quinta-feira, 8 de março de 2018

As 50 cidades mais violentas do mundo

Quadra 34 do Cemitério Parque Tarumã, onde estão enterrados os detentos mortos na rebelião do Complexo Penitenciário Anísio Jobim em janeiro de 2017 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O Brasil é o país com o maior número de cidades entre as 50 áreas urbanas mais violentas do mundo, segundo ranking divulgado nesta semana pela organização de sociedade civil mexicana Segurança, Justiça e Paz, que faz o levantamento anualmente com base em taxas de homicídios por 100 mil habitantes .
São 17 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes listadas no ranking, que é encabeçado pela mexicana Los Cabos (com 111,33 homicídios por 100 mil habitantes em 2017) e pela capital venezuelana, Caracas (111,19).
Natal (RN) aparece em quarto lugar, com 102,56 homicídios por 100 mil habitantes - para se ter uma ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera uma taxa acima de 10 homicídios por 100 mil habitantes como característica de violência epidêmica.
Outras cidades brasileiras que aparecem no ranking são Fortaleza (CE), Belém (PA), Vitória da Conquista (BA), Maceió (AL), Aracaju (SE), Feira de Santana (BA), Recife (PE), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Macapá (AP), Campos de Goycatazes (RJ), Campina Grande (PB), Teresina (PI) e Vitória (ES).
Fortaleza, em especial, é destacada no relatório por sua taxa de homicídios ter subido 85% entre 2016 e 2017 - de 44,98 para 83,48.
O crescimento da violência em cidades menores - e, sobretudo, do Norte e Nordeste brasileiros - alarma especialistas há mais de uma década. Como o Brasil não investiga seus homicídios (mais de 90% deles ficam impunes), é difícil identificar com total certeza as relações de causa e consequência no que diz respeito à violência urbana.
Mas estudiosos do tema apontam fenômenos como guerra de facções criminosas, avanço do tráfico de drogas e crescimento urbano sem a oferta de serviços de segurança eficazes como alguns dos motivos mais prováveis para a explosão da taxa de homicídios em cidades outrora pacatas.
Em grandes capitais, onde pode haver maior número absoluto de homicídios, a taxa é menor, já que resulta do cálculo do total de assassinatos dividido pelo tamanho da população. São Paulo, por exemplo, teve taxa de 8,02 homicídios por 100 mil habitantes em 2017; o Rio, que vive uma crise de segurança pública, viu sua taxa crescer de 29,4 em 2016 para 32 homicídios por 100 mil habitantes no ano passado.
A organização usa como critério a taxa de homicídios por 100 mil habitantes oficial em cidades de 300 mil habitantes ou mais, além de fontes jornalísticas e informes de ONGs e organismos internacionais.
São excluídas do levantamento cidades de países em conflito bélico aberto, como Síria, Iraque, Afeganistão e Sudão, sob a justificativa de "a maioria das mortes violentas (nessas cidades) não corresponderia à definição universalmente aceita de homicídio, mas sim mortes provocadas por operações de guerra, segundo a classificação da OMS". Créditos: BBC  
Veja a lista:
Posição
Cidade
País
Homicídios
Habitantes
Taxa (por cada mil habitantes)
1
Los Cabos
México
365
328.245
111,33
2
Caracas
Venezuela
3.387
3.046.104
111,19
3
Acapulco
México
910
853.646
106,63
4
Natal
Brasil
1.378
1.343.573
102,56
5
Tijuana
México
1.897
1.882.492
100,77
6
La Paz
México
259
305.455
84,79
7
Fortaleza
Brasil
3.270
3.917.279
83,48
8
Victoria
México
301
361.078
83,32
9
Guayana
Venezuela
728
906.879
80,28
10
Belém
Brasil
1.743
2.441.761
71,38
11
Vitória da Conquista
Brasil
245
348.718
70,26
12
Culiacán
México
671
957.613
70,10
13
St. Louis
Estados Unidos
205
311.404
65,83
14
Maceió
Brasil
658
1.029
63,94
15
Cape Town
África do Sul
2.493
4.004.793
62,25
16
Kingston
Jamaica
705
1.180.771
59,71
17
San Salvador
El Salvador
1.057
1.789.588
59,06
18
Aracaju
Brasil
560
951.073
58,88
19
Feira de Santana
Brasil
369
627.477
58,81
20
Juárez
México
814
1.448.859
56,16
21
Baltimore
Estados Unidos
341
614.664
55,48
22
Recife
Brasil
2.180
3.965.699
54,96
23
Maturín
Venezuela
327
600.722
54,43
24
Guatemala
Guatemala
1.705
3.187.293
53,49
25
Salvador
Brasil
2.071
4.015.205
51,58
26
San Pedro de Sula
Honduras
392
765.864
51,18
27
Valencia
Venezuela
784
1.576.071
49,74
28
Cali
Colômbia
1.261
2.542.876
49,59
29
Chihuahua
México
460
929.884
49,48
30
João Pessoa
Brasil
554
1.126.613
49,17
31
Obregón
México
166
339.000
48,96
32
San Juan
Porto Rico
169
347.052
48,70
33
Barquisimeto
Venezuela
644
1.335.348
48,23
34
Manaus
Brasil
1.024
2.130.264
48,07
35
Distrito Central
Honduras
588
1.224.897
48
36
Tepic
México
237
503.330
47,09
37
Palmira
Colômbia
144
308.669
46,65
38
Reynosa
México
294
701.525
41,95
39
Porto Alegre
Brasil
1.748
4.268083
40,96
40
Macapá
Brasil
191
474.706
40,24
41
Nova Orleans
Estados Unidos
157
391.495
40,10
42
Detroit
Estados Unidos
267
672.795
36,69
43
Mazatlán
México
192
488.281
39,32
44
Durban
África do Sul
1.396
3.661.911
38,12
45
Campos de Goytacazes
Brasil
184
490.288
37,53
46
Nelson Mandela Bay
África do Sul
474
1.263.051
37,53
47
Campina Grande
Brasil
153
410.332
37,29
48
Teresina
Brasil
315
850.198
37,05
49
Vitória
Brasil
707
1.960.213
36,07
50
Cúcuta
Colômbia
290
833.743
34,78

