sábado, 23 de dezembro de 2017

A depressão como fenômeno social no capitalismo

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula-se que a depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo, que cerca de 800.000 pessoas se suicidam a cada ano, que 78% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda, e que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

A depressão inclui sintomas como perda do sentido da vida, inibição, desesperança, sentimentos de vazio, infelicidade, um mal estar indefinível e generalizado, desinteresse pelo cuidado pessoal e por atividades que antes eram gratificantes, insônia ou hipersônia, fatiga ou perda de energia, dores de cabeça, transtornos alimentares, diminuição do desejo sexual, dificuldade de raciocínio e concentração, ansiedade, sentimentos de culpa, inutilidade e de um profundo e incontrolável sofrimento.

Algumas de suas consequências são o abandono do trabalho ou dos estudos, conflitos conjugais e/ou familiares, alcoolismo e dependência de drogas; do mesmo modo, a depressão não equivale a suicídio, mas este é uma possibilidade em casos graves. O nível depressivo – leve, moderado ou grave – dependerá do histórico psíquico de cada sujeito e dos recursos com os quais possa contar, como as redes de apoio de familiares e amigos.

No México, os índices de suicídio aumentaram catastroficamente, já que no ano de 1994 foram registrados 2.603 suicídios e, em 2016, estes números cresceram aproximadamente 200%, com 6.370 suicídios registrados. De acordo com dados do órgão mexicano Instituto Nacional de Estadística y Geografía (INEGI 2017), 41,3% destas mortes correspondem a jovens de 15 a 29 anos e 3,7% correspondem a adolescentes de 10 a 14 anos de idade. (Fonte: INEGI Estatísticas de mortalidade).
Além disso, é importante destacar que 8 a cada 10 suicídios no México foram cometidos no interior de domicílios particulares (76,2%), segundo dados do INEGI.

Parece um paradoxo que, por um lado, o termo “depressão” seja cada vez mais utilizado e igualado à tristeza ocasional, mas por outro siga sendo um tabu que “deve” ser enfrentado em segredo e de maneira individual – como se sua aparição fosse um traço unicamente individual! Tal tabu converte a depressão em sinônimo de suicídio, o que se torna um risco para os que dela padecem e são vistos com empatia.

No entanto, não é coincidência que a depressão e suas consequências, como o suicídio, tenham se convertido em uma das principais “doenças do século 21” e uma das principais causas de morte – ou que será num futuro próximo –, em especial para um amplo setor da juventude trabalhadora que vê quebradas suas esperanças de ter uma vida digna, já que as condições de trabalho em que os jovens se inserem a cada dia são mais golpeadas.

A depressão tem múltiplos elementos que não podem ser generalizados porque dependem de cada sujeito, como seu histórico familiar e psíquico; contudo, o fator social é determinante no seu desencadeamento e permanência. Como explica Ana María Fernandez em seu livro Jóvenes de vidas grises (“Jovens com vidas cinzas”), não se pode isolar o contexto social que impossibilita à juventude um planejamento de seu futuro, como têm feito as economias neoliberais que instituem na subjetividade uma quebra de esperança coletiva, o que corresponde a “toda uma estratégia biopolítica de vulnerabilização”.

Tais condições não podem ser explicadas sem se compreender o modo de produção capitalista que a cada dia é mais voraz, que busca aumentar seus lucros precarizando e empobrecendo a vida da classe trabalhadora de conjunto – somente no México há mais de 50 milhões de pessoas em situação de pobreza. E é neste cenário que a juventude se insere num mundo competitivo e a cada vez mais individualista – este setor representa um amplo exército de reserva no mundo do trabalho e enfrenta cada vez maiores dificuldades para estudar, já que possui as piores condições de trabalho e menos de 15% dos que prestam vestibulares para a universidade têm acesso à educação.

O transtorno depressivo e seu crescimento brutal parecem mais ser um sintoma de uma época que reflete a pouca esperança em relação ao futuro, causada pelas condições cada vez mais insustentáveis nas quais vive a classe trabalhadora. Não é de se espantar que este setor sinta um profundo desânimo e tenda à depressão crônica ou ao suicídio.

