quarta-feira, 7 de março de 2018

Judiciário gasta mais de R$ 85 milhões em um mês com pensões

Milhares de familiares de juízes, desembargadores e outros membros do Judiciário recebem pensões como herança – alguns, pela vida toda, como a atriz Maitê Proença, que permaneceu solteira para manter o pagamento mensal do pai procurador de Justiça.

Segundo levantamento realizado pela Pública no site do CNJ e nos tribunais, mais de 4 mil familiares de magistrados e servidores do Judiciário mortos receberam mais de R$ 85 milhões apenas em dezembro de 2017, incluindo pensões vitalícias, temporárias e pagamentos retroativos.

Os dados são referentes a 59 dos 92 tribunais e conselhos de justiça brasileiros e reúnem informações disponibilizadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) desde novembro de 2017 com dados publicados nos portais de transparência dos tribunais. Os demais órgãos não discriminaram os gastos com pensionistas nas planilhas enviadas ao CNJ ou se recusaram a disponibilizar as informações à reportagem.

Os pagamentos feitos pelo Judiciário são concentrados: apenas 91 dos mais de 4 mil beneficiados receberam quantias acima de R$ 100 mil em dezembro.
Esse grupo concentra R$ 22,2 milhões em pagamentos e representa cerca de um quarto de todos os desembolsos dos tribunais no mês com pensões. Por outro lado, cerca de 100 pensionistas receberam menos de um salário mínimo em dezembro. Nesse grupo, estão pensionistas de técnicos ou analistas judiciários. A diferença se dá porque o cálculo das pensões reflete os rendimentos do funcionário quando vivo.

Altos Pagamentos

Francisca de Assis Alves, do Ceará, recebeu o maior pagamento: R$ 7,2 milhões líquidos em dezembro. Segundo o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-CE), o valor é resultado de um processo judicial pelo atraso no início do pagamento da pensão da viúva de um juiz do trabalho. Atualmente, Francisca recebe R$ 19,9 mil líquidos mensalmente da pensão vitalícia, benefício é pago há 12 anos para a pensionista.

Já Lucinea Ferreira da Costa, também paga pelo TRT do Ceará, recebeu o segundo maior desembolso em dezembro: R$ 683 mil líquidos, devido a atrasos no pagamento da pensão. O valor normal da sua pensão mensal é de R$ 21,1 mil líquidos, pagos há 11 anos.

Jandira Regina Kammsetzer Gnone, filha da ex-servidora Arlette Kammsetzer Gnone, do TRT do Distrito Federal e Tocantins, recebeu R$ 674 mil líquidos em dezembro. Beneficiária de uma pensão vitalícia, ela recebeu R$ 17,5 mil em novembro e R$ 27,7 mil em janeiro.

Além disso, a Pública apurou que há filhas solteiras de ex-magistrados e servidores do Judiciário que recebem pensões por longos períodos. Essa é situação de Maria Auxiliadora da Silva Ribeiro, da Bahia, que, além de R$ 660 mil líquidos em dezembro de 2017, recebe há 25 anos R$ 20,6 mil líquidos mensalmente do TRT baiano.

Há também pagamentos altos a membros da mesma família. Os irmãos Isabella Raiza e João Kaio Freire Frota embolsaram cada um R$ 232,5 mil em dezembro, pagos pelo TRE do Maranhão. O tribunal não respondeu à reportagem qual o valor mensal da pensão dos irmãos. A reportagem tentou durante uma semana entrar em contato com todas as demais pensionistas citadas na reportagem por telefone, e-mail ou redes sociais, sem receber retorno. Fonte: Ag. Pública.
Créditos: Brasil de Fato

terça-feira, 6 de março de 2018

Ministro do STF autoriza quebra de sigilo bancário deTemer

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou a quebra do sigilo bancário do presidente Michel Temer (MDB) no inquérito que investiga a elaboração da Medida Provisória dos Portos. É a primeira vez que um presidente da República em exercício do mandato tem o sigilo bancário quebrado por uma ordem judicial. A decisão do ministro Barroso é de 27 de fevereiro, mas foi divulgada na segunda-feira (5).

