domingo, 25 de agosto de 2013

Médicos cubanos pedem respeito e dizem que vêm trabalhar para o povo brasileiro



O primeiro grupo dos 206 médicos cubanos que vão trabalhar no Brasil desembarcou ontem(24) à tarde no país. No Recife, ficaram 30 profissionais e 176 seguiram para Brasília, onde chegaram à noite. Ao desembarcar, Oscar Gonzales Martinez, graduado há 23 anos e especialista em atenção à família, disse que tinha grande expectativa em trabalhar com a população brasileira.
Martinez disse que veio ao Brasil por várias razões, entre elas, a oportunidade de trabalhar para o povo brasileiro. Sobre a polêmica em torno do pagamento dos salários, que serão feitos por meio do governo cubano e não diretamente aos profissionais, Gonzales disse que isso é o que menos importa, pois tem o emprego garantido em seu país e parte dos recursos irá para ajudar o seu povo.
“O mais importante é colaborar com os médicos brasileiros e ajudar na qualidade de vida do povo daqui. Também é importante a irmandade entre o povo cubano e o povo brasileiro que existe há muito tempo”, disse.
 A médica Jaiceo Pereira, de 32 anos, lembrou, bem-humorada, que, apesar de ser a mais jovem do grupo, tem bastante experiência profissional e no início de sua formação já trabalhava com saúde da família. Ela pediu o apoio do povo brasileiro e respeito aos profissionais de seu país. “Queremos ajudar e dar saúde a todos aqueles que não têm acesso aos serviços médicos", disse. “Queremos dar amor e queremos receber amor.” Já Alexander Del Toro destacou que veio para trabalhar junto e não competir.
Um grupo de 25 simpatizantes do socialismo e de Cuba esteve no Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubitschek com cartazes. Durante a longa espera, que durou mais de duas horas, os manifestantes gritavam palavras de ordem como “Cubano amigo, Brasil está contigo” e “Brasil, Cuba, América Central, a luta socialista é internacional”.
Em meio às manifestações de apoio, Ana Célia Bonfim, que se identificou como médica da Secretaria de Saúde do Distrito Federal chegou a gritar entre os manifestantes que tudo não passava de uma “palhaçada”. “Profissional troca alguma coisa por bolsa. Isso não é coisa de profissional. Pelas condições que tem o médico cubano, claro que eles vão trocar isso pelas condições brasileiras. Mas isso é exploração de mão de obra”, disse.
O restante dos médicos cubanos desembarca amanhã (25) em Fortaleza, às 13h20, no Recife, às 16h, e em Salvador, às 18h, segundo o ministério. Ao todo, 644 médicos, incluindo os 400 cubanos, com diploma estrangeiro chegam ao Brasil até este domingo (25).  Na sexta-feira (23), começaram a chegar os médicos inscritos individualmente em oito capitais.
Os profissionais cubanos fazem parte do acordo entre o ministério com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para trazer, até o final do ano, 4 mil médicos cubanos. Eles vão atuar nas cidades que não atraírem profissionais inscritos individualmente no Programa Mais Médicos. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, rebateu as críticas das entidades médicas que questionam a formação médica dos profissionais cubanos.
Na segunda-feira (26), tantos os médicos inscritos individualmente (brasileiros e estrangeiros), quanto os 400 cubanos contratados via acordo, começam a participar do curso de preparação com aulas sobre saúde pública brasileira e língua portuguesa. Após a aprovação nesta etapa, eles irão para os municípios. Os médicos formados no país iniciam o atendimento à população no dia 2 de setembro. Já os com diploma estrangeiro começam a trabalhar no dia 16 de setembro.
O curso vai ter carga de 120 horas com aulas expositivas, oficinas, simulações de consultas e de casos complexos. Também serão feitas visitas técnicas aos serviços de saúde com o objetivo de aproximar o médico do ambiente de trabalho.
Créditos: Agência Brasil

Conta secreta na Suíça abasteceu propinoduto do PSDB, diz revista

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IstoÉ aponta que documentos comprovam movimentação de 20 milhões de euros para pagamento de suborno por empresas envolvidas em desvios em São Paulo. TCE apura se esquema ainda opera



Documentos recebidos da Suíça pelo Ministério da Justiça comprovam a existência de uma conta bancária no país europeu para abastecer o propinoduto do governo do PSDB em São Paulo. Segundo reportagem publicada na edição desta semana da revista IstoÉ, a conta batizada de “Marília” movimentou o equivalente a R$ 64 milhões de reais (20 milhões de euros) entre 1998 e 2002, e garantiu o pagamento por lobistas a agentes públicos subornados para favorecer empresas envolvidas no esquema de cartel e corrupção no transporte público.

