As causas de uma guerra nunca equivalem a seus horrores e consequências. Mais de 100 mil pessoas já foram mortas em resultado do conflito sírio. “Um milhão de pessoas abandonaram o país. Outros milhões mudaram de lugares de residência dentro da Síria e milhares continuam a atravessar diariamente a fronteira. A Síria avança rapidamente rumo a uma catástrofe de envergadura”, diz António Guterres, alto comissário para os refugiados das Nações Unidas.
 Nos últimos meses, o exército sírio faz recuar sensivelmente as forças da oposição. Desde o ponto de vista militar, tal deveria acontecer mais cedo ou mais tarde.
Ainda no verão de 2011, a oposição, quando começou a combater contra as tropas regulares da Síria, tinha por objetivo afastar do poder Bashar Assad e não alcançar uma vitória militar. Embora os combatentes comuns acreditem até hoje que o entusiasmo e hábitos elementares de disparar são suficientes para vencer, os militares profissionais têm o ponto de vista diferente.
Oficiais, que se passaram aos rebeldes e começaram a combater contra o exército, entendiam perfeitamente que as declarações da oposição sobre a capacidade de derrotar o regime pela força não eram mais que lemas políticos. Mesmo conjugando os esforços e obtendo importante apoio do exterior, os rebeldes nunca tiveram hipóteses para se transformar numa força capaz de resistir às tropas regulares.
Além de centenas de aviões e helicópteros de combate, faz frente aos rebeldes um exército regular, que, pelos cálculos mais modestos, tem 150 mil efetivos e 100 mil voluntários. As tropas sírias têm cerca de 5 mil tanques, 2500 veículos de transporte de pessoal, 500 veículos blindados, 500 canhões de assalto, 400 sistemas de defesa antiaérea Shilka e 1500 obuses. O exército tem um comando único e sistemas de abastecimento e de comunicação. As tropas são treinadas adequadamente e podem compensar eficazmente as perdas. A julgar pelos últimos acontecimentos, a motivação dos militares sírios de combater também é bastante alta.
O número de rebeldes, segundo diferentes estimativas, varia de 30 mil (serviços de inteligência da França e dos EUA) e 100 mil (Grupo de Reconhecimento de Fontes Abertos Jane´s). As últimas ampliações e uniões ostentativas de destacamentos da oposição não impressionaram os militares sírios. As tropas regulares não veem diferença entre seus inimigos que podem ser tanto jihadistas, como rebeldes “justos”. Não é importante também o seu número, se atuarem separadamente. É assim que acontece na Síria. Nas palavras do chefe adjunto do serviço de inteligência do Ministério da Defesa dos EUA, David Shedd, hoje no país há 1200 destacamentos de rebeldes, no mínimo, sem equipamentos pesados. Por isso, apesar de nomes ressonantes, todas as frentes, brigadas e batalhões da oposição não passam de grupos de guerrilha separados.
O lado forte da guerrilha são ações dinâmicas contra um inimigo passivo em sua retaguarda. Um grupo de guerrilheiros torna-se facilmente um alvo para armas pesadas, se não seja capaz de escapar da perseguição das tropas regulares. É exatamente isso que decorre na Síria, onde desde o início de novembro são mortos diariamente de 50 a 70 rebeldes.
O abastecimento das tropas é o mais importante fator do sucesso. Ainda em março o jornal governamental Al-Watan escrevia que o exército sírio tem suficientes forças para combater durante vários anos. Não se conhece se for assim, mas, pelo visto, os armazéns militares e o tesouro do país ainda não estão vazios.
Ainda há pouco tempo que os destacamentos oposicionistas tiveram canais estáveis de fornecimentos. Mas, quando entre os rebeldes foram fixados agrupamentos ligados à Al-Qaeda, o Ocidente começou a proceder com muito cuidado em relação à oposição. Ao que tudo indica, este exemplo foi imitado pela Turquia.
O último exemplo: atualmente, quando as tropas sírias estão cercando a cidade de Aleppo, o correspondente da Associated Press transmite queixas de rebeldes – fluxos de armas e munições através da fronteira com a Turquia diminuíram bruscamente, “porque Ancara se preocupa cada vez mais com o papel marcante de extremistas islâmicos”. Um comandante de campo disse numa conversa telefônica: “Não sei realmente o que acontece com a Turquia ou o Conselho (Conselho Militar de Aleppo). Não recebemos nada – é só isso que conheço”.
Será que as forças da oposição terão hipóteses para deter o avanço das tropas em Aleppo e em outras direções, se a Turquia recomeçar fornecimentos? A resposta, pelo visto, só pode ser negativa.
Foto: EPA
Créditos: Voz da Rússia