Mais de 1.200 homens entre 18 e 28 anos que se submeteram a exames médicos do serviço militar entre 2008 e 2012 tiveram de responder algumas questões sobre ingestão regular de álcool e tiveram amostras de sêmen e sangue coletadas para que os níveis de hormônios sexuais fossem analisados. Cerca de 60% deles disseram ter abusado do álcool mais de duas vezes no mês anterior. Em média, cada entrevistado ingeriu 11 latinhas de cerveja na semana anterior aos exames.
Apesar de não fazer muita diferença quanto cada homem bebeu um mês antes, o consumo de álcool na semana anterior ao exame revelou mudanças importantes nos níveis de hormônios reprodutivos – com aumento dos níveis de testosterona e diminuição da globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG). Nesse grupo, quanto maior foi o consumo de bebidas alcoolicas, menor foi a qualidade do esperma – com menor quantidade e tamanhos e formatos defeituosos. Aqueles que ingeriram 40 latinhas de cerveja durante uma semana tiveram a contagem de esperma reduzida em 33% e uma queda de 51% na qualidade deles – quando comparados àqueles que consumiram entre uma e cinco unidades.
Na opinião de Edson Borges Junior, especialista em Medicina Reprodutiva, esse tipo de estudo é importante na medida em que comprova o mal que alguns hábitos fazem à fertilidade – não só a ingestão excessiva de álcool, como de cigarro, carne vermelha e gordura trans. “Casais em tratamento de fertilização são altamente aconselhados a adotar hábitos de vida mais saudáveis, já que as centenas de substâncias presentes no cigarro e nas bebidas alcoólicas aumentam o estresse oxidativo sistêmico, empobrecendo a qualidade do esperma”.
Para o especialista, a saúde e a fertilidade das futuras gerações estão em risco. Essa é a conclusão, inclusive, do primeiro estudo do gênero realizado no Brasil conduzido por Borges. A partir da análise de 2.300 amostras de sêmen fornecidas por pacientes que recorreram ao tratamento de fertilização assistida nos períodos de 2000-2002 e 2010-2012, foi possível registrar diferenças estatisticamente significativas nas características seminais dos indivíduos analisados, principalmente em relação à concentração de espermatozoides e à sua morfologia.
“Nossa pesquisa mostrou uma queda de mais da metade do número de espermatozoides produzidos, assim como uma diminuição importante na porcentagem de espermatozoides normais (de 4,6% para 2,7%). Outro resultado também surpreendeu: dobrou o número de homens com azoospermia, que é a ausência de espermatozoides no ejaculado”. Esses dados mostram claramente que a qualidade do sêmen humano está se deteriorando ao longo dos anos. “É fundamental encontrar e reduzir os agentes que estão causando esse declínio da fertilidade masculina. Mas já é possível afirmar que o aumento da frequência de anomalias reprodutivas masculinas reflete os efeitos adversos dos fatores ambientais ou de estilo de vida dos indivíduos”, conclui o especialista.
Créditos: WSCOM
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