sexta-feira, 30 de março de 2018

Desemprego cresce e atinge 12,6%; país tem 13,1 milhões de desempregados

A taxa de desocupação voltou a crescer no trimestre encerrado em fevereiro deste ano, atingindo 12,6%, uma alta de 0,6 ponto percentual em relação ao trimestre encerrado em novembro do ano passado. O país passa a ter 13,1 milhões de desempregados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), divulgada nesta quinta-feira (29), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o IBGE, em números absolutos, o resultado representa mais 550 mil pessoas em busca de emprego, entre um trimestre e outro. Na avaliação do coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, no entanto, o movimento de aumento na taxa de desemprego já era esperado e é comum nesta época do ano. “Nesta época do ano, o crescimento da taxa é um movimento esperado. Sempre no primeiro trimestre do ano a taxa tende a subir, pois existe a dispensa dos trabalhadores temporários contratados para as festas de final de ano”, justificou.

Ainda em consequência deste movimento de dispensa de trabalhadores temporários, a pesquisa mostrou que, entre o trimestre encerrado em novembro e o que terminou em fevereiro, o país perdeu cerca de 858 mil postos de trabalho, com redução de 407 mil empregos no setor privado sem carteira e de 358 mil no setor público.

O número de empregados com com carteira de trabalho assinada ficou estável neste trimestre encerrado em fevereiro, em 33,1 milhões de trabalhadores, porém “foi o pior resultado em números absolutos da série histórica iniciada em 2012”, segundo Azeredo. As categorias empregador e trabalhadores por conta própria também ficaram estáveis.

A queda no número de postos de trabalho foi verificada principalmente no grupamento  serviços, que reúne as atividades de administração púbica, defesa, seguridade, educação, saúde e serviços sociais, que chegou a perder 435 mil postos de trabalho; na construção, foram menos 277 mil empregos; e na indústria, menos 244 mil.

A taxa de desemprego de 12,6% neste trimestre significa “uma melhora do mercado de trabalho, quando a comparação se dá com o mesmo trimestre do ano anterior, quando a taxa chegou a 13,2% e alcançava 13,5 milhões de pessoas desocupadas, o pior resultado para esse trimestre na série histórica”. (Portal Correio).
Créditos: Focando a Notícia

Mesmo com lucro em estatais, governo avança na privatização e reduz postos de trabalho

As empresas analisadas, Petrobras, Eletrobras, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, correspondem a aproximadamente 95% da representatividade das estatais federais, segundo o secretário Fernando Antonio Ribeiro Soares da Sest. Dentre estas, a Caixa e o BNDES foram asestatais que mais lucraram no último ano.

Mas estes números não se fazem sozinhos, Soares disse ainda que outras medidas estão sendo tomadas visando a “melhoria” da gestão, dentre elas, consta a redução de gastos destinados a planos de saúde para os funcionários e seus dependentes, além disso o governo pretende avançar em planos de demissão voluntária. O governo reduziu os postos de 533.188 em 2016 para 504.444 em 2017, e a perspectiva é continuar reduzindo postos com os PDVs, ou seja, na prática o aumento dos lucros não está servindo para aumentar contratação neste momento de profunda crise e desemprego, ao invés disso o governo segue demitindo e cortando benefícios dos funcionários.

Além disso, os bancos estatais vem apresentando um atendimento cada vez mais precário, fechando agências e fazendo com que os clientes migrem para bancos privados como o Itaú e o Santander, que em 2017 tiveram lucro recorde em meio a esta profunda crise, e também têm fechado postos de trabalho aprofundando o desemprego. No fim, este lucro não se reflete nem em vagas de emprego nem em melhoria do atendimento, a população então é quem perde de ambos os lados enquanto estas empresas permanecem lucrando.

