Na primeira metade da década de 70, a UFPB montou um laboratório revolucionário para a realidade científica do País. O Laboratório de Energia Solar (LES) mirava um futuro onde as energias limpas dominariam o planeta. Em quatro décadas de atividades, os avanços foram poucos, devidos à escassez de recursos para pesquisas e ampliação do laboratório. A falta de verbas também inviabilizou a produção de protótipos e, consequentemente, a oferta comercial de produtos criados pelos pesquisadores, como geladeiras, fogões e até equipamentos de ar-condicionados movidos a energia solar.
A partir de 2011, ano da criação do Centro de Energias Alternativas e Renováveis (a partir da junção do LES com o Departamento de Engenharia Elétrica do CT), o LES recebeu uma verba federal de R$ 7 milhões, sendo de R$ 4,2 mi em construção civil, R$ 1,8 mi em equipamentos, e R$ 1 mi na construção do maior laboratório a céu aberto do Brasil em energias solar fotovoltaica. Esse laboratório será a cobertura das edificações do CEAR e tem a perspectiva de gerar 300 KWH através da conversão da energia solar em energia elétrica.
O pesquisador Zaqueu Ernesto lembra que, em 40 anos, o LES passou por situações financeiras críticas, principalmente na década de 80 e 90. “Nas décadas de 80 e 90, o País não investiu nas pesquisas e no desenvolvimento das energias renováveis. O LES passou por esse período crítico, onde sobreviveu através de recursos orçamentários de custeios da UFPB para sua manutenção e de esforços individuais dos pesquisadores juntos às agências de fomentos, onde os recursos eram oriundos do orçamento da UFPB e do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
Para o professor Rogério Kluppel, apesar da melhoria na última década, os incentivos do Governo Federal sempre foram insuficientes. “O governo brasileiro sempre investiu muito pouco em projetos de energia solar. Na maioria das vezes, foi o esforço pessoal de cada professor, se especializando no exterior, que fez com que avançássemos nas pesquisas”, disse. O laboratório não tem verbas o suficiente para pesquisas e construção de protótipos, por exemplo. Pior: a interiorização dos estudos (principalmente no Cariri e no Sertão) é inviabilizada pela falta de estímulo federal. Traduzindo: falta dinheiro para o processo de interiorização, embora Cariri e Sertão da Paraíba registrem as maiores incidências de luz solar do País e temperaturas altíssimas. O professor Rogério Kluppel, da UFPB, conta que um laboratório chegou a ser montado em Olivedos, no Sertão, mas faltou verbas para a manutenção.
Foram quatro décadas jogadas fora? Não. Claro que não. E temos sim muito o que comemorar na área de pesquisas sobre energia solar. Projetos desenvolvidos na Paraíba tornaram-se sucesso em outras regiões do País, principalmente nas regiões Sudeste e Sul. Kluppel lembra que um dos principais projetos desenvolvidos nas ultimas quatro décadas pelo LES foi o sistema de aquecedores de água solar, que foi estudado inicialmente na década de 70 na Paraíba e deu tão certo que foi espalhado pelo Brasil.
Ele explica que o aquecedor solar não deslanchou no Estado, apesar de ter sido inicialmente estudado e aprimorado aqui, porque a necessidade era maior em outras regiões do Brasil, mais frias. “O aquecedor se popularizou depois de 20 anos e é fabricado em todo o País. Hoje, já começa a ser utilizado na Paraíba. Temos até uma fabrica de aquecedores em João Pessoa, para ser usado em chuveiro, banheira, lavatório, cozinha e etc”, frisou. Segundo o professor o aquecedor solar começou a ser mais utilizado no Estado depois que a energia elétrica ficou mais cara, logo depois do apagão de 2001.
Ar-condicionado
Imagine uma fonte de energia solar que promove calor e aquecimento sendo utilizada para produzir frio. Está é uma realidade para os professores e pesquisadores do Centro de Energias Renováveis (CEAR) da UFPB. Há uma década eles vêm trabalhando num projeto para criação de um ar condicionado solar. De acordo com o professor pesquisador CEAR, Rogério Pinheiro Kluppel, a elaboração do equipamento é possível, entretanto é necessário avançar nas pesquisas de campo, para que o aparelho seja aprimorado e possa ser vendido no mercado. “Trabalhamos neste projeto há dez anos, interrompemos os testes, logo depois que começou a reforma do centro, entretanto pretendemos retornar o protótipo assim que as obras forem concluídas”, disse o professor.