Fonte: BBC


quarta-feira, 7 de março de 2018

Judiciário gasta mais de R$ 85 milhões em um mês com pensões

Milhares de familiares de juízes, desembargadores e outros membros do Judiciário recebem pensões como herança – alguns, pela vida toda, como a atriz Maitê Proença, que permaneceu solteira para manter o pagamento mensal do pai procurador de Justiça.

Segundo levantamento realizado pela Pública no site do CNJ e nos tribunais, mais de 4 mil familiares de magistrados e servidores do Judiciário mortos receberam mais de R$ 85 milhões apenas em dezembro de 2017, incluindo pensões vitalícias, temporárias e pagamentos retroativos.

Os dados são referentes a 59 dos 92 tribunais e conselhos de justiça brasileiros e reúnem informações disponibilizadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) desde novembro de 2017 com dados publicados nos portais de transparência dos tribunais. Os demais órgãos não discriminaram os gastos com pensionistas nas planilhas enviadas ao CNJ ou se recusaram a disponibilizar as informações à reportagem.

Os pagamentos feitos pelo Judiciário são concentrados: apenas 91 dos mais de 4 mil beneficiados receberam quantias acima de R$ 100 mil em dezembro.
Esse grupo concentra R$ 22,2 milhões em pagamentos e representa cerca de um quarto de todos os desembolsos dos tribunais no mês com pensões. Por outro lado, cerca de 100 pensionistas receberam menos de um salário mínimo em dezembro. Nesse grupo, estão pensionistas de técnicos ou analistas judiciários. A diferença se dá porque o cálculo das pensões reflete os rendimentos do funcionário quando vivo.

