A Igreja Católica lançou na quarta-feira (5) a Campanha da Fraternidade com o tema “tráfico de pessoas”. No Centro-Oeste Paulista, o Ministério Público do Trabalho (MPT) tem combatido o aliciamento de pessoas trazido de estados do nordeste. Quatro empregadores de Bauru e Marília
poderão responder a processo na Justiça Federal por tráfico de pessoas e aliciamento, já que trabalhadores não têm os benefícios exigidos por lei e acabam vivendo em condições precárias.
Nos últimos três anos, 85 empresas foram investigadas no Centro-Oeste Paulista por suposta prática de trabalho escravo. Falta de equipamento de segurança, registro em carteira e moradias em péssimas condições fazem parte de uma realidade flagrada várias vezes no ano passado pelo MPT, que percorreu várias fazendas de café, cana e laranja. São trabalhadores aliciados com promessas que nunca são cumpridas.
Na medida em que o trabalhador é enganado através de falsas promessas de ganhos salariais ou falsas promessas de moradias, de transporte irregular e ele aceita essa proposta e vem pra cá e essas condições não ocorrem, se caracteriza o tráfico de pessoas para fins de trabalho. Esse trabalhador que vem aliciado através desse tráfico de pessoas, ele só toma coragem de denunciar quando as condições são muito precárias. Depois de alguns meses o ganho é muito reduzido, ele não consegue receber para o seu próprio sustento, ai ele cria coragem e denúncia”, afirmou o procurador do Trabalho, Luís Henrique Rafael.
A investigação dos procuradores do Trabalho apontou o envolvimento de quatro pessoas em suposta prática de aliciamento e de trabalho escravo, em Marília e Baurú. Os processos seguem no ministério público federal. “Flagramos no ano passado casos em que esse intermediador, o gato, é uma figura autônoma. Ele transita pelo Brasil todo e ganha pela vinda desses trabalhadores. Mas em muitos casos esse gato está inserido dentro de um processo produtivo de uma empresa agrícola ou de uma construção civil. Então, as empresas que contratam o trabalhador nessas condições também são responsáveis pela prática de trabalho escravo e pelo tráfico de trabalhadores”, contou o procurador.
O tráfico de pessoas também envolve trabalhadores vindos de outros países. Em são José do Rio Preto, mais de 80 bolivianos foram encontrados em condições sub-humanas de trabalho e sem documentos. Casas, quintais e até em um salão disfarçado de igreja funcionavam como oficinas de confecção clandestinas. Os trabalhadores estrangeiros recebiam R$ 500 por mês, sem direito a férias ou 13º salário. “Que as pessoas compreendam que isso não está distante. Está muito próximo da casa dela. De repente, um filho, um neto, um parente, um amigo, pode ser uma pessoa que vai receber a visita de um aliciador e ser um traficado”, alertou o coordenador da campanha em Bauru, Gérson Pinheiro. Durante a campanha da Fraternidade, temas como a exploração sexual e o tráfico de órgãos também serão abordados e a conscientização ajuda nas investigações do ministério público do trabalho que faz um alerta.
“Não se pode acreditar em coisas inviáveis de serem realizadas. Tem que ter um pouco de noção. Se certificar se existe por trás disso uma empresa legalmente constituída. Isso é muito fácil de ser pesquisado hoje. A própria internet oferece meios de pesquisa. Se certificar se outras pessoas passaram pela mesma situação, quais foram as condições oferecidas para que não ocorram novamente esse tipo de exploração para qualquer fim, seja na área do trabalho ou na sexual também”, completou Luís Henrique Rafael. Leia mais no portal G1. Foto: Reprodução/TV TEM.