Há, no Brasil, uma geração que, embora com amplo acesso a informações, não tem a real percepção dos perigos do sexo sem proteção. Aproximadamente 60% dos jovens entre 18 e 29 anos acham que não correm risco (ou consideram pequena essa ameaça) de contrair doenças sexualmente transmissíveis (DST). De cada 10 jovens, quatro acreditam que não é preciso usar preservativos em relacionamentos estáveis e três desconfiariam da fidelidade do parceiro que propusesse o uso regular da camisinha.
A pesquisa, encomendada pela Caixa Seguros com colaboração da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e o Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, ouviu 1.208 jovens em 15 estados e no Distrito Federal entre 2011 e 2012. Do total, 78% responderam que já usaram camisinha, ao menos uma vez, para se proteger contra DST. No entanto, 40% não consideraram o uso do preservativo eficaz para evitar infecções ou uma gravidez indesejada.
Apesar das campanhas governamentais de prevenção e das facilidades de acesso a informações sobre a doença, os números mostram que o índice de incidência da aids entre jovens de 15 a 29 anos vem se mantendo relativamente estáveis. Em 2011, foram notificados 9,1 mil casos; em 2010 foram 8,8 mil; e em 2009, as notificações nessa faixa etária somaram 8,4 mil. No primeiro semestre deste ano, o Ministério da Saúde recebeu 4,4 mil notificações.
Segundo o coordenador da pesquisa, Miguel Fontes, a pesquisa aponta que os jovens não colocam em prática o que aprendem em relação a DST. "Os jovens brasileiros não se acham em perigo de contrair aids. Eles se sentem fortalecidos no plano do conhecimento, mas, quando puxamos para a realidade, vemos que eles estão em situação de vulnerabilidade. As práticas do uso do preservativo na última relação são baixas." De acordo com a pesquisa, 36,1% dos entrevistados não usaram camisinha na última relação sexual e 39% disseram que só fazem questão de usar preservativo apenas na primeira relação com um novo parceiro.
P., de 30 anos, contraiu o vírus da aids (HIV) quando tinha 22 anos, em uma relação sexual desprotegida. "Conhecia a pessoa há quase um ano e não imaginei que ela tivesse (o HIV)." P. conta que procurou um médico quatro meses depois, quando já passava por problemas de saúde relacionados à doença. "Quando fui fazer o exame, vi a pessoa na fila para se consultar com o infectologista. Soube por terceiros que a pessoa fazia tratamento por causa do HIV."
Ele reconhece que, apesar de ter o hábito de usar o preservativo, o excesso de confiança no parceiro o levou ao descuido. "De certa forma, me senti traído. Fiquei frustrado na época, mas me conformei porque também tive culpa, não cuidei de mim. O HIV não escolhe se a pessoa é bonita, rica ou pobre."
Álcool e drogas
Para P., o uso de drogas é um fator que expõe os jovens ao risco. "O jovem, hoje, tem a informação. Há vários projetos de conscientização, mas, infelizmente, o grande problema são as drogas. Os usuários não têm noção do perigo e acabam se arriscando. No meu caso, foi uma questão de descuido. Eu tinha o conhecimento, mas confiei por estar gostando da pessoa e, no calor das emoções, coloquei minha vida em risco." De acordo com a pesquisa, 34% dos entrevistados admitem já ter se relacionado sexualmente sem proteção justamente após o consumo de drogas - lícitas ou ilícitas.
"O álcool tem uma influência bombástica em relação às opções que os jovens têm feito em relação à sexualidade. Além disso, houve um aumento do consumo de bebidas entre as mulheres mais novas. Isso mexe com a capacidade da pessoa de se preservar, por mais que ela tenha informação", avalia o pesquisador Miguel Fontes.
O mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde revela que foram notificados 4.485 novos casos de aids entre jovens e adolescentes de 15 a 29 anos em todo o Brasil. O chefe da área de Vigilância, Informação e Pesquisa do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Gerson Fernando Mendes, ressalta que o aumento da infecção entre jovens ocorre no mundo todo. "Os últimos boletins mostram que, no Brasil, houve aumento da tendência em jovens, homens e mulheres, e, principalmente, homens que fazem sexo com homens na faixa de 15 a 24 anos. De maneira geral, há o que chamamos de epidemia concentrada, com prevalência de 5% entre profissionais do sexo e usuários de droga e 10% entre homens que fazem sexo com homens", informou Mendes. Procurada, a Secretaria de Saúde do DF informou que o boletim epidemiológico local será divulgado na segunda-feira.
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