sexta-feira, 10 de março de 2017

Fechamento de escolas rurais obriga crianças a passar mais tempo na estrada que em aula

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Todos os dias, crianças com idades entre 5 e 8 anos saem de casa às 4 e meia da manhã para chegar a tempo na aula, que começa às 7h. Se estiver chovendo, têm de caminhar dois quilômetros até o ônibus, que não consegue ir até elas por causa da lama no caminho. E quando o tempo está seco, elas ficam expostas a doenças respiratórias causadas pela poeira na estrada. Quem conta sobre essa rotina difícil, comum para crianças e adolescentes filhos de trabalhadores rurais da região de São Carlos – uma das mais importantes cidades do interior paulista, região considerada das mais prósperas do meio rural brasileiro – , é o professor Luiz Bezerra Neto, do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação no Campo (Gepec), ele conhece de perto essa realidade.
"E olha que nem estou me referindo à situação no Norte e Nordeste, onde tudo é sabidamente mais precário. Falo de casos que acompanhei no município onde trabalho, no interior do estado mais rico da federação, em que crianças ficam cinco horas dentro do transporte escolar, e apenas quatro em sala de aula. Em que condições vão chegar em casa?", questiona. 
Outra dificuldade imposta aos pequenos alunos de São Carlos, como aponta o professor, é no retorno, após as 11h, quando a aula termina. Como nem todas estudam no mesmo lugar e são atendidas por um único ônibus, umas têm de esperar mais de uma hora pela chegada das outras, até que o grupo seja unido novamente e possa seguir a viagem de volta. Se não houver problema com o ônibus – geralmente são velhos e mal conservados – todas chegam em casa bem mais tarde, cansadas e com lição para fazer. Sobra pouco tempo para o convívio com a família ou mesmo para brincar. Para quem sai da cama antes de o sol raiar, o sono não demora e mais um dia termina.
Pelos dados do Gepec, de 2002 para cá foram fechadas mais de 30 mil escolas rurais no país, levando muito mais crianças em todo o país a viver essa dura realidade, marcada por viagens arriscadas em estradas e veículos mal conservados, sem a presença de um monitor para cuidar da segurança, especialmente das menores, durante o trajeto, sem alimentação adequada, com poucas horas de sono e o consequente cansaço. Fora os outros prejuízos. "Sem escola perto de casa, que foi fechada, a tendência é o aluno abandonar os estudos e ficar em desvantagem de oportunidades no campo ou na cidade", diz Luiz Bezerra. 
Para ele, a preocupação de muitos governantes não é a criança, o estudante. "A escola não tem ido à criança. Tem sido o contrário. A criança é que tem ido à escola. Um governante que se preocupa com a educação da população deveria estar levando a escola até ela", afirma.
Em geral, o argumento dos gestores para fechar escolas é sempre o mesmo: corte de despesas. E para não contratar professores e merendeiras, preferem fechar a escola e contratar transporte escolar. A opção é péssima para os trabalhadores e seus filhos também porque dificulta o controle social sobre o pagamento da despesa.
"Ao contrário da manutenção de uma escola, mais fácil de ser fiscalizada pela comunidade, o transporte é de difícil controle. A comunidade não tem acesso, por exemplo, à quilometragem percorrida pelos ônibus em busca dos alunos. Por isso muito governante – não todos – opta pela oferta desse serviço. Não temos como provar, mas sabemos que isso possibilita o desvio de verbas", aponta o professor da UFSCar.