Uma análise preliminar feita pelos repórteres Claudio Dantas Sequeira e Pedro Marcondes de Moura indica que Alstom e Siemens compartilharam a conta para garantir uma operação de lavagem de dinheiro que beneficiou, segundo fontes do Ministério Público Estadual, Robson Marinho, o conselheiro do Tribunal de Contas que foi homem da confiança e coordenador de campanha do ex-governador tucano Mário Covas. Também da Marília saíram recursos para contas das empresas  Arthur Teixeira e José Geraldo Villas Boas, que seriam lobistas que atuaram como intermediários para a propina paga a funcionários tucanos pelas multinacionais.
Teixeira e o irmão dele, Sérgio, foram responsáveis por abrir empresas e offshores com o objetivo de garantir o pagamento de comissões a servidores públicos e políticos do PSDB. Segundo a IstoÉ, Teixeira tem acesso fácil ao secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e ao diretor de Operação e Manutenção da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), José Luiz Lavorente, o encarregado da distribuição em mãos da propina.
O banco no qual foi aberta “Marília, o Multi Commercial Bank, hoje  Leumi Private Bank AG, também foi citado em outros esquemas de corrupção tucanos. O Ministério Público já havia descoberto uma conta bancária em nome de Villas Boas e  de Jorge Fagali Neto. Fagali Neto foi secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo na gestão de Luiz Antônio Fleury Filho. No governo federal de Fernando Henrique Cardoso (1997-2005), dirigiu os Correios (1997) e a área de projetos de ensino superior do Ministério da Educação (2000 a 2003).
Segundo a Polícia Federal, Fagali, mesmo fora do governo paulista, manteve ascendência e contatos, tendo sido indiciado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ele é irmão de José Jorge Fagali, que presidiu o Metrô na gestão de José Serra. José Jorge é acusado pelo MP e pelo Tribunal de Contas Estadual de fraudar licitações e assinar contratos superfaturados à frente do Metrô.
Na visão dos investigadores, a “Marília” era uma espécie de central de recursos de outras contas que abasteceram empresas e fundações de fachada. O MP pediu, sem sucesso, que as autoridades suíças e francesas promovessem o arresto de bens e o  bloqueio das contas das pessoas físicas e jurídicas envolvidas no caso. Ainda de acordo com a IstoÉ, os investigados apelaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para evitar ações deste tipo no Brasil.
Enquanto isso, diz a revista, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) apura a vigência do esquema ainda hoje. A leitura é de que há fortes indícios de que as fraudes ocorreram em contratos assinados por José Serra (2007-2010) e pelo governador Geraldo Alckmin. Entram na lista os acordos para reformar as linhas 1, Azul, e 3, Vermelha, firmados em 2008 e 2009, com vigência de cinco anos e meio, somando R$ 1,7 bilhão, e divididos entre as empresas participantes do cartel trazido à tona pela Siemens.
O TCE vai julgar casos que envolvam as 18 corporações denunciadas. Entre os contratos está o de fornecimento de 40 trens de oito carros firmado entre a CPTM e a espanhola CAF durante a gestão Serra. Um e-mail que está com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), subordinado ao Ministério da Justiça, mostra um executivo informando que o então governador e  seu secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, sugeriram que a Siemens dividisse o contrato bilionário com a CAF, vencedora da disputa.
Créditos: Rede Brasil Atual

Mobilidade é calcanhar-de-aquiles das metrópoles brasileiras

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Novo indicador de qualidade de vida urbana, idealizado pelo Observatório das Metrópoles, escancara as desigualdades locais e regionais no acesso ao bem-estar


