domingo, 4 de março de 2018

O risco financeiro na conjuntura internacional

A economia internacional atravessa uma recuperação moderada – com uma leve melhoria do crescimento nos países centrais tomados de conjunto – que tem os melhores resultados registrados nos anos pós Lehman, mas insuficiente para superar o estancamento reinante desde 2008/9.
Além da propaganda centrada naturalmente no primeiro aspecto, os organismos internacionais como o FMI ou a OCDE, não podem evitar reconhecer o segundo. Segundo a OCDE, a dinâmica atual global alcançaria seu ponto máximo em 2018, para em seguida voltar a declinar. Enquanto que de acordo com o FMI, o crescimento promédio das economias avançadas voltaria a retroceder rapidamente no próximo ano.
A contradição relativa que declara uma recuperação um pouco mais vigorosa assentada sobre fundamentos que permanecem fracos, abre espaço a duas discussões intimamente entrelaçadas. A primeira se refere aos problemas de tipo estrutural, que afetam não só a curto, mas também a médio e longo prazo, ou dita de outra forma, afeta o destino da economia capitalista. Esta discussão é abordada num artigo recente do Esquerda Diário.
Nesse artigo ressaltamos o elemento particularmente novo em termos estratégicos, que os organismos internacionais estejam “perdendo a esperança” no médio/longo prazo, relacionando este assunto com o lugar das “reformas”, da previdência, trabalhista no que se poderia definir como uma sorte de “neoliberalismo senil”. A segunda discussão mais apontada é a que desenvolveremos aqui e se refere ao estado das tensões financeiras que se acumulam na conjuntura.
Tal com vem acontecendo ao longo dos quase dez anos pós Lehman – seguindo a norma das décadas neoliberais – a economia continua se assentando em um crescimento exuberante dos mercados financeiros. Como declara o economista/financista argentino José Siaba Serrate, o mercado altista começou em 2009 e a partir daí a bolsa – de Wall Street – multiplicou por quatro as cotizações.
Michael Roberts agrega que as empresas do índice S&P 500 compraram 3,5 bilhões de dólares de suas próprias ações entre 2010 e 2016, o que representa quase 50% a mais que na expansão anterior. Mas o específico dos anos pós crise 2008/9 não é só a velocidade do crescimento dos ativos financeiros, mas também que esse aceleramento goza de uma base particularmente débil na “economia real” que não consegue recuperar os níveis de crescimento pré crise. Tratamos deste assunto em diversas oportunidades através da abordagem crítica da tese do “Estancamento secular”.
As velocidades contraditórias que caracterizam o ritmo de crescimento da economia, por um lado, e dos ativos financeiros, por outro, acrescentam persistentemente o risco de estouro. Se trata de um elemento que está alcançando protagonismo em uma conjuntura assinada por uma série de particularidades. Por um lado, o crescimento da bolsa tomou especial impulso depois do ascenso de Trump no poder, dando lugar ao chamado “Trump rally” que abordamos em ocasiões anteriores. Por outro lado, ainda que exista uma melhoria na performance das principais variáveis estruturais da economia global – como a inversão, a produtividade ou o comércio internacional – o progresso resulta demasiado débil, motivo pelo qual prossegue a dinâmica de velocidades contrastantes. Por último, o ascenso prolongado dos mercados de valores que roça máximos históricos, faz pensar que cedo ou tarde vai se produzir o que os financistas chamam de uma “correção”. Vejamos alguns dados.
Segundo o FMI, o valor das ações continua seu ascenso e está próximo de máximos históricos. De acordo com a OCDE, os riscos financeiros também se incrementam nas economias avançadas, com o longo período de baixas taxas de juros muito baixos para os empréstimos e um aumento da dívida nos setores empresarial e familiar. Agrega que os riscos tendem a ser muito mais graves hoje há uma década, devido não somente à projeção de balances inflados dos bancos centrais, mas também à sobrevalorização dos ativos (os ditos do FMI, a OCDE e Stephan Roach estão extraídos do artigo de Michael Roberts, Previsões econômicas para 2018: a tendência e os ciclos).
De sua parte, Roberts aponta que os mercados de valores se encontram extremadamente sobreavaliados pelo menos em relação à tendência histórica. E agrega que “A relação preço-lucros ciclicamente ajustada (CAPE) de 31,3 é atualmente ao redor de 15% mais alta do que era a meados de 2007, antes de estalar a crise das suprime. Aponta que de fato o índice CAPE só foi mais alto do que atualmente duas vezes em seus 135 anos de história – em 1929 e em 2000”.
Um executivo argentino de banca privada aponta que nas bolsas vemos hoje uma euforia absoluta e em particular, nas norte-americanas. Euforia que se estende aos mercados emergentes que estão no máximo há 10 anos e ao Japão que alcança níveis não vistos desde 1991. Agrega que a China está voltando aos valores de 2015, que o índice Bovespa brasileiro alcança máximos históricos e que na Argentina o Merval parece não ter teto. Por outro lado – e como declara a fonte mencionada – a baixa volatilidade reinante acompanha os máximos da bolsa. Neste sentido agrega que o indicador que mede o sentimento altista nos inversores se encontra em 64,4% e o dos baixistas em 13,3 sendo que a última vez que registrou uma situação similar foi em 1987, quando se produziu o crack da bolsa dos Estados Unidos. Cabe agregar que nos últimos dias, Wall Street acumula quedas moderadas – o que se considera por agora uma “tomada de lucros” – que está repercutindo no Merval (principal Mercado de Valores de Buenos Aires, Argentina).