Ainda pesa o fato de que o governo segue querendo privatizar as empresas estatais, mesmo sendo possível aumentar seus lucros como se mostrou nos resultados de 2017. Em Janeiro, Temer havia anunciado que estava estudando a possibilidade de privatizar a Eletrobras, esta postura só evidencia qual é a prioridade do governo neste momento de crise, se fecham postos de trabalho e precarizam o serviço em nome do lucro, e após lucrarem estudam a privatização, a ideia não é sair desta crise e acabar com o desemprego que afeta o país, mas sim continuar lucrando mesmo que sejam os trabalhadores que paguem por isso.
Créditos: Esquerda Diário

quinta-feira, 29 de março de 2018

Pesquisa com mais de 6 mil moradores de favelas revela medo da PM

Medo e desconfiança são as duas palavras mais usadas por moradores de favelas do Rio de Janeiro para descrever seu sentimento em relação à Polícia Militar. É o que aponta um levantamento sobre as percepções de segurança pública com mais de 6 mil pessoas, que foram visitadas em suas casas entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016. Os resultados foram apresentados ontem.
A pesquisa é do Laboratório de Pobreza, Violência e Governança (PoVgov) da Universidade de Stanford, instituição sediada dos Estados Unidos, e foi realizada em parceria com o Observatório de Favelas e a Redes da Maré, duas organizações da sociedade civil que atuam em comunidades do Rio de Janeiro. Foram entrevistados moradores da Cidade de Deus, Providência, Rocinha, Batan e Maré.
Entre os entrevistados, 16% relataram que um amigo, um conhecido ou um membro da família foi assassinado por um policial. Além disso, 20% já tiveram as suas casas invadidas por forças de segurança, já sofreram agressões e têm algum familiar que foi agredido por policiais.
Em relação ao crime, 15% relataram ter sofrido um assalto a mão armada, viram alguém assassinado por um criminoso ou tiveram suas casas invadidas por um bandido. "Muitas vezes a polícia está mais propensa a abusar dos direitos dos cidadãos do que os criminosos", aponta o estudo.
Eles também foram perguntados sobre "qual é o sentimento que a maioria da comunidade têm demostrado em relação aos policiais que atuam em sua favela" e lhes foram apresentadas várias opções de respostas, igualmente divididas entre palavras positivas e negativas, entre elas medo, respeito, desconfiança, admiração, simpatia, indiferença, desrespeito, indiferença e raiva. O entrevistado também poderia dizer qualquer outro sentimento que desejasse.
"Quando os residentes relacionam seus sentimentos com a polícia, eles costumavam usar uma linguagem negativa", registra o estudo. Medo e desconfiança foram as palavras mais utilizadas.
O relatório também traça o perfil dos entrevistados. Metade deles vive com uma renda média de um a dois salários mínimos. Em relação à escolaridade, 29% completaram o ensino fundamental e 26% completaram o ensino médio. Apenas 3% tiveram acesso à universidade. Dos entrevistados, 45% declararam-se como católicos e 41% como evangélicos, enquanto 14% se disseram adeptos de outras religiões e 24% afirmaram não ter religião.
Esse não é o primeiro estudo do laboratório da Universidade de Stanford desenvolvido no Rio de Janeiro. Em parceria com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Seseg) e a Polícia Militar, vem sendo realizados estudos com o objetivo de entender as causas individuais, contextuais e institucionais do uso da força letal policial. Pesquisas similares também são desenvolvidas no México.
O estudo trouxe também impressões do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), criado em 2008, como um dos principais instrumentos de segurança pública do estado. No ano passado, foi anunciada uma reformulação e o remanejamento de um terço do efetivo que atuava nas favelas.
A UPP foi avaliada como positiva para a comunidade apenas por 31% dos entrevistados, enquanto 22% consideram a experiência negativa. Para 23%, houve melhora na relação entre comunidade e policiais, mas para 27% essa interação não melhorou. O maior número de entrevistados, no entanto, não apresentou avaliações positivas nem negativas, respondendo às perguntas dizendo que concordam "em parte" ou que "as coisas ficaram da mesma forma." Por outro lado, 48% dos entrevistados avaliaram que a UPP aumentou o desenvolvimento econômico local e 33% relataram que ajudou a diminuir a discriminação à favela.
As avaliações também diferem de uma comunidade para outra. No Batan, 60% da população acredita que a UPP foi uma ação positiva e apenas 4% tem uma opinião oposta. Na Rocinha, 40% dos entrevistados discordam que a UPP melhorou a comunidade, enquanto somente 20% concordaram com esta afirmação.
A Rocinha é também a única favela onde o número de moradores que querem a saída da UPP foi maior do que aqueles que querem a permanência. O fim do projeto é defendido por 30% dos entrevistados, contra 27% que não desejam. No Batan e na Cidade de Deus, mais da metade dos residentes acham que a UPP não deve abandonar a comunidade.
Na Providência, 37% têm essa mesma opinião, superando os que discordam dela. Na Maré, não há UPP, de forma que os moradores não opinaram sobre o assunto.
"Apesar da existência de opiniões diversas sobre a UPP, quando perguntamos diretamente aos moradores se querem que ela deixe a favela, 46% de todos os entrevistados respondem que não", disse a pesquisadora Beatriz Magaloni, diretora do PoVgov.
Sobre os resultados alcançados pelo projeto, apenas 14% responderam que a polícia conseguiu recuperar o controle territorial de grupos criminosos, enquanto 37% acham que houve falha nesse objetivo, e 30% relataram que a UPP não acabou com os confrontos armados entre grupos criminosos e policiais, enquanto 23% responderam que isso ocorreu. Em relação à criminalidade, apenas 32% acreditam que houve redução do crime. Para 49%, a situação não se alterou e 19% avaliam que as práticas criminosas cresceram.
Os entrevistados também avaliaram o nível de corrupção policial: 21% acham que aumentou e 22% que diminuiu. Particularmente na Rocinha, 35% moradores afirmaram que houve crescimento desse tipo de corrupção. É o maior índice entre as comunidades estudadas.
Os moradores das favelas relataram pedidos de subornos em ocasiões diversas, incluindo para autorizar a realização festas, para regularizar moto-táxis ou para não prender um membro da família. Em algumas áreas, a UPP teria práticas de milícia, cobrando para se ter acesso a serviços como TV a cabo, eletricidade e gás. Outra forma de atividade ilícita está ligada aos acordos com traficantes, onde os policiais recebem dinheiro para fazer vista grossa ao fluxo de drogas.
O relatório apontou ainda que as avaliações são diversas, considerados alguns perfis dos entrevistados. As mulheres são significativamente mais propensas a aprovar a UPP do que os homens. Por outro lado, os moradores que têm filhos desaprovam mais do que aqueles que não são pais. Além disso, os negros tendem a ser menos favoráveis à UPP do que os brancos.
Créditos: Brasil 247