O sistema que também é conhecido como ar-condicionado dessecante, consiste no condicionamento de ar onde a redução da temperatura e controle do ar da umidade, que é secada com energia solar e logo depois revertida em massa fria. “No caso da instalação de um equipamento deste pode gerar uma economia de até 40% nas contas de energia, além disso, devo lembra que a região nordeste do Brasil é a melhor para se utilizar energia solar, devido ao clima quente de poucas chuvas”, frisou o professor.
De acordo com o acadêmico a base do equipamento é a secagem solar e reumidificação do ar que é controlado através de coletor solar. “Necessitamos de mais pesquisas para viabilização deste projeto, estamos dez anos trabalhando nisso, temos varias teses de doutorado nesta área, entretanto as pesquisas estão paradas devido à reforma do prédio, também tivemos problemas como um das partes que foi mal projetado e agora estamos construindo outro protótipo”, explicou o professor.
Conversão
As pesquisas de transformação de energia solar em energia elétrica no LES só começam a ser exploradas agora, com a criação do Cear, onde os estudantes de Engenharia Elétrica deram o pontapé nas primeiras pesquisas. O professor Zaqueu Ernesto explica que atualmente existem duas tecnologias de conversão de energia solar em energia elétrica: a conversão térmica e a fotovoltaica. No entanto, ambas não foram muito aprofundadas nem na Paraíba nem no âmbito nacional.
“O LES realizou pesquisas no parte de coletores por concentração e em superfícies seletivas que servem para captação da energia solar para produção de vapor, que é utilizado nas usinas termossolares. Mas, na conversão fotovoltaica, formamos pessoas que, posteriormente, foram trabalhar no exterior. Não só o LES, mas em todo o Brasil, as pesquisas em fotocélulas são ainda incipientes”, argumentou.
O professor ainda esclarece que a conversão térmica é bem mais simples que a fotovoltaica, por isso ainda não houve viabilização do uso da nossa energia solar em eletrodomésticos, eletroeletrônicos e automóveis. “A energia solar é viável tecnicamente e economicamente para conversão térmica, ou seja, para aquecimento em diversos setores da economia. A conversão fotovoltaica, que é a conversão direta da energia solar em eletricidade, é modular e depende bastante da distância entre a rede convencional, da tecnologia e da aplicação”, explicou.
Mais econômica
Em João Pessoa algumas empresas resolveram aderir ao uso de energia solar, o Ambassador Flat, localizado na beira mar do Cabo Branco, utiliza a tecnologia há dez anos. Segundo José Inácio Pereira, diretor do Flat, eles resolveram utilizar este tipo de tecnologia porque além de gerar economia é um método ecologicamente correto. “Nosso sistema de água quente com energia solar, existe a uma década e funciona da seguinte forma: Sistema aquece a água em três tanques térmicos que acumula o liquido para ser utilizado durante o dia e noite, além disso, quando temos longos períodos chuvosos usamos o aquecedor a gás , que é uma opção para economizar energia”, disse o diretor.
No outro extremo, no interior do Estado, os projetos envolvendo energia solar não foram muito adiante, apesar de cidades do Cariri e Sertão terem altos índices de luminosidade e temperaturas elevadas. “O LES desenvolveu tecnologias que podiam ser aplicadas nessas áreas como, por exemplo, na cidade de Olivedo, onde foi feito um grande projeto de dessalinização de água. Mas a missão do LES foi apenas desenvolver a tecnologia e repassar para a sociedade. No entanto, projetos dessa natureza precisam de apoio político dos Governos Federais e Estaduais, pois envolvem recursos importantes para se tornar realidade. O LES tem a tecnologia e o conhecimento, mas precisamos de parceiros para levar esses benefícios para as regiões que tenham potenciais de utilizações dessa tecnologia”, revelou o professor Zaqueu Ernesto.
Créditos: Portal Correio
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