Três obras no Nordeste que eram tratadas como um dos maiores legados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após dois anos do fim de seu mandato, sofrem com o descumprimento de orçamentos e prazos.
A principal delas, lançada em 2006 e que deveria resolver o problema na seca no semi-árido nordestino, é a que avança mais rápido. A transposição do Rio São Francisco, que leva água para o sertão por meio de canais ligados à bacia hidrográfica do rio, deve chegar a 10 anos de execução, e sem a convicção do governo de que será concluída.
Já a que seria responsável por promover desenvolvimento e interligar logisticamente a região, a Ferrovia Transnordestina, passa nos últimos dois anos por um processo de revisão orçamentária.
Por fim, na Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco — que seria tocada em parceria pelas estatais petrolíferas do Brasil e Venezuela — o orçamento explodiu, e o prazo de conclusão das obras se prolongou por mais de quatro anos.
O sentimento na região é de que, o desenvolvimento econômico nordestino perdeu fôlego, e que estas obras não são as prioridades atuais do novo governo. Para Jorge Ramos, presidente da Sociedade Internacional de Automação (ISA, na sigla em inglês), com a desistência de algumas empresas em investir no Nordeste, algumas obras foram retiradas da lista de urgência. “Existiam, principalmente estaleiros prometidos, mas quase todos desistiram. Com isso, bilhões foram colocados em compasso de espera, até que haja uma motivação para intensificar os investimentos”, avalia o executivo.
Transposição do Velho Chico
A obra que marcou os últimos meses do primeiro mandato de Lula, era tida por cientistas políticos como o grande trunfo do ex-presidente para conquistar definitivamente o eleitorado nordestino, que em 2002, preferiu seu concorrente no pleito, José Serra.
No entanto, problemas com ambientalistas e representantes locais afetaram o andamento das obras. O último empecilho foi a descoberta de um esquema fraudulento organizado por uma das executoras da obra, a Construtora Delta. A Corregedoria Geral da União investiga um trecho tocado pela companhia e a acusa de ter desviado, ao menos, R$ 76 milhões. Com isso, as obras estão suspensas.
Com tantos atrasos, o orçamento pulou de R$ 4,8 bilhões para R$ 6,8 bilhões e o prazo para conclusão passou de 2010 para 2015. No entanto, com a suspensão, o prazo será revisto.
Transnordestina
A Ferrovia Transnordestina, por usa vez, também enfrenta impasses que atravancam sua execução por parte da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que detém a concessão da malha férrea.
Pela terceira vez, desde o início em 2007, a empresa pede uma revisão orçamentária e de prazos. O que era para custar R$ 4,5 bilhões, com conclusão prevista para 2010, já passou para R$ 6,7 bilhões, com mais cinco anos de prazo.
Abreu e Lima
A refinaria que, com a ferrovia, fazia parte do projeto de industrialização da região, está sob intervenção. A Petrobras — que continua a construção de sua parte do complexo, já que a venezuelana PDVSA ainda não colocou um centavo em sua parte no empreendimento — está revendo todos os contratos assinados com a construtora. O pagamento às companhias também está suspenso.
O motivo é a explosão orçamentária observada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o qual o ex-presidente, José Sérgio Gabrielli teve de explicar ao Tribunal de Contas da União, em 2009. Na época, Gabrielli disse que o TCU usava índices de comparação de preços incompatíveis com os custos de uma refinaria. A saída de Jorge Zelada da administração da estatal, após Graça Foster ser empossada na presidência, também está relacionada ao mau andamento da obra pernambucana.
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