quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Governo tem pior resultado primário para setembro da história

A queda da arrecadação e o aumento de gastos obrigatórios fizeram o Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) registrar em setembro o maior déficit primário da história para o mês. O resultado negativo no período somou R$ 25,303 bilhões, valor cerca de R$ 5 bilhões maior que o déficit de R$ 20,409 bilhões registrado em setembro do ano passado.

O déficit primário representa o resultado negativo nas contas públicas, desconsiderando o pagamento de juros. No acumulado de 2016, o déficit soma R$ 96,633 bilhões, também o pior resultado da história para os nove primeiros meses do ano.
No acumulado de 12 meses, o déficit primário totaliza R$ 190,556 bilhões. O valor é superior à meta de resultado negativo de R$ 170,5 bilhões estipulada para este ano. No entanto, a contagem em 12 meses é influenciada pela quitação de R$ 55,6 bilhões em passivos do Tesouro com bancos oficiais e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), ocorrida em dezembro de 2015.
A queda da arrecadação provocada pelo agravamento da crise econômica continua a ser a principal causa do aumento do déficit primário em 2016. De janeiro a setembro, as receitas líquidas caíram 6,6%, descontada a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em relação ao mesmo período do ano passado.
Pressionadas pelos gastos obrigatórios, as despesas totais subiram 2% acima do IPCA nos nove primeiros meses do ano. Apenas em setembro, no entanto, os gastos caíram 9,2%, descontado o IPCA em relação a setembro do ano passado por causa do adiantamento do décimo terceiro salário a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os gastos com a Previdência Social subiram 10,4% além da inflação nos nove primeiros meses do ano. As demais despesas obrigatórias, no entanto, cresceram apenas 0,4% acima da inflação. Os gastos discricionários (não obrigatórios) caíram 6,2%, descontado o IPCA. As despesas de custeio (gasto com a manutenção da máquina pública) caíram 7,2% de janeiro a setembro.
Os investimentos – gastos com obras públicas e compra de equipamentos – somaram R$ 38,593 bilhões no acumulado do ano, recuo de 15,7% também considerando a inflação oficial. Os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) totalizaram R$ 26,984 bilhões, queda de 18,2% descontada a inflação.
Os investimentos do Programa Minha Casa, Minha Vida somaram R$ 4,77 bilhões, retração real de 59,7%. A queda deve-se principalmente à autorização para que a construção dos imóveis para a população de baixa renda seja financiada com recursos do FGTS, que passou a valer neste ano e diminuiu o uso de recursos do Orçamento no programa habitacional.
Créditos: Agencia Brasil

Brasil registra a perda de 1 milhão de trabalhadores autônomos em 3 meses

O Brasil perdeu mais de 1 milhão de trabalhadores por conta própria no terceiro trimestre deste ano em relação ao segundo trimestre, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa categoria engloba profissionais autônomos, tanto da economia formal, como dentistas e advogados, quanto da informal, como vendedores ambulantes. O resultado reverte uma tendência de aumento do trabalho por conta própria durante a crise econômica.
Essa é a maior redução do número de trabalhadores por conta própria na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), iniciada em 2012. Estão nessa categoria profissionais que trabalham no próprio negócio, sozinhos ou com sócios, mas sem empregados.

De acordo com a pesquisa, no segundo trimestre deste ano o país tinha 22,9 milhões de pessoas trabalhando por conta própria. No terceiro trimestre, esse número caiu para 21,8 milhões, o que presenta uma diferença de -4,7% em relação ao segundo trimestre. Na comparação com o terceiro trimestre de 2015, a queda foi de 1,7%.
Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, quem deixou o trabalho por conta própria passou a integrar o grupo de desocupados. Ou seja, muitos deles estão procurando emprego e entram na lista de desempregados, ou simplesmente deixaram de trabalhar e saem da população economicamente ativa.
A Pnad mostrou que o desemprego ficou em 11,8% no trimestre encerrado em setembro, se mantendo como a maior taxa da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Segundo Azeredo, os principais fatores que contribuíram com esse resultado foi a queda no número de trabalhadores com carteira assinada e a queda no número de trabalhadores por conta própria – respectivamente -0,9% e -4,7% na comparação trimestral.
De acordo com a pesquisa, o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado, excluídos os trabalhadores domésticos, caiu de 35,4 milhões no semestre encerrado em setembro de 2015 para 34,1 milhões no mesmo período deste ano, o que representa uma queda de 3,7%. Entre o segundo e o terceiro trimestres de 2016, a queda foi de 0,9%.
Segundo Cimar Azeredo, coordenador da pesquisa, vários setores importantes do mercado de trabalho como agricultura, comércio e serviços apresentam tendência de queda no seu contingente. Porém, a indústria é o principal setor responsável pelo resultado negativo.
Créditos: WSCOM