Como mostram os dados, a maioria dos suicídios ocorre no âmbito privado, mas também existem casos em que claramente se nota o determinante social, como aconteceu em 2012 com Dimitris Christoulas, o aposentado de 77 anos que se suicidou em frente ao parlamento grego. Em parte da carta encontrada nos bolsos do idoso que pôs fim à sua vida.
Créditos: Esquerda Diário

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

País tem 12 milhões de analfabetos e 25 milhões fora da escola

Mais da metade (51%) da população adulta tinha concluído apenas o ensino fundamental em 2016, só 15% tinha curso superior, em diferenças que se acentuam regionalmente, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados hoje (21) pelo IBGE. A taxa de analfabetismo foi de 7,2%, o correspondente a 11,8 milhões de pessoas, com variação de 3,6% (região Sul) a 14,8% (Nordeste). A diferença também é grande entre brancos (4,2%) e pretos ou pardos (9,9%).
Ainda segundo a pesquisa, na região Nordeste 52,6% da população acima de 25 anos nem sequer havia concluído o ensino fundamental. No Sudeste, 51,1% tinha pelo menos o ensino médio. Só 8,8% dos pretos ou pardos (classificação do IBGE) tinham nível superior, índice que subia para 22,2% entre os brancos. Também era maior entre mulheres (16,9%) do que homens (13,5%).
De acordo com o instituto, quase 25 milhões de pessoas (24,8 milhões) de 14 a 29 anos "não frequentavam escola e não haviam passado por todo ciclo educacional até a conclusão do ensino superior". Mais da metade desse grupo eram homens, e a maioria deles declarou não estudar por causa do trabalho – 24% por desinteresse. No caso das mulheres, 30,5% não estudavam em razão do trabalho, 26% por afazeres domésticos ou por cuidar de pessoas e 15% por desinteresse.
Na média, a população brasileira tem oito anos de estudo. A taxa de escolarização é quase total (99,2%) entre crianças e jovens de 6 a 14 anos. Na faixa de 15 a 17 anos, chega a 87,9%. Dos jovens de 18 a 24 anos, 32,8% frequentavam escola e 23,8% cursavam ensino superior. 
A rede pública predomina no ensino básico, concentrando 73% dos estudantes na educação infantil, 83,4% no fundamental e 85,8% no médio. A situação muda no ensino superior, em que 74,3% frequentam a rede privada. 
A taxa de analfabetismo vai a 7,4% entre homens com 15 anos ou mais. Entre mulheres, 7%. Sobe a 20,4% para pessoas com 60 anos ou mais – 11,7% entre brancos e 30,7% entre pretos ou pardos.
Havia 56,5 milhões de pessoas frequentando escola ou creche em 2016. No caso da crianças de até 3 anos, eram 3,1 milhões (30,4%) na creche. A taxa sobe para 90,2% (4,8 milhões) na pré-escola. Foto: EBC.
Créditos: Rede Brasil Atual

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Políticas de distribuição de renda reduziram pobreza

