Até um corpo celeste tão afastado do Sol como Titã, um satélite de Saturno, também tem estações do ano. Através da sonda Cassini, os planetólogos conseguiram observar processos associados à chegada da primavera e do início do outono nos diferentes hemisférios do satélite.
Graças as investigações feitas descobriu-se também que a fronteira média da atmosfera de Titã encontra-se a uma altitude de pelo menos 600 km acima da sua superfície, cerca de 100-150 km a mais relativamente ao que se previa anteriormente.
Titã é o único satélite do Sistema Solar que possui uma atmosfera espessa semelhante à da Terra. O seu componente principal é o azoto e também estão presentes o metano e o hidrogênio, assim como outros gases em quantidades residuais.
Apesar de Titã se encontrar 9 vezes mais longe do Sol do que a Terra e receber 100 vezes menos energia solar, ele também tem mudanças de estação do ano devido à alteração da posição do eixo de rotação relativamente ao Sol.
Em 2009, Titã teve um equinócio, depois de que o hemisfério norte do satélite começou a entrar no verão e o hemisfério sul – no inverno. Essas alterações se refletiram de forma inesperada na atmosfera de Titã que estava a ser analisada pela sonda Cassini(NASA/ESA/Agência Espacial Italiana).
Na atmosfera de Titã é observada, a uma altitude de 400-500 km, uma camada de neblina que, tal como o previsto, indica a fronteira da circulação na médida atmosférica que se apresenta como uma célula integral. Essa camada de neblina está separada da camada principal a uma altitude de 80-100 km. Considerava-se que a camada superior correspondia à zona onde se forma a neblina. Os dois anos de observações que se seguiram ao equinócio contrariaram, no entanto, essa suposição.
Depois da mudança de estação do ano, a atmosfera do hemisfério norte começa a se aquecer com a chegada do verão e no hemisfério sul – a esfriar. Assim, as massas de ar do hemisfério norte (verão) começam a subir e no sul (inverno) – a descer. Isso provoca um efeito interessante, o aumento da temperatura a uma altitude de 400-500 km sobre o polo sul e a formação do vórtice meridional. Anteriormente, um vórtice igual era observado sobre o polo norte.
Segundo as explicações do doutor Nick Teanby, da Universidade de Bristol, que é o primeiro autor do artigo publicado na Nature, isso acontece porque as massas atmosféricas que vieram do hemisfério norte começam a baixar e a se contrair, o que provoca o seu aquecimento.
Os investigadores observaram, através dos aparelhos da Cassini, a composição dos diferentes gases na atmosfera durante os dois anos que se seguiram ao equinócio. Os dados obtidos demonstram que a concentração desses gases sobre o polo sul aumentou quase cem vezes durante o tempo das observações (à mesma altitude de 400-500 km) e a velocidade da sua descida foi de 1-2 mm por segundo.
O doutor Teanby e os seus colegas cientistas da Europa e dos EUA concluíram que para explicar esse fenômeno era necessário que a circulação das massas atmosféricas ocorresse mais acima da suposta fronteira dos 500 km, talvez até à altitude de 600 km. Então, como explicar a existência de uma camada separada de neblina? As moléculas complexas que a compõem se formam mais alto na atmosfera, contudo na altitude de 400-500 km acontece uma espécie transição repentina. É possível que pequenas partículas autônomas se “colem”, ou se unam de outra forma, assim se transformando em neblina.
Isso também significa que, para entender o clima de Titã, é necessário ter em consideração os processos que ocorrem acima dessa fronteira e que os futuros dados a recolher pela Cassini continuam a ser muito importantes. Neste momento, a sonda está funcionando ao abrigo da segunda missão alargada Solstice (solstício), que começou em setembro de 2010 e irá decorrer até setembro de 2017. O equinócio de Saturno deverá ocorrer em maio de 2017. Até lá, o aparelho ficará no espaço durante quase vinte anos.
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