ONU aceita denúncia de advogados de Lula sobre abusos da Lava Jato

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
ONU aceitou a denúncia protocolada pelos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a violação da Convenção Internacional de Direitos Políticos e Civis e abuso de poder pelo juiz Sérgio Moro e procuradores federais da Operação Lava-Jato contra Lula. De acordo com nota divulgada pelos advogados, documento emitido pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos informa que o comunicado feito em favor de Lula passou por um primeiro juízo de admissibilidade e foi registrado perante a ONU. 

Além disso, os advogados foram informados que o governo brasileiro foi intimado também nesta data para apresentar “informações ou observações relevantes à questão da admissibilidade da comunicação”, no prazo de dois meses.

“Avançamos mais um passo na proteção das garantias fundamentais do ex-presidente com o registro de nosso comunicado pela ONU. A data é emblemática porque justamente hoje nos encontramos em Boston, para discutir o fenômeno do lawfare com especialistas da Universidade de Havard. É especialmente importante saber que, a partir de agora, a ONU estará acompanhando formalmente as grosseiras violações que estão sendo praticadas diariamente contra Lula no Brasil”, diz nota assinada por Cristiano Zanin Martins.

A denúncia foi feita pelos advogados no dia 28 de julho. Na ação, eles pedem que o Comitê que se pronuncie diante do fato do juiz Sérgio Moro ter violado o direito de Lula à privacidade, de não ser preso arbitrariamente e o direito à presunção da inocência. Segundo os defensores do ex-presidente, as evidências de violação e abusos do juiz e dos procuradores do Paraná apresentadas ao Comitê são: a condução coercitiva do dia 4 de março de 2016, completamente fora do previsto na legislação brasileira; o  vazamento de dados confidenciais para a imprensa; a divulgação de gravações, inclusive obtidas de forma ilegal; o recurso abusivo a prisões temporárias e preventivas para a obtenção de acordos de delação premiado.
Créditos: Agencia PT


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Bombardeamento de escola síria mata 22 crianças e 6 professores

Um ataque a uma escola na província síria de Idlib, no noroeste do país, provocou a morte a 22 crianças e seis professores, indicou a agência da Organização das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Em comunicado, o diretor-geral da UNICEF, Anthony Lake, denunciou "uma tragédia" e um possível "crime de guerra", sem, contudo, especificar a autoria do ataque.

Este poderá ter sido, segundo Lake, "o ataque mais mortífero contra uma escola desde o início da guerra" na Síria, há cinco anos e meio. "É uma tragédia, um escândalo, e se este ataque foi deliberado, é um crime de guerra", acrescentou.
A escola foi atacada "por várias vezes", especificou-se no comunicado, sem dar mais detalhes.

Um balanço anterior dava conta de 35 mortos, entre os quais 11 crianças. "Aviões militares fizeram seis ataques à localidade de Hass, contra uma escola e as suas envolventes, matando 35 civis, dos quais 11 crianças", indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

Um dos projéteis caiu na entrada da escola no momento em que as crianças eram retiradas devido precisamente aos bombardeamentos, disse à agência notiicosa AFP um militante anti-regime do Centro de Imprensa de Idlib, que requereu o anonimato. Foto: Reuters.
Créditos: Diário de Notícias