O Banco Central distribuiu um ofício que comunicou a decisão do STF às instituições financeiras e pede a liberação dos dados. Além de Temer, também tiveram o sigilo bancário quebrado o ex-deputado e ex-assessor do presidente, Rodrigo Rocha Loures – filmado correndo com uma mala com R$ 500 mil no ano passado –, do coronel João Baptista Lima Filho, amigo pessoal de Temer, e de José Yunes, outro ex-assessor de Temer.  Também tiveram o sigilo suspenso os empresários Antonio Celso Grecco e Ricardo Mesquita, executivos da empresa Rodrimar. Foto: EBC.
Créditos: Estado de Minas

segunda-feira, 5 de março de 2018

Estudo mostra que estatais são lucrativas


As empresas estatais federais dão lucro para a União. Essa é a conclusão do estudo produzido pelo Dieese, publicado em janeiro deste ano. De acordo com Gustavo Teixeira, técnico da instituição, os argumentos do governo Temer para a desestatização são falsos e as empresas deveriam tomar decisões orientadas pelo interesse coletivo, não do capital.
"É interessante debater se de fato o objetivo da estatal é gerar lucro. Mas fora desse debate, observamos que as estatais federais, nos últimos 15 anos, distribuíram mais de R$ 250 bilhões de dividendos para a União. Quando olhamos para outros países, vemos um processo forte de reestatização de serviços de utilidade pública. Esse processo que está forte em países da Europa tem como justificativa a falta de eficiência do setor privado em atender a população", afirma em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Ele também rebate o argumento do presidente da Petobras, Pedro Parente, de que a empresa precisa ser privatizada. Para o técnico do Dieese, a petrolífera nacional tem papel estratégico no desenvolvimento do Brasil.
"Os dados em nível internacional mostram que grande parte das reservas de petróleo estão sob o controle de empresas estatais. A Petobras, com a nova política do governo Temer, abre mão de explorar reservas importantes do pré-sal e isso tem impacto na dependência dos combustíveis no nosso país. Estamos transferindo os direitos de exploração dessas reservas para estatais de outros países, assim abrimos mão da soberania e controle do produto fundamental na economia mundial", critica.
Segundo Gustavo, os dados do estudo mostram que, em 2012, o investimento das estatais chegou a representar 10% da taxa de investimento da formação bruta do capital fixo na economia do país. "Na medida que perdemos o controle dessas empresas, abrimos mão do planejamento de um projeto de desenvolvimento futuro", lamenta.
Outro exemplo negativo de desestatização citado por ele é a Eletrobras. "Ela é o principal gerador de energia elétrica no Brasil, tendo as principais usinas hidrelétricas. A intenção do governo em abrir o capital dela, aumentando a participação dos grupos privados e estrangeiros, tende a criar uma espécie de oligopólio no setor de energia brasileiro", explica.
Além de abrir mão da soberania nacional, as privatizações também não garantem melhora no serviço e redução de tarifas. "Um setor que foi amplamente privatizado na década de 1990 foi a distribuição de energia elétrica. O principal argumento do governo Fernando Henrique era de que as tarifas iriam se reduzir e a qualidade aumentar, mas 20 anos depois vemos os preços crescerem acima da inflação e a qualidade do serviço ainda é aquém da desejada. Não há garantia de que o processo de privatização vá reduzir preços, quanto melhorar o atendimento", conclui.
Créditos: Rede Brasil Atual

Quando trabalhar já não salva da pobreza

Fila formada na última quinta-feira em um refeitório social em Madri.
El País - Para María, a expressão "não chegar ao fim do mês" ainda não é precisa. "Não estamos nem no dia 10 e já não dá mais", diz, sem perder o sorriso. Em sua casa, os 900 euros (3.440 reais) que seu marido ganha como motorista e o pouco que ela consegue tirar ao dar uma mão em um bar saem tão rápido quanto entram. Só para o aluguel já são 750 euros. Esta cubana de 30 anos está entre os milhões de imigrantes que chegaram à Espanha no boom da construção e que mais tarde acabaram pagando pelos excessos daqueles dias. Desde então, sofrem com empregos precários e mal pagos. Seu perfil se encaixa perfeitamente com um fenômeno que, apesar de não ser novo, tem crescido em decorrência da crise: a dos trabalhadores pobres.