O Índice de Bem-Estar Urbano, lançado quarta-feira (21) pela rede de pesquisa Observatório das Metrópoles, mostra que as regiões metropolitanas brasileiras apresentam profundas desigualdades, tanto entre si quanto dentro de seus territórios. Calculado de maneira semelhante ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – mas com indicadores diferentes – o Ibeu pode se tornar uma importante ferramenta para a criação de políticas públicas condizentes com as necessidades das cidades.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores de 15 diferentes núcleos por todo o país elegeram dados coletados pelo Censo de 2010. A ideia era dar uma dimensão coletiva ao índice, ou seja, compreender se o ambiente compartilhado pelas pessoas é adequado. “Na última década presenciamos mudanças significativas nas condições sociais, associadas ao bem-estar individual. O IDH é uma manifestação dessa melhora, pois junta educação, longevidade e renda, que são dimensões individuais”, afirma Marcelo Ribeiro, um dos organizadores da publicação que traz a fundamentação do Ibeu. “Mas essas dimensões não refletem a qualidade de vida nas cidades, que é o ambiente da grande maioria dos brasileiros.”
Por isso, o Ibeu reúne indicadores que afetam coletivamente a sociedade. São eles: mobilidade (tempo do trajeto casa-trabalho); condições ambientais (arborização, ausência de esgoto a céu aberto e de lixo); condições habitacionais urbanas (aglomerado subnormal, densidade domiciliar, densidade morador por banheiro, material das paredes e espécie de domicílios); atendimento de serviços coletivos urbanos (água, esgoto, energia e coleta de lixo) e infraestrutura urbana (iluminação pública, pavimentação, calçada, meio-fio, boca-de-lobo, rampa para cadeirantes e identificação de logradouro).
Cada uma das cinco dimensões recebeu peso igual na composição do índice, que varia entre 0 (pior avaliação) e 1 (melhor). Assim como no IDH, o resultado não está atrelado a uma hipotética situação ideal, mas sim às melhores e piores condições em cada um dos itens encontrados nessas regiões.
Outra característica do Ibeu é que ele traz informações sobre as regiões metropolitanas, sobre cada uma das 289 cidades que as compõem e também sobre os bairros (ou áreas de ponderação, na nomenclatura do IBGE).
 Isso permite uma análise aprofundada das diferenças de bem-estar dentro das cidades, e não apenas entre as RMs.
Os resultados das análises mostram que Campinas é a única região metropolitana com índice excelente de bem-estar urbano (0,873). São Paulo está na 8ª posição (0,615) e Rio de Janeiro, em 12º lugar (0,507), abaixo da média nacional de 0,605. Belém traz os piores indicadores (0,251). Esses números mostram uma forte desigualdade regional. Entretanto, os dados mostram que as desigualdades são fortes também dentro das RMs. Assim como Belém apresenta algumas regiões de alto bem-estar, Campinas também tem suas áreas problemáticas.
Das cinco dimensões avaliadas, a mobilidade é a que recebeu pior avaliação. Embora Florianópolis e Campinas apresentem resultados considerados muito bons (0,962 e 0,932, respectivamente), a média nacional ficou em 0,383, afetada pelos péssimos resultados de Rio de Janeiro e São Paulo (0,015 e 0,032).
Apesar da facilidade com que esse tipo de indicador acaba sendo usado para fins propagandísticos (São Caetano do Sul é um exemplo de cidade que costuma alardear sue ótimo Índice de Desenvolvimento Humano), os criadores do Ibeu alertam para o equívoco dessa visão. “Nesse sentido, não queremos que o Ibeu vire um IDH”, afirma Orlando Júnior, organizador do estudo que gerou o índice. “Ele foi criado para uso acadêmico e para ajudar na criação de políticas públicas. Não é uma corrida para ver quem chega primeiro”, ressalta.
Créditos: Rede Brasil Atual

Corinthians é o clube com a marca mais valiosa do Brasil

Estudo foi feito pela consultoria BDO, divulgado na sexta-feira(23) no jornal Estado de São Paulo

