O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Broch, conversou com funcionários de uma agência do Banco do Brasil na capital federal para sentir a recepção às medidas de reestruturação anunciadas pelo BB. "Nunca vi uma direção de banco se reunir no domingo. E a insegurança que cria para o corpo técnico, o capital humano", comenta. As preocupações são de natureza econômica e política. No primeiro caso, com possíveis impactos sobre o financiamento à agricultura familiar.
"Além da questão política – sempre defendemos um banco público –, esse enxugamento pode reduzir a capilaridade de financiamento", diz Broch, sem ter detalhes ainda da extensão das medidas que ele chama de "drásticas". "Estamos muito preocupados. Tememos que possa prejudicar o desenvolvimento dos pequenos municípios, dificultar o financiamento", avalia o presidente da Contag.
Ele também aponta a concepção por trás do anúncio do BB. "É exatamente uma visão de Estado. Como a PEC da desgraça avassaladora (referindo-se à Proposta de Emenda à Constituição 55, de controle de gastos públicos), a reforma da Previdência, a reforma trabalhista. Amanhã vem a Caixa. É a visão de um Estado mínimo, que atende aos interesses de mercado."
Na questão do fomento, Broch lembra que o BB "tem sido o principal agente de desenvolvimento no campo, tanto para a agricultura patronal como para a familiar", com uma média aproximada de R$ 30 bilhões/ano para a agricultura familiar. Em seu relatório anual, o BB se apresenta como "líder absoluto no crédito ao agronegócio, com 60,9% de participação de mercado". Segundo o banco, a carteira de crédito rural somou R$ 137,4 bilhões, sendo R$ 39,3 milhões para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que o BB lista entre suas prioridades.
"Não conhecemos o tamanho do estrago, se terão uma política, nesta fase, de considerar o cuidado de não deixar comunidades e cidades de fora", comenta o presidente da Contag. Em contatos com o governo, a entidade tem reivindicado a recriação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que no governo Temer perdeu status passou a ser uma secretaria vinculada à Casa Civil.
"Isso cria uma enorme dificuldade para as políticas públicas de agricultura familiar no Brasil, uma insegurança muito grande", diz Broch. "Ficamos sabendo que voltaria. O próprio ministro (Eliseu) Padilha falou publicamente, mas depois o governo se fechou", acrescenta o dirigente. "Há também uma pressão da bancada ruralista."
Sobre o próximo Plano Safra, ele afirma que ainda não é possível fazer previsão. "Se alguém tiver uma, é chute." O atual plano, negociado com o governo Dilma, vai até junho do ano que vem. Prevê R$ 185 bilhões de crédito aos produtores rurais, para custeio e comercialização.
Créditos: Rede Brasil Atual
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