Alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet fez duras críticas ao Brasil no discurso de abertura no Conselho de Direitos Humanos da entidade, na segunda-feira (14), em Genebra.
“Do Brasil, estamos recebendo relatos de violência rural e despejos de comunidades sem terra, bem como ataques a defensores dos direitos humanos e jornalistas, com pelo menos dez assassinatos de defensores dos direitos humanos confirmados este ano”, declarou.
Bachelet denunciou ainda o desmonte de sistemas de participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas, além da crescente participação de militares em assuntos de gestão pública. “Embora se reconheça o contexto desafiador da segurança, qualquer uso das forças armadas na segurança pública deve ser estritamente excepcional, com supervisão eficaz”, afirmou a dirigente.
Na opinião da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos no primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014), a importância do discurso de Bachelet está no fato de se inserir num contexto mundial de mobilizações e denúncias contra as queimadas na Amazônia e no Pantanal, e também contra as violações aos direitos humanos no governo de Jair Bolsonaro.
No início do mês, um estudo encomendado pelo Parlamento Europeu sugeriu a possibilidade de emitir um alerta ao Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, na Holanda, com denúncia de crime contra a humanidade pela situação de destruição da floresta amazônica.
“As questões ambientais no Brasil têm chamado atenção internacionalmente, de modo muito forte, porque também violam os direitos humanos e têm impactos econômicos”, na opinião da deputada.
Para o professor da Universidade Federal do ABC Giorgio Romano Schutte, o grande assunto hoje, no âmbito da ONU, é a disputa entre Estados Unidos e China e, nesse contexto, as questões brasileiras acabam atraindo menos interesse. Seja como for, acrescenta, a imagem do país é hoje muito negativa. Na terça-feira que vem (22), o presidente brasileiro fará o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em evento que será realizado pela primeira vez remotamente, devido à pandemia de coronavírus.
O lugar do Brasil na mídia internacional, hoje, é ocupado sobretudo pelas questões Amazônia e pandemia, observa. “Espera-se alguma resposta do Brasil nesses dois temas, porque em relação a eles a imagem do Brasil é muito ruim, sobretudo na Europa.”
“O Paulo Guedes (ministro da Economia) vai querer que Bolsonaro fale de oportunidades que existem no Brasil, que se está criando uma situação favorável aos investimentos, que o país está se preparando para a fase pós-pandemia. Talvez Bolsonaro queira se defender na questão da Amazônia”, aponta Giorgio. Para ele, Bolsonaro provavelmente vai dizer que o Brasil “está firme” na defesa da Amazônia, e reagindo aos ataques contra a soberania.
Para Maria do Rosário, outro tema que atualmente chama a atenção do mundo para o Brasil é o do trabalho infantil, que também tem forte impacto econômico. “A OIT (Organização Internacional do Trabalho) tem relações muito diretas com essa questão. E disso decorrem impactos internacionais que permeiam a indústria, o comércio e produzem boicotes significativos de produtos de países onde um presidente fomenta o trabalho infantil, caso de Bolsonaro”, diz a deputada.
Ela menciona o fato de serem cada vez mais comuns campanhas de boicote a produtos brasileiros devido aos ataques ao meio ambiente. Em junho, grupos de comerciantes e ativistas europeus aumentaram as pressões pela retirada de produtos brasileiros dos supermercados, em protesto contra a política ambiental do governo Bolsonaro.
Na Europa, de modo geral, os ambientalistas têm peso político considerável e a destruição ambiental faz com que os políticos estejam “empurrando com a barriga” um desfecho do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que interessa ao Velho Mundo economicamente. “Os europeus estão muito interessados, porque o capital deles é que vai se beneficiar do acordo. Mas a opinião pública resiste”, destaca Giorgio.
Na Alemanha, o mais poderoso país europeu, onde “os verdes” são politicamente muito fortes, os políticos temem que ignorar a questão ambiental possa ser fatal para suas pretensões nas eleições de 2021, quando o país – hoje comandado por Angela Merkel – escolherá um novo chanceler. No ano passado, segundo o Deutsche Welle, quando todos os eleitores alemães puderam votar nas eleições para o Parlamento Europeu, os verdes obtiveram mais de 20% dos votos, um resultado histórico. Foto: Mayke Toscano. Por Eduardo Maretti, da RBA com informações de Jamil Chade. Créditos: Rede Brasil Atual
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