 Na manhã de sexta-feira (23), foi anunciado que o Corinthians é a marca mais valiosa dentre os clubes brasileiros. Tal levantamento foi realizado pela consultoria BDO, e divulgado hoje no jornal Estado de São Paulo. De acordo com a pesquisa, em 2013, o Alvinegro do Parque São Jorge alcançou o valor estimado em R$ 1,108 bilhão.
O Flamengo, por sua vez, é o segundo colocado, mas está muito perto de ser ultrapassado pelo São Paulo. O Mengão tem sua marca avaliada em R$ 855,4 milhões.
Campeão da Sul-Americana 2012, mas em má fase no Campeonato Brasileiro 2013, está quase que empatado com o rubro-negro carioca, ocupando a terceira posição e custando R$ 848,2 milhões.
Líder da Série B, e cada vez mais reconquistando sua torcida, o Palmeiras é o quarto colocado, desbancando outros grandes clubes que estão na Série A. O verdão está avaliado em R$ 496,4 milhões. O quinto colocado é o Internacional de Porto Alegre. O clube tem sua marca estimada em R$ 412,9 milhões.
 Clube revelador de Neymar e Robinho, o Santos está na sexta posição da ranking. O Peixe está avaliado em R$ 377,4 milhões.
A nova Arena parece que fez bem ao Grêmio. O clube gaúcho ultrapassou o Gigante da Colina e agora ocupa a sétima posição valendo R$ 359,6 milhões.
Passando por dificuldades econômicas, o Vasco está na oitava posição. Sua marca é de R$ 323,2 milhões
O Cruzeiro é o 10º colocado avaliado em R$ 202,8 milhões.
Créditos: VSCOM Oline

DF vai proibir a venda de armas de brinquedo


 O Distrito Federal (DF) vai proibir a comercialização e distribuição de armas de brinquedo. A Câmara Legislativa do DF aprovou um projeto de lei, inédito no país, que impede a venda de armas que disparem bolinhas, luzes a laser ou façam qualquer tipo de barulho que permita alguma associação com arma de fogo. A medida aguarda sanção do governador Agnelo Queiroz.
A iniciativa do projeto de lei partiu do Executivo local, que considerou os índices de criminalidade na região. Segundo a Polícia Militar, em 2012, armas de brinquedo representaram 12% do total das armas apreendidas com criminosos nas ruas do DF.
A proibição da venda dos brinquedos não inclui armas de ar comprimido, como airsoft paintball, e também exclui da proibição armas utilizadas em práticas desportivas, desde que adquiridas por pessoas maiores de 18 anos associadas a instituições esportivas.

Os comerciantes ficarão obrigados a afixar mensagem padrão em local visível, com a informação de que o estabelecimento não comercializa armas de brinquedo. Quem descumprir a lei, pode receber desde advertência escrita até multa de R$ 100 mil, suspensão das atividades e a cassação da licença de funcionamento. Após a sanção da lei, o governo do Distrito Federal terá 120 dias para regulamentá-la.
Quando entrar em vigor, a nova lei também instituirá a Semana do Desarmamento Infantil, no mês de abril, período destinado a reflexões, palestras e eventos voltados ao debate do tema.
Foto: Google
Créditos: Agência Brasil

sábado, 24 de agosto de 2013

CARTÉIS: Áreas de energia e saúde também têm contratos irregulares, diz ex-executivo da Siemens

energia

 Corrupção e Irregularidades como fraudes em licitações e pagamentos de propina a agentes públicos não acontecem apenas nos metrôs de São Paulo e Brasília e na CPTM, mas também nas divisões de Transmissão e Distribuição de Energia, Geração de Energia e de Sistemas Médicos. As informações foram fornecidas por um ex-executivo da multinacional Siemens ao ombudsman da empresa na Alemanha em junho de 2008, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo de ontem (23).
De acordo com o texto, o denunciante não cita nomes de possíveis envolvidos ligados aos governos. A Companhia Energética de São Paulo (Cesp) contratou a Siemens várias vezes. "É impressionante observar que, apesar de todos os escândalos e consequências para toda a companhia, a Siemens Brasil continua pagando propinas no Brasil para conseguir contratos lucrativos", disse o denunciante na carta. "Espero que as informações mencionadas possam ajudá-lo em sua difícil função como ombudsman em uma companhia que não aprendeu com as lições do passado."
As informações são consideradas verossímeis, já que a carta contém revelações confirmadas pelos seis executivos – quatro brasileiros e dois alemães – da Siemens que firmaram acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em maio de 2013. No plano federal, controladas da Eletrobrás, como Furnas, Chesf e Eletronorte, têm contratos com a empresa.
Em um trecho da carta, o denunciante afirma: "Eu gostaria de trazer para o seu conhecimento alguns fatos e documentos que demonstram práticas ilícitas adotadas pela Siemens no Brasil, nos dias de hoje e no passado, particularmente nos seguintes projetos: CPTM Linha G (Linha 5 do Metrô de São Paulo), CPTM Série 3000 e contrato de manutenção do Metrô-DF."
Em outro trecho ele declara que "esse tipo de prática não é privilégio da divisão de transportes. Elas também são comuns nas áreas de transmissão e distribuição de energia, geração de energia e na divisão de sistema de saúde, que trabalham com empresas públicas".

