Depois da morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, os analistas começaram falando do declínio do socialismo bolivariano. A perda do líder reconhecido da “viragem de esquerda” pode desmoralizar os aliados e fazer com que a experiência na América Latina seja gradualmente abandonada.
Não se discute se Hugo Chávez era ou não um “táctico e teórico” das transformações sociais na América do Sul. Como disse o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, o líder falecido “levantou a espada de Bolívar na Venezuela, América Latina, nas Antilhas e em todo o mundo”. O representante do Instituto dos países da América Latina, Boris Martynov, diz que Chávez desempenhou um papel-chave na “esquerdização” do continente.
“A sua contribuição é bastante significativa, não pode ser subestimada. Acontece que o início dessa “viragem de esquerda” remonta à subida de Hugo Chávez ao poder em 1998. Depois disso, outros países começaram a aderir a políticas de esquerda, umas mais radicais que outras. Acho que a “viragem de esquerda” coincidiu com a decepção dos latino-americanos com as receitas neo-liberais, que eles conheceram com fartura no início dos anos 90. Essas receitas levaram a fracasso na economia, ao aumento da desigualdade social, à tensão social. Face a isto, o surgimento de uma alternativa aos esquemas neoliberais foi bastante natural”.
Ninguém poderá ignorar a herança de Hugo Chávez
Deve-se assinalar que o socialismo de Chávez não era cópia do socialismo de modelo soviético. Ele próprio se considerava aluno e seguidor do líder cubano Fidel Castro e admirava o seu feito revolucionário de muitos anos. Justamente por isso, o comandante citava com frequência as palavras de Fidel Castro: “Chávez, não crie uma segunda Cuba, crie a primeira Venezuela.”
Novamente a palavra a Boris Martynov:
“O próprio termo “socialismo” é muito amorfo. Nós falamos do socialismo sueco, embora o socialismo na Suécia, o socialismo na Venezuela e o socialismo em Cuba serem coisas totalmente diferentes. Eu já nem falo do socialismo soviético. O socialismo que Chávez construiu era em muito empírico. Não havia qualquer teoria anterior (como, por exemplo, o marxismo) para ser aplicada à vida real. O mérito de Chávez consiste em que ele partiu do contrário: da vida para a teoria, procurando elaborá-la, partindo da realidade venezuelana. No entanto, nesse caminho Chávez cometeu erros e exageros.”
O homem que mudou a história venezuelana e impressionou o mundo
Os especialistas supõem que, com a morte de Chávez, provavelmente terminará o populismo (os críticos chamam assim a época de florescimento do socialismo latino-americano). É uma questão de tempo. O problema é que Chávez não deixou um sucessor à altura.
Não se deve duvidar de que, em breve, a viragem de esquerda na América Latina conhecerá um sério vazio de liderança. Isto será aproveitado sem dúvida pela oposição, bastante considerável, que atua mais ou menos com êxito em todos os países da região. É cedo ainda para falar do que se seguirá. Ao mesmo tempo, não se deve duvidar de que, depois de Chávez, a América Latina já nunca mais será como foi até agora.
VOZ DA RÚSSIA |
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