O genocídio juventude negra da periferia foi tema de seminário na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. O preconceito, a desigualdade e a ausência de políticas públicas para a juventude foram apontados como causas da violência contra essa população. A falta de ações do poder público nas periferias também foi identificada como agravante das desigualdades, em outro evento na Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo.
"O racismo abre a porta para muitas vulnerabilidades. Junto disso, um país controlado por velhos não produz políticas adequadas para a juventude e nenhuma política adequada para a juventude negra. São meninos, que estão expostos à pobreza, em comunidades habitadas pelo tráfico de drogas, de armas, expostos a muitas violências e nenhuma segurança pública", diz Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional, que participou do debate na USP.
Segundo dados do Atlas da Violência 2017, divulgados nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a cada 100 pessoas assassinadas, no Brasil, 71 são negras. O relatório também mostram que o negro tem 23,5% mais possibilidades de ser assassinado que as outras pessoas.
"Com desemprego, com desigualdade social, se tem um grupo de pessoas que são descartáveis. Por toda a história da escravidão e da exclusão, os negros são os mais 'matáveis'", diz a pesquisadora Marisa Fefferman.
"Chegamos ao genocídio quando se tem menos acesso a oportunidades, em educação, no trabalho e moradia. Essa conta de subtração não dá outro resultado senão o genocídio”, concorda a advogada Valdênia Paulino.
Já o 2º Seminário de Políticas Públicas da UFABC demonstrou que nas periferias o Estado se faz presente apenas com ações repressivas da polícia. Sem ações nas áreas de saúde, educação, cultura, saneamento básico, transporte e segurança, as desigualdades regionais são agravadas e, com elas, a violência.
"O olhar que os governos têm para as periferias é um olhar criminalizador. Não é que não tem (ação do Estado). Na periferia, tem muito mais polícia circulando, reprimindo. Os jovens têm constantemente controlado o seu vaivém. O problema é o tipo. Deveria ter mais, com mais recursos, nesse sentido, de criar mais equipamentos, oportunidades de esporte, lazer, acesso à formação, e tudo o mais. Não diria nem mais. Se se fizesse o mesmo que se faz no centro...", analisa a professora Lívia de Tomamasi.
A falta de uma distribuição mais igualitária dos equipamentos públicos nas periferias afeta inclusive a mobilidade nas cidades, já que as pessoas têm que se deslocar para ter acesso a esses serviços, apontou a jornalista Lívia Lima, do coletivo Nós, Mulheres da Periferia. "Ter próximo da sua casa acesso a direitos, como educação e saúde, facilita que a gente tenha uma vida mais tranquila, até em questão de mobilidade e transporte", afirmou.
Créditos: Rede Brasil Atual
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