Câmara aprova PEC 241 em segundo turno com 359 votos a favor

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite de ontem (25), em segundo turno, com 359 votos favoráveis, 116 contrários e duas abstenções, o substitutivo para a Proposta de Emenda à Constituição 241/16. O texto, de autoria do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), impõe limites para os gastos federais para os próximos 20 anos. Foram mais de sete horas de sessão.
Para que a PEC 241 seja encaminhada para discussão e votação no Senado, os deputados precisam agora votar os destaques ao texto.
Em São Paulo, um ato na Avenida Paulista na noite desta terça-feira os efeitos nocivos da PEC à sociedade brasileira. As lideranças das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo denunciaram a mídia tradicional e o governo Michel Temer de iludir a população. Durante todo o mês de outubro foram realizados protestos contra a medida. Hoje, 1.108 escolas e 82 universidades estão ocupadas contra a PEC e outras medidas nocivas à educação como a Medida Provisória 746, de reforma do ensino médio, e o projeto Escola sem Partido.
Nas discussões que precederam a votação, o líder do governo, deputado André Moura (PSC-SE), disse que a limitação de gastos é fundamental para a retomada do crescimento econômico e do emprego e para o fim da recessão. Segundo Moura, a PEC não mexe nos recursos das áreas prioritárias como a saúde e a educação.
A oposição critica a medida e diz que a limitação vai retirar recursos das áreas sociais, principalmente da saúde e da educação. Os governistas rebatem os argumentos e garantem que não haverá cortes nessas áreas.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os aliados do governo esperam concluir a apreciação da PEC na Casa em novembro para que a proposta seja promulgada e anexada à Constituição Federal.

Jornada

Durante várias horas, a briga entre oposicionistas e integrantes da base aliada foi grande, em meio à variação de assuntos abordados em plena apreciação da proposta e trocas de farpas.Vários requerimentos foram rejeitados, ao longo do dia. Inclusive um que pedia a votação da proposta dividindo o texto em blocos e um segundo, que pedia a votação da PEC item por item.
Dentre as principais discussões, os destaques continuam sendo danos a serem observados com o congelamento nos setores de educação e saúde, que foi objeto de um protesto, das galerias por parte de grupo de estudantes. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) subiu para as galerias para tentar proteger os manifestantes de algum confronto com a polícia legislativa, ao ver a tensão instalada.
Já deputado Henrique Fontana (PT-RS) subiu ao plenário para afirmar que se a PEC já estivesse em vigor, o salário mínimo só poderia ser corrigido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) “e hoje seria de R$ 500”. “O mesmo raciocínio vale para a saúde e para a educação, que sempre cresceram acima do IPCA”, afirmou.
O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), rebateu Fontana afirmando que os deputados contrários à PEC “parecem não ver o tamanho da crise do país”. A cada informação sobre as medidas apresentadas, pela base aliada, e a cada pesquisa ou estudo divulgado, mostrando os prejuízos a serem observados com a proposta, pela oposição, outros argumentos eram rebatidos de imediato num confronto sem fim.
Crèditos: Rede Brasil Atual

SUS vai ofertar testes rápidos para zika vírus

A rede pública de saúde vai passar a ofertar o teste rápido para identificação do zika. O exame, produzido pelo Bahiafarma, laboratório ligado à Secretaria de Saúde da Bahia, começará a chegar nos postos a partir de novembro, em todas as regiões do País. A compra, antecipada pelo Estado, será de 3,5 milhões de exames. Cada kit custará R$ 34. Os exames, no entanto, não estarão disponíveis para toda população. A indicação de quem deve ou não fazer o teste fará parte de um protocolo que deverá ser divulgado pelo Ministério da Saúde em novembro.


Os testes serão feitos por indicação do médico. O diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, afirmou que há alguns critérios já estabelecidos: gestantes com sintomas de zika, gestantes que tenham feito exames de ultrassom que indiquem a suspeita de que o feto apresenta má-formação no sistema nervoso central, adultos de ambos os sexos com suspeita de zika e que apresentem um quadro mais grave, com sintomas de problemas neurológicos. 
Em adultos, o teste será feito para afastar o risco de Guillain-Barré. Guillain-Barré é uma doença autoimune cuja incidência aumentou de forma expressiva depois do surto de zika no País. Ela provoca a destruição da bainha de mielina, uma espécie de capa que recobre os nervos periféricos.
Feito a partir da análise de uma gota de sangue, o teste rápido se assemelha a um exame de farmácia para gravidez. O resultado é obtido em 20 minutos. Ele é considerado uma arma importante para identificar focos da infecção por zika, para orientar gestantes e o planejamento familiar. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que a mulher que teve a infecção aguarde pelo menos dois meses antes de engravidar, para evitar riscos de contaminação do feto. Não está claro, no entanto, se nessa primeira fase o governo vai ofertar o exame para mulheres que queiram engravidar.
Atualmente, a confirmação de zika é cara e demorada. Ela é feita por meio da técnica PCR, que identifica traços do vírus no material analisado. Esse exame custa em média R$ 400 e os resultados demoram cerca de duas semanas.
O exame da Bahiafarma, desenvolvido em uma parceria com a empresa coreana Genbody, obteve o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária em maio. Recebeu também o aval do INCQS — Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde.
Em janeiro deste ano, o então ministro da Saúde, Marcelo Castro, havia anunciado a adoção de um teste para identificar zika, desenvolvido pela Fiocruz. O exame, porém, não havia sido registrado pela Anvisa.
O teste da Bahiafarma é capaz de identificar tanto se o paciente está no momento com infecção como também se ele já teve o contato com vírus e desenvolveu a doença no passado. O teste da Bahiafarma é capaz de identificar tanto se o paciente está no momento com infecção como também se ele já teve o contato com vírus e desenvolveu a doença no passado.
A zika é uma doença que em 80% dos casos não apresenta sintomas. Quando afeta mulheres grávidas, no entanto, a infecção pode aumentar o risco de o bebê nascer com uma síndrome que pode levar à microcefalia, problemas nas articulações e visão. Hoje, quase um ano depois de o Brasil decretar emergência em saúde pública, há ainda um grande número de casos suspeitos de bebês microcefalia aguardando confirmação — o equivalente a 30% dos casos notificados enter 2015 e 2016. O teste será útil para ajudar a esclarecer esses casos.
A ferramenta também é essencial para dar mais agilidade na análise de casos de pedidos para o Benefício de Prestação Continuada, concedido a crianças com microcefalia que vivam em famílias cuja renda per capita não ultrapassa um quarto de salário mínimo.
Créditos: R7