quarta-feira, 28 de março de 2018

Ônibus da caravana de Lula é alvo de atentado a tiros no Paraná

Opositores armaram emboscada na estrada para furar pneus e ao menos três marcas de disparo de arma de fogo foram encontradas na lataria de um dos ônibus da caravana; presidenta do PT denuncia descaso das autoridades com segurança de Lula e dos militantes.


A violência de opositores contra o ex-presidente Lula e sua caravana pelo Sul do país não só segue com tem sido intensificada. No final da tarde desta terça-feira (27), um dos ônibus que acompanha a comitiva, no trajeto entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, no Paraná, foi atingido por pelo menos três disparos de arma de fogo. Ninguém ficou ferido.
Além dos tiros, opositores armaram emboscadas na rodovia com pregos para furar os pneus dos veículos.
Além dos tiros, opositores armaram emboscadas na rodovia com pregos para furar os pneus dos veículos.
A Polícia Militar foi contatada para fazer a perícia nos ônibus.
Em coletiva concedida para falar dos últimos atos de violência, a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que os integrantes da caravana estão assustados e denunciou o descaso das autoridades com relação à segurança do ex-presidente Lula e de sua caravana. De acordo com Gleisi, foi feito contato, por mais de uma vez, com o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em que foi passado todo o itinerário da caravana e relatado os atos de violência. O governo do Estado do Paraná, bem como o comando da Polícia Militar, também foram acionados, mas as agressões continuam acontecendo e se intensificando.
“O fato é que não temos proteção. Precisamos de uma manifestação das autoridades deste país”, afirmou a senadora.
Créditos: Revista Fórum