Insegurança

No litoral sul da Bahia, no município de Prado, há sete assentamentos. A maioria das 538 famílias que se dedicam à agricultura de subsistência, tem filhos em idade escolar. No entanto, na região já foram fechadas seis escolas nos últimos anos. Para muitos pais, a única alternativa é mandar as crianças para o município vizinho de Alcobaça, mesmo contra a vontade.
O dirigente regional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) Carlos Roberto da Silva, o Beto, conta que há inúmeros motivos de preocupação. "Os pais ficam trabalhando na roça e não sabem o que os filhos estão fazendo na outra cidade. Se tiver aula vaga, quem garante que eles não vão para a praia? Defendemos que cada assentamento tenha sua própria escola, até porque a lei garante que a criança estude perto de casa", diz. 
Outro temor, conforme o dirigente do MST, é em relação à segurança das crianças no transporte escolar, sem a presença de um monitor. E lembra que os mais velhos, em idade de cursar o ensino médio, só podem estudar à noite, na cidade. "Muitos deixam de estudar porque chegam em casa à 1 hora da manhã e precisam levantar cedo."
O MST defende uma escola por assentamento porque, além das necessidades pedagógicas comuns, há necessidades específicas de cada um deles. "Precisamos melhorar a qualidade da educação no campo, e não piorar, fechando as poucas escolas que temos e mandando as crianças estudar tão longe. O descaso é tão grande que até mesmo nas escolas que construímos com nossos próprios recursos faltam educadores. A prefeita não foi capaz de contratar educador", diz o líder do movimento.
No início de fevereiro, os assentados se organizaram em comissão de pais e alunos para pressionar a prefeita de Prado, Mayra Brito (PP), a investir nas escolas em vez de fechá-las. Como a gestora não os recebeu, a comunidade ocupou a prefeitura para forçar o diálogo, que não ocorreu. Em vez disso, a prefeita obteve liminar na Justiça e a Polícia Militar fez a desocupação do local.  

Sucateamento

Quando não são fechadas, as escolas do campo são sucateadas, agravando a situação de falta de infraestrutura. Há unidades sem professores, merendeira, carteiras, materiais e muitas onde falta até água para beber – como acontece no sul da Bahia, por exemplo. E nas menores, com poucos alunos, é muito comum a chamada classe multisseriada. Nela, alunos de idades diferentes, em séries diferentes, assistem aula com o mesmo professor. 
O sistema até poderia funcionar, caso houvesse integração entre as crianças e investimento na formação docente e em recursos pedagógicos. O problema é que, ao dividir as quatro horas de aula entre as três ou quatro turmas, o tempo dedicado a cada uma delas é bem menor, em torno de duas horas diárias – a metade. Com isso, os alunos recebem menos conteúdo do que aqueles que frequentam turmas regulares.
"Os cursos de Pedagogia não contemplam a discussão teórica sobre como trabalhar com classe multisseriada, o que ensinar em determinados momentos, a metodologia mais adequada para que esses alunos tenham acesso integral ao currículo válido em todo o país para que quando forem prestar um vestibular, disputar uma vaga, tenham a mesma eficiência que os alunos que frequentaram escola com ensino de melhor qualidade", afirma Luiz Bezerra, da UFSCar.
Para ele, o combate à multisseriação não altera a situação, mas sim ao tempo reduzido de aula desses alunos, que aprendem muito menos conteúdo. Se isso for corrigido, acredita, melhora o nível de aprendizagem e aumentam as chances desses estudantes.

Expulsão do campo

Sintoma do desprezo histórico dos governantes pela educação pública destinada aos filhos da classe trabalhadora, seja do campo ou da cidade, onde muitas classes têm sido extintas, o  fechamento de escolas do campo é outra face da perversidade dos conflitos agrários. "Sabemos que as prefeituras são pressionadas pelos ruralistas. Então, fechar a escola é mais uma estratégia que impulsiona o êxodo rural", diz o dirigente do MST Carlos Roberto da Silva, o Beto.