Nenhum país adotou teto de gastos como o da PEC 241

"Vale a pena destacar casos positivos da fixação de teto de gastos. Todos os países que adotaram essa sistemática recuperaram sua economia. A Holanda, por exemplo, adotou limites em 1994, conseguiu reduzir a relação dívida/PIB de 77,7% para 46,8% e enxugou as despesas com juros de 10,7% para 4,8% do PIB. Ao mesmo tempo o desemprego caiu de 6,8% para 3,2%." – Trecho do relatório da PEC 241 na Câmara, de autoria do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS)
A fixação de um teto para os gastos públicos, defendida pelo governo Michel Temer (PMDB) com a Proposta de Emenda à Constituição 241/2016 (PEC 241), tem sido adotada ao redor do mundo desde meados dos anos 1990. Pioneira ao aderir a esse tipo de controle, a Holanda foi usada como exemplo por Darcísio Perondi (PMDB-RS) na Câmara dos Deputados. O Truco no Congresso – projeto de checagem da Agência Pública, feito em parceria com o Congresso em Foco – verificou um trecho do relatório escrito pelo deputado, que defende a aprovação da iniciativa. O parlamentar citou números positivos do país europeu, e escreveu ainda que todos os que implantaram a medida recuperaram a sua economia. Será que as informações usadas por Perondi estão corretas?
A PEC 241 define um limite para os gastos do governo federal, que durante 2o anos só será corrigido pela inflação do ano anterior – se aprovada em 2016, a medida valerá até 2036. Qualquer mudança nas regras da PEC só poderá ser feita a partir do décimo ano, e será limitada à alteração do índice de correção anual.
A proposta retira dos próximos governantes parte da autonomia sobre o orçamento. Isso porque a PEC 241 não permitirá o crescimento das despesas totais do governo acima da inflação, mesmo se a economia estiver bem. E só será possível aumentar os investimentos em uma área desde que sejam feitos cortes em outras.
Economistas têm advertido para os efeitos colaterais que a medida poderá causar, como a redução nos investimentos em saúde e educação, a perda do poder de compra do salário mínimo, entre outros. Ainda assim, a medida avançou rapidamente e já passou em primeiro turno no plenário da Câmara, por 366 a 111 votos, no dia 10 de outubro. Se passar pela votação em segundo turno, prevista para esta terça-feira (25), a matéria segue para o Senado Federal, que pode aprová-la ainda em 2016.

O teto é igual para todos?