As estatísticas europeias mostram que este é um problema em alta em todo o continente, mas especialmente grave na Espanha, país que serviu de inspiração para a nova legislação trabalhista brasileira que entrou em vigor no sábado. Entre os espanhóis, 13,1% dos trabalhadores vivem em lares que não alcançam 60% da renda média. Só Romênia e Grécia têm números piores nesse triste indicador. E o risco de pobreza ameaça ainda mais os espanhóis que têm um contrato de trabalho parcial: neste grupo, a taxa dispara para 24,3%.

Mas, além das frias estatísticas, os que estão próximos dos mais desfavorecidos também notam a crescente importância do fenômeno dos trabalhadores pobres. Entre as pessoas ajudadas pela Cáritas em 2015, 40% moravam em lares em que ao menos um de seus membros estava empregado. "O trabalho perdeu a capacidade de integrar na sociedade que tinha até pouco tempo atrás", afirma Lucía Martínez, doutora em Bem-Estar Social da Universidade Pública de Navarra.

María –nome fictício: a protagonista não quer dar o nome real nem ser fotografada– é uma dessas pessoas que jamais pensou que pudesse precisar da ajuda de uma entidade beneficente. Mas acabou se vendo obrigada a recorrer a Cáritas de Madri. Quando chegou à Espanha há dez anos, pouco antes de a palavra crise se tornar onipresente, estava encantada com sua nova vida. Seu cargo como atendente de uma loja de roupa lhe permitia ganhar a vida com tranquilidade. "Trabalhava muito, mas me sentia muito bem. Cheguei a ganhar 1.800 euros por mês", afirma.

Mas as coisas mudaram rápida e radicalmente. A fase mais aguda da crise coincidiu com sua primeira gravidez. A loja fechou e comprovou em primeira pessoa as dificuldades de uma jovem mãe para encontrar um novo emprego. Desde então, já vendeu roupa, atendeu em restaurantes, fez substituições em uma portaria, limpou casas e agora ajuda em dias isolados em um bar, onde ganha de 15 a 20 euros por dia, dinheiro que vai direto para o supermercado mais próximo para comprar comida para ela, seu marido e seus dois filhos pequenos. Para ela, obter os produtos mais necessários é cada vez mais uma nova aventura. Assim como María, mais de 1,1 milhão de mulheres empregadas ganham menos que 710 euros por mês, segundo dados publicados nesta semana. Esta baixa faixa salarial afeta um número muito menor de homens: 400.000.

Para conhecer o mapa europeu dos novos pobres, primeiro é necessário desenhar seu contorno. A estatística da Eurostat fala da pobreza relativa, ou seja, daquelas famílias com receitas substancialmente inferiores à média, mas não de pobreza severa. Para determinar o percentual de trabalhadores pobres, não se mede o salário de uma pessoa concreta em um curto período de tempo, mas sim de um lar em seu conjunto ao longo de todo um ano. Essa amplitude é importante porque a precariedade do mercado de trabalho espanhol –com um altíssimo número de altas e baixas: neste verão se alcançou o recorde histórico de mais de dois milhões de contratos assinados em junho– engloba muitos trabalhadores em épocas de atividade e outras de desemprego. Se em 2007 um de cada seis contratos tinha uma duração igual ou inferior a uma semana, agora esta proporção é de um em cada quatro.

Esses novos pobres podem estar ocupados em curtos períodos de meses, semanas ou inclusive dias. A estatística de 2016 se faz, além disso, com os dados de receitas de 2015, de forma que têm uma certa defasagem temporal. "A situação pode ter melhorado graças à bonança atual, ainda que não de forma demasiada porque os salários não aumentam e a temporalidade aparece. Após quatro anos de crescimento econômico, era de se esperar uma maior recuperação salarial", afirma Florentino Felgueroso, pesquisador especializado em emprego do centro de estudos Fedea.

