segue tramitação no segundo semestre
PEC 3/2011 (senador Rodrigo Rollemberg, PSB, DF)  –  diminui o número de assinaturas necessárias para a apresentação de projetos de lei de iniciativa popular – aprovada no Senado, seguiu para a Câmara
PLC 103/2012 (do Executivo) – Aprova o Plano Nacional de Educação – Na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do senado
PLS 204/2011 (senador Pedro Taques, PDT-MT )  Corrupção passa a ser crime hediondo – Aprovado no Senado, seguiu para a Câmara dos Deputados
PLC 41/2013 – destina 75% dos royalties do petróleo para educação e 25% para a saúde  aprovada com modificações no Senado, voltou para a Câmara, onde a decisão ficou para o segundo semestre
PEC 90/2011 (Luiza Erundina - PSB-SP)  introduz o transporte público no rol dos direitos sociais – aprovada na CCJ da Câmara, terá uma Comissão Especial instalada
PEC 34/2011 (senador Vital do Rego, PMDB-PB)  Cria carreira de estado de médico, com dedicação exclusiva ao SUS – Na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

Projetos Aprovados

PLS 240/2013 (José Pimentel, PT-CE) – Distribuição dos recursos do FPE – Enviado para sanção presidencial
PLC 3/2013 – Atendimento integral pelo SUS às mulheres vítimas de violência sexual – Enviado para sanção presidencial.
PLC 39/2013 (do Executivo) – responsabiliza pessoas jurídicas por ato de corrupção de agente público – Enviado para sanção presidencial

Mais de 30 milhões de mulheres ainda podem sofrer mutilação genital no mundo



Mais de 125 milhões das mulheres e meninas do mundo foram submetidas à mutilação de seus órgãos genitais externos e 30 milhões de meninas correm o risco de sofrer a mesma violência na próxima década, advertiu o Fundo das Nações Unidas para a Infância.

O Unicef apresentou em Washington seu relatório mais amplo sobre esta prática, tradicional, sobretudo na África e no Oriente Médio, intitulado "Mutilação Genital Feminina: um panorama estatístico e uma exploração da dinâmica de mudança".

"A mutilação é uma violação dos direitos à saúde, o bem-estar e a autodeterminação das meninas", afirmou a diretora-executiva do Unicef. Embora hoje em dia haja uma maioria de pessoas contra a ablação nos países onde a prática é comum e onde existem legislações que a proíbem, "milhões de meninas seguem em considerável perigo", adverte o relatório.

A mutilação ou ablação genital feminina foi praticamente abandonada por certos grupos ou países, mas esta entrincheirada em muitos outros, apesar dos perigos para a saúde que representa para as meninas e embora governos e ONGs se esforcem para convencer as comunidades a abandoná-las, diz a Unicef.

O estudo, que abrange 29 países da África e o Oriente Médio, na Somália, Guiné, Djibuti e Egito, identificou que a prática continua sendo "quase generalizada". Mais de nove em cada dez mulheres entre 15 e 49 anos foram vítimas da violência. Além disso, não se registra uma diminuição relevante da prática em países como o Chade, Gâmbia, Mali, Senegal, Sudão e Iêmen.

No entanto, as investigações nos 29 países do estudo mostram que, em mais da metade deles as meninas hoje têm menos probabilidades de ser mutiladas que suas mães e que a ablação cada vez tem menos respaldo popular "inclusive em países onde continua sendo muito tradicional".

"No Quênia e na Tanzânia, a probabilidade de uma menina entre 15 e 19 anos ter sido mutilada é três vezes menor que a das mulheres de entre 45 e 49 anos. A prevalência caiu a quase à metade entre as adolescentes de Benin, República Centro-africana, Iraque, Libéria e Nigéria", assinala o relatório.

Além disso, segundo os resultados da investigação, não somente as mulheres que são contrárias à mutilação genital: também um número significativo de meninos e homens se opõem. "Em três países, Chade, Guiné e Serra Leoa, mais homens que mulheres querem que a prática acabe", assinala Unicef.

Essa violência persistir é sinal de que há uma distância entre as opiniões pessoais das pessoas respeito à mutilação e o "sentido de obrigação social", "exacerbado pela falta de comunicação aberta sobre este tema sensível e íntimo".

O Unicef considera que, além das leis contra a ablação já existentes na maioria de países, são necessárias medidas complementares, políticas sociais que promovam uma mudança de mentalidade e "desafiar" a ideia errônea que "todos os demais" aprovam eliminar os órgãos femininos externos.

O fundo também destaca o papel da educação na promoção da mudança social e menciona o fato de que quanto mais alto o nível de instrução de uma mulher, menor é o risco que suas filhas sejam mutiladas e as estimula a trabalhar "com as tradições locais em vez de contra elas".

"O que fica claro deste relatório é que a legislação por si só não basta. O desafio atual é deixar que as mulheres e os homens falem alto e claro que querem que esta prática violenta acabe", disse Geeta Rao Gupta.
Rede Brasil Atual