domingo, 5 de junho de 2016

Novo tipo de antidepressivo promete trazer alívio instantâneo ao paciente

Cientistas descobriram um novo uso para um medicamento previamente descartado. Esta droga não ajudava contra as doenças que destroem os neurônios, mas sabe-se agora que pode trazer alívio rápido da depressão, disseram pesquisadores nesta semana na revista Molecular Psychiatry.


Numa experiência recente com ratos, a droga funcionou em menos de meia hora, fazendo-os atuar de maneira diferente daqueles com sintomas de depressão. Isso indica que a droga pode se tornar uma opção para pacientes que não melhorem com antidepressivos convencionais.
“Todos os antidepressivos clássicos agem da mesma forma, mas existem pessoas que não respondem devidamente a eles”, disse o coautor Solomon Snyder, um neurocientista da Johns Hopkins School of Medicine, em Baltimore. “E os principais problemas com os antidepressivos no mercado é o fato de levarem de duas a seis semanas antes de surtirem efeito. Se você está deprimido a um nível suicida, certamente não pode esperar seis semanas”.
 A nova droga é chamada CGP3466B (CGP como abreviatura) e seus efeitos se assemelham àqueles da cetamina, que é mais conhecida por seu uso como anestésico em salas de cirurgia e para fins recreativos, como um alucinógeno. Recentemente, os cientistas se voltaram para a cetamina como alternativa no tratamento para a depressão, pois ela parece trazer alívio de sintomas depressivos em poucas horas. Para alguns pacientes, o alívio parece durar meses. Um problema com a cetamina, porém, é que doses mais elevadas podem causar distorções mental e psicose.
 Para encontrar uma droga que funcionasse como a cetamina sem os efeitos colaterais, os cientistas precisaram entender como a cetamina trabalha no cérebro para provocar efeitos antidepressivos. Na nova pesquisa, Snyder e sua equipe identificaram várias proteínas que interferem tanto com a droga testada quanto com a cetamina.
 Muitos antidepressivos tradicionais afetam principalmente um neurotransmissor: a serotonina. A cetamina toma outro caminho. Anteriormente, os cientistas descobriram que a cetamina se transforma em uma proteína chamada mTOR. Os cientistas não têm certeza de como esta proteína está envolvida no funcionamento do cérebro, ou se ela está esgotada em pessoas com depressão. Entretanto, eles foram capazes de demonstrar que a cetamina desperta a mTOR, e que esta é a chave para a sua eficácia contra a depressão.
“O mistério foi saber como a cetamina aumenta a mTOR” Snyder disse. Para descobrir isso, ele e seus colegas aplicaram nas células nervosas de ratos, a cetamina. A cetamina não impacta diretamente a mTOR, mas sua presença mexe com outras proteínas que o fazem. Em última análise, ela impede que o interruptor da mTOR seja destruído.
Os pesquisadores focaram-se na CGP, outra molécula que pode provocar a mesma reação em cadeia que a cetamina. Estudos anteriores haviam testado a CGP em doenças neurodegenerativas, como Parkinson, mas perceberam que ela era ineficaz contra essas condições. Eles, no entanto, mostram que a CGP é segura em humanos, não tem efeitos colaterais relevantes ​​e trabalha em concentrações minúsculas.
 “Não havia muitas pessoas interessadas nela… mas achamos que é fascinante”, disse Snyder. “Esta é a ação mais potente de toda a droga que eu encontrei em 45 anos de pesquisa, com exceção da toxina botulínica (Botox)”.
 Para assistir a CGP em ação, Snyder e sua equipe deram a droga para ratos geneticamente modificados para terem sintomas semelhantes aos da depressão. Os ratos, em seguida, completaram os testes comportamentais que determinam o quão bem um antidepressivo está agindo. Os camundongos que receberam a CGP foram mais animados do que seus pares deprimidos. Após uma dose da CGP, os ratos estavam mais dispostos: gastaram mais tempo tentando escapar de uma piscina de água e a corajosamente viajaram por um novo labirinto para alcançar o lanche.
É preciso tomar antidepressivos tradicionais por 21 dias para fazer a diferença neste teste. A CGP surtiu efeito em apenas meia hora. Serão necessárias mais pesquisas para descobrir se a droga é eficaz em seres humanos e quanto tempo seus efeitos podem durar.
Créditos: Jornal Ciência

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