Os níveis de pobreza e de pobreza extrema aumentaram em 2015 e 2016, mantendo-se estáveis neste ano, de acordo com informe divulgado ontem (20) pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Segundo a entidade, no ano passado 30,7% da população se encontrava em situação de pobreza, um total de 186 milhões de pessoas. E a pobreza extrema atingia 10%, ou 61 milhões. As projeções para 2018 apontam 187 milhões e 62 milhões, respectivamente.
Conforme o documento Panorama Social, a pobreza é mais elevada entre crianças, adolescentes, jovens, mulheres e população em áreas rurais. Em 2016, atingia 46,7% das crianças e adolescentes de até 14 anos – e 17% de incidência da extrema pobreza. Entre jovens de 15 a 29 anos, chegavam a 31,1% e a 9,5%.
Apesar disso, a médio prazo se percebe um movimento positivo, já que a pobreza caiu 15,2 pontos percentuais entre 2002 e 2016 (de 45,9% para 30,7%). Nesse mesmo intervalo, o Índice de Gini foi de 0,538 para 0,467 – quanto mais perto de zero, menor a desigualdade.
“A experiência recente nos indica que o aumento da renda em lugares de menores recursos tem sido imprescindível para a redução tanto da pobreza como da desigualdade de oportunidades. E a esse crescimento tem contribuído decisivamente as políticas distributivas e redistributivas dos países, como reformas tributárias, salários mínimos, pensões e transferências vinculadas a estratégias de redução da pobreza e à expansão dos sistemas de proteção social", afirmou a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena.
O informe da Cepal destaca o desafio dos sistemas de pensão, "fundamentais para a garantia de direitos à seguridade social e à proteção social da região, em um contexto de aceleradas mudanças demográficos". Estima-se que em 2040 as pessoas de 60 anos ou mais superarão as de até 14 anos, e que a população de 80 anos  ou mais aumentará em quase 20 milhões.
De acordo com o documento, de 2000 a 2014 cresceu a base contributiva dos sistema de pensão na região. O percentual da população economicamente ativa que participa do sistema passou de 36,9% para 47,8%. "Isso equivale à incorporação de quase 60 milhões de pessoas aos sistemas contributivos e está associado à evolução positiva dos mercados de trabalho no período (especialmente a diminuição do desemprego e aumento dos níveis de ocupação, formalização e renda do trabalho), assim como a implementação de estratégias para ampliar a cobertura do sistema de cobertura social em alguns países", afirma a Cepal.
Ainda assim, a estimativa é de que 142 milhões de pessoas economicamente ativas ainda não estão cobertas. "Essa proporção é mais elevada nas áreas rurais, entre pessoas com menor escolaridade e setores com menor produtividade."
O Brasil é citado como um dos países que terá "acelerado processo de envelhecimento nos próximos anos". A Cepal também destaca o crescimento do número de assalariados que se cotizam no sistema de pensões: de 16,4% em 2002 para 30,6% em 2015, o avanço mais significativo da região, ainda que esteja abaixo da média geral.
Alicia destaca a importância de "fortalecer as políticas de trabalho e proteção social, ainda mais em períodos de baixo crescimento econômico, e implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável a partir de uma mudança estrutural progressiva".
Créditos: RBA

Paraíba tem 28 cidades em colapso, com abastecimento de carros-pipa

Por causa da falta de chuvas nos últimos seis anos, 28 municípios do estado da Paraíba estão em situação de colapso no abastecimento. Segundo os dados da Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), nessas cidades, os mananciais estão abaixo do nível mínimo para que seja possível fazer o bombeamento de água para a população. Uma das situações mais críticas ocorre em Teixeira, no Sertão do estado, onde as famílias recebem apenas mil litros de água por mês.

Os municípios atingidos pela situação de colapso são: Boa Ventura, Triunfo, Diamante, Carrapateira, Bernardino Batista, Riacho dos Cavalos, Teixeira, Emas, Matureia, Riachão, Tacima, Dona Inês, Damião, Riacho Santo Antônio, Amparo, Aroeiras, Gado Bravo, Sossêgo, Puxinanã, Nova Palmeira, Picuí, Frei Martinho, Barra de Santa Rosa, Nova Floresta, Cuité, Algodão de Jandaíra, Areial, Montadas.

Nos municípios em colapso, a água chega a casa dos moradores exclusivamente através de carros-pipa. Na cidade de Teixeira os carros-pipas só abastecem as casas uma vez por mês. A pouca água é usada com cuidado para matar a sede e cozinhar. “A situação aqui é precária. Aqui, de água mesmo, é uma escassez terrível”, disse a dona de casa Eliana Maria de Sousa, moradora de Teixeira.

Na zona rural do município, o abastecimento é feito pela Operação Pipa do Exército Brasileiro. Para a distribuição nas casas, os militares fazem um cálculo de 20 litros de água por pessoa. A situação é tão complicada que até para quem ganha dinheiro com a venda de carro-pipa, o desejo de ver a população sair do sufoco por falta de água é maior do que a busca pelo lucro “Tá tudo seco. A situação está feia aqui. É melhor ter a chuva, porque eu posso arrumar outro serviço”, disse o pipeiro Sancho Leite.

Segundo o secretário de agricultura de Teixeira, Pedro Bento, há alguns meses a prefeitura tem enfrentado dificuldades para garantir o abastecimento por carro-pipa, alegando falta de repasses financeiros. “A gente tá atuando com cinco carros-pipa, com o auxílio de um trator, mas infelizmente estamos fazendo o que podemos, pois a prefeitura está arcando com todos esses custos, porque a ajuda da Defesa Civil do Estado parou de vir há três meses”, disse Pedro Bento.