Altos Pagamentos

Francisca de Assis Alves, do Ceará, recebeu o maior pagamento: R$ 7,2 milhões líquidos em dezembro. Segundo o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-CE), o valor é resultado de um processo judicial pelo atraso no início do pagamento da pensão da viúva de um juiz do trabalho. Atualmente, Francisca recebe R$ 19,9 mil líquidos mensalmente da pensão vitalícia, benefício é pago há 12 anos para a pensionista.

Já Lucinea Ferreira da Costa, também paga pelo TRT do Ceará, recebeu o segundo maior desembolso em dezembro: R$ 683 mil líquidos, devido a atrasos no pagamento da pensão. O valor normal da sua pensão mensal é de R$ 21,1 mil líquidos, pagos há 11 anos.

Jandira Regina Kammsetzer Gnone, filha da ex-servidora Arlette Kammsetzer Gnone, do TRT do Distrito Federal e Tocantins, recebeu R$ 674 mil líquidos em dezembro. Beneficiária de uma pensão vitalícia, ela recebeu R$ 17,5 mil em novembro e R$ 27,7 mil em janeiro.

Além disso, a Pública apurou que há filhas solteiras de ex-magistrados e servidores do Judiciário que recebem pensões por longos períodos. Essa é situação de Maria Auxiliadora da Silva Ribeiro, da Bahia, que, além de R$ 660 mil líquidos em dezembro de 2017, recebe há 25 anos R$ 20,6 mil líquidos mensalmente do TRT baiano.

Há também pagamentos altos a membros da mesma família. Os irmãos Isabella Raiza e João Kaio Freire Frota embolsaram cada um R$ 232,5 mil em dezembro, pagos pelo TRE do Maranhão. O tribunal não respondeu à reportagem qual o valor mensal da pensão dos irmãos. A reportagem tentou durante uma semana entrar em contato com todas as demais pensionistas citadas na reportagem por telefone, e-mail ou redes sociais, sem receber retorno. Fonte: Ag. Pública.
Créditos: Brasil de Fato

terça-feira, 6 de março de 2018

Ministro do STF autoriza quebra de sigilo bancário deTemer

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou a quebra do sigilo bancário do presidente Michel Temer (MDB) no inquérito que investiga a elaboração da Medida Provisória dos Portos. É a primeira vez que um presidente da República em exercício do mandato tem o sigilo bancário quebrado por uma ordem judicial. A decisão do ministro Barroso é de 27 de fevereiro, mas foi divulgada na segunda-feira (5).

O Banco Central distribuiu um ofício que comunicou a decisão do STF às instituições financeiras e pede a liberação dos dados. Além de Temer, também tiveram o sigilo bancário quebrado o ex-deputado e ex-assessor do presidente, Rodrigo Rocha Loures – filmado correndo com uma mala com R$ 500 mil no ano passado –, do coronel João Baptista Lima Filho, amigo pessoal de Temer, e de José Yunes, outro ex-assessor de Temer.  Também tiveram o sigilo suspenso os empresários Antonio Celso Grecco e Ricardo Mesquita, executivos da empresa Rodrimar. Foto: EBC.
Créditos: Estado de Minas