Caixa corta programas sociais

O balanço da Caixa Econômica Federal de 2017, divulgado ontem (27), apresentou lucro líquido recorde de R$ 12,5 bilhões. O resultado representa 202,6% a mais do que em 2016. Segundo Rita Serrano, representante dos funcionários da Caixa no Conselho de Administração da instituição, a avaliação dos números é de que, se o resultado financeiro é positivo e reforça a eficiência das empresas públicas, por outro lado, o balanço demonstra que o modelo de gestão do banco se aproxima cada vez mais do adotado pelas instituições privadas.
Assim, a Caixa perde aos poucos seu caráter de investidor no desenvolvimento do país. “Para ter resultado melhor, a Caixa buscou em 2017 diminuir as despesas e ganhar em eficiência via aumento de taxa de juros e de tarifas, além de diminuir o crédito”, diz a conselheira.
Mais do que isso, os números mostram significativa queda nos programas sociais nos quais a participação do banco estatal é fundamental. Em 2016, a Caixa pagou R$ 166 milhões de benefícios sociais, incluindo o Bolsa Família e outros 26 programas, no valor de aproximadamente R$ 28,5 bilhões. Em 2017, foram cerca de R$ 117 milhões de pagamentos, totalizando R$ 21,2 bilhões. De 2016 para 2017, portanto, houve queda de 29% na quantidade de parcelas pagas e 25% no valor total nas transferências.
“Os números mostram, portanto, que a Caixa está caminhando para ter o mesmo timing dos bancos privados, que tiveram resultados estrondosos, como Itaú, com R$ 24 bilhões de lucro em 2017”, lembra Rita Serrano. “O lucro desses bancos é vergonhoso, devido à situação do país e porque o Banco Central pode diminuir os juros, mas os bancos não adotam a redução nos serviços.”
De novembro de 2016 a janeiro de 2017,  enquanto a taxa Selic caiu de 13,75% para 7%, a taxa média adotada pelos bancos no financiamento da casa própria, incluindo Caixa, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, caiu de 11,24% para 9,69%, de acordo com levantamento da empresa Melhortaxa, plataforma que levanta informações sobre taxas de financiamento imobiliário.
A Caixa aumentou a taxa de juros e diminuiu as operações de crédito, como os demais bancos, porque estava e está pressionada pela necessidade de capital, diz Rita. “Ao mesmo tempo, o governo deveria aportar recursos no banco, mas ele diz que não vai fazer.”
Com a gradativa mudança de modelo da instituição, a pressão sobre os trabalhadores para melhorar os resultados é crescente. De 2014 até o início de 2018, a Caixa teve cerca de 16 mil demissões voluntárias. Hoje, os trabalhadores do banco são cerca de 85 mil. Em 2014, eram 101 mil. Com menos empregados, a pressão por resultado aumenta.
Caixa 100% pública
Embora os bancários tenham conseguido vencer a proposta de abertura de capital da Caixa, que transformaria o banco público em sociedade anônima (S/A), a luta em defesa do banco 100% público deve continuar, segundo o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
Esse será um dos temas do Momento Bancário, com a presidenta da entidade, Ivone Silva. O programa irá ao ar nesta quarta-feira (28), às 19h, e pode ser assistido pelo site,  YouTube e Facebook.
Para falar sobre a luta pela Caixa como banco público, o MB receberá Dionísio Reis, diretor-executivo do sindicato e coordenador da Comissão Executiva dos Empregados  (CEE)/Caixa, e Fabiana Matheus, candidata à diretoria executiva da Fundação dos Economiários Federais (Funcef), em eleição que será realizada nos dias 2, 3 e 4 de abril.
Créditos: Rede Brasil Atual.

terça-feira, 27 de março de 2018

Com o aumento da extrema pobreza, Brasil retrocede dez anos em dois

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou em novembro de 2017, os resultados do “Módulo Rendimento” de todas as fontes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) referente ao ano de 2016. A repercussão dos dados junto à opinião pública foi pontual, sem corresponder à gravidade do que eles revelaram: a persistência e o agravamento da desigualdade no Brasil. Em outras palavras, os números diagnosticaram a multiplicação da pobreza que vemos com tanta facilidade, tanto nas ruas dos grandes centros urbanos do país quanto nas pequenas comunidades rurais do seu interior.

Vejamos: se for considerada a massa do rendimento mensal real domiciliar per capita1, de R$ 255,1 bilhões, em 2016, verifica-se que os 10% da população com maiores rendimentos concentraram 43,4% desse total, ao passo que os 10% com menores rendimentos ficaram somente com 0,8%. Em um país onde o rendimento médio mensal do trabalho, em 2016, foi de R$ 2.149,00, esse grau de desigualdade fica mais nítido se for observado que o 1% de maior rendimento do trabalho recebeu em média, mensalmente, R$ 27.085,00, o que corresponde a 36,3 vezes daquilo que recebeu a metade de menor renda e, pior ainda, 371 vezes daquilo que receberam os 5% de menor rendimento.