O professor da UFSCar concorda: Fechar escolas rurais significa expulsar as famílias de suas terras ou assentamentos para outras áreas na medida que buscam dar educação aos seus filhos. "Porque se quiserem mantê-lo na escola, vão ter de buscar outro lugar para morar. Dependendo da região, as escolas ficam distantes 10, 15, 20 quilômetros daquela que foi fechada", lembra o professor da UFSCar.  
Assim, segundo ele, o agronegócio fragiliza também os assentamentos e desestimula a luta pela reforma agrária. Afinal, sem escola, as chances de sucesso são menores do que quando se abre uma escola para os assentados e seus filhos. "Muitas vezes, para sair de uma ponta do assentamento para ir à outra, onde fica a escola, o aluno acaba levando horas. Isso dificulta a permanência da criança na escola e da família ali."
Em meio a enormes desafios,  só resta a luta. "Ir às ruas, denunciar a situação e arregimentar aliados", diz Bezerra. Para o professor, a saída é a união contra o latifúndio e todas as formas de opressão impostas pelo poder econômico. "Em suma, fazer o que o movimento vem fazendo, ocupar terras e escolas e, forjar novas formas de enfrentamento. Este enfrentamento tem que ocorrer também nas universidades, nas escolas, nos sindicatos e sobretudo através das lutas dos movimentos sociais. Não podemos, de forma nenhuma, dar trégua nesta luta. A escola no campo pode ser um bom espaço de discussão desta realidade." FOTO: BLOG ROBERTO BALESTRA
Créditos: Rede Brasil Atual

Temer prepara terceirização para o lugar das demissões voluntárias

Nesse sentido, não é preciso muito pra entender que essas medidas combinadas servem para pavimentar o caminho para o Estado suprir ainda mais a defasagem de pessoal nas estatais e empresas públicas com mais terceirização. E mais, mostra a disposição do governo em simplesmente lavar as mãos quando o caso for de ainda mais violações aos poucos direitos dos trabalhadores terceirizados.
São diversas e sorrateiras as movimentações que vão confluindo pra um plano mais concreto de ataque do governo golpista aos direitos trabalhistas, tendo como um dos eixos a expansão e aprofundamento da terceirização em todas as esferas, pela via combinada entre Congresso e STF.
A terceirização não é invenção do governo Temer. Foi implementada por meio de um “jeitinho” que o judiciário deu através de súmula do TST nos anos 90. Ganhando corpo ao longo dos governos FHC, a terceirização deu saltos durante os governos do PT (de 4 para 12 milhões a quantidade de trabalhadores terceirizados) e agora vai se tornando um dos pilares da reforma trabalhista do governo golpista de Temer. É essa prática que o governo golpista pretende oficializar e terminar de institucionalizar.
Nas estatais e empresas públicas, não é de hoje que acompanhamos a expansão via terceirização. Apenas para ficar no exemplo da Caixa Econômica, hoje o banco público chega em todo o território nacional com 80% de sua rede de atendimento terceirizada via lotéricas e correspondentes bancários. Sem contar a estrutura de trabalho terceirizado que faz funcionar internamente o próprio banco, com limpeza, vigilância, telefonia, recepção, estagiários e jovens aprendizes, etc.
Os trabalhadores efetivos e terceirizados não podem olhar com resignação os sucessivos ataques aos nossos direitos e entregar os pontos sem dar batalha. A realidade já precária de milhões é o que Temer quer como o futuro de todos os trabalhadores, para bancar os privilégios da casta que representa diretamente.
Cabe a nós quebrarmos as barreiras que nos impõe, e levar adiante a batalha para que o que já é seja reconhecido até o final concretamente. Ou seja, que os trabalhadores terceirizados que hoje estão nas estatais e empresas públicas sejam imediatamente efetivados nas empresas onde de fato trabalham, sem a necessidade de concurso público.
Ora, se toda essa estrutura baseada no trabalho precário é necessária para os órgãos e empresas públicas funcionarem, então quem burla o concurso público é o próprio governo e direções das estatais e empresas públicas, quando contrata trabalhadores por meio das mafiosas e precárias empresas terceirizadas. Eles é quem devem reparação aos milhões de trabalhadores terceirizados, que já mostraram, sem precisar de concurso, serem capazes de realizar o trabalho em condições muito mais precárias que as de um trabalhador efetivo. O que exigimos, portanto, é o reconhecimento e a equivalência de algo que já é.
Créditos: Esquerda Diário