Francisco Lorenzo, coordenador de estudos da Cáritas, afirma que antes da crise, quase todas as solicitações de ajuda vinham de pessoas em situação de exclusão severa, que costumavam estar a margem do mercado de trabalho. Mas nos abrigos e restaurantes populares da Cáritas cada vez mais há pessoas que trabalham por um salário insuficiente para cobrir as necessidades básicas. "Sempre existiram os trabalhadores pobres. A diferença é que antes tratava-se de setores com uma vulnerabilidade extrema. E agora se estendeu para outros grupos, prejudicados por um mercado de trabalho muito díspar, em que convivem empregados de alta e de muito baixa qualidade", acrescenta a doutora da Universidade Pública de Navarra.

A pobreza no trabalho impacta com mais força os jovens. A porcentagem de trabalhadores pobres de 18 a 24 anos passou de 7% em 2007 para 21% em 2014, segundo o último levantamento sobre emancipação juvenil na Espanha (2016). Outros coletivos especialmente vulneráveis são as mulheres solteiras com cargas familiares ou as famílias numerosas. "As situações mais graves com vulnerabilidade de direitos trabalhistas continuam vinculadas principalmente aos setores de hotelaria, construção e limpeza de residências", acrescenta Lorenzo.

María recorda da agradável surpresa que encontrou quando chegou à Espanha. "Em Cuba muita gente vive do salário fixo. Aqui, por outro lado, quem se esforçava se saia bem", afirma. Dez anos depois, sua perspectiva mudou: "Agora me dou conta de que aqui não se pode ter filhos".
Créditos: El País

