Barack Obama é o quarto presidente consecutivo dos Estados Unidos a bombardear o Iraque. Antes, os dois Bush – pai e filho, republicanos – e o democrata Clinton, já o tinham feito, no que parece ter se tornado hábito dos primeiros mandatários dos EUA
As razões podem ser militares ou políticas, internas ou externas, o certo é que as bombas que caíram sobre o Iraque nas ultimas décadas fazem do país o alvo preferido dos presidentes norte-americanos. No caso de Obama, ele enfrenta a um obstáculo atualmente intransponível para uma nova aventura militar, a população norte-americana, na imensa maioria, não quer participação do país em guerras.
E os norte-americanos vão votar em novembro e podem deixar Obama com minoria nas duas casas do Congresso. Atualmente, os democratas têm maioria no Senado, mas podem deixar Obama como “pato manco” nos dois últimos anos do seu governo, isto é, sem condições mínimas de fazer avançar projetos, caso não reconquiste a maioria na Câmara e eventualmente a perca no Senado.
A lei de imigrações ainda não foi aprovada e a “Obamacare” – a lei de extensão da saúde pública – é sabotada por vários estados, fazendo com que a aplicação esteja muito prejudicada. Essas são as duas reformas chave propostas por Obama e, tendo em vista as eleições, podem ficar no meio do caminho, com efeitos nas eleições presidenciais.
O sentimento geral dos norte-americanos é de fracasso do governo. Não apenas pelas altas expectativas criadas na a primeira eleição, mas também porque a esses problemas se soma o sentimento de impotência dos EUA para resolver a enorme lista de pendências no plano internacional.
O mapa dos conflitos internacionais, especialmente no Oriente Médio, nunca foi tão catastrófico para os EUA. Multiplicação dos focos de guerra e especialmente das situações descontroladas e sem horizonte de resolução: Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Líbano.
As bombas explodem no colo de Obama, mas o fracasso é muito mais profundo e vem de muito mais longe. Quando os EUA intervieram no Afeganistão e, principalmente, no Iraque, se apoiavam numa experiência que tinha sido referência para toda a política do país no pós-guerra: a do Japão.
O êxito em impor a uma civilização tão distinta como a japonesa o modelo econômico e o estilo de vida norte-americanos deixava uma lição de que os EUA poderiam repeti-lo em qualquer lado. Claro que foi necessária uma dura derrota do Japão na guerra e duas bombas atômicas para vergar o país.
A ideia de missão histórica de exportar valores levou a aventuras de acreditar que poderiam remodelar as sociedades afegãs e iraquianas, impondo economias de mercado e democracias liberais. O cenário, muitos anos depois, não tem nenhum vestígio do projeto original, qualquer tipo de comparação não tem lugar.
E, diante dos resultados frustrantes, o povo norte-americano não autoriza mais governos a novas aventuras. Ficou claro no abandono do projeto de um bombardeio, mesmo se cirúrgico, se é que existe algo assim, na Síria. Agora, Obama consegue apoio momentâneo, diante do risco que correm compatriotas no norte do Iraque. Por isso, ele frisou que esse era o objetivo primeiro dos bombardeios.
A invasão do consulado norte-americano em Benghazi, na Líbia, com a morte de um cônsul, foi golpe duro, pelo qual paga até hoje a então secretária de Estado Hillary Clinton, situação que Obama busca que não se repita.
A ação da aviação pode, no máximo, limitar os avanços do Isis (o grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante), mas sem infantaria, é impossível reconquistar território. E é isso o que Obama evita, porque infantaria significa vítimas, mais mortos norte-americanos. Já foram quase 5 mil em oito anos de ocupação do Iraque.
Falta pouco para as cruciais eleições parlamentares de novembro, em que Obama tem os olhos postos, além do Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na Síria. Por Emir Sader /Foto: Reuters.
Créditos: Rede Brasil Atual
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