Metrô e CPTM

Na semana passada, o secretário municipal de Serviços de São Paulo, Simão Pedro (PT), disse ser improvável a existência do cartel para obras do metrô e da CPTM sem o conhecimento do governo estadual, controlado pelo PSDB desde 1995. “Não existe cartel sem a conivência de autoridades públicas. Se você tem autoridades públicas sérias, que têm em primeiro lugar o interesse público, a economia, a transparência, é evidente que as autoridades não permitem acerto entre empresas”, afirmou.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tem dito que o estado é vítima das empresas e da Siemens, em particular. “Se for confirmado algum cartel, o estado é vítima e entrará imediatamente com ação de indenização e ressarcimento de possíveis prejuízos", defendeu-se, no início do mês.

Alheias a embate ideológico, pequenas cidades comemoram vinda de médicos cubanos

médicos cubanos

Entidades representativas da categoria apelam a 'trabalho escravo' e comunismo para se opor a chegada de profissionais, já a partir da próxima semana. Governo diz que questão é humanitária


– Secretários municipais de Saúde de cidades do Norte e Nordeste brasileiros estão animados com a possibilidade de a população receber atendimento médico por meio do programa federal Mais Médicos, independente da nacionalidade dos profissionais. Gestores públicos ouvidos pela reportagem da RBA destacam que o importante é a população ter acesso à atenção básica em saúde e apontam preocupações mais cotidianas e menos ideológicas sobre o processo. Os profissionais cubanos começam o atendimento às populações no próximo dia 16.
Segundo o Ministério da Saúde, os 400 médicos cubanos que atuarão na primeira etapa do programa, por meio de acordo firmado quarta-feira (21) entre o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde, serão direcionados aos 701 municípios que não despertaram o interesse de nenhum profissional inscrito, seja brasileiro, seja estrangeiro. A maioria das cidades (68%) apresenta os piores índices de desenvolvimento humano do país (IDH muito baixo e baixo) e 84% estão no interior do Norte e Nordeste em regiões com 20% ou mais de sua população vivendo em situação de extrema pobreza. Os demais 358 estrangeiros cadastrados no Mais Médicos vão para as cidades escolhidas no processo de inscrição no programa.
A secretária de Saúde de Jaboatão dos Guararapes (PE), Geciane Paulino, afirma que já conhece e tem boas referências sobre o trabalho dos médicos cubanos. “Eu trabalhei em Cabo do Santo Agostinho (PE), de 2001 a 2004, e a experiencia lá foi muito positiva. Os médicos atendiam muito bem à população, que tinha um entrosamento muito grande com eles”, contou. Geciane considera que a reclamação das entidades médicas se pauta pela reserva de mercado. “Quem faz a gestão do SUS não pode ficar restrito à preocupação de uma categoria profissional. Temos que pensar em todos os brasileiros”, afirmou. O Conselho Federal de Medicina (CFM) condena o programa avaliando que será uma tragédia.
Jaboatão dos Guararapes é uma cidade com 654 mil habitantes na região metropolitana de Recife, governada pelo prefeito tucano Elias Gomes. Apesar de ser uma cidade cujo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é alto (0,717), há desigualdade no atendimento entre as periferias e as regiões mais centrais, o que se espera ser corrigido com o Mais Médicos. “A região metropolitana tem muita infraestrutura em equipamentos de lazer e outras coisas, porém, Jaboatão é um município com sérios problemas. Os médicos virão atuar justamente nas áreas de favelas”, explicou Geciane.
