A divulgação na última semana do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) com queda de 0,13% para o primeiro trimestre, joga um "balde de água fria" nas expectativas mais otimistas do governo, que ainda prevê crescimento de 2,5% para o ano. Para o economista Guilherme Mello, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a tendência é que o Produto Interno Bruto (PIB) evolua próximo de 1%, assim como no ano passado. Mas o cenário internacional também pode trazer complicações.
Ele ressalva que o IBC-Br é tido pelo mercado como uma projeção do PIB, mas a tendência é que o número seja confirmado posteriormente pelo IBGE – o resultado oficial sairá no dia 30 –, o que confirma o cenário de desaceleração. Em 2017, o balanço trimestral do PIB já apontavam diminuição no ritmo de crescimento, com elevação de 1,3% no primeiro trimestre, 0,6% no segundo, 0,2% no terceiro e 0,1% no último.
"No ano passado, o cenário externo ajudou. Neste ano, começou a complicar. É muito provável que a gente tenha um 2018 mais próximo de 2017, com crescimento entre 1% e 2%, mais próximo de 1%. Mas já vai ser diferente, porque, no ano passado, houve um começo com forte crescimento. Agora a 'largada' é muito ruim, desalentadora para qualquer previsão", diz Mello.
Apesar de apostar em uma taxa de crescimento equivalente para este ano, Mello lembra que 2017 foi um ano "atípico", pois o crescimento foi puxado pela safra agrícola recorde e pela liberação extraordinária de recursos do FGTS e do PIS-Pasep, que impulsionaram o gasto das famílias, mas sem produzir um ciclo sustentável no consumo, que alavancasse a produção industrial e, por consequência, o emprego.
"Tudo isso é sintoma dessa pseudo recuperação que, na verdade, é uma estagnação em um nível muito baixo de produção e com uma qualidade muito baixa do crescimento e do emprego, com aumento da pobreza e queda da renda dos mais pobres. Essa ideia que estamos recuperando um crescimento sustentável cai por terra com os dados do primeiro trimestre."
Aliado à situação "extremamente dramática" do mercado de trabalho – com 27,7 milhões de pessoas desempregadas ou subutilizadas –, o economista lembra também da falta de crédito barato que poderia estimular o consumo. "Junte-se a isso o fato de que os bancos não estão emprestando, mantendo taxas de juros elevadíssimas. Sem renda e sem crédito, as pessoas não consomem."
As sucessivas elevações da taxa de juros nos Estados Unidos têm impactado na alta do dólar aqui no Brasil, o que pode ter impacto na inflação e comprometer investimentos. "Isso significa mais dólares saindo dos emergentes e voltando para os Estados Unidos. Significa uma moeda mais desvalorizada nos emergentes e o dólar mais valorizado", explica Mello.
Investidores com dívidas em dólar tendem a ficar mais "cautelosos" e planos de importações de máquinas e equipamentos tenderão a ser adiados, segundo o economista. O câmbio também pode impactar na elevação de preços de matérias primas e dos combustíveis, por exemplo.
Essa fuga de dólares impactou mais duramente a economia argentina, que recorreu ao FMI após 15 anos. Mello afirma que o Brasil está relativamente "protegido" dos ataques especulativos por conta da crise no vizinho, devido às reservas internacionais acumuladas nos governos Lula e Dilma. Contudo, consequências deverão ser sentidas no comércio entre os dois países.
No setor automobilístico, por exemplo, 76% das exportações de veículos têm como destino a Argentina, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). "A Argentina é um destino grande das exportações de produtos brasileiros, o que pode afetar a produção e a retomada do emprego", assinala o economista.
Créditos: Rede Brasil Atual
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