domingo, 17 de abril de 2016

Açúcar pode ser prejudicial para o cérebro de crianças

Nós todos sabemos que refrigerantes (com açúcar) não são bons para o peso e a saúde dentária, mas um novo estudo realizado com ratos descobriu que bebidas açucaradas também podem prejudicar o cérebro. A região do cérebro que controla o comportamento emocional e a função cognitiva teve danos maiores com o consumo da substância do que com estresse extremo ou traumas na infância.
 Experiências adversas no início da vida, como muito estresse ou abuso mental ou físico, aumentam o risco de problemas de saúde mental e psiquiátrica a longo prazo. O número de eventos traumáticos (acidentes, luto, desastres naturais, violência doméstica, crimes, abuso físico, sexual, emocional, etc.) a que uma criança é exposta está associado com concentrações elevadas de um hormônio do estresse importante, o cortisol.
 Existe também evidência de que maus-tratos na infância estão associados com uma redução do volume cerebral e que esta alteração pode ser relacionada à ansiedade. Agora, a pesquisa com ratos liderada pelas pesquisadoras Jayanthi Manian e Margaret Morris da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, examinou se o impacto do estresse precoce no cérebro poderia ser agravado pela ingestão de grandes volumes de bebidas açucaradas após o desmame. Como as fêmeas são mais propensas a passar por eventos adversos, estudaram-se ratos do sexo feminino.
 Para replicar o trauma no início da vida, depois do nascimento, metade da ninhada dos ratos foi exposta a um material de nidificação limitado. O assentamento limitado altera o comportamento maternal e aumenta a ansiedade dos animais ao longo do tempo. No desmame, a outra metade dos ratos teve acesso ilimitado à comida de baixo teor de gordura e água, sem causar stress aos animais. Aos dois grupos, uma solução com 25% de açúcar foi oferecida. Os ratos que consumiram açúcar em ambos os grupos (controle e estresse) ingeriram mais calorias ao longo do experimento.
 Os ratos foram acompanhados por 15 semanas e, em seguida, seus cérebros foram examinados. “Como sabemos que o estresse precoce pode afetar a saúde e a função mental, nós examinamos uma parte do cérebro chamada hipocampo, que é importante para a memória e estresse. Quatro grupos de ratos foram estudados – controle (sem stress), ratos de controle que consumiram água com açúcar, ratos expostos ao estresse e ratos expostos ao estresse que consumiram água com açúcar. Verificou-se que o consumo de açúcar crônico em ratos forçou alterações semelhantes no hipocampo às vistas nos ratos que foram expostos ao estresse mas não beberam açúcar. A exposição ao estresse precoce ou ao consumo da água com açúcar levou a uma menor expressão do receptor ligado ao principal hormônio do estresse, o cortisol, o que pode afetar a capacidade de se recuperar de uma situação estressante”, escreveram as pesquisadoras, em um artigo publicado no The Conversation.
Outro gene importante para o crescimento de nervos, chamado Neurod1, também foi reduzido no grupo estressado. Outros genes importantes para o crescimento de nervos foram investigados e apenas o grupo que consumiu açúcar apresentou a diminuição deles, dando a comprovação parcial de que pode haver relação entre o consumo da substância e a deterioração cerebral. A combinação da ingestão de açúcar e estresse precoce não produziu mais alterações no hipocampo. Como podem aparecer novos resultados no futuro, mais pesquisas são necessárias.
Caso seja comprovado que a mudança cerebral é induzida pelo açúcar, o assunto pode ser de grande preocupação, já que o consumo de bebidas adoçadas é enorme entre crianças e adolescentes de 9 a 16 anos, segundo pesquisas de mercado. Isso aponta para a necessidade de reduzir o consumo de açúcar.
 Embora seja impossível realizar tais estudos em humanos, os circuitos cerebrais dos ratos que controlam as respostas ao estresse e à alimentação são semelhantes aos nossos. Apesar da pesquisa ser recente e limitada a amostras pequenas, vale a pena mudar de hábitos para preservar uma geração inteira.
Créditos: Jornal Ciência

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