Lula e Dilma fizeram 88% da Transposição e Temer 12%

Resultado de imagem para TransposiçãoDados obtidos pelo o Portal  WSCOM, à véspera da solenidade de chegada das águas do Rio São Francisco à Paraíba e inauguração do primeiro eixo do projeto de Transposicão, junto ao SIAF (Sistema Integrado de Administração Financeira), comprovam que a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula foram responsáveis por 88% do pagamento das obras.
De acordo com o documento, Dilma pagou 72% da obra do Pisf (Projeto de Integração do Rio São Francisco), enquanto Lula 16%.Já o presidente Michel Temer foi responsável pelo pagamento de 12%. Fotos: Arquivo Google. Créditos: WSCOM

quinta-feira, 9 de março de 2017

Para reaquecer economia, especialistas defendem retomada do investimento público

Estabelecer condições que favoreçam a atividade econômica é a chave para que o país saia da difícil recessão em que se encontra. Este é o caminho defendido pelos membros do Grupo Reindustrialização, think tank composto por economistas como o Prof. Yoshiaki Nakano (EESP­FGV), que coordena o grupo, Antonio Correa de Lacerda (PUC­SP), Luiz Carlos Bresser­Pereira (FGV), Nelson Marconi (EESP_FGV), Edgard Pereira e Pedro Rossi (Unicamp), Francisco Pires Eduardo de Souza (UFRJ) e pelo engenheiro Mario Bernardini, entre outros.
Para o grupo, concentrar os debates econômicos exclusivamente no ajuste fiscal não é condição suficiente para que o Brasil volte a se desenvolver. “Esse diagnóstico apontado pela equipe econômica é parcial. Há simultaneamente graves problemas decorrentes do excessivo endividamento das empresas e das famílias. Precisamos, além de reduzir o déficit público, de medidas para auxiliar na desalavancagem do setor privado e para estimular o crescimento”, destaca Bernardini.
O think tank já elaborou dois documentos contendo tanto medidas para reindustrializar o Brasil quanto medidas emergenciais para tirar o país da crise.
De acordo com o estudo, como explica Marconi, para destravar o mercado de crédito, o governo deve cortar ainda mais a taxa SELIC, saindo dos atuais 13% para 9%, o que facilitará a renegociação de dívidas de empresas e famílias e simultaneamente reduzirá a conta de juros no déficit público nominal, o que ajudaria a resolver parte do problema fiscal.
Outra ação recomendada é a desvalorização da taxa de câmbio. O grupo acredita que adotar, pelo menos, um câmbio de R$ 3,80, tornará as empresas mais competitivas e sugere que o governo utilize instrumentos como o IOF sobre entradas de capital e restrições no acesso ao mercado futuro para enfraquecer o Real.
Além disso, o documento ainda salienta que o papel do BNDES não deve ser “demonizado”, ainda mais em um momento em que as empresas não têm acesso a capital de giro e precisam retomar os investimentos. Nesse sentido, Lacerda afirma que a retomada acontecerá por meio das exportações e dos investimentos e, para isso, o Estado deve ser o indutor e os investimentos públicos precisam ser retomados.
Para o think tank, o limite no crescimento da despesa precisa contemplar todo o gasto público, incluindo os juros. O governo deve continuar a cortar despesas e estudar medidas como a taxação de lucros e dividendos, heranças e grandes fortunas e o fim das desonerações previdenciárias para o agronegócio e instituições filantrópicas para abrir espaço nas contas públicas para a retomada dos investimentos públicos a um patamar da ordem de 2% do PIB a fim de induzir investimentos privados e possibilitar o crescimento da economia, condição essencial para aumentar a receita e eliminar, assim, o déficit público.
Créditos: Revista Forum

Samsung dá R$ 2.400 para você trocar iPhone por Galaxy S7

A Samsung está com uma novidade para quem aparelhos de concorrentes. A empresa está dando desconto de até R$ 2.400 pelo seu celular antigo na compra de um novo aparelho das famílias Galaxy S7 e Galaxy A 2017. Os interessados no valor precisam procurar uma loja física da marca para obter uma avaliação do produto ou acessar o site oficial da empresa.

