A presidenta Dilma Rousseff escolheu a polarização com o passado do PSDB no primeiro pronunciamento após conhecidos os resultados do primeiro turno. A candidata do PT à reeleição terá confronto com o tucano Aécio Neves no segundo turno, o quarto seguido entre os dois partidos. No discurso, a candidata deu tom positivo aos números finais, menores que os esperados pelo governo e que os projetados pelos institutos de pesquisa – a petista teve 41,58% dos votos válidos, contra 33,57% do adversário e 21,31% de Marina Silva (PSB)
"O povo brasileiro diz 'Não quero os fantasmas do passado de volta'", afirmou,"como a recessão, o arrocho, o desemprego. Teremos novamente uma disputa com o PSDB, que governou para apenas um terço da população, abandonando os que mais precisam. O povo brasileiro não quer de volta os fantasmas do passado, aqueles que quebraram o país três vezes, juros de 45%, desemprego massivo, arrocho salarial, e jamais promoveram, quando tiveram oportunidades, políticas de redução da desigualdade."
Dilma argumentou que a sociedade saberá rejeitar "aqueles que viraram as costas para o povo" e conclamou a união de todos os que tiveram a vida melhorada pelos governos do PT para que evitem uma derrota do atual projeto. "O principal recado que recebi, que é um recado que me orgulha, me estimula, reforça as minhas convicções e as minhas energias é que o povo anseia por mais avanços, e disse ver no projeto que eu represento a mais legítima força de mudança. É uma responsabilidade que nós temos que assumir perante a história. A maioria do povo brasileiro votou dizendo que a melhor mudança, a mudança mais segura é acelerar o Brasil que estamos construindo."
No discurso, Dilma agradeceu especialmente ao vice-presidente Michel Temer, do PMDB, a quem classificou como um trabalhador incansável na campanha do PT, e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela recordou brevemente a morte de Eduardo Campos, candidato do PSB vítima da queda de seu avião de campanha, em 13 de agosto, e se contrapôs à substituta de Campos, Marina Silva, com quem manteve tom de tensão ao longo de todo o primeiro turno.
Diferentemente de Aécio, que acenou com a intenção de contar com o PSB no segundo turno, a petista não fez menção direta a esta questão, e fez referência a uma frase recorrente da ex-ministra, que acusava o PT de tentar prejudicá-la vendendo a imagem de exterminadora do futuro. "Essa luta é a luta dos construtores de futuro, construtores de futuro que não deixarão jamais o Brasil voltar pra trás."
O tom do discurso de Dilma retomou linhas defendidas em seu último programa de TV no primeiro turno, quando prometeu "Governo novo, ideias novas". A presidenta reiterou a visão de que o melhor caminho para promover mudanças é garantir a continuidade de um governo que se vê comprometido com elas. Neste sentido, ela voltou a dizer que o combate à desigualdade e a luta contra a corrupção serão os eixos centrais de seu segundo mandato.
Dilma fez questão ainda de enfatizar a necessidade de mudanças no sistema político. Esta noite o PT viu sua bancada na Câmara cair de 88 para 70 deputados. "Tenho a absoluta certeza, absoluta, que nós precisamos fazer a reforma política. Reforma essa que é a mãe de todas as reformas. Vamos fazer tudo o que estiver no nosso alcance para que haja a possibilidade, e sobretudo a certeza de transformar essa reforma em realidade. O primeiro passo nós todos sabemos qual é: mobilizar a população num plebiscito."