domingo, 4 de março de 2018

O risco financeiro na conjuntura internacional

A economia internacional atravessa uma recuperação moderada – com uma leve melhoria do crescimento nos países centrais tomados de conjunto – que tem os melhores resultados registrados nos anos pós Lehman, mas insuficiente para superar o estancamento reinante desde 2008/9.
Além da propaganda centrada naturalmente no primeiro aspecto, os organismos internacionais como o FMI ou a OCDE, não podem evitar reconhecer o segundo. Segundo a OCDE, a dinâmica atual global alcançaria seu ponto máximo em 2018, para em seguida voltar a declinar. Enquanto que de acordo com o FMI, o crescimento promédio das economias avançadas voltaria a retroceder rapidamente no próximo ano.
A contradição relativa que declara uma recuperação um pouco mais vigorosa assentada sobre fundamentos que permanecem fracos, abre espaço a duas discussões intimamente entrelaçadas. A primeira se refere aos problemas de tipo estrutural, que afetam não só a curto, mas também a médio e longo prazo, ou dita de outra forma, afeta o destino da economia capitalista. Esta discussão é abordada num artigo recente do Esquerda Diário.
Nesse artigo ressaltamos o elemento particularmente novo em termos estratégicos, que os organismos internacionais estejam “perdendo a esperança” no médio/longo prazo, relacionando este assunto com o lugar das “reformas”, da previdência, trabalhista no que se poderia definir como uma sorte de “neoliberalismo senil”. A segunda discussão mais apontada é a que desenvolveremos aqui e se refere ao estado das tensões financeiras que se acumulam na conjuntura.
Tal com vem acontecendo ao longo dos quase dez anos pós Lehman – seguindo a norma das décadas neoliberais – a economia continua se assentando em um crescimento exuberante dos mercados financeiros. Como declara o economista/financista argentino José Siaba Serrate, o mercado altista começou em 2009 e a partir daí a bolsa – de Wall Street – multiplicou por quatro as cotizações.
Michael Roberts agrega que as empresas do índice S&P 500 compraram 3,5 bilhões de dólares de suas próprias ações entre 2010 e 2016, o que representa quase 50% a mais que na expansão anterior. Mas o específico dos anos pós crise 2008/9 não é só a velocidade do crescimento dos ativos financeiros, mas também que esse aceleramento goza de uma base particularmente débil na “economia real” que não consegue recuperar os níveis de crescimento pré crise. Tratamos deste assunto em diversas oportunidades através da abordagem crítica da tese do “Estancamento secular”.
As velocidades contraditórias que caracterizam o ritmo de crescimento da economia, por um lado, e dos ativos financeiros, por outro, acrescentam persistentemente o risco de estouro. Se trata de um elemento que está alcançando protagonismo em uma conjuntura assinada por uma série de particularidades. Por um lado, o crescimento da bolsa tomou especial impulso depois do ascenso de Trump no poder, dando lugar ao chamado “Trump rally” que abordamos em ocasiões anteriores. Por outro lado, ainda que exista uma melhoria na performance das principais variáveis estruturais da economia global – como a inversão, a produtividade ou o comércio internacional – o progresso resulta demasiado débil, motivo pelo qual prossegue a dinâmica de velocidades contrastantes. Por último, o ascenso prolongado dos mercados de valores que roça máximos históricos, faz pensar que cedo ou tarde vai se produzir o que os financistas chamam de uma “correção”. Vejamos alguns dados.
Segundo o FMI, o valor das ações continua seu ascenso e está próximo de máximos históricos. De acordo com a OCDE, os riscos financeiros também se incrementam nas economias avançadas, com o longo período de baixas taxas de juros muito baixos para os empréstimos e um aumento da dívida nos setores empresarial e familiar. Agrega que os riscos tendem a ser muito mais graves hoje há uma década, devido não somente à projeção de balances inflados dos bancos centrais, mas também à sobrevalorização dos ativos (os ditos do FMI, a OCDE e Stephan Roach estão extraídos do artigo de Michael Roberts, Previsões econômicas para 2018: a tendência e os ciclos).
De sua parte, Roberts aponta que os mercados de valores se encontram extremadamente sobreavaliados pelo menos em relação à tendência histórica. E agrega que “A relação preço-lucros ciclicamente ajustada (CAPE) de 31,3 é atualmente ao redor de 15% mais alta do que era a meados de 2007, antes de estalar a crise das suprime. Aponta que de fato o índice CAPE só foi mais alto do que atualmente duas vezes em seus 135 anos de história – em 1929 e em 2000”.
Um executivo argentino de banca privada aponta que nas bolsas vemos hoje uma euforia absoluta e em particular, nas norte-americanas. Euforia que se estende aos mercados emergentes que estão no máximo há 10 anos e ao Japão que alcança níveis não vistos desde 1991. Agrega que a China está voltando aos valores de 2015, que o índice Bovespa brasileiro alcança máximos históricos e que na Argentina o Merval parece não ter teto. Por outro lado – e como declara a fonte mencionada – a baixa volatilidade reinante acompanha os máximos da bolsa. Neste sentido agrega que o indicador que mede o sentimento altista nos inversores se encontra em 64,4% e o dos baixistas em 13,3 sendo que a última vez que registrou uma situação similar foi em 1987, quando se produziu o crack da bolsa dos Estados Unidos. Cabe agregar que nos últimos dias, Wall Street acumula quedas moderadas – o que se considera por agora uma “tomada de lucros” – que está repercutindo no Merval (principal Mercado de Valores de Buenos Aires, Argentina).