A assessoria de imprensa da Defesa Civil do Estado da Paraíba informou que os repasses a cidade de Teixeira e para outros 89 municípios vem através de parceria com o Governo Federal, mas o contrato acabou em 31 de agosto deste ano e, desde então, não tem recebido mais vergas. Ainda de acordo com a assessoria um novo plano foi aprovado, mas o recurso ainda não foi liberado.

Já o Ministério da Integração Nacional informou que qualquer outro novo repasse vai ser feita de acordo com suplementações financeiras realizas pelo Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, mas ainda não há previsão para isso.(Do G1).
Créditos: Focando a Notícia

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Consumidores pagarão R$ 16 bi em subsídios na conta de luz em 2018

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu na terça-feira (19) que os consumidores de energia pagarão R$ 16 bilhões nas contas de luz em 2018 para cobrir os custos com subsídios do setor elétrico. O valor será destinado à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). O fundo financia medidas como pagamento de indenizações a empresas; subisídio à conta de luz de famílias de baixa renda; e compra de parte do combustível usado pelas termelétricas que geram energia para a região Norte do país e para programas como o Luz Para Todos.
A estimativa da Aneel é que a medida cause o seguinte impacto nas tarifas de energia: Consumidores das regiões Norte e Nordeste: 0,77%; Consumidores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste: 2,72%.
Os R$ 16 bilhões a mais nas contas do ano que vem representam aumento de 22,71% em relação ao valor pago pelos consumidores de energia neste ano: R$ 13,03 bilhões. Desse total de R$ 16 bilhões R$ 12,22 bilhões: serão pagos por todos os consumidores (incluindo os que compram energia diretamente das geradoras);R$ 3,79 bilhões: serão pagos somente pelos consumidores cativos (atendidos pelas distribuidoras de energia, ou seja, residências, comércio e parte das indústrias).
Créditos :Blog do BG

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Recessão levou 9 milhões de brasileiros de volta à pobreza

 Devido à crise econômica, pouco mais de 9 milhões de pessoas voltaram à pobreza entre 2015 e 2016. Destes, 5,4 milhões vivem atualmente em condição de "extrema pobreza". O levantamento foi realizado pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), que apontou o aumento do desemprego e a deterioração da renda como causas.

O estudo, divulgado pelo jornal Valor Econômico, cruzou dados da Síntese de Indicadores Sociais e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), ambos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Especialistas ressaltam que, entre 2004 e 2014, cerca de 40 milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza, e lembram que o atual recrudescimento da miséria ocorre justamente em momento de enfraquecimento da rede de proteção social e dos programas de transferência de renda, promovidos pelo governo Temer, que coloca a culpa na crise fiscal e nos governos anteriores. 

Contudo, apesar de o IBGE ter divulgado, na última sexta-feira (15), que, em 2016, 25,4% da população (52,2 milhões de pessoas) vivia abaixo da linha de pobreza, e 6,5% ( 13,35 milhões de pessoas) na extrema pobreza, devido à mudanças metodológicas, o instituto não apresentou comparativo com os anos anteriores, trabalho então realizado pelos pesquisadores do Iets. 

De acordo com o IBGE, que, por sua vez, utiliza referencial do Banco Mundial, são considerados pobres aqueles que vivem com até R$ 387,07 mensais, e extremamente pobres aqueles que recebem até R$ 133,72 mensais. 
Créditos: Rede Brasil Atual

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Como a Reforma da Previdência atinge os mais pobres

O professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Eduardo Fagnani, em entrevista ao GGN, demonstrou como a proposta do governo segue excluindo justamente os mais pobres. 

“Pra começar, ninguém mais vai conseguir se aposentar com aposentadoria integral, porque para isso seria necessário acumular 40 anos de contribuição. 