segunda-feira, 5 de março de 2018

Estudo mostra que estatais são lucrativas


As empresas estatais federais dão lucro para a União. Essa é a conclusão do estudo produzido pelo Dieese, publicado em janeiro deste ano. De acordo com Gustavo Teixeira, técnico da instituição, os argumentos do governo Temer para a desestatização são falsos e as empresas deveriam tomar decisões orientadas pelo interesse coletivo, não do capital.
"É interessante debater se de fato o objetivo da estatal é gerar lucro. Mas fora desse debate, observamos que as estatais federais, nos últimos 15 anos, distribuíram mais de R$ 250 bilhões de dividendos para a União. Quando olhamos para outros países, vemos um processo forte de reestatização de serviços de utilidade pública. Esse processo que está forte em países da Europa tem como justificativa a falta de eficiência do setor privado em atender a população", afirma em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Ele também rebate o argumento do presidente da Petobras, Pedro Parente, de que a empresa precisa ser privatizada. Para o técnico do Dieese, a petrolífera nacional tem papel estratégico no desenvolvimento do Brasil.
"Os dados em nível internacional mostram que grande parte das reservas de petróleo estão sob o controle de empresas estatais. A Petobras, com a nova política do governo Temer, abre mão de explorar reservas importantes do pré-sal e isso tem impacto na dependência dos combustíveis no nosso país. Estamos transferindo os direitos de exploração dessas reservas para estatais de outros países, assim abrimos mão da soberania e controle do produto fundamental na economia mundial", critica.
Segundo Gustavo, os dados do estudo mostram que, em 2012, o investimento das estatais chegou a representar 10% da taxa de investimento da formação bruta do capital fixo na economia do país. "Na medida que perdemos o controle dessas empresas, abrimos mão do planejamento de um projeto de desenvolvimento futuro", lamenta.
Outro exemplo negativo de desestatização citado por ele é a Eletrobras. "Ela é o principal gerador de energia elétrica no Brasil, tendo as principais usinas hidrelétricas. A intenção do governo em abrir o capital dela, aumentando a participação dos grupos privados e estrangeiros, tende a criar uma espécie de oligopólio no setor de energia brasileiro", explica.
Além de abrir mão da soberania nacional, as privatizações também não garantem melhora no serviço e redução de tarifas. "Um setor que foi amplamente privatizado na década de 1990 foi a distribuição de energia elétrica. O principal argumento do governo Fernando Henrique era de que as tarifas iriam se reduzir e a qualidade aumentar, mas 20 anos depois vemos os preços crescerem acima da inflação e a qualidade do serviço ainda é aquém da desejada. Não há garantia de que o processo de privatização vá reduzir preços, quanto melhorar o atendimento", conclui.
Créditos: Rede Brasil Atual

Quando trabalhar já não salva da pobreza

Fila formada na última quinta-feira em um refeitório social em Madri.
El País - Para María, a expressão "não chegar ao fim do mês" ainda não é precisa. "Não estamos nem no dia 10 e já não dá mais", diz, sem perder o sorriso. Em sua casa, os 900 euros (3.440 reais) que seu marido ganha como motorista e o pouco que ela consegue tirar ao dar uma mão em um bar saem tão rápido quanto entram. Só para o aluguel já são 750 euros. Esta cubana de 30 anos está entre os milhões de imigrantes que chegaram à Espanha no boom da construção e que mais tarde acabaram pagando pelos excessos daqueles dias. Desde então, sofrem com empregos precários e mal pagos. Seu perfil se encaixa perfeitamente com um fenômeno que, apesar de não ser novo, tem crescido em decorrência da crise: a dos trabalhadores pobres.

As estatísticas europeias mostram que este é um problema em alta em todo o continente, mas especialmente grave na Espanha, país que serviu de inspiração para a nova legislação trabalhista brasileira que entrou em vigor no sábado. Entre os espanhóis, 13,1% dos trabalhadores vivem em lares que não alcançam 60% da renda média. Só Romênia e Grécia têm números piores nesse triste indicador. E o risco de pobreza ameaça ainda mais os espanhóis que têm um contrato de trabalho parcial: neste grupo, a taxa dispara para 24,3%.

Mas, além das frias estatísticas, os que estão próximos dos mais desfavorecidos também notam a crescente importância do fenômeno dos trabalhadores pobres. Entre as pessoas ajudadas pela Cáritas em 2015, 40% moravam em lares em que ao menos um de seus membros estava empregado. "O trabalho perdeu a capacidade de integrar na sociedade que tinha até pouco tempo atrás", afirma Lucía Martínez, doutora em Bem-Estar Social da Universidade Pública de Navarra.