Perondi afirmou que "todos os países que adotaram essa sistemática recuperaram a sua economia". Um levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) que analisou regras fiscais em 89 países entre 1985 e 2015, consultado pelo Truco, mostra, no entanto, que o modelo não é igual em todos os lugares. Logo, não é possível falar em uma mesma "sistemática".
A Holanda adota um limite de gastos desde 1994. O teto vale para um período de quatro anos e inclui quase todas as despesas, como saúde, seguridade social e o pagamento de juros da dívida pública. A partir de alguns critérios, o governo faz uma previsão – em geral, depois de negociar com os partidos da base de apoio – que ele mesmo terá de cumprir. São permitidos aumentos nos gastos após a previsão inicial, desde que seja comprovada a existência de recursos.
Diferentemente da PEC 241, o modelo holandês impõe um limite também ao pagamento de juros da dívida pública. Isso deixou de acontecer entre 2007 e 2010, quando esse tipo de despesa foi excluída do teto. A crise econômica de 2008 levou ainda à exclusão, no teto, de certos benefícios e programas de assistência social e desemprego, entre 2009 e 2010. Mudanças como essas, para reagir a pressões econômicas internas e externas, não serão possíveis durante a vigência da PEC 241, caso ela seja aprovada sem alterações.
As regras de limitação para gastos foram adotadas de forma pioneira também na Suécia e Finlândia. Assim como ocorre na Holanda, o regime usado nos dois países tem diferenças em relação à PEC 241. Em 1997, a Suécia criou um rígido sistema de teto de gastos, que não permite alterações nos limites estabelecidos, mas válidos por três anos – não por 20, como quer Temer.
Na Finlândia, após mais de uma década tentando implementar um limite anual de gastos, o país estabeleceu um teto válido por quatro anos, em 2003. O governo seguinte manteve o regime, introduzindo alterações para torná-lo mais flexível. As limitações para o crescimento das despesas atingem hoje cerca de 75% das despesas federais finlandesas. Suécia e Finlândia não impõem valores máximos para os gastos com juros da dívida – o que também ocorre na PEC 241.
Também pioneira no teto, a Dinamarca limitou o crescimento real (acima da inflação) dos gastos a 0,5% ao ano, em 1994. O índice foi elevado para 1% entre 2002 e 2005. Após alterações nos anos seguintes, entrou em vigor, em 2014, uma lei que determina limites estabelecidos pelo parlamento a cada quatro anos e que vale para estados e municípios, além do governo federal.
A União Europeia adota uma regra com metas específicas por país, mas que, em geral, limita o aumento das despesas ao mesmo porcentual previsto para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em médio prazo. Além de excluir dos limites os gastos com benefícios para desempregados, a regra permite um aumento mais veloz das despesas, desde que amparado por um crescimento de receitas.
No Japão, as metas de gastos estabelecidas em 2006 deveriam ser seguidas por cinco anos, mas foram abandonadas em 2009, devido à crise econômica. Desde 2011, o país passou a proibir qualquer aumento nos gastos federais de um ano para o outro, com exceção daqueles relacionados ao pagamento da dívida pública – que preocupa por já ter ultrapassou duas vezes o valor do PIB.
O Kosovo limitou o aumento dos gastos, em 2006, a 0,5% ao ano em termos reais (acima da inflação). A medida foi descumprida e teve a abrangência reduzida, em 2009, passando a valer somente para os municípios. A Bulgária também passou por problemas com os limites estabelecidos em 2006, que não permitiam que as despesas excedessem 40% do PIB. Após furar a meta, a regra foi suspensa em 2009 e voltou a vigorar em 2012, não mais como um acordo político, mas com força de lei.
Na maior parte dos países, a regulação dos gastos é feita por meio de leis ordinárias ou de acordos políticos, como é o caso holandês. Os únicos a terem os modelos incluídos na Constituição, como defende o governo Temer, são Dinamarca, Georgia e Singapura.
Ou seja, a PEC 241 não repete o regime adotado por nenhuma outra nação, tendo como principais diferenças o longo prazo (20 anos), a correção do teto de gastos apenas pela inflação e a inclusão da norma na Constituição.

Todos os países recuperaram a economia?