Siaba Serrate também declara que a Bolsa de Wall Street cotiza em máximos depois de alcançar uma catarata de recordes em 2017. Agrega que se antes da presidência de Trump o “bull Market” (mercado altista) nunca tinha passado o umbral de 17 vezes os lucros projetados do ano seguinte, hoje se aproxima a um múltiplo de 18. Serrate afirma que a última “correção” de Wall Street verificou uma queda de 14% e se produziu em 2016. E que desde então o crescimento registrado dos valores resultou 45%, enquanto que a maior queda de Wall Street – que ocorreu em 2017 – foi de apenas 3%. Pelo que, segundo Serrate, “uma oscilação baixista não deveria surpreender a ninguém”. A ótica financeira de Serrate é tranquilizadora, apelando à “fortaleza dos fundamentos”, a “robustez da economia global”, o enorme cuidado de Trump de não provocar uma decaída em temas que resultam sensíveis ao rumo da bolsa ou o prognóstico de crescimento em lucros em território norte-americano pela rebaixa impositiva. Ainda que admita que “o aumento das cotizações foi ainda mais vibrante que o avanço dos fundamentos” e que – pelo menos por agora – Trump a tem complicada, e segundo Serrate haveria “um espaço mais que folgado para acomodar uma correção sem colocar a tendência de fundo em causa”.
O assunto é que as possíveis derivações de uma “correção” não podem se desvincular nem da profundidade dos fatores estruturais nem das condições da “política”
Por um lado, é certo que as condições da bolsa se parecem muito com as do momento prévio à “correção” de 2016. Já a meados de 2015 a proporção entre o valor das ações e o PIB se encontrava nos Estados Unidos em 123% comparado com uma média de 68% durante os longos 65 anos prévios. Esse valor maior que o de 2007 só tinha sido superado pela bolha das ponto.com no ano 2000. Pelo qual se considerava – já em 2015, recordamos – que era necessária uma queda da bolsa de 50% para então assim retornar à elevada média histórica. 
Também o índice CAPE ao que faz referência Roberts, se encontrava em 27% naquele momento e já se falava de que seu valor só tinha sido superado no ano 2000 ou no crack de 1929. Também as bolsas de Shangai e Shenzhen se encontravam em 2015 com valores que se direcionavam aos atuais, quando em agosto se produziu um desabamento que sacudiu os mercados internacionais. Tanto o episódio das bolsas chinesas como a forte “correção” de Wall Street em 2016 foram absorvidos e não se tornaram em nada parecido a um Lehman Brothers. 
Também é certo que na atualidade e além das múltiplas discussões sobre os efeitos da rebaixa impositiva de Trump que beneficia no essencial a 1% da população norte-americana mais rica, os lucros depois de impostos vão se incrementar. Isso poderia reforçar a estabilidade da rentabilidade que segundo Roberts, se verificou em 2017 depois do descenso em 2014/16. Por outra parte, não cabem demasiadas dúvidas de que Trump fará todo o possível para não desagradar a Wall Street devido que uma derrubada financeira sem controle guardaria uma altíssima probabilidade de se transformar no fim de seu mandato.
Entretanto, as condições estruturais dizem que a debilidade é profunda e que o capital carece por agora de uma “nova empresa” que fortaleça os “fundamentos” a níveis qualitativos. Enquanto isso, o incremento dos ativos financeiros continua se separando aceleradamente da produção de riqueza efetiva (ou da “economia real”) e isso cria persistentemente as condições para uma nova catástrofe – a evolução disparatada da oscilante bolha do Bitcoin é sintoma disso. É duvidosa ainda a magnitude de capital que poderia virar em direção aos Estados Unidos depois da reforma fiscal e, em todo caso, o mais provável é que essas massas de dinheiro incentivem uma nova bolha e agreguem pressões sobre a economia mundial. 
Inclusive se resulta altamente provável que o novo presidente da Fed continue a linha conservadora de Yellen, as tentativas de “normalizar” as taxas e a injeção de dinheiro – uma tendência internacional – em uma situação “anormal” que arrasta sérios riscos. Mais ainda quando o dinheiro barato estimulado desde as políticas de Estado, representa um pilar chave de uma recuperação que permanece débil.
Por último, a economia pensada por fora da política carece de entidade. Uma “correção” da bolsa ou uma soma delas finalmente absorvidas pela economia sem maiores descalabros, resultam sempre prováveis. Mas não podem pensar as derivações de uma situação tal no antigo cenário de 2015 ou 2016. Agora Donald Trump habita a Casa Branca, Theresa May comanda os vaivéns do Brexit, uma debilitada Ángela Merkel, a duras penas, consegue gestar as condições para seu quarto mandato, a agitação independentista na Catalunha continua e Macrón tenta com extrema dificuldade devir o garantidor da unidade europeia. Enquanto isso a China continua na corrida como fator ameaçador e crescem as tensões militares globais. Como declaramos em diversas oportunidades, as consequências políticas derivadas de um crescimento econômico particularmente débil, estão chamadas a repercutir cedo ou tarde sobre a própria economia.
Mas ainda que nenhuma grave ruína ocorresse – pelo menos no imediato – o elemento mais novo seria que os organismos internacionais estão perdendo o último que se perde e isso sucede casualmente quando a economia mundial mostra sua melhor performance desde a queda de Lehman. Mas disto falamos extensamente em "Um diagnóstico para a economia mundial e o contrário do reformismo" Por Paula Bach
Créditos: Esqerda Diário