María –nome fictício: a protagonista não quer dar o nome real nem ser fotografada– é uma dessas pessoas que jamais pensou que pudesse precisar da ajuda de uma entidade beneficente. Mas acabou se vendo obrigada a recorrer a Cáritas de Madri. Quando chegou à Espanha há dez anos, pouco antes de a palavra crise se tornar onipresente, estava encantada com sua nova vida. Seu cargo como atendente de uma loja de roupa lhe permitia ganhar a vida com tranquilidade. "Trabalhava muito, mas me sentia muito bem. Cheguei a ganhar 1.800 euros por mês", afirma.

Mas as coisas mudaram rápida e radicalmente. A fase mais aguda da crise coincidiu com sua primeira gravidez. A loja fechou e comprovou em primeira pessoa as dificuldades de uma jovem mãe para encontrar um novo emprego. Desde então, já vendeu roupa, atendeu em restaurantes, fez substituições em uma portaria, limpou casas e agora ajuda em dias isolados em um bar, onde ganha de 15 a 20 euros por dia, dinheiro que vai direto para o supermercado mais próximo para comprar comida para ela, seu marido e seus dois filhos pequenos. Para ela, obter os produtos mais necessários é cada vez mais uma nova aventura. Assim como María, mais de 1,1 milhão de mulheres empregadas ganham menos que 710 euros por mês, segundo dados publicados nesta semana. Esta baixa faixa salarial afeta um número muito menor de homens: 400.000.

Para conhecer o mapa europeu dos novos pobres, primeiro é necessário desenhar seu contorno. A estatística da Eurostat fala da pobreza relativa, ou seja, daquelas famílias com receitas substancialmente inferiores à média, mas não de pobreza severa. Para determinar o percentual de trabalhadores pobres, não se mede o salário de uma pessoa concreta em um curto período de tempo, mas sim de um lar em seu conjunto ao longo de todo um ano. Essa amplitude é importante porque a precariedade do mercado de trabalho espanhol –com um altíssimo número de altas e baixas: neste verão se alcançou o recorde histórico de mais de dois milhões de contratos assinados em junho– engloba muitos trabalhadores em épocas de atividade e outras de desemprego. Se em 2007 um de cada seis contratos tinha uma duração igual ou inferior a uma semana, agora esta proporção é de um em cada quatro.

Esses novos pobres podem estar ocupados em curtos períodos de meses, semanas ou inclusive dias. A estatística de 2016 se faz, além disso, com os dados de receitas de 2015, de forma que têm uma certa defasagem temporal. "A situação pode ter melhorado graças à bonança atual, ainda que não de forma demasiada porque os salários não aumentam e a temporalidade aparece. Após quatro anos de crescimento econômico, era de se esperar uma maior recuperação salarial", afirma Florentino Felgueroso, pesquisador especializado em emprego do centro de estudos Fedea.

Francisco Lorenzo, coordenador de estudos da Cáritas, afirma que antes da crise, quase todas as solicitações de ajuda vinham de pessoas em situação de exclusão severa, que costumavam estar a margem do mercado de trabalho. Mas nos abrigos e restaurantes populares da Cáritas cada vez mais há pessoas que trabalham por um salário insuficiente para cobrir as necessidades básicas. "Sempre existiram os trabalhadores pobres. A diferença é que antes tratava-se de setores com uma vulnerabilidade extrema. E agora se estendeu para outros grupos, prejudicados por um mercado de trabalho muito díspar, em que convivem empregados de alta e de muito baixa qualidade", acrescenta a doutora da Universidade Pública de Navarra.