Segundo a revista 'Exame', o máximo do desconto na compra de um novo Galaxy é oferecido na troca de um iPhone 5 ou superior por um Galaxy S7. Enquanto os aparelhos das demais marcas (Samsung, Sony, Motorola ou Asus) valem até R$ 1.400.

A Samsung ainda dá bônus adicionais de até 750 reais para os donos de iPhones 4S ou inferiores e até R$ 1 mil para iPhones 5 ou superiores. Os interessados devem efetuar as trocas com os descontos até 2 de abril, data em que o Galaxy S7 completa exatamente um ano de lançamento no mercado brasileiro. A avaliação e o incentivo são realizados em parceria com o site Trocafone, onde podem ser consultados os modelos legíveis.
Créditos: Ibahia

Produção industrial volta a subir após 34 meses de queda

A produção industrial do Brasil começou 2017 com alta mensal em relação aos mesmos dias do ano anterior, após 34 meses consecutivos de queda. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (8), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e mostram que a produção cresceu 1,4% em janeiro de 2017 em relação a janeiro de 2016, mas caiu 0,1% em relação a dezembro de 2016.
Em 12 meses, a produção industrial acumula uma retração de 5,4%, variação negativa que vem perdendo intensidade desde junho de 2016, quando chegou a -9,7%. Nos últimos dois meses de 2016, a produção havia acumulado alta de 2,9%. O resultado fez com que a média móvel trimestral de outubro, novembro e dezembro de 2016 apontasse expansão de 0,5% da produção. Com os dados divulgados hoje, a média dos resultados de novembro e dezembro de 2016 e janeiro de 2017 subiu para 0,9%.
Dos 24 ramos industriais pesquisados pelo IBGE, metade aumentou a produção, e metade diminuiu. A indústria de veículos automotores, reboques e carrocerias interrompeu dois meses seguidos de alta e caiu 10,7% em janeiro, na comparação com dezembro de 2016. Também haviam crescido em dezembro e caíram em janeiro os equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, com recuo de 12,5%, e máquinas e equipamentos, com uma produção 4,9% menor.
Por outro lado, o IBGE considera que houve altas importantes para a taxa global na indústria de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, com expansão de 4%, e nos produtos farmoquímicos e farmacêuticos (21,6%). Os dois setores anotaram quedas nos meses anteriores. Os produtos alimentícios tiveram alta de 1,2%, as bebidas subiram 5,5% e a indústria extrativa, 1,1%.
A análise da produção por categoria econômica mostra que os bens de capital usados na produção voltaram a cair após dois meses de alta. Em relação a dezembro de 2016, houve recuo de 4,1%.
Os bens de consumo duráveis intensificaram a queda de 3,8% verificada em dezembro e caíram 7,3% em janeiro. Os bens de consumo semi e não duráveis avançaram 3,1% em janeiro, e os intermediários, 0,7%. Ambos já acumulavam expansões há pelo menos dois meses.
Créditos: Paraíba Total

