Quem telefona para o Instituto São Paulo de Ação Voluntária (Ispav) para se inscrever na fila por habitação popular recebe a seguinte resposta: “Só depois da eleição, se José Serra vencer". Do outro lado da linha, a atendente sugere o número 45, do candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, como aquele que deve ser escolhido no próximo domingo (28).
Na verdade, o instituto não está habilitado a prestar serviços na área de moradia, mas o faz em nome de uma parceria, a Associação Comunitária Beneficente do Jardim Santa Adélia. A organização é uma das que estão credenciadas para inscrições nos programas de moradia popular da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU). Em princípio, não há impedimento para que entidades assistenciais participem deste tipo de projeto. Pelo contrário, entre as modalidades de atendimento do órgão do governo do estado de São Paulo está a desenvolvida por meio de parcerias com associações e cooperativas habitacionais – caso da Associação Jardim Santa Adélia. Mas a entidade é ligada ao vereador Gilson Barreto, que, por sua vez, é do mesmo partido de Serra. E estar habilitada pela CDHU para selecionar as famílias não significa condicionar o trabalho a resultados eleitorais. Nair Francisca Delatin, assessora parlamentar do vereador Gilson Barreto, é membro titular da Associação Comunitária Beneficente do Jardim Santa Adélia. Além disso, a entidade funciona em imóvel ao qual se chega procurando o endereço de outra instituição, o Instituto São Paulo de Ação Voluntária (Ispav), conhecido por promover mutirões de catarata e presidido por Iraí Terezinha Moreira Barreto, esposa do aliado de Serra.
Ao procurar o endereço do instituto dedicado ao problema ocular, chega-se à rua Airi, 114, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. No entanto, ali, onde deveria funcionar o Ispav, a reportagem foi informada de que esta entidade está agora no imóvel ao lado. Neste, por sua vez, funciona há alguns meses um escritório político do vereador Gilson Barreto. Sem se identificar, a reportagem foi informada na rua Airi, 114, que a questão de moradia seria realmente tratada depois das eleições, e também que, se Serra perdesse, ficaria “um pouco mais difícil”. Segundo a CDHU, são atendidas por meio de seus convênios entidades previamente classificadas por edital público de seleção. A entidade que pleiteia a parceria deve comprovar idoneidade e preencher outros requisitos exigidos no programa. Selecionada e habilitada pela estatal, a organização está apta a selecionar famílias que se enquadram nos critérios para se candidatar a uma moradia popular (na modalidade de parcerias com entidades assistenciais, para participar em regime de mutirão).
A reportagem procurou o vereador Gilson Barreto, que não apresentou resposta até o fechamento desta reportagem. O gabinete do vereador também informou que a assessora Nair Francisca está no momento trabalhando no espaço político cujos telefones são os mesmos fornecidos pela atendente no endereço do Ispav.
Fonte: Rede Brasil Atual
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