domingo, 11 de novembro de 2012

Odebrecht marca abertura da agricultura de Cuba ao exterior


A empreiteira brasileira Odebrecht vai administrar uma central de colheita de cana e produção de açúcar em Cuba, marcando a abertura do setor agrícola da ilha a investimentos estrangeiros.
O negócio foi confirmado pelo o embaixador brasileiro em Cuba, José Felício, durante uma entrevista à BBC.
  Segundo ele, os investimentos brasileiros no país estão crescendo rapidamente graças a um crédito de “cerca de US$ 1 bilhão, ou talvez um pouco mais, com o porto e com créditos para aquisições”.
O contrato para administrar a central açucareira “5 de Setembro” vai vigorar por 13 anos. Outras três empresas estrangeiras estariam negociando acordos similares, mesmo diante do embargo americano, que prevê sanções a quem investir nas propriedades cubanas nacionalizadas.
Desde a Revolução Cubana, em 1959, o agronegócio do país não recebe verba de outros países. Na época, a atividade foi totalmente nacionalizada, incluindo muitos engenhos que eram controlados pelos Estados Unidos.
A indústria açucareira foi, desde a época colonial, o motor da economia cubana. No entanto, a partir da crise econômica dos anos 90, entrou em decadência, reduzindo a produção que nos anos 80 era de 7 milhões de toneladas para 1,38 toneladas na colheita de 2011.

Mudanças

Na tentativa de revitalizar o setor, o governo colocou à frente do ministério da Agricultura um dos generais mais reconhecidos do país, mas depois acabou dissolvendo o ministério, o transformando em um grupo empresarial. Mas nenhuma das medidas teve êxito para alcançar nem mesmo as modestas metas anuais.
Autorizar a Odebrecht a investir e admnistrar uma central açucareira é uma mostra da importância que o governo cubano vem dando às relações com o Brasil, que no momento também está construindo a maior obra do país, o porto de Mariel, ao custo de US$ 800 milhões.
Segundo o embaixador brasileiro, a estratégia regional do Brasil é aproveitar o bom momento econômico para impulsionar toda a região, visto que o país não poderia crescer à margem de seus vizinhos mais pobres, “porque o que aconteceria é a pobreza se espalhar”
Ele acrescentou que Cuba pensa em produzir eletricidade com o bagaço da cana. “Nós temos experiência, nossas plantas são eficientes e talvez se consiga algum crédito brasileiro para importar caldeiras e turbinas para produzir eletricidade”
Apesar de muitas especulações no passado, não havia até então investimentos na agricultura cubano. O fato de esse setor estar totalmente nas mãos cubanas era percebido por alguns como um símbolo de soberania nacional.

Biocombustível

Outro problema enfrentado pelo governo cubano era o fato de muitos investidores estrangeiros quererem produzir açúcar para gerar biocombustíveis, algo que o ex-presidente Fidel Castro havia dito, publicamente, que era radicalmente contra.
O que ocorreu então foi que o governo deixou de lado a agroindústria no país, reduzindo sua produção para a metade – 70 centrais foram fechadas e milhares de trabalhadores foram relocados.
A medida teve o impacto de um tsunami social, que acabou transformando os povoados ao redor dos engenhos em cidades-fantasma.
Durante a primeira metade do século 20, os Estados Unidos compraram uma cota de açúcar de Cuba com preços preferenciais, o que permitia manter um nível estável e rentável de vendas. No entanto, esse acordo chegou ao fim com o triunfo da revolução.

Golpe

A reforma agrária nacionalizou as centrais açucareiras e as terras que pertenciam a empresas americanas. Washington reagiu eliminando a “cota” e deixando de comprar açúcar de Cuba – um golpe que poderia ter sido fulminante para a economia da ilha.
Nesse momento, foi determinante a entra da União Soviética no jogo, já que ela comprou toda a produção açucareira de Cuba a preços ainda mais preferenciais do que os oferecidos aos EUA.
Dessa maneira, o setor agrícola cubano sobreviveu, assim como a recente revolução. Mas o fim da União Soviética mergulhou o setor açucareiro cubano em uma grave crise. Durante seu governo, Fidel Castro decidiu então a cortar pela metade as 150 centrais que haviam no país.

BBC Brasil

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