Siaba Serrate também declara que a Bolsa de Wall Street cotiza em máximos depois de alcançar uma catarata de recordes em 2017. Agrega que se antes da presidência de Trump o “bull Market” (mercado altista) nunca tinha passado o umbral de 17 vezes os lucros projetados do ano seguinte, hoje se aproxima a um múltiplo de 18. Serrate afirma que a última “correção” de Wall Street verificou uma queda de 14% e se produziu em 2016. E que desde então o crescimento registrado dos valores resultou 45%, enquanto que a maior queda de Wall Street – que ocorreu em 2017 – foi de apenas 3%. Pelo que, segundo Serrate, “uma oscilação baixista não deveria surpreender a ninguém”. A ótica financeira de Serrate é tranquilizadora, apelando à “fortaleza dos fundamentos”, a “robustez da economia global”, o enorme cuidado de Trump de não provocar uma decaída em temas que resultam sensíveis ao rumo da bolsa ou o prognóstico de crescimento em lucros em território norte-americano pela rebaixa impositiva. Ainda que admita que “o aumento das cotizações foi ainda mais vibrante que o avanço dos fundamentos” e que – pelo menos por agora – Trump a tem complicada, e segundo Serrate haveria “um espaço mais que folgado para acomodar uma correção sem colocar a tendência de fundo em causa”.
O assunto é que as possíveis derivações de uma “correção” não podem se desvincular nem da profundidade dos fatores estruturais nem das condições da “política”
Por um lado, é certo que as condições da bolsa se parecem muito com as do momento prévio à “correção” de 2016. Já a meados de 2015 a proporção entre o valor das ações e o PIB se encontrava nos Estados Unidos em 123% comparado com uma média de 68% durante os longos 65 anos prévios. Esse valor maior que o de 2007 só tinha sido superado pela bolha das ponto.com no ano 2000. Pelo qual se considerava – já em 2015, recordamos – que era necessária uma queda da bolsa de 50% para então assim retornar à elevada média histórica. 
Também o índice CAPE ao que faz referência Roberts, se encontrava em 27% naquele momento e já se falava de que seu valor só tinha sido superado no ano 2000 ou no crack de 1929. Também as bolsas de Shangai e Shenzhen se encontravam em 2015 com valores que se direcionavam aos atuais, quando em agosto se produziu um desabamento que sacudiu os mercados internacionais. Tanto o episódio das bolsas chinesas como a forte “correção” de Wall Street em 2016 foram absorvidos e não se tornaram em nada parecido a um Lehman Brothers. 
Também é certo que na atualidade e além das múltiplas discussões sobre os efeitos da rebaixa impositiva de Trump que beneficia no essencial a 1% da população norte-americana mais rica, os lucros depois de impostos vão se incrementar. Isso poderia reforçar a estabilidade da rentabilidade que segundo Roberts, se verificou em 2017 depois do descenso em 2014/16. Por outra parte, não cabem demasiadas dúvidas de que Trump fará todo o possível para não desagradar a Wall Street devido que uma derrubada financeira sem controle guardaria uma altíssima probabilidade de se transformar no fim de seu mandato.
Entretanto, as condições estruturais dizem que a debilidade é profunda e que o capital carece por agora de uma “nova empresa” que fortaleça os “fundamentos” a níveis qualitativos. Enquanto isso, o incremento dos ativos financeiros continua se separando aceleradamente da produção de riqueza efetiva (ou da “economia real”) e isso cria persistentemente as condições para uma nova catástrofe – a evolução disparatada da oscilante bolha do Bitcoin é sintoma disso. É duvidosa ainda a magnitude de capital que poderia virar em direção aos Estados Unidos depois da reforma fiscal e, em todo caso, o mais provável é que essas massas de dinheiro incentivem uma nova bolha e agreguem pressões sobre a economia mundial. 
Inclusive se resulta altamente provável que o novo presidente da Fed continue a linha conservadora de Yellen, as tentativas de “normalizar” as taxas e a injeção de dinheiro – uma tendência internacional – em uma situação “anormal” que arrasta sérios riscos. Mais ainda quando o dinheiro barato estimulado desde as políticas de Estado, representa um pilar chave de uma recuperação que permanece débil.
Por último, a economia pensada por fora da política carece de entidade. Uma “correção” da bolsa ou uma soma delas finalmente absorvidas pela economia sem maiores descalabros, resultam sempre prováveis. Mas não podem pensar as derivações de uma situação tal no antigo cenário de 2015 ou 2016. Agora Donald Trump habita a Casa Branca, Theresa May comanda os vaivéns do Brexit, uma debilitada Ángela Merkel, a duras penas, consegue gestar as condições para seu quarto mandato, a agitação independentista na Catalunha continua e Macrón tenta com extrema dificuldade devir o garantidor da unidade europeia. Enquanto isso a China continua na corrida como fator ameaçador e crescem as tensões militares globais. Como declaramos em diversas oportunidades, as consequências políticas derivadas de um crescimento econômico particularmente débil, estão chamadas a repercutir cedo ou tarde sobre a própria economia.
Mas ainda que nenhuma grave ruína ocorresse – pelo menos no imediato – o elemento mais novo seria que os organismos internacionais estão perdendo o último que se perde e isso sucede casualmente quando a economia mundial mostra sua melhor performance desde a queda de Lehman. Mas disto falamos extensamente em "Um diagnóstico para a economia mundial e o contrário do reformismo" Por Paula Bach
Créditos: Esqerda Diário

