sábado, 31 de março de 2018

Quinze dias de escalada sangrenta no Rio após assassinato de Marielle

EL País - A contagem de mortos no Estado do Rio de Janeiro se acelerou nos últimos quinze dias, após a execução política da vereadora Marielle Franco (PSOL) e em meio a uma intervenção federal ainda sem rumo certo aparente. Só nesse período foram duas chacinas, uma na favela da Rocinha e outra em Maricá, vários policiais militares mortos, um confronto aberto entre milicianos e traficantes, uma tentativa de assalto em um shopping da Zona Sul que resultou em pânico e tiros, uma criança e outras três pessoas mortas no Complexo do Alemão... Na quinta, três pessoas morreram baleadas, sendo duas no município de Belford Roxo e uma na favela da Rocinha — que já soma 12 mortos em oito dias. 

A lista de mortos não para de crescer, apesar da promessa do presidente Michel Temer (MDB) ao assinar o decreto, no dia 16 de fevereiro: "O Governo dará respostas duras, firmes e adotará todas as providências necessárias para enfrentar e derrotar o crime organizado e as quadrilhas. Não podemos aceitar passivamente a morte de inocentes. É intolerável que estejamos enterrando pais e mães de família".

No entanto, apenas na última terça-feira, 40 dias depois, o presidente garantiu o envio de recursos para o interventor e general Walter Braga Netto, chefe do Comando Militar do Leste e comandante máximo da segurança pública fluminense. Através de uma Medida Provisória (MP), que deverá passar pelo Legislativo mas que já entrou em vigor, o Governo Temer garantiu 1,2 bilhão de reais para o Rio. Mas Braga Betto, que ao longo do último mês analisou a situação dos aparatos de segurança, sobretudo as sucateadas polícias Civil e Militar, pedira 3 bilhões de reais para colocar as contas em dia.

Essa demora teve consequências nos dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio, divulgados pelo jornal O Globo, que não são positivos para o Governo Temer. Entre aquele 16 de fevereiro e o dia 16 de março foram registrados 113 homicídios, dois a mais que o mesmo período de 2017 (111 homicídios) e quatro a mais que um mês atrás (109). Já o roubo de carros aumentou 19% com relação ao mesmo período do ano passado, mas caiu 8% se comparado com o mês anterior à intervenção. O roubo de cargas aumentou 12% no último ano e 6% no último mês.

Enquanto isso, a abordagem dos militares continua indefinida. A intervenção começou sua primeira semana com operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLOs) em favelas como a Kelson's e Vila Kennedy. As tropas acabaram se instalando nesta última comunidade, considerada pelo próprio Braga Netto como um "laboratório" da intervenção. Lá, destruíram barricadas montadas por traficantes, tiraram fotos de moradores e de seus documentos de identidade, abriram o caminho para um mutirão de serviços públicos... Com o território considerado estabilizado, mas com poucos resultados efeitos — traficantes continuaram agindo, ainda que de maneira mais discreta — a intervenção decidiu iniciar a retirada das Forças Armadas do local e entregá-lo a PM. O contexto era de forte contestação após o assassinato da vereadora Marielle Franco ao mesmo tempo que a violência em todo Rio não dava sinais de trégua.

Ainda assim, a esmagadora maioria dos moradores do Rio continua apoiando a intervenção, segundo uma pesquisa Datafolha: 76%. Mas a maioria, 71% dos entrevistados, também acredita que a presença das Forças Armadas não fez diferença. Um olhar com lupa nos dados revela algumas curiosidades. Por exemplo, o apoio a intervenção cai para 63% entre aqueles que moram na Zona Sul, a parte rica da cidade, e 66% entre aqueles que ganham mais de 10 salários mínimos.

Foi justamente na Zona Sul que a intervenção federal passou, nesta semana, a concentrar policiais e soldados das Forças Armadas. Estão em pontos com bastante movimento, como nas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco (centro), na Praia de Copacabana e na Orla de Botafogo — no início desta semana, um assalto do Botafogo Praia Shopping resultou em tiros e pânico. Especialistas em segurança pública avaliam que a medida tem como objetivo aumentar a sensação de segurança da população e "mostrar serviço", ainda que tenha poucos efeitos práticos — sobretudo nos índices de violência, que por sua vez ocorre em lugares mais afastados. Foto: EFE.
Créditos: El País.

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