Reforma da Previdência prejudica mais as mulheres

A proposta de reforma da Previdência enviada pelo governo Temer ao Congresso Nacional conhecida como PEC 287 tem consequências muito mais profundas e dramáticas do que o trabalhador pode imaginar.
Trata-se de uma verdadeira transformação na forma como a sociedade brasileira decide se organizar a partir da Constituição Cidadã de 1988. Em resumo, pretende-se acabar com uma organização social em que todos, e com o amparo do Estado, se responsabilizam por garantias mínimas de vida, inclusive e principalmente em momentos mais delicados, como na velhice.
O termo "reforma" nem se quer é adequado para a proposta do governo Temer. O que se pretende é o fim da previdência pública, quase a sua destruição, na medida em que estão propostos pré-requisitos tão rígidos e descolados da realidade brasileira que, se aprovada a proposta, a aposentadoria no Brasil passaria a ser uma ilusão, um alvo inatingível para a grande maioria da população.
As instituições financeiras serão beneficiadas. Apenas o anúncio da proposta de reforma da previdência já gerou resultados expressivos para os bancos, na medida em que já embutiu nas pessoas o temor do esvaziamento da previdência pública e aumentou a tendência de compra de planos de previdência privada como alternativa.  
Em 2016 o resultado do Bradesco com seguros e previdência chegou a R$ 33 bilhões, com alta de 103%. No Itaú o resultado desta área cresceu 40% e atingiu a cifra de R$ 18,6 bilhões. Eles esperam que ela gere alguns bilhões de reais a mais nos cofres destas instituições.
Essa reforma trará sérios prejuízos a toda a sociedade brasileira:
1) Torna quase impossível aposentadoria integral – A proposta é de extinção total da aposentadoria por tempo de contribuição. Existiria apenas aposentadoria por idade e a exigência de idade mínima passaria a ser de 65 anos para todas as pessoas, homens e mulheres, trabalhadores urbanos e rurais, além da necessidade de ter realizado no mínimo 25 anos de contribuição, ou seja, um total de 300 contribuições.
O mercado de trabalho no Brasil é caracterizado por elevada rotatividade e informalidade e, nesse contexto, conseguir realizar número tão elevado de contribuições é para poucos. E mesmo quem conseguir cumprir esses dois requisitos (65 anos e 25 anos de contribuição) irá receber apenas 76% do seu salário de benefício, percentual muito inferior às regras atuais.
Para obter o benefício integral será exigido o mínimo de 49 anos de contribuição! E com as características que já citamos do mercado de trabalho brasileiro as pessoas conseguem fazer em média 9,1 contribuições a cada 12 meses, tornando necessário esperar 64,6 anos depois de iniciar a vida no trabalho para completar o correspondente a 49 anos de contribuições. Isso significa que alguém que tenha começado trabalhar aos 16 anos de idade só conseguirá ter aposentadoria integral perto dos 81 anos.
2) Aumenta a exclusão feminina e os casos de violência contra a mulher – Para as mulheres a proposta é ainda pior. Sob o falso argumento de que a estaria acabando com "distorções" ao propor a mesma idade de aposentadoria para homens e mulheres o que se propõe na verdade é acabar com mecanismo que visa compensar minimamente as mulheres pelas inúmeras injustiças que sofrem ao longo de sua vida profissional.
A regra diferenciada de idade reconhece o preconceito de gênero que ocorre no trabalho, a baixa participação dos homens nas atividades domésticas, a dupla e/ou tripla jornada das mulheres, e busca recompensá-las pelo sobrecarga de trabalho. Na categoria bancária, as mulheres ocupam 49% do total de postos de trabalho e recebem, em média, salários 23% menores que os dos homens.
Essa realidade é ainda mais injusta quando se observa que as mulheres bancárias têm escolaridade maior que a dos bancários. 80% das bancárias têm nível superior completo, enquanto entre os homens esse percentual cai para 74%. Tal desigualdade é fruto de uma sociedade machista e sem cultura de relações compartilhadas e faz com que as contribuições das mulheres à previdência social sejam mais instáveis e consequentemente a maioria das mulheres hoje se aposenta por idade em função da dificuldade de acumular tempo de contribuição.