sábado, 3 de março de 2018

Temer dará R$ 42 bi exclusivos para armas enquanto saúde e educação estão fora dos planos

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O presidente Michel Temer se reuniu com governadores e afirmou que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) abrirá uma linha de crédito de R$ 42 bilhões para financiar um reequipamento das polícias locais, estaduais. Enquanto o golpista reserva um pacote de ataques para precarizar a vida dos trabalhadores e da juventude usando o argumento da crise, ele consegue bilhões para a repressão.

Temer, na reunião com 17 governadores, disse que vários estados recorrem ao governo federal pedindo ajuda com a segurança pública. O presidente golpista falou que essa tarefa não é apenas da União, mas também dos governadores. Com essa justificativa, ele anunciou a concessão de crédito do BNDES para comprar mais viaturas, equipar a polícia e ampliar a coordenação do setor. Do crédito de R$ 42 bilhões, R$ 33 bilhões será do BNDES, ao longo de 5 anos. A origem dos R$ 9 bilhões restantes não foi informada, e R$ 5 bilhões já estarão disponíveis em 2018 para os Estados.

A crise no Brasil é uma realidade. Temer, no entanto, escolhe quem ele quer que pague por ela. Ao aplicar a reforma trabalhista, congelar gastos na educação e deixar servidores ficarem sem receber salário enquanto o governo federal consegue um crédito de bilhões que não é usado para nenhuma melhora real na vida do povo pobre, e sim destinado para a polícia repressora se armar mais, fica muito claro: para ele, não são os capitalistas que criaram a crise que têm que arcar com as consequências, e sim os trabalhadores e a juventude.

O governo pode tentar enganar o povo de qualquer forma, mas suas ações revelam que o argumento da crise só vem para mascarar o plano de vida miserável que é reservado para quem realmente sustenta o país, os trabalhadores. O problema não é dinheiro, tanto que o presidente acabou de conseguir R$ 42 bilhões. O problema é que o investimento desse dinheiro é arbitrário.

Temer reserva um futuro precário para o povo pobre, com condições de trabalho inaceitáveis, com a polícia muito fortalecida para tocar o terror. Não podemos aceitar que esse governo não pague salários, não invista em educação e conceda R$ 42 bilhões para a repressão. Foto: DM.
Créditos: Esquerda Diário

Trauma raro no pescoço causa AVC

Um homem de 28 anos, saudável, acostumado a fazer longos percursos em trilhas com uma mochila nas costas, é internado por apresentar sintomas de Acidente Vascular Cerebral (AVC). A ocorrência, incomum para uma pessoa dessa idade, levou os médicos do Hospital Universitário (HU) da USP a realizar uma exaustiva investigação para determinar sua causa. O estudo concluiu que a artéria carótida, que leva o sangue ao cérebro, sofreu um traumatismo repetitivo gerado pelo osso hioide, existente no pescoço. 

