Novo indicador de qualidade de vida urbana, idealizado pelo Observatório das Metrópoles, escancara as desigualdades locais e regionais no acesso ao bem-estar
O Índice de Bem-Estar Urbano, lançado quarta-feira (21) pela rede de pesquisa Observatório das Metrópoles, mostra que as regiões metropolitanas brasileiras apresentam profundas desigualdades, tanto entre si quanto dentro de seus territórios. Calculado de maneira semelhante ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – mas com indicadores diferentes – o Ibeu pode se tornar uma importante ferramenta para a criação de políticas públicas condizentes com as necessidades das cidades.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores de 15 diferentes núcleos por todo o país elegeram dados coletados pelo Censo de 2010. A ideia era dar uma dimensão coletiva ao índice, ou seja, compreender se o ambiente compartilhado pelas pessoas é adequado. “Na última década presenciamos mudanças significativas nas condições sociais, associadas ao bem-estar individual. O IDH é uma manifestação dessa melhora, pois junta educação, longevidade e renda, que são dimensões individuais”, afirma Marcelo Ribeiro, um dos organizadores da publicação que traz a fundamentação do Ibeu. “Mas essas dimensões não refletem a qualidade de vida nas cidades, que é o ambiente da grande maioria dos brasileiros.”
Por isso, o Ibeu reúne indicadores que afetam coletivamente a sociedade. São eles: mobilidade (tempo do trajeto casa-trabalho); condições ambientais (arborização, ausência de esgoto a céu aberto e de lixo); condições habitacionais urbanas (aglomerado subnormal, densidade domiciliar, densidade morador por banheiro, material das paredes e espécie de domicílios); atendimento de serviços coletivos urbanos (água, esgoto, energia e coleta de lixo) e infraestrutura urbana (iluminação pública, pavimentação, calçada, meio-fio, boca-de-lobo, rampa para cadeirantes e identificação de logradouro).
Cada uma das cinco dimensões recebeu peso igual na composição do índice, que varia entre 0 (pior avaliação) e 1 (melhor). Assim como no IDH, o resultado não está atrelado a uma hipotética situação ideal, mas sim às melhores e piores condições em cada um dos itens encontrados nessas regiões.
Outra característica do Ibeu é que ele traz informações sobre as regiões metropolitanas, sobre cada uma das 289 cidades que as compõem e também sobre os bairros (ou áreas de ponderação, na nomenclatura do IBGE).
Isso permite uma análise aprofundada das diferenças de bem-estar dentro das cidades, e não apenas entre as RMs.
Os resultados das análises mostram que Campinas é a única região metropolitana com índice excelente de bem-estar urbano (0,873). São Paulo está na 8ª posição (0,615) e Rio de Janeiro, em 12º lugar (0,507), abaixo da média nacional de 0,605. Belém traz os piores indicadores (0,251). Esses números mostram uma forte desigualdade regional. Entretanto, os dados mostram que as desigualdades são fortes também dentro das RMs. Assim como Belém apresenta algumas regiões de alto bem-estar, Campinas também tem suas áreas problemáticas.
Das cinco dimensões avaliadas, a mobilidade é a que recebeu pior avaliação. Embora Florianópolis e Campinas apresentem resultados considerados muito bons (0,962 e 0,932, respectivamente), a média nacional ficou em 0,383, afetada pelos péssimos resultados de Rio de Janeiro e São Paulo (0,015 e 0,032).
Apesar da facilidade com que esse tipo de indicador acaba sendo usado para fins propagandísticos (São Caetano do Sul é um exemplo de cidade que costuma alardear sue ótimo Índice de Desenvolvimento Humano), os criadores do Ibeu alertam para o equívoco dessa visão. “Nesse sentido, não queremos que o Ibeu vire um IDH”, afirma Orlando Júnior, organizador do estudo que gerou o índice. “Ele foi criado para uso acadêmico e para ajudar na criação de políticas públicas. Não é uma corrida para ver quem chega primeiro”, ressalta.
Créditos: Rede Brasil Atual
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