A pobreza no trabalho impacta com mais força os jovens. A porcentagem de trabalhadores pobres de 18 a 24 anos passou de 7% em 2007 para 21% em 2014, segundo o último levantamento sobre emancipação juvenil na Espanha (2016). Outros coletivos especialmente vulneráveis são as mulheres solteiras com cargas familiares ou as famílias numerosas. "As situações mais graves com vulnerabilidade de direitos trabalhistas continuam vinculadas principalmente aos setores de hotelaria, construção e limpeza de residências", acrescenta Lorenzo.

María recorda da agradável surpresa que encontrou quando chegou à Espanha. "Em Cuba muita gente vive do salário fixo. Aqui, por outro lado, quem se esforçava se saia bem", afirma. Dez anos depois, sua perspectiva mudou: "Agora me dou conta de que aqui não se pode ter filhos".
Créditos: El País

domingo, 4 de março de 2018

O risco financeiro na conjuntura internacional

A economia internacional atravessa uma recuperação moderada – com uma leve melhoria do crescimento nos países centrais tomados de conjunto – que tem os melhores resultados registrados nos anos pós Lehman, mas insuficiente para superar o estancamento reinante desde 2008/9.
Além da propaganda centrada naturalmente no primeiro aspecto, os organismos internacionais como o FMI ou a OCDE, não podem evitar reconhecer o segundo. Segundo a OCDE, a dinâmica atual global alcançaria seu ponto máximo em 2018, para em seguida voltar a declinar. Enquanto que de acordo com o FMI, o crescimento promédio das economias avançadas voltaria a retroceder rapidamente no próximo ano.
A contradição relativa que declara uma recuperação um pouco mais vigorosa assentada sobre fundamentos que permanecem fracos, abre espaço a duas discussões intimamente entrelaçadas. A primeira se refere aos problemas de tipo estrutural, que afetam não só a curto, mas também a médio e longo prazo, ou dita de outra forma, afeta o destino da economia capitalista. Esta discussão é abordada num artigo recente do Esquerda Diário.
Nesse artigo ressaltamos o elemento particularmente novo em termos estratégicos, que os organismos internacionais estejam “perdendo a esperança” no médio/longo prazo, relacionando este assunto com o lugar das “reformas”, da previdência, trabalhista no que se poderia definir como uma sorte de “neoliberalismo senil”. A segunda discussão mais apontada é a que desenvolveremos aqui e se refere ao estado das tensões financeiras que se acumulam na conjuntura.
Tal com vem acontecendo ao longo dos quase dez anos pós Lehman – seguindo a norma das décadas neoliberais – a economia continua se assentando em um crescimento exuberante dos mercados financeiros. Como declara o economista/financista argentino José Siaba Serrate, o mercado altista começou em 2009 e a partir daí a bolsa – de Wall Street – multiplicou por quatro as cotizações.
Michael Roberts agrega que as empresas do índice S&P 500 compraram 3,5 bilhões de dólares de suas próprias ações entre 2010 e 2016, o que representa quase 50% a mais que na expansão anterior. Mas o específico dos anos pós crise 2008/9 não é só a velocidade do crescimento dos ativos financeiros, mas também que esse aceleramento goza de uma base particularmente débil na “economia real” que não consegue recuperar os níveis de crescimento pré crise. Tratamos deste assunto em diversas oportunidades através da abordagem crítica da tese do “Estancamento secular”.
As velocidades contraditórias que caracterizam o ritmo de crescimento da economia, por um lado, e dos ativos financeiros, por outro, acrescentam persistentemente o risco de estouro. Se trata de um elemento que está alcançando protagonismo em uma conjuntura assinada por uma série de particularidades. Por um lado, o crescimento da bolsa tomou especial impulso depois do ascenso de Trump no poder, dando lugar ao chamado “Trump rally” que abordamos em ocasiões anteriores. Por outro lado, ainda que exista uma melhoria na performance das principais variáveis estruturais da economia global – como a inversão, a produtividade ou o comércio internacional – o progresso resulta demasiado débil, motivo pelo qual prossegue a dinâmica de velocidades contrastantes. Por último, o ascenso prolongado dos mercados de valores que roça máximos históricos, faz pensar que cedo ou tarde vai se produzir o que os financistas chamam de uma “correção”. Vejamos alguns dados.
