José Serra (PSDB) esquivou-se de duas perguntas, e Fernando Haddad (PT) aumentou o tom contra o adversário ao responder acusações sobre o mensalão e o fim da parceria com as Organizações Sociais (OS) na área da saúde. Este é um breve resumo do debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo organizado hoje (24) por SBT e UOL na sede da emissora de televisão. Foi o segundo e penúltimo confronto antes do segundo turno. Os paulistanos vão às urnas dentro de quatro dias.
O candidato tucano deixou de responder diretamente a questões sobre combate a enchentes e construção de moradias populares. Ao formular a pergunta sobre inundações, problema que atinge sobretudo bairros da periferia, o petista disse que Serra ocupou o governo do estado por mais de três anos e “nada fez” para despoluir ou aumentar a calha do rio Tietê, que atravessa a capital de leste a oeste – e costuma transbordar na época das chuvas mais intensas. O ex-ministro da Educação lembrou ainda de reportagens que mostravam que o ex-governador deixou de fazer a limpeza da calha do rio, motivo para enchentes. O candidato do PSDB saiu pela tangente, preferindo rebater um ataque feito minutos antes por Haddad.
O petista lembrou que, em entrevista à Rádio CBN, Serra havia defendido a entrada de agentes da Fundação Casa – nome atual da antiga Febem – nas escolas públicas para detectar crianças que podem vir a se transformar em futuros delinquentes. “Onde você estava com a cabeça quando propôs isso?”, ironizou o petista. “Eles vão entrar também nas escolas particulares? Isso é proposta para rico e para pobre? É só para pobre?” O tucano aproveitou a oportunidade para falar de sua proposta para o transporte público: aumentar de três para seis horas o tempo de integração do Bilhete Único e expandir mais o benefício aos fins de semana, que aos domingos tem duração de 8 horas.
“Eu pergunto de enchentes e você vem me falar de um tal de Bilhete Amigão que ninguém sabe o que é?”, rebateu Haddad, que insistiu na questão das enchentes. “Isso você inventou agora porque não tinha projeto para o transporte coletivo.” O candidato tucano respondeu então que há dois anos não existe registro de vítimas fatais devido à ocorrência de inundações na capital; que nos últimos oito anos a gestão municipal despoliu, em parceria com o governo do estado, mais de cem córregos em São Paulo; e que a prefeitura criou o parque linear da várzea do Tietê justamente para preservar o rio – e evitar que transborde.
Habitação
Outra evasiva de José Serra veio quando o candidato do PT o interpelou sobre os programas habitacionais da gestão PSDB-PSD na administração da capital. Fernando Haddad havia lembrado, logo no começo do debate, que os últimos dois governos paulistanos construíram cerca de 3,5 mil unidades habitacionais por ano – e ressaltou: “São dados oficiais.” O petista comparou o desempenho do rival e de seu sucessor, Gilberto Kassab (PSD), ao das gestões de Luiza Erundina (1989-1992) e Marta Suplicy (2000-2004), ambas do PT, que ergueram, frisou, cerca de 9 mil e 5,5 mil moradias por ano, respectivamente.
Ao invés de responder, José Serra fez uso da palavra para reforçar suas propostas para o ensino técnico na cidade de São Paulo. O tucano lembrou uma ideia que apresentou em 2010, quando foi candidato à presidência da República: o Protec, programa que dará bolsas de estudos a jovens que não conseguirem entrar nas escolas e institutos públicos de ensino profissionalizante, como as Fatecs.
“Vamos aumentar em 100 mil o número de vagas nos cursos técnicos, que são cursos que viram emprego”, reforçou o tucano, que só depois, quando foi novamente provocado por Haddad e teve direito à tréplica, respondeu sobre habitação. “Urbanizamos uma série de favelas e construímos 28 mil unidades em parceria com o governo estadual.” Logo após, o petista fez uma conta matemática: dividiu 28 mil pelos oito anos da gestão Serra-Kassab na prefeitura e chegou ao número inicial: 3,5 mil moradias por ano.
Insanidades
Fernando Haddad foi mais duro do que de costume com seu rival ao responder ataques sobre o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o tema da corrupção não foi levantado pelo tucano: quem colocou o assunto na roda foram os telespectadores e internautas, que previamente haviam elencado alguns temas a serem tratados pelos candidatos. José Serra aproveitou a chance e acusou o petista de querer “repetir o mensalão em São Paulo”. O ex-ministro da Educação não gostou da alfinetada.
“Teu desrespeito chega às raias da insanidade”, rebateu Haddad. “Trazer mensalão pra cá? Do que você está falando?” O candidato do PT lembrou que não há nenhuma denúncia de corrupção contra ele pelos anos em que ocupou o primeiro escalão do governo federal e administrou um orçamento duas vezes maior que o da cidade de São Paulo. O petista aproveitou para lembrar o caso de Hussain Aref Saab, diretor do Departamento de Aprovação de Edificações (Aprov) da prefeitura durante a gestão de Gilberto Kassab, acusado de cobrar propina para liberar obras na capital.
José Serra não deixou por menos: “Aref era alto assessor da Marta Suplicy”, destacou, lembrando que a atual administração patrocinou uma investigação contra seu funcionário assim que soube das denúncias movidas pelo Ministério Público. No tempo que lhe restava, o tucano lembrou ainda que Haddad pode até não estar envolvido com o mensalão, mas faz parte do partido que fez o mensalão. “Ninguém governa sozinho.”
Mentira
Outro ataque direto do petista contra insinuações de José Serra ocorreu quando o candidato do PSDB disse que Fernando Haddad, se eleito, acabaria com a parceria que a prefeitura mantém com as chamadas Organizações Sociais (OS) na área da saúde. “No programa do PT consta o fim da parceria com entidades como Santa Marcelina, Sírio Libanês e Albert Einstein”, recordou o tucano. “As OS fizeram no ano passado 50 mil cirurgias. Vou reforçar parceria com elas.” Contudo, Haddad afirmou que foi ele que, como ministro da Educação, autorizou a criação do curso de Medicina nas faculdades Santa Marcelina. “Acha que vou fechar o curso que eu mesmo abri?”, rebateu. “O povo sabe quem mente.”
Rede Brasil Atual