Um em cada cinco meninas (20,1%) entre 13 e 17 anos já sofreu violência sexual, segundo dados divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), realizada em 2019 com estudantes entre o 7º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Entre os meninos, a porcentagem dos que relataram ter sido vítimas desse tipo de abuso cai para 9%.
Também foram realizados levantamentos sobre o uso de álcool e outras drogas, além de questões sobre sexualidade e outros tipos de violências físicas ou psicológicas. Foram ouvidos 11,8 milhões de estudantes, sendo 10,8 milhões alunos de escolas públicas e 1,7 milhão, de instituições privadas.
Além de concluir o número elevado de casos de abusos, especialmente entre meninas, o estudo identificou que as ocorrências são mais prevalentes entre estudantes de escolas privadas. Entre os estudantes no ensino particular, 16,3% relataram o abuso, frente a 14,4% em escolas do ensino público. “Entre os escolares que sofreram abuso sexual, 29,1% apontaram o namorado ou namorada como agressor. Outros 24,8% apontaram um amigo ou amiga e 20,7%, um desconhecido. Em seguida vêm: outros familiares que não o pai ou mãe (16,4%), outras pessoas fora do círculo familiar (14,8%) e pai, mãe ou responsável (6,3%)”, informa o IBGE.
Os dados da pesquisa mostram que mais de um terço (35,4%) dos estudantes entre 13 e 17 anos já tiveram relações sexuais. Foi observado uma queda de 2,1% em comparação com estudo similar realizado em 2015. A taxa foi consideravelmente mais alta entre estudantes do ensino público (37,5%), ante 23,1% no ensino privado. Entre adolescentes mais velhos, entre 16 e 17 anos, o número é maior (55,8%).
Entre os jovens que disseram que já tiveram relações sexuais, apenas 63,3% usaram camisinha na primeira vez. Depois da camisinha, o método contraceptivo mais adotado é a pílula anticoncepcional feminina, com 52,6% de adesão entre as meninas com vida sexual ativa. Outro dado preocupante aponta que 45,5% das meninas utilizaram a chamada pílula do dia seguinte ao menos uma vez na vida. Além de possíveis problemas hormonais, os métodos, à exceção da camisinha, não previnem contra doenças sexualmente transmissíveis.
Além da violência sexual, entre outros tipos de abuso relatados se destaca o bullying e ofensas em redes sociais. O percentual de estudantes que relataram episódios de humilhação por colegas duas ou mais vezes no mês anterior à pesquisa foi de 23%. Os motivos principais foram: aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor da pele (4,6%). Já entre os agressores, 12% assumiram o papel. Também neste ponto é maior a prevalência de agressões psicológicas em escolas privadas.
O cenário sofre alteração nos casos de violência sexual ou psicólogica em ambientes virtuais. “Foi perguntado aos escolares se eles se sentiram ameaçados, ofendidos ou humilhados nas redes sociais ou aplicativos de celular nos 30 dias anteriores à pesquisa e 13,2% responderam positivamente. A proporção foi maior para as meninas (16,2%) do que para os meninos (10,2%). Os alunos de escolas públicas (13,5%) tinham percentuais pouco mais elevados do que os de escolas privadas (11,8%)”.
Dentro do universo de imposição de padrões estéticos, visto como motivador para casos de bullying e assédio moral, apenas a metade dos estudantes consideram seu corpo “normal” (49,8%). Disseram se achar muito magros 28,9% e muito gordos, 28,9%. A autoimagem de sobrepeso é maior entre as meninas, com 25,2%, ante os meninos, com 15,9%. Na tentativa de se “enquadrar nos padrões”, 6,1% dos estudantes afirmaram que já induziram vômito para emagrecer e 5,4% deles consumiram laxantes com o mesmo objetivo.
Diante de todo o contexto de violências e humilhações, o IBGE identificou um dado classificado como “alarmante” pelo instituto. Entre os estudantes, 21,4% afirmam que “a vida não vale apena”, sendo 29,6% das meninas e 13% dos meninos. “O estudo buscou captar como os adolescentes se sentiam nos 30 dias anteriores à pesquisa. Mais da metade (50,6%) sentiam muita preocupação com as coisas comuns do dia a dia, na maioria das vezes ou sempre. As meninas (59,8%) se preocupavam mais que os meninos (41,1%) e os alunos da rede privada (63%) mais que os da rede pública (48,5%)”.
Outro indicador que acende um alerta para a saúde mental dos jovens é o aumento de casos de depressão e ansiedade. Mais de 5% dos alunos já praticou autoagressão ou automutilação, sendo que 60% das vezes os episódios são ligados a quadros depressivos, de ansiedade ou de problemas de relacionamento em casa e na escola. Do total de estudantes, 21% afirmaram que foram agredidos fisicamente pelo pai, mãe ou responsável no último ano, com maior prevalência novamente entre matriculados no ensino privado (23,6%). Créditos: Rede Brasil Atual. Foto: Google.
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