Segundo o FMI, o valor das ações continua seu ascenso e está próximo de máximos históricos. De acordo com a OCDE, os riscos financeiros também se incrementam nas economias avançadas, com o longo período de baixas taxas de juros muito baixos para os empréstimos e um aumento da dívida nos setores empresarial e familiar. Agrega que os riscos tendem a ser muito mais graves hoje há uma década, devido não somente à projeção de balances inflados dos bancos centrais, mas também à sobrevalorização dos ativos (os ditos do FMI, a OCDE e Stephan Roach estão extraídos do artigo de Michael Roberts, Previsões econômicas para 2018: a tendência e os ciclos).
De sua parte, Roberts aponta que os mercados de valores se encontram extremadamente sobreavaliados pelo menos em relação à tendência histórica. E agrega que “A relação preço-lucros ciclicamente ajustada (CAPE) de 31,3 é atualmente ao redor de 15% mais alta do que era a meados de 2007, antes de estalar a crise das suprime. Aponta que de fato o índice CAPE só foi mais alto do que atualmente duas vezes em seus 135 anos de história – em 1929 e em 2000”.
Um executivo argentino de banca privada aponta que nas bolsas vemos hoje uma euforia absoluta e em particular, nas norte-americanas. Euforia que se estende aos mercados emergentes que estão no máximo há 10 anos e ao Japão que alcança níveis não vistos desde 1991. Agrega que a China está voltando aos valores de 2015, que o índice Bovespa brasileiro alcança máximos históricos e que na Argentina o Merval parece não ter teto. Por outro lado – e como declara a fonte mencionada – a baixa volatilidade reinante acompanha os máximos da bolsa. Neste sentido agrega que o indicador que mede o sentimento altista nos inversores se encontra em 64,4% e o dos baixistas em 13,3 sendo que a última vez que registrou uma situação similar foi em 1987, quando se produziu o crack da bolsa dos Estados Unidos. Cabe agregar que nos últimos dias, Wall Street acumula quedas moderadas – o que se considera por agora uma “tomada de lucros” – que está repercutindo no Merval (principal Mercado de Valores de Buenos Aires, Argentina).
Siaba Serrate também declara que a Bolsa de Wall Street cotiza em máximos depois de alcançar uma catarata de recordes em 2017. Agrega que se antes da presidência de Trump o “bull Market” (mercado altista) nunca tinha passado o umbral de 17 vezes os lucros projetados do ano seguinte, hoje se aproxima a um múltiplo de 18. Serrate afirma que a última “correção” de Wall Street verificou uma queda de 14% e se produziu em 2016. E que desde então o crescimento registrado dos valores resultou 45%, enquanto que a maior queda de Wall Street – que ocorreu em 2017 – foi de apenas 3%. Pelo que, segundo Serrate, “uma oscilação baixista não deveria surpreender a ninguém”. A ótica financeira de Serrate é tranquilizadora, apelando à “fortaleza dos fundamentos”, a “robustez da economia global”, o enorme cuidado de Trump de não provocar uma decaída em temas que resultam sensíveis ao rumo da bolsa ou o prognóstico de crescimento em lucros em território norte-americano pela rebaixa impositiva. Ainda que admita que “o aumento das cotizações foi ainda mais vibrante que o avanço dos fundamentos” e que – pelo menos por agora – Trump a tem complicada, e segundo Serrate haveria “um espaço mais que folgado para acomodar uma correção sem colocar a tendência de fundo em causa”.
O assunto é que as possíveis derivações de uma “correção” não podem se desvincular nem da profundidade dos fatores estruturais nem das condições da “política”