sábado, 3 de março de 2018

Temer dará R$ 42 bi exclusivos para armas enquanto saúde e educação estão fora dos planos

Resultado de imagem para Temer
O presidente Michel Temer se reuniu com governadores e afirmou que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) abrirá uma linha de crédito de R$ 42 bilhões para financiar um reequipamento das polícias locais, estaduais. Enquanto o golpista reserva um pacote de ataques para precarizar a vida dos trabalhadores e da juventude usando o argumento da crise, ele consegue bilhões para a repressão.

Temer, na reunião com 17 governadores, disse que vários estados recorrem ao governo federal pedindo ajuda com a segurança pública. O presidente golpista falou que essa tarefa não é apenas da União, mas também dos governadores. Com essa justificativa, ele anunciou a concessão de crédito do BNDES para comprar mais viaturas, equipar a polícia e ampliar a coordenação do setor. Do crédito de R$ 42 bilhões, R$ 33 bilhões será do BNDES, ao longo de 5 anos. A origem dos R$ 9 bilhões restantes não foi informada, e R$ 5 bilhões já estarão disponíveis em 2018 para os Estados.

A crise no Brasil é uma realidade. Temer, no entanto, escolhe quem ele quer que pague por ela. Ao aplicar a reforma trabalhista, congelar gastos na educação e deixar servidores ficarem sem receber salário enquanto o governo federal consegue um crédito de bilhões que não é usado para nenhuma melhora real na vida do povo pobre, e sim destinado para a polícia repressora se armar mais, fica muito claro: para ele, não são os capitalistas que criaram a crise que têm que arcar com as consequências, e sim os trabalhadores e a juventude.

O governo pode tentar enganar o povo de qualquer forma, mas suas ações revelam que o argumento da crise só vem para mascarar o plano de vida miserável que é reservado para quem realmente sustenta o país, os trabalhadores. O problema não é dinheiro, tanto que o presidente acabou de conseguir R$ 42 bilhões. O problema é que o investimento desse dinheiro é arbitrário.

