quinta-feira, 12 de maio de 2016

Ratos infectados com zika têm filhotes com cérebro danificado

 Um novo estudo feito por cientistas brasileiros mostra pela primeira vez, em experimentos com animais, que a linhagem do vírus zika presente no Brasil atravessa a placenta da mãe infectada, atinge o cérebro dos fetos e provoca diversos problemas de crescimento, incluindo a microcefalia.

A pesquisa comprova de uma vez por todas que o vírus é mesmo a causa das malformações registradas durante a epidemia de zika no Brasil e, mais que isso, apresenta o primeiro modelo eficiente que permite estudar diversos aspectos da ação do vírus zika em camundongos.

A ausência de modelos animais para estudos experimentais era considerada um dos maiores desafios para a comunidade científica mundial envolvida na corrida para compreender e vencer o vírus. O novo estudo foi feito por cientistas ligados à Rede Zika – uma força-tarefa criada por cientistas paulistas para combater a epidemia – e publicado na revista científica “Nature”. Os autores afirmam que a possibilidade de estudar os diversos aspectos da doença em animais será crucial para o desenvolvimento de terapias e tratamentos. Na mesma pesquisa, os cientistas também utilizaram minicérebros para mostrar como o zika infecta as células-tronco do cérebro, induzindo-as à morte celular e impedindo o desenvolvimento normal do cérebro.

“O estudo com os modelos de camundongos dá uma resposta definitiva, de maneira canônica, com alto grau de certeza científica, que o zika causa mesmo a microcefalia”, disse o coordenador da Rede Zika, Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.

Outra conclusão importante do estudo, obtida a partir dos testes com os organoides cerebrais, é que a linhagem brasileira do vírus parece ser mais agressiva do que a africana, que originalmente infectava macacos. O estudo foi realizado por Jean Pierre Peron, Patricia Beltrão Braga – ambos pesquisadores do ICB-USP – e Alysson Muotri, pesquisador na Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos.

Os cientistas isolaram amostras do vírus obtidas na Paraíba e introduziram em dois tipos de camundongos. Os filhotes dos animais infectados, que foram analisados de várias formas após o nascimento, apresentavam atraso no desenvolvimento do corpo e a presença do vírus em diversos tecidos.

Os pesquisadores observaram que o vírus é atraído em maior quantidade para o tecido cerebral. “Cada vez mais os estudos estão mostrando que a microcefalia é apenas a ponta do iceberg entre os problemas causados pelo vírus zika. Nós observamos diversos tipos de restrições do crescimento”, afirmou Patricia.
Em um dos tipos de camundongos testados, o vírus consegue atravessar a placenta e atingir o feto, que nasce com os defeitos congênitos. O outro tipo apresenta uma resposta imunológica muito forte, o vírus não consegue atravessar a placenta, e os filhotes nascem normais.

“Isso sugere que a condição imunológica do paciente pode ter um papel importante no desenvolvimento dos defeitos congênitos”, explicou Perón. A principal lesão observada no cérebro dos filhotes de camundongos infectados é a redução da espessura do córtex, a camada mais externa do cérebro. A característica também foi observada em bebês humanos.
Créditos: O Tempo

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