Também na divisão regional, os resultados atestam o desequilíbrio na repartição do total dos rendimentos, que somaram R$ 255 bilhões, mesmo considerando os diferentes pesos populacionais das regiões. Considerando-se todas as fontes de renda (trabalho e outras), o valor médio no Brasil é de R$ 2.053. Regionalmente, revela-se o desequilíbrio, com o Sudeste apresentando uma média de R$ 2.461; R$ 2.249 no Sul; R$ 2.292 no Centro-Oeste; R$ 1.468 no Norte e R$ 1.352 no Nordeste.

Da renda domiciliar per capita, 25,2% são provenientes de fontes não relacionadas com o trabalho, sendo 18,7% delas relativas a aposentadoria e pensão; 2,2% a aluguel e arrendamento; 1,1% de doação e mesada de não morador e 3,2% de outras fontes. A pesquisa mostrou que 24% da população receberam rendimento de outra fonte. O Nordeste foi a região com menor diferença entre os dois índices, com 35,7% das pessoas recebendo rendimento de algum tipo de trabalho e 27,6% de outras fontes, o que denota menor percentual de pessoas trabalhando e, possivelmente, maior percentual daqueles que buscam o sustento por outras fontes, especialmente nos programas de transferência de renda.

A PNAD Contínua foi lançada pela primeira vez em 2012. Diferente da antiga PNAD, ela permite acompanhar as variações de curto prazo do emprego da força de trabalho, da renda e de outras variáveis essenciais para a compreensão do desenvolvimento socioeconômico do país. Além do “Módulo Rendimento”, o IBGE também divulga, anualmente, os módulos referentes a habitação, migração, fecundidade, características dos moradores, trabalho infantil, outras formas de trabalho, educação e acesso a internet, TV e celular.

Os dados fornecidos pelo módulo divulgado em novembro contribuem também para atualizar a verificação da situação das pessoas em condição de pobreza e extrema pobreza. A metodologia adotada classifica como extrema pobreza a situação daqueles que viviam com R$ 70,00 em junho de 2011, equivalente a US$ 1,25 (com paridade de poder de compra com os Estados Unidos) – mesmo parâmetro adotado pelo “Plano Brasil Sem Miséria”. Esse também era o parâmetro adotado pelo Banco Mundial para a linha internacional de extrema pobreza e correspondia a valores próximos da linha de indigência para o Nordeste Rural, apresentados por Sônia Rocha (1998) na publicação Desigualdade Regional e Pobreza no Brasil: a Evolução – 1981/95. Ainda que seja necessário algum esforço metodológico para compatibilizar metodologias diferentes aplicadas na antiga PNAD e na PNAD Contínua, os resultados recentes sobre a pobreza e extrema pobreza apontam na direção esperada (gráfico 1).

Reconhecemos que a pobreza e a extrema pobreza não são determinadas apenas pela renda que cada indivíduo dispõe para fazer frente ao atendimento de suas necessidades básicas, mas acreditamos que essas séries possibilitam uma identificação bastante real desse público.

Observa-se que, em 22 anos, o Brasil viveu dois períodos em que a pobreza e a extrema pobreza passaram por reduções mais significativas. O primeiro, em 1995, o que pode ser atribuído ao efeito da estabilização da moeda, mas cuja inflexão se restringiu a um único ano, já sendo registrada nos anos seguintes novamente uma tendência ascendente do número de pessoas naquela condição. Situação bem diferente é a que se identifica entre 2003 e 2014, nos dois mandatos do ex-presidente Lula e no primeiro mandato da presidenta Dilma. Nesse período, os números revelam que ocorreu uma contínua redução das duas variáveis, mesmo após a crise econômica internacional de 2008. Diferente também pela continuidade da queda, alcançando os bolsões mais distantes do Brasil profundo. A virtuosa combinação de uma política de desenvolvimento com inclusão por meio de programas e ações especificamente voltados para grupos sociais mais vulneráveis explica essa trajetória histórica de redução da pobreza e da extrema pobreza.