Por um lado, é certo que as condições da bolsa se parecem muito com as do momento prévio à “correção” de 2016. Já a meados de 2015 a proporção entre o valor das ações e o PIB se encontrava nos Estados Unidos em 123% comparado com uma média de 68% durante os longos 65 anos prévios. Esse valor maior que o de 2007 só tinha sido superado pela bolha das ponto.com no ano 2000. Pelo qual se considerava – já em 2015, recordamos – que era necessária uma queda da bolsa de 50% para então assim retornar à elevada média histórica. 
Também o índice CAPE ao que faz referência Roberts, se encontrava em 27% naquele momento e já se falava de que seu valor só tinha sido superado no ano 2000 ou no crack de 1929. Também as bolsas de Shangai e Shenzhen se encontravam em 2015 com valores que se direcionavam aos atuais, quando em agosto se produziu um desabamento que sacudiu os mercados internacionais. Tanto o episódio das bolsas chinesas como a forte “correção” de Wall Street em 2016 foram absorvidos e não se tornaram em nada parecido a um Lehman Brothers. 
Também é certo que na atualidade e além das múltiplas discussões sobre os efeitos da rebaixa impositiva de Trump que beneficia no essencial a 1% da população norte-americana mais rica, os lucros depois de impostos vão se incrementar. Isso poderia reforçar a estabilidade da rentabilidade que segundo Roberts, se verificou em 2017 depois do descenso em 2014/16. Por outra parte, não cabem demasiadas dúvidas de que Trump fará todo o possível para não desagradar a Wall Street devido que uma derrubada financeira sem controle guardaria uma altíssima probabilidade de se transformar no fim de seu mandato.
Entretanto, as condições estruturais dizem que a debilidade é profunda e que o capital carece por agora de uma “nova empresa” que fortaleça os “fundamentos” a níveis qualitativos. Enquanto isso, o incremento dos ativos financeiros continua se separando aceleradamente da produção de riqueza efetiva (ou da “economia real”) e isso cria persistentemente as condições para uma nova catástrofe – a evolução disparatada da oscilante bolha do Bitcoin é sintoma disso. É duvidosa ainda a magnitude de capital que poderia virar em direção aos Estados Unidos depois da reforma fiscal e, em todo caso, o mais provável é que essas massas de dinheiro incentivem uma nova bolha e agreguem pressões sobre a economia mundial. 
Inclusive se resulta altamente provável que o novo presidente da Fed continue a linha conservadora de Yellen, as tentativas de “normalizar” as taxas e a injeção de dinheiro – uma tendência internacional – em uma situação “anormal” que arrasta sérios riscos. Mais ainda quando o dinheiro barato estimulado desde as políticas de Estado, representa um pilar chave de uma recuperação que permanece débil.
Por último, a economia pensada por fora da política carece de entidade. Uma “correção” da bolsa ou uma soma delas finalmente absorvidas pela economia sem maiores descalabros, resultam sempre prováveis. Mas não podem pensar as derivações de uma situação tal no antigo cenário de 2015 ou 2016. Agora Donald Trump habita a Casa Branca, Theresa May comanda os vaivéns do Brexit, uma debilitada Ángela Merkel, a duras penas, consegue gestar as condições para seu quarto mandato, a agitação independentista na Catalunha continua e Macrón tenta com extrema dificuldade devir o garantidor da unidade europeia. Enquanto isso a China continua na corrida como fator ameaçador e crescem as tensões militares globais. Como declaramos em diversas oportunidades, as consequências políticas derivadas de um crescimento econômico particularmente débil, estão chamadas a repercutir cedo ou tarde sobre a própria economia.
Mas ainda que nenhuma grave ruína ocorresse – pelo menos no imediato – o elemento mais novo seria que os organismos internacionais estão perdendo o último que se perde e isso sucede casualmente quando a economia mundial mostra sua melhor performance desde a queda de Lehman. Mas disto falamos extensamente em "Um diagnóstico para a economia mundial e o contrário do reformismo" Por Paula Bach
Créditos: Esqerda Diário