O Dieese [Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas] mostra que o trabalhador do setor privado, por conta da rotatividade e da informalidade no mercado de trabalho, contribui uma média de 9 meses a cada 12 meses (um ano), ou seja, para ele atingir 25 anos de contribuição, teria que trabalhar quase 33 anos”, explica.
Seguindo essa média, para um trabalhador juntar os 15 anos de contribuição mínima exigida – e que só dá direito a 60% do valor do salário –, ele teria que trabalhar durante 19 anos. Para receber uma aposentadoria integral, os 40 anos de contribuição exigidos só seriam alcançados com cerca de 50 anos de trabalho, uma realidade improvável.
Dados do próprio governo mostram que apenas pouco mais de 20% dos aposentados comprovaram contribuição acima de 25 anos, isso sem levar em consideração as regras da reforma trabalhista, que devem reduzir ainda mais a capacidade do trabalhador contribuir com a previdência.
“A reforma trabalhista está incrementando no país os empregos temporários e o trabalho intermitente, que paga por hora. Vai ser muito mais difícil você conseguir comprovar sequer os 15 anos de contribuição mínima”, aponta Eduardo Fagnani, na Unicamp. Nesse cenário, o valor médio da aposentadoria do INSS no país, que é de apenas R$ 1.500 por mês, deve ser drasticamente reduzido, já que a média dos benefícios cairá dos atuais 85% para cerca de 60% do salário.
Aposentadoria rural atinjida
Ao contrário da propaganda do governo de que os trabalhadores rurais ficaram de fora da Reforma da Previdência, o analista político Antônio Augusto Queiroz, do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) explica que isso não passa de publicidade enganosa, a começar pelo próprio aumento da idade mínima exigida para a aposentadoria, que também valerá para os assalariados rurais e os pequenos produtores.
Pela regra proposta, os agricultores familiares, que normalmente se aposentam por idade, ganhando um salário mínimo, vão ter que comprovar “tempo de contribuição” de 15 anos e não mais “tempo de atividade rural”, como ocorre atualmente.  “Assim, o pequeno produtor rural, que antes se aposentava por idade – aos 60 anos, no caso do homem, e 55 anos, no caso da mulher – desde que comprovasse o exercício de atividade rural por 15 anos, ainda que de forma descontínua, com as novas regras passa-se a exigir comprovação de 180 meses de contribuição (15 anos de contribuição) e três anos de comprovação de atividade rural imediatamente anteriores à aposentadoria”.
A mudança de “tempo de atividade rural” para “tempo de contribuição”, na prática, vai inviabilizar a aposentadoria do pequeno agricultor. “Para comprovar 15 anos de contribuição, ele vai ser obrigado que ir no banco todo mês pagar a prestação da previdência, o que é absolutamente incompatível com a dinâmica do trabalhador rural”, aponta Eduardo Fagnani, professor da Unicamp. 
Sonegação na Previdência
Segundo o relatório da CPI da Previdência, empresas privadas do país devem mais de R$ 450 bilhões ao INSS. Entre elas, figuram gigantes como o banco Bradesco e a JBS, controladora da Friboi. Além disso, as desonerações e isenções de impostos aplicadas ao longo das últimas décadas fez com que o governo deixasse de arrecadar cerca de R$ 400 bilhões para o pagamento das aposentadorias e benefícios sociais. 
Reforma mantém privilégios 
Enquanto afirma que a reforma da Previdência vai acabar com privilégios, o governo de Michel Temer defende a manutenção das atuais regras de aposentadoria especial para os parlamentares. Mesmo sendo considerada uma das leis mais “imorais” da República, a norma especial de aposentadoria parlamentar foi defendida pela Advocacia Geral da União (AGU) em manifestação recente ao Supremo Tribunal Federal (STF). A norma permite que o político que comprovar 35 anos de mandatos parlamentares (de vereador, deputado ou senador) possa receber a aposentadoria integral de um parlamentar federal: cerca de R$ 33,5 mil por mês.
Mesmo que não comprove os 35 anos de atividade legislativa, os parlamentares tem o direito de se aposentar com salário proporcional ao tempo de contribuição. Por causa disso, a média da aposentadoria parlamentar no Brasil está atualmente em R$ 14 mil por mês, um salário muito superior ao teto da aposentadoria pelo INSS, que é de R$ 5,5 mil, e seria o máximo que um trabalhador brasileiro poderia receber. Edição: Simone Freire.
Créditos: Brasil de Fato