Temer reserva um futuro precário para o povo pobre, com condições de trabalho inaceitáveis, com a polícia muito fortalecida para tocar o terror. Não podemos aceitar que esse governo não pague salários, não invista em educação e conceda R$ 42 bilhões para a repressão. Foto: DM.
Créditos: Esquerda Diário

Trauma raro no pescoço causa AVC

Um homem de 28 anos, saudável, acostumado a fazer longos percursos em trilhas com uma mochila nas costas, é internado por apresentar sintomas de Acidente Vascular Cerebral (AVC). A ocorrência, incomum para uma pessoa dessa idade, levou os médicos do Hospital Universitário (HU) da USP a realizar uma exaustiva investigação para determinar sua causa. O estudo concluiu que a artéria carótida, que leva o sangue ao cérebro, sofreu um traumatismo repetitivo gerado pelo osso hioide, existente no pescoço. 

O trauma prejudicou o fluxo sanguíneo para o cérebro e levou ao AVC.
O caso é descrito na revista eletrônica Autopsy and Case Reports (A&CR), publicada pelo HU. “Um ano antes, o mesmo paciente havia apresentado quadro clínico semelhante nas mesmas condições, ou seja, carregando mochila em uma trilha”, conta o médico Fernando Peixoto Ferraz de Campos, da Divisão de Clínica Médica do HU, um dos autores do artigo.
“Naquela oportunidade a paralisia foi revertida, o exame de ressonância nuclear magnética do cérebro não identificou nada de anormal e o paciente retomou sua rotina”, afirma Campos. “No entanto, ele voltaria a ser internado, apresentando um quadro semelhante, porém desta vez constatou-se o AVC, tanto pelo exame clínico como por exames de imagem.” Segundo o médico, o AVC é mais frequentemente encontrado em pessoas de idade mais avançada, sendo incomum em um jovem de 28 anos, o que levou à decisão de realizar uma investigação minuciosa para elucidar sua causa.
“A investigação descobriu que ‘o corno maior’, ou seja, a extremidade posterior do osso hioide, osso do pescoço em forma de U que dá sustentação à laringe, apresentava íntimo contato e traumatizava a artéria carótida interna, uma das artérias que levam o sangue para a cabeça, o que não é normal”, relata Campos. “Se essa extremidade for grande e traumatizar repetidamente a carótida, a artéria sofre uma lesão, afetando o fluxo de sangue e propiciando a formação de coágulos, que ao se desprenderem vão obstruir as artérias cerebrais, causando o AVC.”
O paciente foi submetido à cirurgia. O exame de um fragmento da carótida retirado durante a operação mostrou que o trauma lesou as camadas da artéria e proporcionou a formação de placas de ateroma (depósito de gordura e tecido fibroso na parece do vaso) e a formação de trombo, um coágulo de sangue organizado e aderido à parede da artéria no local da lesão.
Uma pesquisa na literatura médica encontrou relatos de outras situações de risco para traumas sobre a carótida causados pelo osso hioide. “No esporte, por exemplo, este evento já foi descrito com um jogador de golfe, que ocorre quando o jogador dá uma tacada e gira o pescoço junto com o corpo”, afirma Campos. “Também foi reportado o caso de um pedreiro que apresentou a lesão vascular, causada pelo fato de carregar peso sobre a cabeça.”
Os autores constataram que o paciente estudado possuía o corno maior do osso hioide mais desenvolvido à direita e, pelo fato dos dois episódios terem ocorrido em situações semelhantes, postulou-se que a mochila pesada, carregada nas costas, levava o tronco para trás. “Para manter o centro de gravidade do corpo, o paciente puxava o pescoço para a frente, o que proporcionava maior contato entre a extremidade do osso hioide e a carótida”, conta o médico.
O tratamento do paciente consistiu na remoção cirúrgica do “corno maior” do osso hioide e na retirada do segmento lesado da artéria carótida, substituída por um enxerto feito com veia safena (extraída da perna). “O controle do paciente, realizado durante seis meses, demostra que ele tem uma vida normal”, destaca Campos. “A publicação deste estudo de caso tem o consentimento informado do paciente, bem como a aprovação do comitê de ética médica do HU, de acordo com a política internacional dos editores de revistas médicas (ICMJE).”
Editada pelo HU, a revista eletrônica A&CR começou a ser publicada em 2010. “A intenção sempre foi e será a valorização da autópsia, um exame que tem apresentado progressiva desvalorização na comunidade médica mundial”, afirma o professor. “Além disso, a correlação anátomo-clínica e radiológica estimulada pelos artigos demostra que o periódico médico é um importante recurso didático dentro do ambiente universitário.”
Campos destaca que o HU possui um Serviço de Patologia onde autópsias são realizadas de forma acadêmica. “Elas são um material didático-científico muito rico, que serve como produto para reuniões de correlação anátomo-clínica compartilhada com outras universidades brasileiras e de Portugal através de videoconferência.” Editada trimestralmente, a publicação conta com textos em inglês, sendo indexada em bases de dados nos Estados Unidos. A revista pode ser consultada no site www.autopsyandcasereports.org e o artigo está disponível disponível neste linkFoto: cedida pelo pesquisador
Créditos: Jornal da USP