Perondi exagerou ao dizer que "todos os países que adotaram essa sistemática recuperaram a sua economia". Em alguns casos, o teto foi desrespeitado ou precisou ser modificado – o que será bem difícil de acontecer na proposta brasileira. Também distorceu dados ao citar os números sobre a economia da Holanda: "A Holanda, por exemplo, adotou limites em 1994, conseguiu reduzir a relação dívida/PIB de 77,7% para 46,8% e enxugou as despesas com juros de 10,7% para 4,8% do PIB. Ao mesmo tempo o desemprego caiu de 6,8% para 3,2%."
Segundo a assessoria de Perondi, as informações sobre a Holanda foram retiradas da apresentação de Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em audiência na Comissão Especial da PEC 241. Ao contrário do relatório do deputado, o texto de Portugal deixa claro que os dados sobre a Holanda são relativos ao período 1994-2007. O problema é que há dados mais recentes, que mostram um cenário distinto.
A Holanda teve bons resultados na economia no período entre 1994 e 2007, mas o teto de gastos não a protegeu da crise financeira de 2008. O cenário negativo levou a alterações temporárias no sistema, na tentativa de evitar que os estragos fossem ainda piores. Suécia e Finlândia também sentiram o impacto e tiveram uma piora nos indicadores. Não será possível fazer ajustes de curto prazo se a PEC 241 for aprovada com o texto atual.
Embora tenha recuperado a economia entre 1994 e 2007, como apontou o deputado Perondi, a Holanda sofreu os impactos da crise de 2008, que reverteu a recuperação de indicadores econômicos e expôs limitações do sistema de teto de gastos. Se, por um lado, os anos recentes representam um dos piores cenários da economia mundial nas últimas décadas, o que justifica em parte a piora do quadro holandês, por outro lado houve flexibilidade do modelo de limite de despesas, que foi alterado para cruzar a crise.
A proporção entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB) caiu na Holanda, na Suécia e na Finlândia em um primeiro momento, mas não parou de subir depois da crise de 2008. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), na Holanda, o indicador diminuiu de 71,7%, em 1995, para 42,6%, em 2007. Com a crise econômica, no entanto, o índice subiu até alcançar 68,3%, em 2014. A dívida finlandesa equivalia a 42,7% do PIB, em 2003, e foi reduzida gradualmente até 32,5%, em 2008. Com a crise, cresceu sucessivamente até atingir 55,7% em 2013. Na Suécia, o porcentual devido em relação ao PIB era de 70,2% em 1996. Passou para 36,7%, em 2008, e após oscilações chegou a 2012 com 36,4%.
Embora ligeiramente diferentes daqueles compilados pelo FMI, os dados do Banco Mundial para as relações entre déficit e PIB da Holanda e da Finlândia apresentam as mesmas tendências de recuperação pré-crise e deterioração pós-2008. As informações do banco sobre a Suécia, disponíveis apenas a partir de 2010, mostram oscilações até 2013 na casa dos 42% – ou seja, não houve mais queda significativa após a crise.
O índice de desemprego seguiu uma tendência semelhante. Na Holanda, caiu de 7,2%, em 1994, para 2,8%, em 2008. Por conta da crise, o porcentual mais que dobrou, atingindo 6,9%, em 2014. Na Finlândia, o desemprego caiu entre 2003 (9%) e 2008 (6,3%), mas subiu para 8,6% em 2014. A Suécia atingiu 8,7% em 2010, o maior índice de desemprego desde 1998 (8,5%), chegando a 2014 com 8%.
Dos indicadores citados por Perondi, o único cuja trajetória de queda não foi revertida após 2008 foi o pagamento de juros da dívida em relação às receitas. Em 1994, a Holanda destinava 9,9% das receitas para esse tipo de despesa. Após forte redução, o índice se estabilizou em torno de 4,4% entre 2006 e 2008. A crise promoveu uma leve alta no parâmetro em 2009 (4,7%), mas a trajetória de queda logo foi retomada, e o menor valor da série foi alcançado em 2014, com 3,4%. Suécia e Finlândia seguiram padrões parecidos, com poucos impactos da crise neste indicador.
Embora tenha sido precedida por grandes dificuldades financeiras, a entrada em vigor do teto na Suécia e na Finlândia não teve como objetivo recuperar o controle fiscal, mas mantê-lo, segundo estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicado em 2008. "Interessante notar que os limites máximos de despesas foram introduzidos após a consolidação, e não como parte do esforço para reduzir as despesas. Os limites máximos foram usados para manter a estabilidade, e não para criá-la", diz o artigo.
O trecho do relatório da PEC 241 analisado nesta checagem está, portanto, equivocado. Chamar de "essa sistemática" tanto a proposta brasileira quanto o modelo holandês e de outros países é um exagero, já que as regras são vigentes por uma quantidade diferente de anos, em cada caso – contra 20 anos no Brasil –, e podem incluir ou excluir certos gastos, de acordo com o desempenho da economia – o que não será permitido com a PEC 241. Ao omitir essas diferenças, Darcísio Perondi distorceu fatos importantes e, por isso, o Truco no Congresso classifica a fala do parlamentar com a carta "Não é bem assim".Pública
Créditos: rede Brasil Atual