domingo, 9 de fevereiro de 2014

Tem emprego no Brasil como nunca se viu

Tem emprego no Brasil como nunca se viu
Em 2013, o país experimentou seu menor índice de desemprego constatado por meio da atual metodologia, com apenas 5.3% da população economicamente ativa sem uma alternativa formal de renda.
  A notícia, na teoria, é boa, sobretudo quando se isola o mês de dezembro, período tradicionalmente turbinado pela oferta de vagas temporárias de trabalho, principalmente no varejo, em função das vendas de natal. No último mês de 2013, o país alcançou 4,3% de desemprego, cenário considerado por muitos de pleno emprego. Mas como eu disse, a história é boa apenas na teoria. Quando se observa os números do levantamento realizado pelo IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, responsável pelas pesquisas em escala federal, nota-se que, na prática, isso não é lá essa coisas.

O desemprego é baixo não devido à economia brasileira em expansão em 2013, o que não aconteceu,  mas, sim, dado à herança de uma conquista já um pouco mais antiga, de sete, oito anos atrás, caracterizada pela expansão da renda da base da pirâmide social, ou se preferir, o aumento do poder de compra dos mais pobres. Explico: com um pouco mais de dinheiro no bolso, as famílias passaram a se dar ao luxo de pisar um pouco no freio, possibilitando que um filho opta-se por estudar  em vez de  trabalhar. Ou a mãe largando a ocupação profissional para cuidar da casa e dos filhos com mais atenção. 
Ao parar de procurar emprego, a mãe e o filho de nosso exemplo abandonaram a condição de economicamente ativas e, consequentemente, não entram mais na base de cálculos de empregados e desempregados da agência de estatísticas federal. Assim, não é que o volume de criação de empregos cresceu, mas foi a população economicamente ativa que diminuiu. E isso é bom para a economia? Na verdade, não. O que faz girar as engrenagens do mercado é o consumo. E quanto mais dinheiro, maior o poder de compra. Então o Brasil perde a demanda de compradores. Não é nenhuma tragédia, claro. O importante é que as pessoas que querem trabalhar, trabalham. Mas também não é para sair por ai soltando rojão.
Aliás, já que estamos falando de trabalho, vale ressaltar uma coisa nesse setor, uma outra características que ganhou visibilidade com o estudo do IBGE - esse dado, já mais preocupante. A atividade industrial está perdendo poder de atração de trabalhadores. Há dez anos, 17,6% das pessoas ocupavam um cargo na indústria aqui no Brasil. Em 2013, esse número caiu para 15,8%. Sabe o que significa isso? Que o setor da economia local que oferece os melhores salários está gerando menos emprego. Na verdade, está reduzindo de tamanho. Quem vem absorvendo essa mão de obra é a área de serviços, a que mais cresce (13,4% para 16,2% em igual período) e, justamente, a que pior remunera.
Caldo azedou
Já que estou no espinhoso campo da economia (prometo não me alongar no tema, mas tenho de aproveitar a rara oportunidade), uma decisão recentemente tomada pelo banco central dos Estados Unidos, o FED (Federal Reserve), azedou a relação dos emergentes com a turma que comanda o mercado financeiro no mundo.
O FED vinha ajudando o mercado norte-americano com um pesado programa de injeção de capital. Por mês, comprava US$ 75 bilhões em títulos de dívidas. Isso deixava os bancos de lá tranquilos, com muita liquidez, incluindo ai as muitas e influentes aplicações subsidiárias que eles mantêm em países como o Brasil, a Rússia, Turquia e todos os outros emergentes.
Mas aconteceu que, nos últimos meses, o mercado interno dos EUA começou a dar claros sinais de aquecimento e, mais que depressa, o FED anunciou que vai começar a reduzir esse aporte de recursos. Já para fevereiro serão US$ 10 bilhões a menos. E tudo indica que a torneira fechará de vez até dezembro que vem.
Com isso, os senhores do dinheiro do mundo (uma turma bem restrita) resolveram suspender parte do seu capital em aplicações de risco, o que em tese representa tirar dinheiro dos emergentes. O presidente do Banco Central brasileiro, Alexandre Tombini, fez recentemente uma boa metáfora sobre o momento. Segundo ele, a decisão dos EUA começou a funcionar como um grande “aspirador de pó” de dólares. Há risco de secura por parte desses países em linhas de financiamento, tão importantes para projetos estruturantes.
Até agora quem mais sofreu com o novo momento foi a Argentina e a Turquia. O país europeu (é também asiático, dependendo do lado da ponte que se está em Istambul) anunciou um pesado aumento de juros. Já a Argentina, tornada vulnerável ao longo de anos atrapalhados de kirchnerismo, experimenta forte fulga de capitais. O país provavelmente vai precisar da ajuda do Brasil para se segurar. Bom, esse é só o início de uma turbulência. Segundo o governo brasileiro, aqui estamos protegidos. Esse tem sido o discurso protocolar em casos de instabilidade. Vamos torcer para que estejam certos. Renato Jakitas  A opinião do autor pode não coincidir com a opinião da redação.
Créditos: Voz da Russia

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