sexta-feira, 2 de março de 2018

Brasil tem a penúltima taxa de crescimento no mundo

A economia brasileira ficou na vice-lanterna do crescimento global. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) ficou na penúltima posição de uma lista de 33 países, segundo ranking elaborado pelo GLOBO com base em números da Bloomberg. Apenas a Nigéria, que também sai de recessão profunda, cresceu menos que o Brasil. 
Os países que mais cresceram em 2017 foram China e Romênia, cujos PIBs avançaram 6,9%. Na China, o resultado foi o melhor desde 2015, superando a meta estipulada pelo governo, que era de 6,5%. O resultado surpreendeu também economistas, que previam crescimento menor por causa dos esforços de Pequim para frear a concessão de crédito diante do aumento do estoque de dívida.
O desempenho brasileiro em 2017 foi bem menor do que o da média dos países desenvolvidos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que esse grupo de economias deve ter crescido 2,3% no ano que passou. Quanto aos emergentes, a expectativa é que o PIB tenha avançado 4,7%. O resultado brasileiro jogou para baixo o desenvolvimento econômico de América Latina e Caribe: o FMI projeta aumento de apenas 1,3% em 2017, fazendo da região a de mais lento crescimento no mundo. As informações são O Globo.
Créditos: Brasil 247

Intervenção no Rio escancara apartheid social que toma conta do país


 Veja alguns termos utilizados por defensores de direitos humanos e ex-autoridades das áreas da Justiça e de Segurança para classificar a Intervenção Federal do Rio de Janeiro: "Absurdo", "decisão extrema", "preocupante", "hipocrisia", "inconstitucional", "retrocesso", "inócuo", "covarde" foram alguns dos termos.  
Eles se reuniram nesta quinta-feira (1º) em São Paulo, em evento promovido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), e prometeram acompanhar de perto os desdobramentos da iniciativa, que coloca os mais vulneráveis na mira da repressão, com elevado risco de violação dos direitos humanos, e que abala os alicerces da democracia no país, além de ser ineficaz como medida de combate à violência.  
A reunião foi aberta pelo cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, ministro de Direitos Humanos do governo de Fernando Henrique Cardoso, responsável por convocar os colegas para o que chamaram de uma "conspiração do bem", que ressaltou que o centro das preocupações dos defensores na atual conjuntura deva ser os direitos da população pobre, dos trabalhadores de baixa renda e dos jovens que vivem nas periferias do Rio de Janeiro sob ocupação.
Ele destacou que a atual situação é tão "estranha" que faz lembrar o regime de apartheid da África do Sul, com manuais que surgem na internet que orientam a população negra a portar documentos e notas fiscais de produtos e evitar o uso de furadeiras e guarda-chuvas de cabo longo, para não serem confundidos com bandidos portando armamentos ao serem abordados pelas forças de segurança.
Ministro da Defesa do governo Lula, José Viegas atribuiu a crise de segurança à descontinuidade das políticas na área, devido à alternância dos grupos políticos que chegam ao poder. "Começam um programa e não terminam nunca". Ele também ressaltou as incertezas no cenário eleitoral, que agravam a crise institucional. Segundo Viegas, caminhamos para as eleições de outubro próximo "de olhos vendados", dada a indefinição das candidaturas em todo o espectro político. 
Viegas afirmou que a "violência coletiva" se escora no narcotráfico, que detém o monopólio do comercio das substâncias ilícitas, e defendeu uma revisão da política antidrogas. Segundo ele, forças de repressão não são capazes de vencer essa dita "guerra". "Nunca ocorreu, nem aqui nem em nenhum lugar do mundo."
Ele defendeu a articulação da sociedade civil, que precisa abandonar a "timidez", principalmente durante a implementação do novo ministério extraordinário da Segurança Pública, para dizer aquilo que realmente deseja, sob pena de ser levada de roldão pelos militares, que se alimentam do vácuo institucional generalizado.
Como alternativa ao emprego das Forças Armadas, ele sugeriu a criação de uma força federal de segurança, "densa", composta eventualmente por egressos das Três Armas, sob comando civil, mas diferente da atual Força Nacional que, segundo ele, sofre pela falta de unidade de comando, de treinamento específico, é cara e "pouco efetiva". 
Custo social