Em 2015 parece haver a sinalização de que esse ciclo se interrompe e, em 2016, com os dados recém-divulgados pela PNAD Contínua, assiste-se a um agudo empobrecimento de parte da população, retrocedendo a patamares que tinham sido superados. É muito preocupante que, no que diz respeito à extrema pobreza, o Brasil voltou, em apenas dois anos, ao número de pessoas registradas dez anos antes, em 2006. Entre 2014 e 2016 o aumento desse contingente foi de 93%, passando de 5,1 milhões para 10 milhões de pessoas. Em relação aos pobres, o patamar de 2016 – 21 milhões – é o equivalente ao de oito anos antes, em 2008, e cerca de 53% acima do menor nível alcançado no país, de 14 milhões, em 2014. Entre tantas consequências, o espectro da fome, que havia sido superado nesse período, como constatou a FAO, pode estar voltando com maior rapidez do que se possa imaginar.
Créditos: CUT

domingo, 25 de março de 2018

Prejuízo na Petrobras é utilizado para justificar seu desmonte

As análises do balanço financeiro da Petrobras no ano de 2017, divulgado na segunda quinzena de março deste ano, estão sendo utilizadas como subsídio para acirrar ainda mais o desmonte da estatal, opinam pesquisadores e petroleiros. Eles destacam que o suposto prejuízo de R$ 446 milhões no ano passado, o quarto seguido de resultados negativos da companhia, não é grave, mas vem sendo repercutido dessa forma para justificar tentativas de privatização.

É o que analisa a diretora da Federação Única dos Trabalhadores (FUP), Cibele Vieira. Para ela, esse processo faz parte do comprometimento da reputação da Petrobras, consequente, principalmente, da Operação Lava Jato. A investigação completou quatro anos no último 17 de março e tem como uma de suas principais ações a apuração de recursos desviados dos cofres públicos da petrolífera.

"A Lava Jato cria esse pano de fundo de uma Petrobras quebrada por conta da corrupção. Estão fabricando esse déficit justamente para dar a impressão de uma empresa quebrada, para justificar sua venda. Mas qualquer analista sério que olhar os dados da Petrobras com mais cautela vai ver que a empresa é sólida. Tanto que ela cumpriu todas as metas operacionais de 2017, como o aumento da produção, e o lucro operacional", ponderou.

Segundo nota divulgada pela Petrobras, a empresa teria alcançado um lucro líquido de R$ 7,089 bilhões em 2017, se não fossem por despesas extraordinárias de acordos com investidores estadunidenses. Essas dívidas, bem como a variação internacional no preço do barril de petróleo — que nos últimos anos caiu para cerca de US$ 30 o litro — são consideradas efeitos contábeis, ou seja, não indicam uma desvalorização da empresa.

Para Rodrigo Leão, diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustível (INEEP), as medidas tomadas após a Lava Jato são muito mais danosas à empresa do que o suposto envolvimento de seus gestores nos casos de corrupção, ou os déficit contábeis.

"Não acho que em nenhum momento a Petrobras correu o risco de ficar quebrada. A preocupação que temos hoje com esse resultado, muito além desse pequeno prejuízo, é o viés estratégico da empresa. Ela vinha se caracterizando por ser uma empresa integrada e diversificada. Agora vem saindo progressivamente de outros segmentos, como o de refino. Com isso, ficamos reféns do mercado externo. Ou seja, a Petrobras era uma empresa que estava alterando a geopolítica e agora está em uma posição subalterna", opinou.

De acordo com a FUP, ao mudar seu plano de negócio, a Petrobras reduziu investimentos e freou obras por todo o país, principalmente após a entrada do atual presidente da empresa, o engenheiro Pedro Parente, indicado pelo presidente golpista Michel Temer (MDB). Desde então, cerca de 25 mil trabalhadores próprios deixaram a empresa, por meio de planos de demissão voluntários, além de 150 mil trabalhadores terceirizados.

Para Cibele Vieira, o desemprego dos trabalhadores diretos e indiretos, que eram contemplados pela produção da Petrobras, é mais uma consequência do desmonte conduzido pela Lava Jato. Ela destacou que, antes, a empresa estimava uma geração de cerca de 1 milhão de postos de trabalho indiretos nas regiões beneficiadas.

"Isso tudo foi por água abaixo, o que a gente está vendo é que, o que poderia gerar emprego está gerando desemprego, porque a Petrobras está cancelando encomendas no Brasil e importando combustível de fora. Isso porque o governo quer vender as refinarias. O que sempre falamos é que eles têm que punir quem roubou, e não paralisar as obras, porque quando você faz isso, é o trabalhador da ponta que fica desempregado", denunciou.
Créditos: Brasil de Fato