Para 93% da população de São Paulo, a capital paulista é um lugar pouco ou nada seguro para se viver. O índice aumentou dois pontos percentuais em relação ao ano passado. E vem crescendo em todas as edições da pesquisa de Indicadores de Referência de Bem Estar no Município (Irbem), cuja 5ª edição foi lançada ontem (21) pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope.
A pesquisa foi realizada entre os dias 3 e 23 de dezembro de 2013 e ouviu 1.512 pessoas com 16 anos ou mais.
Para o coordenador da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi, o número reflete os problemas de segurança na cidade, que mês a mês vê aumentados os casos de roubos, furtos e mesmo os latrocínios, apesar da queda relativa nos homicídios. "Esse é um dos índices mais preocupantes, pois implica também o desejo do paulistano de deixar a cidade", disse. Esse número caiu um ponto percentual em relação a 2012.
Mais da metade da população, 55%, deixaria a cidade se pudesse, embora 39% considerem que a qualidade de vida melhorou. Na edição anterior, eram 38%.
Segundo a pesquisa, 23% não reconhecem nenhum ente público como responsável por melhoria na qualidade de vida. Mesmo assim, 13% dizem que o governo federal tem trabalhado para melhorar a vida da população.
Dentro dessa melhora se inclui a redução da espera pelos serviços públicos de saúde na capital. O tempo das consultas caiu de 66 para 60 dias, o de exames de 86 para 79 e o de procedimentos complexos de 178 para 170. No início do ano passado, havia um passivo de aproximadamente 300 mil pessoas na fila de espera por exames na cidade. Hoje, segundo a gestão Fernando Haddad (PT), são 200 mil. E o tempo médio de espera, ainda de acordo com a prefeitura, passou de sete para três meses.
Na nota geral, a média dada pelos paulistanos à cidade foi de 4,8, abaixo dos 5,5 que seria considerado aceitável.
O secretário Municipal de Relações Governamentais, João Antonio, que representou o prefeito Fernando Haddad (PT) no evento, afirmou que a gestão vai trabalhar para melhorar as condições na cidade nos próximos anos. "Esses dados representam o primeiro ano da gestão. Há muito para fazer, mas veja que estamos caminhando no sentido de melhorar a qualidade de vida na cidade: corredores, Hora Certa, 20 novos CEUs. Acredito que estaremos melhores no próximo ano", afirmou.
Dos 169 itens avaliados, a população deu notas abaixo da média de 5,5 para 137 delas. Saúde, habitação, juventude, educação, atenção à terceira idade e acessibilidade estão entre as áreas abaixo da média. Honestidade dos governantes, punição à corrupção e transparência dos gastos foram as últimas colocadas.
No caso do transporte, apesar das ações de implementação de faixas exclusivas para ônibus, a nota foi de 3,9. A rede do metrô teve uma queda na avaliação de 5,4 para 4,9.
O item trabalho foi um dos que apresentou maiores notas acima da média, sobretudo em relação à aumento da renda, satisfação com o emprego e busca por emprego.
Avaliação na política
A avaliação da administração municipal teve uma queda significativa no ótimo ou bom, indo de 17% para 11%. O regular aumentou de 48% para 49% e o ruim ou péssimo de 35% para 39%.
Comparada com a última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no início de dezembro do ano passado, a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) teve queda de 7% na aprovação.
Outro poder em baixa é a Câmara Municipal. A aprovação já era baixa na edição anterior pesquisa, com somente 11% de ótimo/bom. Agora são apenas 6%. Do outro lado, 54% consideram ruim ou péssima a atuação dos vereadores, oito pontos acima dos 46% da pesquisa anterior, e 39% regular.
Rolezinhos
A Rede Nossa São Paulo apresentou dados com os quais pretende ampliar a visão sobre a questão dos rolezinhos. "Um dos problemas prováveis que levam ao rolezinho é que os jovens não tem locais para manifestação de suas vontades nos locais onde moram. E não têm acesso a muitos dos equipamentos para a juventude que o poder público deveria oferecer", apontou Broinizi.
Segundo levantamento da Nossa São Paulo, dos 96 distritos que compõem a capital paulista, em 44 não há bibliotecas. A maior parte das que existem está concentrada na região central da cidade. No mesmo universo, 60 distritos não têm casa de cultura ou museus. Outros 59 não possuem nenhuma sala de cinema e os teatros estão presentes em apenas 43 distritos da cidade.
Já os equipamentos esportivos estão presentes em mais locais. Mesmo assim, seis regionais ficam de fora, por exemplo, Parelheiros e Marsilac, no extremo sul da capital.
O desemprego entre os jovens de 16 a 29 anos é outro dado que preocupa. Hoje o índice nacional é de 5,5% da população sem ocupação. Em Cidade Tiradentes, Ermelino Matarazzo, Guaianases, Ipiranga, Itaquera, São Mateus e São Miguel, quase 15% da juventude entrevistada está desempregada.
Mesmo nos distritos com menor índice, o total é superior à média nacional. Butantã, Lapa e Pinheiros têm 8% dos jovens sem emprego.
Também é grande o número de homicídios praticados contra os jovens nessa mesma idade. No distrito do Campo Limpo está a maior proporção, com 82 óbitos por 100 mil habitantes. Perdizes e outros 18 distritos da região central não têm óbitos dessa ordem.
Para Broinizi, há uma inversão na preocupação que sociedade e a cidade estão manifestando. “Nós continuamos com um foco muito grande no tratamento da juventude como questão de segurança. Agora ampliando isso aos shoppings centers, por conta dos rolezinhos. Isso é uma visão do atraso. Continuamos tratando um fenômeno social como caso de polícia. Não é possível ter distritos com 300 mil habitantes e zero equipamentos públicos”, considerou.
Broinizi também critica a judicialização da política no caso do reajuste do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e considera contraditória a atuação das entidades que questionaram a proposta da progressividade. "Tivemos uma ação na Justiça, promovida pela Fiesp, Associação Comercial e outras entidades, que praticamente matou o reajuste do IPTU como havia sido proposto. Muitos shoppings que têm se preocupado e investido em se isolar, garantir sua segurança, negar a periferia no caso dos rolezinhos, são os mesmos que se negaram a pagar o reajuste do IPTU que poderia ter sido usado na instalação de equipamentos públicos na cidade", criticou.
Foto: Brasil 247
Réditos;Rede Brasil Atual
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