Milhares de crianças sem escolas e fechamento de postos de saúde nas comunidades foram citados como exemplo do custo social "incalculável" da intervenção. Julita Lemgruber, que dirigiu o sistema penitenciário e comandou a primeira ouvidoria da Polícia do Rio de Janeiro, criticou a opção pelo "combate brutal" ao varejo do tráfico, nas periferias, enquanto na zona sul da cidade é possível conseguir drogas pelo telefone.
"Na favela, a única política pública é o fuzil apontado para a cabeça do morador", afirmou Julita, que destacou que foram gastos mais de R$ 500 milhões durante a ocupação pelas Forças Armadas, que durou 15 meses, no Complexo da Maré. "É covardia e desperdício de dinheiro público. Ninguém está preocupado com o bem-estar de quem mora na favela." 
Ela também classificou a intervenção como uma jogada política com vistas a aplacar os índices de impopularidade do governo federal e de Temer, em especial, e frisou que a decisão foi tomada em reunião, durante o Carnaval, que contou com a participação de Moreira Franco (Secretaria-geral da Presidência) e marqueteiros. A jogada publicitária também foi auxiliada pelos veículos da Rede Globo que, durante os dias de folia, reprisou a exaustão cenas de violência nas praias cariocas, de modo a legitimar a medida de força. 
Para o embaixador Tadeu Valadares, ex-diretor de Direitos Humanos do Ministério das Relações Exteriores (MRE), a intervenção militar no Rio é consequência do "golpe parlamentar, econômico e midiático", que ameaça a democracia desde 2016. Impeachment, a condenação do ex-presidente Lula pelo tribunal de Porto Alegre e agora a intervenção, segundo ele, são três elos de uma mesma corrente que reduz a população à condição de "não cidadãos". "Já somos cidadãos um tanto em processo de atrofia." 
O ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo afirmou que o decreto de intervenção é "absolutamente equivocado", pois criou situação nova no Direito Constitucional ao "fatiar" as atribuições do governo do Rio, com ingerência federal apenas no âmbito da segurança pública, o que contribui para tornar o cenário ainda mais "caótico", segundo ele. 
Lembo ressaltou o passado de "aberturas e fechamentos" ao longo da história do Brasil e se mostrou pessimista com o que chamou de "caminhada amarga" para o futuro da democracia. Segundo ele, depois da intervenção, virá o Estado de Defesa e de Sítio, medidas extraordinárias que constam na Constituição e preveem, aí sim, o cerceamento de direitos dos cidadão. "Só os ingênuos não percebem. Teremos eleições? É uma pergunta."
Único a destoar do tom geral de condenação à intervenção, o jurista José Gregori, ministro da Justiça do governo FHC, ressaltou que é expediente previsto na Constituição, e teve que ser acionado dada a situação de "anomia" e "não governo" que se verificava, com a população "prestes a passar ao desespero", com assassinatos "em todos os níveis sociais e latitudes".
Ainda que tenha defendido a aplicação do dito "remédio amargo", Gregori exortou os defensores dos Direitos Humanos e o conjunto da sociedade civil a se declararem em "assembleia permanente" para acompanhar a crise de violência e os impactos da intervenção.
Ele também apelou ao recém-empossado ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, para que volte atrás nas ações de fichamento da população das comunidades que, segundo ele, "não conferem vantagens operacionais às forças de segurança", e podem ser vistas como "indício" e "tendência" ao apartheid social. 
O ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade José Carlos Dias, que também esteve à frente da pasta da Justiça durante o governo FHC, afirmou que o momento é de "profundo desalento", com descrédito brutal nos poderes da República, inclusive o Judiciário. Ele disse que, em vez da intervenção, é necessária uma reformar dos sistemas político, jurídico, penal, além de rever a política antidrogas, mas "não existe coragem", segundo ele. 
"Enquanto não enfrentarmos o problema da descriminalização, não teremos possibilidade de caminhar", afirmou ele, relacionando à falida política repressiva ao inchaço dos presídios, onde os detentos são "tratados como animais", e recrutados pelo crime organizado. Foto: Domingos Peixoto/AP.
Créditos: Rede Brasil Atual

quinta-feira, 1 de março de 2018

Desemprego atinge 12,7 milhões de trabalhadores

Três meses após a entrada em vigor da reforma Trabalhista, que segundo Michel Temer (MDB-SP) contribuiria para a geração de postos de trabalho, aumentou o número de desempregados no Brasil. 

