Em Washington, passou a predominar a opinião de que a vitória do presidente sírio Bashar Assad será a melhor solução. Tal cenário promete ao menos um mínimo de esperança para um futuro melhor, enquanto que a derrota do presidente significará que não haverá mais esperança de todo.
A tese do "mal menor" foi proposta pelo ex-diretor da CIA Michael Hayden. Segundo ele, existem três cenários de acontecimentos possíveis na Síria. "Uma das opções é a vitória de Assad. E atualmente, por mais terrível que pareça, é justamente este cenário que pode ser o melhor".
Hayden acredita que as outras opções são uma escalada radical em confrontos entre facções sunitas e xiitas, e (o que é mais provável) o colapso do país. "E isso lançaria o processo de desmoronamento dos estados artificiais criadas após a Primeira Guerra Mundial", acredita o ex-diretor da CIA.
Desde o início prediziam a Assad uma derrota iminente. Esperava-se que no exército e nos serviços especiais iria começar um colapso total. Casos isolados de deserção realmente tiveram lugar. Mas esse fenômeno não adquiriu um caráter maciço. Com o tempo, os observadores formaram uma forte convicção de que Damasco tem não só a força militar, mas também o apoio de uma determinada parte da população. Em suma, Assad acabou por ser mais duro de roer do que pensavam dele.
A particularidade da guerra civil na Síria é que mesmo a população neutra se vê obrigada a aderir a uma das facções em guerra, apenas para sobreviver. Agora estão apostando em Assad não apenas seus correligionários, mas também aqueles sírios que se convenceram dos benefícios da estabilidade frente ao caos revolucionário.
Realmente, a aposta em Assad não é uma questão de opinião política, mas de pragmatismo. O mesmo do qual os norte-americanos se orgulham com todo o direito e do qual, na questão síria, foram forçados a renunciar por seguirem cegamente uma doutrina outrora adotada. Felizmente, o pragmatismo como um traço nacional novamente prevaleceu no establishment norte-americano. Eis o que diz o especialista militar do Líbano Amin Hoteit:
"O objetivo dos norte-americanos era derrubar o regime de Assad. Eles estavam mesmo dispostos a realizar uma intervenção militar direta depois de quase três anos de subversão contínua lá. No entanto, não chegou a isso, porque eles entendiam que iriam fracassar e que seus objetivos não seriam alcançados. No entanto, o seu pragmatismo não lhes permite usar a palavra "fracasso". Por isso eles mudaram sua retórica e transferiram a questão para a dimensão internacional, salientando que a remoção de Assad não está nos interesses atuais da Casa Branca. Que seria melhor ele do que a deterioração da situação com consequências imprevisíveis.”"
A revolução na Síria começou como um movimento secular pela democracia, mas resultou num massacre religioso. Em vez dos cidadãos pró-ocidentais vieram fundamentalistas de grupos islâmicos. A luta pelo avanço da Síria para um brilhante futuro liberal foi reformatada numa luta pelo retorno para um escuro passado arcaico.
Mas era justamente isso que o Ocidente temia. O colapso de Assad pode levar a um verdadeiro desmoronamento do país, à sua "libanização" ou mesmo "somalização". É justamente esta perspectiva que faz com que os Estados Unidos repensem sua posição sobre a questão síria. Comenta o editor-chefe da revista “A Rússia nos Assuntos Globais” Fyodor Lukianov:
"De fato, todos os especialistas norte-americanos sóbrios agora dizem que qualquer cenário de vitória da oposição é pior do que qualquer outra opção. Por mais terrível que fosse Assad, sob ele a Síria foi bastante estável, e talvez ainda será. E se ele for permitido vencer, o problema, pelo menos por um tempo, poderá ser adiado. Ao nível político não se pode dizer isso. Em primeiro lugar, porque então não fica claro o que eles estiveram fazendo lá nesses últimos anos. Em segundo lugar, os aliados dos EUA já assim estão bastante contrariados por Obama não ter começado uma guerra. Mas o grau de relutância dos EUA em se envolver em seja o que for no Oriente Médio tem crescido exponencialmente desde setembro. A declaração de Hayden mostra que este já não é um ponto de vista marginal."
Sem dúvida, é errado pensar que agora o Ocidente passou a gostar de Assad. Mas, como disse há pouco tempo um dos principais ideólogos da política externa dos EUA, Zbigniew Brzezinski, a vitória de Assad não é tão assustadora como a vitória de seus adversários, muito mais hostís para com os Estados Unidos.
Aqui ressurge o problema da conferência de paz "Genebra 2". Acredita-se que os norte-americanos pretendem adiar a conferência tanto quanto possível, se não totalmente abandoná-la. No entanto, numa situação de crescente influência de grupos terroristas na Síria e do aumento da imprevisibilidade, a convocação de "Genebra 2" está nos interesses norte-americanos.
É pouco provável que uma vitória hipotética de Assad irá imediatamente estabelecer a paz. A Síria hoje é um país arruinado com uma infraestrutura devastada, com fome e outras questões humanitárias. Tudo isso vai fazer um fardo pesado nos ombros dos sírios, e os adversários de Assad encontrarão novos argumentos para voltar novamente a balançar o barco. Mas está claro que, neste caso, há pelo menos a esperança de um resultado favorável. Em todos os outros casos, pode não haver nenhuma esperança.
Créditos: Voz da russia
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