A presidenta afastada Dilma Rousseff afirma que a crise política que levou ao processo de impeachment deve-se em parte ao que chama de fragmentação do sistema político brasileiro. “Esse sistema incentiva, por isso a importância de uma reforma política, a fisiologia, ele incentiva a fragmentação partidária, ele incentiva a perda de conteúdo programático dos partidos”, afirmou.
Dilma disse que o governo de Fernando Henrique Cardoso “precisava de três partidos para a maioria simples, e quatro partidos para obter dois terços para aprovar emendas constitucionais etc.; o presidente Lula precisou de oito partidos para a maioria simples, e 11 partidos para os dois terços. Eu precisei de 14 partidos para a maioria simples, e 20 partidos”.
Essas declarações da presidenta estão na entrevista exclusiva de Dilma com o Diário do Centro do Mundo (DCM), que esteve no Palácio da Alvorada tarde de quarta, 29. Vai ao ar no programa do DCM na TVT no domingo (3) às 20h. O programa é apresentado por Marcelo Godoy, o “Gogó de Ouro”, e dirigido por Max Alvim.
O afastamento conferiu a Dilma uma urgência e uma humanidade que não existiam no papel de “gerentona” que os marqueteiros criaram e que ela encarnou com vontade. O fato de estar num limbo e na batalha lhe deu necessidade de agir e falar como nunca pôde. E, apesar do pacote de sanções do interino, mais liberdade.
Está mais agressiva. Não o Collor apoplético do “Não me deixem só”. Mas Michel Temer é “interino provisório usurpador”, assim mesmo, tudo junto. Foram-se os tropeços no discurso, metáforas sem pé nem cabeça e as promessas de campanha. Foram-se, também, as circunstâncias e mordomias. Não há séquito de seguranças. Faz piada com o fato de não ter avião.
Soluções aparecem nas emergências. Estava particularmente surpresa com o resultado de uma campanha de crowdfunding organizada por amigas do tempo da clandestinidade. Elas estão pedido, na plataforma Catarse, 500 mil reais para bancar as viagens de Dilma pelo Brasil.
A meta caminha para ser batida em três dias. “Eu não vou ficar parada”, avisa, repetindo um mantra sobre a vilegiatura de Temer: uma árvore infestada de praga, em oposição ao machado de golpes militares.
Dilma tem clareza da dificuldade de escapar do impeachment e dos desafios que virão com o mesmo Congresso. Diz-se otimista. (A vantagem do pessimista é que ele fica feliz duas vezes, quando acerta e quando erra).
A ideia do plebiscito perdeu força. “Não depende da vontade do presidente e eu não posso, sozinha, propor algo sem ter o apoio necessário”, afirma. As conversas com os senadores têm sido frequentes. A perícia que apontou que não houve pedaladas lhe deu mais ânimo e mais argumentos sobre a fraude jurídica. Supondo que ela voltasse, então: o que faria diferente? “Não vou mais fazer aquela composição. O presidencialismo de coalizão terminou”, aponta.
Mas como governará? “Teremos outras formas de relação com a população e o Congresso”. A tal “governabilidade” não pode ser motivo para impedimento. “O Obama governa sem maioria e ninguém tentou tirá-lo porque é uma democracia madura”, diz. “Aqui teremos também de lidar com esse fato. Não se trata de minha pessoa”.
“Eu cometi erros, mas não fui insensata”. A historiadora americana Barbara Tuchman é evocada. O livro mais conhecido de Barbara é “A Marcha da Insensatez”, sobre governos que adotaram políticas contrárias aos próprios interesses e pagaram por isso. A Guerra de Troia e a do Vietnã, por exemplo. Temer como vice presidente foi um erro? Ela não sabia de quem se tratava? “Faz parte da traição a pessoa não mostrar suas reais intenções. Se mostrasse, não seria traidor.”
Para Dilma, Cunha adquiriu um tamanho que não tinha a partir de janeiro de 2015, quando se elege presidente da Câmara. Ela deveria ter negociado com ele? “Não se negocia com o Cunha. Ele tem uma agenda que é dele. Ou você está de acordo com ele ou não tem acordo”, afirma. Com informações do DCM.
Créditos: Rede Brasil Atual
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