O trauma prejudicou o fluxo sanguíneo para o cérebro e levou ao AVC.
O caso é descrito na revista eletrônica Autopsy and Case Reports (A&CR), publicada pelo HU. “Um ano antes, o mesmo paciente havia apresentado quadro clínico semelhante nas mesmas condições, ou seja, carregando mochila em uma trilha”, conta o médico Fernando Peixoto Ferraz de Campos, da Divisão de Clínica Médica do HU, um dos autores do artigo.
“Naquela oportunidade a paralisia foi revertida, o exame de ressonância nuclear magnética do cérebro não identificou nada de anormal e o paciente retomou sua rotina”, afirma Campos. “No entanto, ele voltaria a ser internado, apresentando um quadro semelhante, porém desta vez constatou-se o AVC, tanto pelo exame clínico como por exames de imagem.” Segundo o médico, o AVC é mais frequentemente encontrado em pessoas de idade mais avançada, sendo incomum em um jovem de 28 anos, o que levou à decisão de realizar uma investigação minuciosa para elucidar sua causa.
“A investigação descobriu que ‘o corno maior’, ou seja, a extremidade posterior do osso hioide, osso do pescoço em forma de U que dá sustentação à laringe, apresentava íntimo contato e traumatizava a artéria carótida interna, uma das artérias que levam o sangue para a cabeça, o que não é normal”, relata Campos. “Se essa extremidade for grande e traumatizar repetidamente a carótida, a artéria sofre uma lesão, afetando o fluxo de sangue e propiciando a formação de coágulos, que ao se desprenderem vão obstruir as artérias cerebrais, causando o AVC.”
O paciente foi submetido à cirurgia. O exame de um fragmento da carótida retirado durante a operação mostrou que o trauma lesou as camadas da artéria e proporcionou a formação de placas de ateroma (depósito de gordura e tecido fibroso na parece do vaso) e a formação de trombo, um coágulo de sangue organizado e aderido à parede da artéria no local da lesão.
Uma pesquisa na literatura médica encontrou relatos de outras situações de risco para traumas sobre a carótida causados pelo osso hioide. “No esporte, por exemplo, este evento já foi descrito com um jogador de golfe, que ocorre quando o jogador dá uma tacada e gira o pescoço junto com o corpo”, afirma Campos. “Também foi reportado o caso de um pedreiro que apresentou a lesão vascular, causada pelo fato de carregar peso sobre a cabeça.”
Os autores constataram que o paciente estudado possuía o corno maior do osso hioide mais desenvolvido à direita e, pelo fato dos dois episódios terem ocorrido em situações semelhantes, postulou-se que a mochila pesada, carregada nas costas, levava o tronco para trás. “Para manter o centro de gravidade do corpo, o paciente puxava o pescoço para a frente, o que proporcionava maior contato entre a extremidade do osso hioide e a carótida”, conta o médico.
O tratamento do paciente consistiu na remoção cirúrgica do “corno maior” do osso hioide e na retirada do segmento lesado da artéria carótida, substituída por um enxerto feito com veia safena (extraída da perna). “O controle do paciente, realizado durante seis meses, demostra que ele tem uma vida normal”, destaca Campos. “A publicação deste estudo de caso tem o consentimento informado do paciente, bem como a aprovação do comitê de ética médica do HU, de acordo com a política internacional dos editores de revistas médicas (ICMJE).”
Editada pelo HU, a revista eletrônica A&CR começou a ser publicada em 2010. “A intenção sempre foi e será a valorização da autópsia, um exame que tem apresentado progressiva desvalorização na comunidade médica mundial”, afirma o professor. “Além disso, a correlação anátomo-clínica e radiológica estimulada pelos artigos demostra que o periódico médico é um importante recurso didático dentro do ambiente universitário.”
Campos destaca que o HU possui um Serviço de Patologia onde autópsias são realizadas de forma acadêmica. “Elas são um material didático-científico muito rico, que serve como produto para reuniões de correlação anátomo-clínica compartilhada com outras universidades brasileiras e de Portugal através de videoconferência.” Editada trimestralmente, a publicação conta com textos em inglês, sendo indexada em bases de dados nos Estados Unidos. A revista pode ser consultada no site www.autopsyandcasereports.org e o artigo está disponível disponível neste linkFoto: cedida pelo pesquisador
Créditos: Jornal da USP