Além disso, as mulheres têm taxa de desemprego mais elevada e salários inferiores. Com a PEC 287, a previdência ao invés de compensar vai apenas reforçar a extrema desigualdade do mercado de trabalho, provocando o aumento da miséria feminina, aumentando a dependência financeira das mesmas e, consequentemente, a violência contra as mulheres.
3) Aumento da miséria na população – A PEC 287 ainda propõe reduzir o valor das pensões por morte e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para patamares inferiores ao Salário Mínimo. Uma viúva ou um viúvo pode chegar a receber apenas 60% do salário mínimo.
No caso das pensões do Regime Geral da Previdência Social sabemos que hoje 55% correspondem ao salário mínimo. Hoje, o BPC garante a transferência de um salário mínimo à pessoa idosa, com 65 anos ou mais, e à pessoa com deficiência de qualquer idade, em situação de pobreza (renda mensal familiar per capita é inferior a ¼ do salário mínimo).
A PEC 287 desvincula o BPC do Salário Mínimo e aumenta a idade mínima para o idoso receber dos atuais 65 para 70 anos.  Atualmente, 86% dos idosos têm proteção na velhice e apenas 10% estão em condição de pobreza.
4) Aumenta a evasão escolar, fome e criminalidade – Sem a Previdência pública, mais de 70% dos idosos estariam na pobreza extrema. Além disso, muitas famílias têm na aposentadoria a sua principal fonte de renda e a destruição desse mecanismo terá consequências devastadoras como a evasão escolar, pois os jovens terão que trabalhar mais cedo para complementar a renda familiar, o aumento da fome, da desnutrição, e mesmo da criminalidade. 
5) Promove a falta de alimentos na mesa, com o desmonte no campo – A aposentadoria rural será drasticamente reduzida, dificultando a permanência no campo, aumentando o êxodo rural e todos os problemas urbanos que o acompanham como a falta de moradia digna para todos. Com menos pessoas trabalhando no campo, a produção de alimentos será reduzida.
6) Promove impacto na economia – Do ponto de vista da dinâmica econômica haverá consequências graves também. Os benefícios previdenciários representam ao menos 25% do PIB municipal em pelo menos 500 municípios brasileiros. Esse percentual chega a 60% do PIB em diversas cidades nos estados da Bahia, Minas Gerais e Piauí. O impacto que as aposentadorias geram na economia de tais regiões movimentando os pequenos comércios, por exemplo, será minado pela PEC 287, gerando uma espiral de queda da atividade, do emprego, da renda, gerando ainda mais pobreza.
Diante desse cenário, precisamos fazer uma reflexão dos motivos que levam um governo a propor a quase destruição de um sistema de seguridade social tão importante para dezenas de milhões de pessoas e quem ganha com essa proposta. É bom lembrar que em 2012 quando o então governo Dilma tentou reduzir as taxas de juros no Brasil para incentivar o crédito, representantes de bancos disseram que o crédito tinha pouco espaço para crescer e que os resultados destas instituições financeiras passariam a ser cada vez mais apoiados nas áreas de seguros e previdência privada.
Este sim um "mercado" altamente promissor na visão dos banqueiros. Para que os bancos possam ocupar esse "mercado" e ampliar a venda de previdência privada é preciso destruir a previdência pública, reduzir drasticamente seu valor, tornar as regras de acesso praticamente impossíveis de serem atingidas e fazer as pessoas desacreditarem do sistema. Só assim, totalmente desamparadas elas se sentirão encorajadas a consumir planos de previdência privada.
Em um país em que quase 60% da população economicamente ativa tem renda de ate dois salários mínimos e mais 11% não tem rendimento, quantas pessoas terão condições de poupar recursos para investir em planos de previdência privada? Quantas estarão sem nenhuma proteção na velhice?
Essas perguntas não cabem dentro do modelo de sociedade do salve-se quem puder. A solidariedade é um valor que nos guia e a hora de nos mobilizarmos contra a proposta de destruição da previdência pública é agora, ou então em breve veremos mais alguns bilhões de reais entrando nos cofres dos bancos a custa de muitos milhões de pessoas em situação de pobreza no país.
Juvandia Moreira é formada em direito e pós-graduada em política e relações internacionais. Está à frente da presidência do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região desde 2010. *Publicado originalmente no Justificando
Créditos: Rede Brasil Atual