Os aumentos dramáticos na exposição a produtos químicos tóxicos nas últimas quatro décadas estão ameaçando a saúde reprodutiva humana, de acordo com a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), a primeira organização mundial de saúde reprodutiva a tomar uma posição sobre a exposição humana a substâncias químicas tóxicas. O parecer foi escrito por ginecologistas, obstetras e cientistas dos EUA, Reino Unido e sociedades canadenses de profissionais de saúde reprodutiva, além da Organização Mundial de Saúde e da Universidade da Califórnia, nos EUA.
A FIGO representa obstetras de 125 países e emitiu a opinião no International Journal of Gynecology and Obstetrics, em 1º de outubro de 2015, pouco antes de um congresso, em Vancouver, no Canadá, onde mais de 7.000 médicos e cientistas vão explorar as tendências mundiais que envolvem a saúde da mulher. “Nós estamos afogando nosso mundo em produtos químicos não testados e inseguros, e o preço que estamos pagando, em termos de nossa saúde reprodutiva, é de grande preocupação”, disse Gian Carlo Di Renzo, MD, PhD, secretário honorário da FIGO e principal autor da opinião. De acordo com Di Renzo, os profissionais de saúde reprodutiva “testemunham em primeira mão o número crescente de problemas de saúde que seus pacientes enfrentam, e evitar a exposição a produtos químicos tóxicos pode reduzir essa carga sobre mulheres, crianças e famílias em todo o mundo”.
Nascimento após aborto, crescimento fetal restrito, malformações congênitas, neurodesenvolvimento prejudicado, aumento de câncer, déficits de atenção, comportamentos de TDAH e hiperatividade estão entre a lista dos péssimos resultados de saúde ligados a produtos químicos, como pesticidas, poluentes do ar, plásticos, solventes e semelhantes, de acordo com a opinião da FIGO.
“A FIGO está dizendo que os médicos precisam fazer mais do que simplesmente aconselhar os doentes sobre os riscos para a saúde da exposição química”, disse Jeanne A. Conry, MD, PhD, coautora do parecer e ex-presidente do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, que emitiu um comunicado sobre produtos químicos e saúde reprodutiva em 2013. “Precisamos defender políticas que protejam os nossos pacientes e comunidades contra os perigos da exposição involuntária aos produtos químicos tóxicos”, acrescentou.
A fabricação de produtos químicos deve crescer mais rápido nos países em desenvolvimento nos próximos cinco anos, segundo a FIGO. Apenas nos EUA, mais de 13 mil quilos de produtos químicos por pessoa são fabricados ou importados, e, ainda assim, a grande maioria dessas substâncias químicas não foi testada.
Os produtos viajam o mundo através de acordos comerciais internacionais, tais como o Comércio Transatlântico e a Sociedade de Investimento entre a União Europeia e os Estados Unidos. Os grupos ambientais e de saúde têm criticado a proposta de acordo para enfraquecer os controles e regulamentos destinados a proteger as comunidades de produtos químicos tóxicos.
Segundo a Federação, o problema também é social. “A exposição a produtos químicos no ar, alimentos e água, afeta desproporcionalmente as pessoas pobres”, disse Linda Giudice, coautora do artigo da FIGO, ex-presidente da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e presidente do departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Ciências Reprodutivas da Universidade da Califórnia. “Nos países em desenvolvimento, as infecções respiratórias inferiores possuem probabilidade dobrada de serem causadas por exposição a produtos químicos do que nos países desenvolvidos”, acrescentou.
A exposição a produtos químicos tóxicos ambientais está ligada a milhões de mortes e custa bilhões de dólares anualmente, de acordo com a opinião da FIGO, que cita os seguintes exemplos:
– Quase 4 milhões de pessoas morrem a cada ano por causa da exposição à poluição do ar interior e exterior;
– O custo do envenenamento por pesticidas dos trabalhadores rurais na África subsaariana pode superar os 66 bilhões de dólares entre 2005 e 2020;
– Cuidados de saúde e outros custos decorrentes da exposição a desreguladores endócrinos na Europa são estimados em, no mínimo, 157 mil milhões de euros por ano;
– O custo das doenças infantis relacionadas a toxinas ambientais e poluentes no ar, alimentos, água, solo e comunidades, foi calculado em 76 bilhões de dólares, nos EUA, em 2008.
“Dado o acúmulo de evidências de impactos adversos à saúde relacionados a substâncias químicas tóxicas, incluindo o potencial para provocar danos intergeracionais, a FIGO sabiamente propôs uma série de recomendações que os profissionais de saúde podem adotar para reduzir a carga de produtos químicos perigosos em pacientes e comunidades”, disse o presidente da FIGO, Sabaratnam Arulkumaran, que também é ex-presidente da Associação Médica Britânica.
A federação propõe que médicos, enfermeiras, parteiras e outros profissionais da saúde reprodutiva defendam políticas para prevenir a exposição a produtos químicos tóxicos ambientais, trabalhem para assegurar um sistema alimentar saudável para todos, façam parte dos cuidados sobre saúde ambiental e colaborem para a justiça ambiental.
[ Science Daily ] [ Foto: Reprodução ].
Créditos: Jornal Ciência
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