O Mais Médicos foi alvo desde o começo de ataques das entidades de classe, que são contra a vinda de profissionais estrangeiros e argumentam que o mais relevante é garantir melhores condições de trabalho, e que não há déficit. Mas, segundo o ministério, o Brasil tem 1,8 médico por mil habitantes, enquanto na Argentina a proporção é 3,2; no Uruguai, 3,7; em Portugal, 3,9; e no Reino Unido, 2,7. A longo prazo, o programa federal prevê aumentar a formação de médicos, passando de 55 mil para 108 mil matrículas em quatro anos. A expectativa é criar 1.500 novos cursos em um total de 117 municípios atendidos por instituições particulares e públicas, 60 a mais do que o atual.
Após um recuo inicial, o governo acabou fechando convênio para trazer os profissionais de Cuba. O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, defendeu hoje a decisão. "Temos 700 municípios sem médico e extrema carência de médicos no interior do país", afirmou. Adams lembrou que o sistema já é praticado por Cuba em acordos com outras nações.
O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, também rebateu as críticas dos que veem o programa por um viés ideológico. “A ideia é atrair o médico que esteja disposto a trabalhar. Não há um viés ideológico, mas, ao contrário, um viés humanitário”. Patriota destacou que o acordo respeita regras internacionais. “É algo aceito internacionalmente, dentro das estratégias de saúde. O acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde garante que estamos procedendo dentro das melhores práticas”, afirmou.
Barreirinha, no Amazonas um dos municípios beneficiados pela medida, também celebrou o anúnio. A coordenadora de Planejamento da Secretaria Municipal de Saúde, Thaís Caldeira, disse que a gestão está ansiosa pela chegada dos profissionais. “Acreditamos que o programa tem grande possibilidade de dar certo no interior do Amazonas porque nossa necessidade é muito grande”, disse, apontando uma questão que deve ser considerada na escolha dos profissionais. “Para nós, a preocupação é com a comunicação entre médicos e as populações indígenas de nossa cidade”, completou. A cidade amazonense é administrada por Mecias Pereira Batista (PSD), tem 27 mil habitantes, possui IDH baixo (0,574) e fica na divisa com o Pará.
De onde quer que venham, os médicos serão bem recebidos em Cabixi (RO), segundo o secretário de Saúde, Wilson de Oliveira. Para ele, só interessa saber se o atendimento será bom. “Sempre se fica com o pé atrás sobre alguém que você não conhece, se vai ser bom, se vai ser ruim. Queremos que sejam pessoas que atendam bem à população e que conheçam os princípios da atenção básica. Se vão ser cubanos, paulistas ou gaúchos, não importa”, disse. A cidade, administrada pelo prefeito Izael Dias Moreira (PTB), tem 6 mil habitantes e uma área de pouco mais de um quilômetro quadrado. Cabixi tem IDH 0,65, considerado médio.
As três cidades citadas não foram selecionadas na primeira leva de cadastros do programa. No total se candidataram 1.618 profissionais, sendo 1.260 brasileiros e 358 estrangeiros. Como não houve interesse em 701 cidades, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, firmou o acordo com a Opas para a vinda dos 4 mil médicos cubanos. Os primeiros 400 chegam na próxima segunda-feira (26).
Segundo o ministério, os cubanos serão recebidos em Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza. Como os demais estrangeiros, ficarão em alojamentos militares e farão um curso preparatório de três semanas, até 13 de setembro, abrangendo língua portuguesa, funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e legislação. Eles farão avaliações de desempenho, além de visitar unidades de saúde nas cidades em que estiverem.

