A demissão do Diretor da Polícia da Segurança Pública portuguesa, no fim da semana passada, foi uma prova de gravidade da situação em Portugal, um país em crise econômico-financeiro que irá receber na próxima semana mais uma visita de inspetores da troika internacional dos credores.
Lembre-se que à noite da quinta-feira passada milhares de membros de várias forças da segurança (da própria polícia, da Guarda Nacional Republicana, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e outras), ao protestar contra a política do governo, derrubaram a barreira dos seus colegas policias em frente do parlamento português. Os protestantes conseguiram subir a escadaria do prédio e chegar à entrada principal do Palácio de São Bento, residência do parlamento, onde cantaram o hino nacional e depois retiraram-se voluntariamente.
Na sequência deste desenvolvimento, que foi acompanhado, em todo o país, pela televisão ao vivo, o diretor da polícia nacional perdeu o cargo enquanto o Ministro da Administração Interna Miguel Macedo chamou o sucedido “absolutamente inaceitável”.
O protesto policial coincidiu, no dia e na hora, com a conferência "Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado social", convocada em Lisboa pelo veterano da política portuguesa Mário Soares.
Duas vezes presidente do país e também duas vezes primeiro-ministro de Portugal na época pós-Salazar, o fundador do Partido Socialista Mário Soares responsabilizou o atual presidente Cavaco Silva e o governo pela eventual eclosão de uma onda de violência. Fez um apelo para que o presidente e o executivo se demitissem uma vez que (citação de Mário Soares) “a violência está à porta”.
"Estamos a caminho de uma nova ditadura", declarou Mário Soares, aplaudido por conferencistas que integravam, além dos partidos da esquerda, também figuras do Partido Social-Democrata no poder.
No entanto a votação final do orçamento do Estado para o ano 2014, no parlamento português, está agendada para a terça-feira apesar dos protestos de vários segmentos da sociedade. A população denuncia os cortes nos salários e pensões e também nas despesas para a saúde e a educação, previstos no orçamento.
De acordo com o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, as medidas inscritas no orçamento são a "chave" para permitir que Portugal conclua até junho de 2014 seu programa de saída da crise financeira.
A equipa da troika (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu) regressa a Portugal em 04 de dezembro para o décimo exame regular ao programa de ajustamento. Depois desta avaliação, ficam ainda mais duas, estando previsto o fim do próprio programa para meados do próximo ano.
Autoridades internacionais revelam preocupação com a incerteza na execução do orçamento em questão, para 2014, devido à possibilidade de chumbo de algumas medidas previstas, como já acontecia, por parte do Tribunal Constitucional português.