O desemprego atingiu, em média, 12,2% no trimestre de novembro do ano passado a janeiro de 2018, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O número de desempregados no período foi de 12,7 milhões de pessoas. 

Os dados foram divulgados ontem, (28) e fazem parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua. A pesquisa não usa somente os trimestres tradicionais, mas períodos móveis (como fevereiro, março e abril; março, abril e maio). 

A pesquisa comprova o que a CUT denunciou durante a tramitação da reforma Trabalhista de Temer. “O que gera emprego não é a flexibilização da legislação trabalhista e, sim, uma economia forte, com projetos de investimentos públicos e privados”, diz Vagner Freitas, presidente da Central. 

Os governos Lula e Dima, lembra Vagner, geraram mais de 20 milhões de empregos sem tirar um direito sequer dos trabalhadores e trabalhadoras. “Quando os fundamentos da economia são consistentes, isso quer dizer, quando a indústria cresce e o comércio e serviço refletem esse crescimento, quando há investimentos públicos e privados consistentes e valorização do emprego formal e de qualidade, como ocorreu no governo Lula, há geração de emprego decente”, argumenta Vagner.
Créditos: CUT

Emprego informal cresce e vagas com carteira diminuem

Imagem relacionadaA taxa de desemprego ficou em 12,2% no trimestre encerrado em janeiro, estável em relação ao período fechado em outubro e um pouco menor na comparação com um ano antes (12,6%), segundo o IBGE. O país tem estimados 12,689 milhões de desempregados, menos 231 mil em 12 meses. Contudo, as vagas abertas seguem sendo direcionadas ao trabalho informal.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, em um ano 1,617 milhão de pessoas entraram na força de trabalho, enquanto o mercado criou 1,848 milhão de vagas, resultando na diminuição de 231 mil desempregados. Mas, ainda na comparação com janeiro de 2017, essas vagas vêm, basicamente, do trabalho por conta própria e do emprego sem carteira: 986 mil (4,4%) e 581 mil (5,6%), respectivamente.
A ocupação também aumentou nesse período no serviço público (317 mil) e no doméstico (267 mil), de menor remuneração. O emprego com carteira fechou 562 mil postos de trabalho, queda de 1,7%.
Um ano atrás, os empregados com carteira assinada no setor privado (33,296 milhões) eram 37,7% dos ocupados – agora, representam 36,3%. Os sem carteira (10,987 milhões) passaram de 11,6% para 12% e os autônomos (23,182 milhões), de 24,7% para 25,3%.
Entre os setores, também em 12 meses, cresceu a ocupação na indústria (558 mil, 5%) e em algumas atividades de serviços. Houve queda na construção civil (281 mil, -4%). Estimado em R$ 2.169, o rendimento médio ficou estável. A massa de rendimentos (R$ 193,8 milhões) cresceu 3,6%.
A taxa na região metropolitana de São Paulo foi de 16,2% em  janeiro (17,1% em igual mês de 2017), segundo a pesquisa da Fundação Seade e do Dieese. O número de desempregados foi estimado em 1,758 milhão, menos 125 mil em um ano. Essa redução não vem da criação de vagas, mas da saída de pessoas à procura de trabalho. O rendimento médio dos ocupados foi estimado em R$ 2.033, queda de 2,1%.
Entre as regiões, a taxa foi maior na chamada sub-região leste, que inclui municípios como Guarulhos, Arujá, Suzano e Mogi das Cruzes: 18,6%. Também ficou acima da média na sudeste, onde se localiza o Grande ABC (17,4%). Foi menor na capital (15,6%).
O Ministério do Trabalho não divulgou os dados de janeiro do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Normalmente, os resultados são divulgados entre os dias 20 e 25 do mês seguinte. A pasta diz que ainda não há previsão de quando isso irá ocorrer. Foto: Carta Capital.
Créditos: RBA