Manifestações favoráveis

O presidente do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems), Antônio Carlos Nardi, é bastante objetivo no entendimento da vinda de médicos estrangeiros. “A partir do momento que os profissionais do mercado interno, formados em nossas universidades, não preencheram os postos do setor público para o atendimento básico à população no Saúde da Família e nas Unidades Básicas de Saúde, tendo sido aberto o edital para países estrangeiros com acompanhamento de universidades federais e do Ministério da Saúde, somos absolutamente favoráveis a que venham e deem o que a população pede e o que o sistema necessita”, afirmou.
Desmistificando as críticas de que o problema estaria na estrutura de atendimento e não na falta de profissionais, Nardi defendeu que esta não é uma ação isolada ou eleitoreira, como acusa o Conselho Federal de Medicina. "Há um programa de qualificação ou construção de novas UBS, para dar condições de ambiência e bom exercício profissional para médicos, dentistas, enfermeiros, todas as profissões da área de saúde. Fora recursos que foram investidos para as prefeituras equiparem e reformarem UBS pré-existentes."
Nardi também considera que não há necessidade de preocupação em reservar o mercado de trabalho aos profissionais brasileiros. “É importante lembrar que são profissionais que vão atuar exclusivamente na atenção básica, fazer promoção de saúde e prevenção de doenças, principalmente as crônicas não transmissíveis. Não vão atuar em unidades de terapia intensiva ou como profissionais privados, o que, aí sim, ofereceria um risco econômico para a categoria médica”, explicou.
A prefeita de Guarujá (SP), Maria Antonieta de Brito (PMDB), rebateu as críticas contra a vinda de médicos estrangeiros com exemplo de sua própria cidade, durante audiência da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, na manhã de hoje (22). “Eles possuem esta experiência de estar lá, onde há maior necessidade, e a capacidade de entender o outro, aquele que muitas vezes vem da lama, de chinelinho”, afirmou. A prefeita assegurou que eles possuem plena capacitação em atenção básica e grande compromisso no atendimento às pessoas mais pobres.
"O maior problema na área da saúde é, sim, a carência de médicos", disse o secretário de Saúde do Estado da Bahia, Jorge Solla, também presente à audiência. “Quando se pergunta ao cidadão, ele efetivamente responde e identifica como o maior problema a falta de médicos. Ele vai ao posto e encontra enfermeiros e outros profissionais, mas não encontra médicos disponíveis para atendê-lo na hora em que necessita”, reclamou.
Solla apontou ainda que dados do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde demonstram que está crescendo a diferença entre a oferta de vagas para médicos e a quantidade de profissionais empregados. Em 2010, havia 2,6 postos de trabalho por profissional. Hoje essa relação é de três vagas para cada médico.
A polaridade estabelecida no debate sobre o tema é uma distorção da essência da questão, segundo a presidenta do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Maria do Socorro de Souza. “É um direito de cidadania da população brasileira e isso custou alto para a sociedade, que sempre teve seus direitos negados pelo Estado, principalmente na saúde”, afirmou. E prosseguiu no que acredita ser uma das fontes do problema: “O país precisa interiorizar políticas públicas focadas no fim das desigualdades regionais, porque muita gente sai do campo e das florestas para as cidades exatamente por não haver uma descentralização no desenvolvimento”, disse.

Outro lado

Em nota divulgada ontem (21), o Conselho Federal de Medicina (CFM) classificou o anúncio da vinda de médicos cubanos como "eleitoreiro, irresponsável e desrespeitoso". "O Conselho Federal de Medicina condena de forma veemente a decisão irresponsável do Ministério da Saúde que, ao promover a vinda de médicos cubanos sem a devida revalidação de seus diplomas e sem comprovar domínio do idioma português, desrespeita a legislação, fere os direitos humanos e coloca em risco a saúde dos brasileiros, especialmente os moradores das áreas mais pobres e distantes", diz a nota.
O conselho considera que a proposta não é para resolver a falta de interesse em 701 cidades pelos profissionais brasileiros, mas sim uma ação premeditada. "Trata-se de uma medida que nada tem de improvisada, mas que foi planejada nos bastidores da cortina de fumaça do malfadado Programa Mais Médicos." A nota afirma que "serão envidados esforços, inclusive as medidas jurídicas cabíveis, para assegurar o estado democrático de direito no país, com base na dignidade humana".
Também em nota, a Federação Nacional dos Médicos acusou o governo Dilma de escravizar os cubanos. "Os contratos dos médicos cubanos têm características de trabalho escravo e só servem para financiar o governo de Cuba". O presidente da entidade, Geraldo Ferreira, questionou a qualidade profissional dos cubanos. "Segundo os testemunhos de autoridades médicas da Bolívia e da Venezuela, esses programas evidenciaram uma qualidade de médicos muito duvidosa e um sistema de atuação muito próximo ao de uma brigada militar, em lugar de profissionais da saúde", afirmou.
A oposição ao governo Dilma se utilizou das redes sociais para criticar a medida. O deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) provocou o governo escrevendo: "Nossos companheiros na importação de médico cubanos: Bolívia, Equador, Venezuela, Haiti. Mas o Lula não disse que o SUS era perfeito?".
O deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) acusou o governo Dilma de usar a Opas como “laranja” para enviar dinheiro a Cuba. "Vão pagar R$ 500 milhões para serem repassados a Fidel Castro", escreveu, fazendo referência ao fato de que o dinheiro não será pago diretamente aos profissionais, mas repassado à Opas, que definirá quanto cada médico vai receber, com base no sistema cubano. "Já estamos avaliando os termos desse acordo e não vamos admitir qualquer ação com base no trabalho médico escravo", completou.
Com informações da Agência Senado, da Agência Brasil e do Brasil 247